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Procedimentos metodológicos

I TEM P OSITIVISMO P ÓS POSITIVISMO T EORIA C RÍTICA E

5.2 Métodos de pesquisa

Em termos gerais, o procedimento metodológico busca orientar como as atividades de pesquisa serão feitas, guiando o pesquisador ao longo de suas diversas fases. Para Richardson (1999), os métodos científicos que estão associados aos procedimentos normalmente incluem cinco elementos essenciais:

• O objetivo que ser quer atingir com o estudo (meta);

• Determinado nível de abstração para a compreensão do que se estuda (modelo);

• Informações sobre observações que representem o fenômeno (dados); • Os critérios de aceitação do modelo (avaliação);

Poder-se-ia enquadrar os vários métodos de pesquisa científica em dois principais grupos: os quantitativos e os qualitativos. Os métodos quantitativos, cuja origem está nas ciências naturais, são amplamente utilizados em estudos descritivos e nas investigações causais (RICHARDSON, 1999), sendo particularmente úteis quando o pesquisador busca estabelecer uma relação causal, medindo relações de dependência ou influência entre variáveis, através de dados numéricos padronizados (STRAUB; BOUDREAU;GEFEN, 2004).

Já o método qualitativo representa uma abordagem bastante usada nas ciências sociais, tendo como principal especificidade a adequação para identificar a presença ou ausência de determinadas características em um fenômeno, ao invés de tentar medir o nível de presença ou de ausência de características em um fenômeno, como ocorre nos métodos quantitativos de pesquisa (KIRK; MILLER, 1986). O quadro 14 sintetiza as

características dos métodos qualitativos e quantitativos de pesquisa.

Itens de comparação Pesquisa Quantitativa Pesquisa Qualitativa

Foco de pesquisa Quantidade (quantos, de que tipos)

Qualidade (natureza, essência) Raízes filosóficas Positivismo, empirismo

lógico

Fenomenologia, interacionismo simbólico Termos associados Experimento, empírico,

estatístico

Trabalho de campo, etnografia, naturalístico,

grounded, construtivismo

Metas investigativas Previsão, controle, descrição, confirmação, teste de hipótese Compreensão, descrição, descoberta, atribuição de significado, geração de hipótese

Características de design Predeterminado, estruturado Flexibilidade, evolutivo, emergente

Amostra Grande, aleatória, representativa

Pequena, não-aleatória, por conveniência, significativa Coleta de dados Instrumentos inanimados

(escalas, testes, surveys, questionários, computadores)

Pesquisador como instrumento básico, entrevistas, observações,

documentos Modo de análise Dedutivo (por métodos

estatísticos)

Indutivo (pelo pesquisador)

Resultados Preciso, numérico Compreensivo, holístico, expansivo, ricamente

descritivo

Quadro 14(5) – Características dos métodos quantitativos e qualitativos de pesquisa

É oportuno esclarecer que o termo qualitativo não é sinônimo de interpretativo. Uma pesquisa qualitativa pode ou não ser interpretativa, a depender das suposições filosóficas do pesquisador. Para Orlikowski e Baroudi (1991), a pesquisa qualitativa pode assumir uma das seguintes categorias:

• Positivista. Quando há evidência de proposições formais, medidas quantificáveis das variáveis, testes de hipóteses, além do delineamento de inferências em um fenômeno, partindo de uma amostra para uma população. Esses estudos são fundamentados na existência, a priori, de relações fixas, presentes ao fenômeno e que são investigadas por uma instrumentação estruturada. Basicamente, tais estudos procuram testar uma teoria. Ademais, o reducionismo e o determinismo presente nos estudos dessa natureza garantem aos pesquisadores o poder de predição e controle. Poder-se-ia afirmar que o conhecimento organizacional sob esta categoria apresenta uma abordagem objetivista e normativa;

• Interpretativa. Procura compreender o fenômeno através dos significados que as pessoas atribuem a ele. A pesquisa interpretativa não define antecipadamente variáveis dependentes e independentes. Seu foco é na inteira complexidade do processo humano de dar sentido às coisas na medida em que as situações acontecem (KAPLAN; MAXWELL, 1994). A base

filosófica da pesquisa interpretativa é a hermenêutica e a fenomenologia (BOLAND, 1985). Nesta categoria, o conhecimento organizacional é

socialmente construído através das interpretações, práticas e interações sociais dos indivíduos;

• Crítica. Entende que a realidade social é historicamente constituída através de um processo de construção e reconstrução feito pelas pessoas. Os pesquisadores críticos, apesar de reconhecerem que as pessoas podem conscientemente agir no sentido de modificarem suas circunstâncias sociais e econômicas, afirmam que essa habilidade para a mudança é constrangida por diversas formas de dominação social, cultural e política. Portanto, o principal desafio da pesquisa crítica é o da crítica social, em que as condições restritivas e alienantes do status quo são trazidas à tona. Aqui, o conhecimento organizacional deve ser elemento contributivo para a remoção de barreiras para a qualidade da condição humana e a libertação de normas e valores sociais criados pela estrutura econômica.

O método qualitativo essencialmente busca conhecer o fenômeno sem se ater a hipóteses ou teorias previamente formuladas. Neste método, o que se tem são a extração e o refinamento de categorias e significados obtidos através de ciclos de coletas dos dados, até que se tenha atingido um nível satisfatório de coerência (KAPLAN;DUCHON, 1988).

Além disso, o método qualitativo é recomendado quando se envereda por situações nas quais se busca uma compreensão sobre um fenômeno particular e complexo que não pode ser artificialmente reproduzido em experimentos ou em ambientes controlados. Daí Marshall e Rossman (1994) defenderem que os principais desafios encontrados na condução do trabalho de pesquisa qualitativa são:

• Criar uma estrutura conceitual completa que seja percebida como concisa e elegante;

• Planejar o estudo de forma sistemática, ficando-se atento para a capacidade de gerenciamento e flexibilidade;

• Integrar as práticas de pesquisa e a estrutura conceitual em um documento que seja apresentado de forma convincente.

A pesquisa qualitativa parece ser ainda minoritária no campo organizacional (MORGAN;SMIRCICH,1980;MERRIAM,1998;DENZIN;LINCOLN,2000;PATTON,2002).

A razão para isso quiçá envolve a busca de pormenores descritivos que dizem respeito a pessoas, conversas e locais e procuram investigar os fenômenos em toda a sua complexidade e em seu contexto natural, tentando privilegiar a compreensão dos comportamentos a partir da perspectiva dos atores sociais sob investigação (BOGDAN;

BIKLEN, 1994).

O método escolhido para realizar a presente pesquisa foi o qualitativo, uma vez que este método é indicado para captar as perspectivas e interpretações das pessoas (ROESCH, 1999). Para Bryman (1992), a pesquisa qualitativa não é simplesmente um pesquisa quantitativa sem números. Esta abordagem de pesquisa envolve um conjunto de crenças inteiramente diferentes sobre como devem ser estudados as organizações e os seus participantes.

Flick (2004) reitera esta perspectiva ao considerar como aspectos essenciais da pesquisa qualitativa a escolha apropriada dos métodos e teorias, o reconhecimento e a análise de diferentes perspectivas, as reflexões dos pesquisadores a respeito de sua pesquisa como parte do processo de produção do conhecimento e a variedade de abordagens.