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7 AS EMPRESAS E A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS EM AMBIENTES

7.4 Empresas do século XX que continuam no mercado

7.4.6 Xerox

Em 1970, no auge do seu sucesso, a Xerox criou seu Centro de Pesquisa de Palo Alto (PARC), locus de muitas inovações tecnológicas. O interessante é que muitos indivíduos deixaram o centro de pesquisas para montar empresas próprias. Os casos mais icônicos são da visita que Steve Jobs fez ao PARC, a partir da qual a Apple desenvolveu o desktop para melhorar a interação do computador com o usuário, e, o outro caso é que serviram como base do pacote Word da Microsoft. Em 1998, haviam sido criadas 24 empresas spin-off e, 2 anos mais tarde, o valor de mercado dessas empresas era o dobro do valor da Xerox.

Na década de 70, a Xerox detinha a maior participação no mercado de copiadoras, com sua tecnologia básica até então intocável. Entretanto, apesar do seu contínuo investimento para garantir a liderança, a empresa foi seriamente prejudicada por novos entrantes japoneses, que começaram a ofertar copiadoras compactas ao mercado. A Xerox levou quase oito anos para conseguir ter um produto competitivo, tendo vivenciado diversos fracassos e falsos inícios. Ao longo desse período, a empresa perdeu metade do mercado que detinha e sofreu grandes prejuízos financeiros

7.4.7 Microsoft

Convictos de que o computador pessoal seria o produto do futuro, baseado na venda do kit MITS Altair 8800, que ocorreu em 1975 e que superou as projeções de demanda, William Gates e Paul Allen fundaram a Microsoft. A linguagem escolhida pelos fundadores foi o FORTRAN e, depois, o MS-DOS, que foi introduzido em 1981, o sistema operacional exclusivo adotado pela IBM para o lançamento do seu PC. Essa fortuita negociação tornou o MS-DOS a plataforma padrão da indústria de microcomputadores e capitalizou a empresa, impondo barreiras aos concorrentes e permitindo o desenvolvimento de muitos outros softwares nos anos seguintes.

Bill Gates se envolveu, ao longo de sua carreira, em muitos processos jurídicos em que foi acusado de plágio ou tentativa de estabelecer um monopólio. Além dos softwares, a empresa, no início do século XXI, ingressou, também, no desenvolvimento de hardware, com videogames e tocadores portáteis de música digital, entretanto, a grande fonte de receitas da empresa ainda é o sistema operacional Windows, o pacote de automação de escritório Office e o navegador Internet Explorer.

Uma das aquisições recentes da empresa foi a compra do Skype, a aquisição da fabricante de celulares Nokia e a entrada no cloud computing. Porém, a concorrência é muito grande, dificultando a revitalização e o crescimento da empresa. Apesar de todas as possibilidades existentes no mercado, a Microsoft segue sendo a maior produtora de softwares e uma das empresas mais valiosas do mundo.

Os softwares da Microsoft, apesar de serem o padrão usado pelas empresas, despertaram um movimento de desenvolvimento do software livre por aqueles que o consideram inseguro e instável. O sistema operacional gratuito Linux foi intensivamente desenvolvido por uma organização virtual aberta, formada por programadores voluntários e que teve início em 1991, estabelecendo uma nova forma de trabalho cooperativo.

Desse modo, o Linux cresceu de 10.000 linhas de código, em 1991, para 1,5 milhões de linhas, em 1998. Seu desenvolvimento coincidiu com - e explorou plenamente - o crescimento da Internet e, posteriormente, com as formas de trabalho cooperativo da Web. O fornecimento do código fonte para todos os possíveis criadores promove contínuo incremento e inovação, e os próximos e, às vezes, indistinguíveis grupos de criadores e usuários promovem concomitantemente desenvolvimento e debbuging. As fraquezas são a falta de suporte potencial para usuários e hardware novo, disponibilidade de programas compatíveis e questionamentos no desenvolvimento. (TIDD.; BESSANT; PAVITT, 2008, p. 334)

Em 2016, a Microsoft anunciou sua entrada na Fundação Linux. A partir desse trabalho aberto, outros surgiram, como o navegador Firefox, da Mozilla, e a enciclopédia livre Wikipédia.

