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Descartes foi um marco histórico no estudo dos métodos científicos, considerando-se que o século XVII representou uma época de efervescência cultural, na qual Galileu, Bacon e Descartes confrontaram de forma sequencial os seus ataques conceituais à filosofia aristotélica, soberana até então. A ele pode-se atribuir uma reinterpretação da epistemologia subjetiva previamente utilizada pelos filósofos atomistas.

Descartes (2006) estava imbuído do desejo de fornecer fundamentos sólidos ao pensamento científico, já que demonstrava preocupação e insatisfação com a filosofia escolástica, sob a qual havia sido educado quando jovem, por esta ser fundamentada em axiomas obscuros e duvidosos. A autonomia intelectual também foi um tema que Kant desenvolveu de forma crítica e provocativa quando escreveu o clássico texto sobre o significado do Iluminismo, para responder à pergunta “O que é esclarecimento?”. Sua argumentação exaltou a necessidade das pessoas assumirem a maioridade após milênios vivendo sob a tutela eclesiástica. Segundo Kant, o esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, estado que denota incapacidade de fazer uso de seu próprio entendimento sem a direção de outrem, sendo o próprio indivíduo o culpado dessa menoridade, dessa preguiça e dessa covardia.

Considerando o contexto histórico de um período Barroco, pós Renascimento, Descartes representa o início da Filosofia Moderna numa época em que surgiam muitas descobertas e, ao mesmo tempo, acontecia a Inquisição, grupo de instituições dentro do sistema jurídico da igreja Católica Romana, com o objetivo de combater a heresia, promovendo uma época violenta de perseguição aos indivíduos que representassem ameaças aos interesses da igreja; ele soube, de forma estratégica, se livrar do enquadramento da Inquisição. O filósofo considerava a busca da verdade como um ato de fé.

Descartes (2006) se propôs a resolver o problema do fundamento sólido do conhecimento seguro tão combatido pelos céticos, que faziam uso do argumento do regresso ao infinito, ou seja, questionavam as crenças que baseiam as crenças. Com

isto, ele iniciou seu método com o roteiro de um cético, partindo da dúvida. Porém, ao contrário dos céticos, não pretendia ficar apenas nesse estágio, não duvidava pelo simples fato de duvidar, mas utilizava uma hipótese cética para aplicar seu método da dúvida cartesiana sistemática na tentativa de encontrar uma base segura para o conhecimento.

De forma metódica, Descartes parte do pressuposto de que devemos duvidar de tudo para eliminarmos as possibilidades de erro. Ele chega a questionar a validade dos próprios sentidos, alegando que estes podem nos enganar em determinadas situações, e, portanto, não podemos neles confiar. A seguir, ele coloca em dúvida a própria razão e conclui: “Penso, logo existo”. Esta passa a ser sua crença básica, pois, aparentemente, disso ele não poderia duvidar. Continuando seu processo analítico racional ele coloca que o fato de não sermos perfeitos pode também nos conduzir a erros.

Descartes (2006) gerou tantas dúvidas com relação a tantas variáveis, que teve que recorrer a um pressuposto inicial,a existência de Deus; a única certeza que temos é duvidar de tudo, e, para garantir a validade objetiva de seu conhecimento, o filósofo recorreu à perfeição divina. Deus se torna o fundamento que Descartes procurava e que poderia garantir a objetividade do conhecimento.

Descartes (2006) foi o primeiro filósofo a sistematizar um método de busca da verdade através da reflexão e da pesquisa, deduzindo, desta forma, as verdades científicas. Usou um método universal com regras matemáticas e longas cadeias de razão. As 4 regras fundamentais da dúvida metódica, são:

1. Evidência: só é verdadeiro o que é claro e indubitável. O paradoxo interessante é que, apesar da dúvida que Descartes sugere, ele nunca foi um cético.

2. Análise: dividir o problema em quantas partes forem necessárias para facilitar sua compreensão

3. Síntese: seguir uma ordem, ou seja, do simples para o complexo. 4. Revisão complexa: certeza de que nada foi omitido.

Descartes questionou a tradição escolástica, considerando-a confusa, obscura e sem praticidade. Após 10 séculos de estagnação científica e tecnológica na Europa, começam a surgir os avanços das ciências naturais no Renascimento, e ele, rompendo o marasmo reinante, inaugura um novo sistema filosófico: além de não se confiar no conhecimento da Idade Média, não se pode confiar no que os próprios sentidos dizem. Para ele a dedução racional traria conhecimento seguro, e a maneira

de testar esse conhecimento seria usar as 4 etapas do método. Descartes justifica a utilização do método concebendo para si mesmo 3 a 4 máximas, que servirão de base para uma moral provisória para a aplicação do método.

Nove anos antes de publicar o método, Descartes (2012) arquitetou uma obra com 21 regras para ajudar na sistematização do pensamento científico. Esta obra só foi publicada depois de sua morte.

Do ponto de vista epistemológico, Descartes é um fundacionista clássico. Separa o homem, com o seu dualismo espírito/matéria, e subordina a realidade aos ditames da vontade humana, estabelecendo a distinção subjetiva da objetiva. Uma relação passiva dos objetos cognoscíveis, subjugada a uma postura ativa do sujeito cognoscente. Nessa relação dominadora da natureza, fica estabelecida uma prática reducionista e mecanicista, base para a ciência moderna determinista.

De acordo com Hesse (2000), no racionalismo baseamos a origem do conhecimento humano na razão, que deve ter validade universal e necessidade lógica. Este tipo de raciocínio teve origem na matemática, a partir de Platão, que idealizou um mundo supra-sensível como a fonte de conteúdo das ideias, o racionalismo transcendente. Descartes, posteriormente, afirma que temos conceitos fundamentais do conhecimento que são inatos, formadores do nosso patrimônio da razão, totalmente independentes da experiência.