7.4.8 Netflix

A proposta inicial da empresa, fundada em 1997, era melhorar a experiência de devolução de fitas VHS e DVDs utilizados pelos clientes que desejavam assistir

filmes em suas residências. A Netflix havia identificado que a devolução dos filmes para as locadoras de onde haviam alugado era um incômodo para as pessoas. Criaram um site para os clientes solicitarem o DVD, que seria enviado via correio, e no qual o grande diferencial era não cobrar pelo envio, não ter multas de atraso de devolução e a possibilidade de receber diversos DVDs, de acordo com o plano de assinatura contratado. Para garantir a devolução, os clientes podiam usar o mesmo envelope que haviam recebido, sem custos adicionais. A empresa desenvolveu mais de 200 protótipos de envelopes até chegarem ao mais adequado. A ideia se tornou um sucesso e foi oferecida para a maior rede de videolocadoras do mundo, em 2000, a Blockbuster, que faliu em 2010, pois não acreditou na proposta de valor elaborada pela Netflix.

Em 2006, a empresa decidiu abrir uma divisão para criar conteúdo original que, dois anos depois, foi desativada por problemas com os estúdios parceiros. No ano seguinte, os primeiros sinais da expansão do serviço streaming foram lidos e interpretados como uma oportunidade para a empresa, que oferecia um plano de assinatura com acesso limitado de horas por assinante. Em 2013, a empresa lançou sua primeira série, tornando-se uma produtora de conteúdo original. Por mais contraditório que possa parecer, a Netflix ainda oferece o serviço de aluguel de DVDs nos Estados Unidos, para atender clientes mais velhos e por ser um modelo de negócios extremamente rentável. Ela tentou acabar com esse negócio em 2011, ao anunciar o desmembramento da empresa em um serviço de streaming e outro de envio de DVDs e videogames, fato que foi muito mal recebido pelo mercado e refletiu numa queda do valor das ações e muitos cancelamentos de assinaturas.

Um dos grandes impactos que o streaming está provocando é o alto tráfego de dados pela internet e a queda de audiência das transmissoras de conteúdo convencionais, como os canais de televisão abertas e a cabo.

7.4.9 Amazon

Jeff Bezos, o fundador da Amazon, percebeu de maneira visionária o potencial disruptivo da Internet no futuro da comercialização de produtos e, em 1994, começou seus experimentos com a venda de livros, enfrentando o paradigma das livrarias estabelecidas com lojas físicas, como a tradicional Barnes & Noble, que tem mais de 600 pontos de venda. Hoje a empresa é a maior referência do e-commerce, vendendo

uma miríade de produtos que vão de livros no formato impresso ou eletrônico, vestuário, produtos para bebês, produtos eletrônicos de consumo, produtos de beleza, comidas sofisticadas, mercearias, itens de saúde e cuidados pessoais, joias, artigos esportivos, apenas para citar alguns.

Entre os diferentes sites de comércio eletrônico, a empresa comprou, em 2009, a zappos.com, que teve início como uma pizzaria, passou a vender softwares até mudar todo o foco do negócio e vender sapatos pela internet, numa operação que rapidamente se tornou a referência no mercado americano, pois, para reduzir a insegurança dos clientes, oferece frete grátis na escolha de 3 pares de sapato, com possibilidade de devolução sem custo.

Um dos diferenciais que a Amazon percebeu que seria muito valorizado pelos clientes é a entrega no mesmo dia, ao notarem que tinham uma desvantagem em relação à compra em lojas físicas, onde o cliente sai com o produto na mão. Fato é que o varejo tradicional está sendo redesenhado com a atuação da Amazon, que vem expandindo sua oferta com músicas, armazenamento ilimitado de fotos e sua recente nova tecnologia de cloud computing para pessoas físicas e jurídicas.

A rapidez com que a empresa altera os modelos de negócios lhe garante uma posição como uma das organizações mais ágeis no momento. O fundador também é conhecido pela sua orientação centrada no cliente, permitindo devoluções, acolhendo feedbacks abertos dos clientes, indicando os sites dos concorrentes quando não possui o produto e facilitando a compra com a solução “um clique”. A empresa, entretanto, registrou seu primeiro lucro líquido, apenas seis anos depois de sua criação.

A diversificação é tamanha que o negócio mais recente, anunciado em 2015, foi a entrada de Bezos na corrida pelas viagens turísticas espaciais, com a fundação da Blue Origin, que tem um sistema de lançamento reutilizável de foguetes tripulados. 7.4.10 Dyson

A ideia central que gerou a empresa surgiu a partir do assombro do inventor James Dyson, diante da ineficiência dos tradicionais aspiradores com saco de coleta de pó fabricados pela Hoover, Phillips e Electrolux. Em 1979, Dyson estava usando um aspirador nas suas rotineiras tarefas domésticas e percebeu a frequente perda da capacidade de aspiração por conta do entupimento com o pó. Ele tentou, sem

sucesso, diversas melhorias incrementais, até que teve a ideia de usar a tecnologia do ciclone industrial nos aparelhos. Rapidamente ele percebeu a dificuldade de aplicar esse conceito e começou a fazer experimentos gerando protótipos que o levaram a solicitar o registro de uma patente em 1980.

Quatro anos e 5.127 protótipos depois, e ele ainda não pode patentear a aplicação de um único ciclone, uma vez que sua ideia representava somente uma melhoria de uma tecnologia existente e comprovada. Dyson teve de desenvolver um sistema duplo, utilizando o primeiro para separar itens volumosos de lixo domestico- pontas de cigarro, pêlos de cachorro, cereais etc. - e o segundo para recolher partículas de pó mais finas. Mas, tendo comprovado a tecnologia, foi tratado com indiferença por parte da industria de aspiradores de pó existente. (TIDD.; BESSANT; PAVITT, 2008, p. 499)

Firmemente convencido de que sua ideia seria revolucionaria, Dyson levantou fundos para iniciar sua empresa e começou a vender os primeiros aspiradores com o novo conceito, 14 anos depois da ideia inicial. Entretanto, a batalha que Dyson teve que enfrentar relativa à propriedade intelectual de sua patente contra a multinacional Hoover só foi resolvida em 2000, no Tribunal de Justiça Real de Londres. Este caso se tornou um dos clássicos enfrentamentos judiciais em torno de uma ideia.

Hoje a empresa segue vendendo seus aspiradores de pó e secadores de mãos e o valor central da organização é que sempre é possível fazer as coisas de maneira melhor e que a falha é parte do processo de desenvolvimento e da aprendizagem. 7.4.11 Airbus Industries

Criada a partir de uma joint venture da empresa alemã DASA e a francesa Aérospatiale, teve posteriormente agregadas a espanhola Casa, em 1970, e a British Aerospace, em 1979. Esta joint venture tem como peculiaridade ser uma entidade francesa que não é obrigada a divulgar suas contas, e, desta forma, qualquer prejuízo ou lucro deve ser absorvido pelas empresas associadas. Quando essa entidade foi constituída, o mercado de aeronaves internacional era dominado pela Boeing, que tinha 40 % do mercado global no início da década de 80. Trata-se de um mercado de alto risco e alto custo, que foi consolidado através de algumas joint ventures, formadas para suportarem a rápida obsolescência dos equipamentos em função da pressão tecnológica.

A entidade francesa identificou uma oportunidade não atendida no mercado de curto/médio percurso e desenvolveu o modelo A 300. O início do projeto foi em 1969 e o primeiro vôo comercial da aeronave só aconteceu em 1974.

Em 2000, o grupo deu início ao desenvolvimento de um super jumbo de dois andares, o A380, com assentos para 555 passageiros. A estimativa do mercado potencial calculado pela Airbus é muito diferente do anunciado pela Boeing e ambas as empresas tomaram rumos muito diferentes, colocando seus esforços em cenários futuros opostos. Uma acredita que o mercado precisa de aviões menores e a outra, de aviões muito grandes. Em termos de volume de vendas, a Airbus superou sua concorrente em 1998.

A Airbus demonstra a complexidade das joint ventures. O motivo inicial foi a divisão do alto custo e do risco comercial de desenvolvimento. Por outro lado, a participação francesa e alemã foi subscrita pelos respectivos governos. O fato não escapou à atenção da Boeing e do governo dos Estados Unidos, que indiretamente proveu subsídios via contratos de defesa. Por outro lado, todos os parceiros tinham, até certo ponto, mercados cativos sob a forma de linhas aéreas nacionais, embora quase três quartos de todas as vendas da Airbus fossem fora dos países associados. Finalmente, havia também motivos tecnológicos para a joint venture. Por exemplo, a BAe era especializada em desenvolvimento de asas, a Aérospatiale, em dispositivos eletrônicos; a Dasa, em fuselagem; e a CASA, em caudas. Entretanto, como foi sugerido acima, existem agora fortes razões financeiras, de produção e de marketing para combinar as operações em uma única empresa. (TIDD.; BESSANT; PAVITT, 2008, p. 324)