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Capítulo VIII – Metodologia

8.2. Métodos, Técnicas e procedimentos

O presente estudo, assim como as premissas em que ele assenta, não foram definidos a priori, ou seja, não estabelecemos um conjunto de hipóteses que depois seriam ou não confirmadas pelos resultados, após a análise dos dados. Optámos por seguir uma orientação em torno de um objeto empírico que, a partir dele, se desencadearam procedimentos de investigação, definição de objetivos, técnicas de recolha

e de análise de dados. A problematização nasceu, assim, confrontando-nos com o objeto de estudo, em vez do desenvolvimento de quadros teóricos herméticos e estáticos. Optámos por conferir uma dinâmica maior ao estudo, com processos que se caracterizaram pela flexibilidade, aprofundando os temas com apoio da literatura, à medida que as situações se iam desvelando. Consistiu num trabalho caracterizado maioritariamente por processos indutivos que dedutivos.

Temos vindo ao longo deste trabalho a assumir um posicionamento essencialmente culturalista, com recurso a métodos que de alguma forma estão alinhados com os preceitos desta abordagem, nomeadamente a aplicação de métodos e técnicas qualitativas, quer na recolha de informação, quer no seu tratamento e análise, como é o caso da observação participante, das entrevistas semi-estruturadas, da etnografia digital, da análise de discurso e do framing.

Orientados desde o início para uma abordagem do tipo Grounded Theory (Barney Glaser e Anselm Strauss, 1967), o caminho definiu-se ao longo do percurso. O desenvolvimento de modelos explicativos, a definição de padrões ou leis universais não foram em momento algum a nossa preocupação. Antes, interessou-nos descrever e compreender um contexto.

Este percurso iniciou com o interesse pelo desenvolvimento de um tema sobre “direitos”, associado a questões pertinentes no âmbito da comunicação. Tendo por base este ponto, começámos a dirigir a atenção para a área de estudos dos movimentos sociais. Após as manifestações do 15 de Setembro de 2012, da responsabilidade do coletivo “Que se Lixe a Troika”, iniciámos a observação constante e sistemática do seu comportamento nas redes e em ambiente internet, através da recolha de informação. Em 2014 obtivemos, a partir da página de Facebook do movimento, a informação que iria ocorrer uma mobilização dia 24 de Abril de 2014, com o objetivo de comemorar os 40 anos do 25 de Abril. Considerámos que faria sentido investigar manifestações, enquadradas na temática dos direitos, associadas às celebrações da data que marcou uma viragem no caminho político e social de Portugal. Desta forma, procurámos investigar as questões ligadas ao discurso e a eventuais alterações nos processos de construção das representações daqueles conceitos, enquanto indícios de mudanças sociais pertinentes, quer ao nível das consciências, mas também ao nível das práticas, e como esses aspetos se relacionam com a utilização crescente das tecnologias da comunicação e da internet.

Interessava recolher informação de duas manifestações que não fossem organizadas por entidades oficiais, nem por organizações ditas “convencionais” de intervenção e ação política, como os sindicatos ou os partidos políticos, durante o período de celebração dos 40 anos do 25 de Abril. Assim, além de “Rios ao Carmo”, selecionámos uma manifestação/festa intitulada “Dentro de Ti Ó Cidade”, organizada pelo Manifesto em Defesa da Cultura. Obtivemos informação sobre o evento através de um cartaz afixado na sala de professores de uma escola e, como reunia as condições necessárias, avançámos para o processo de investigação.

Para recolher os dados, recorremos à observação participante e às entrevistas semi-estruturadas dirigidas a participantes durante a ocorrência da manifestação. No campo, foram feitos registos com notas sobre a observação, registados com recurso à fotografia, ao vídeo e ao registo sonoro. Além disso,

foram realizadas cinco entrevistas semi-estruturadas, recorrendo a um guião tendo por base os fundamentos dos Estudos da Performance (Bauman). Foram realizadas, ainda, duas entrevistas semi- estruturadas a dois ativistas selecionados pela sua intervenção e associação direta à organização daqueles movimentos e protestos, nomeadamente, Nuno Ramos de Almeida (Que se Lixe a Troika) e Pedro Penilo (Manifesto em Defesa da Cultura).

Os dados foram posteriormente codificados com base no programa Etnograph6, utilizando para isso a definição de categorias que apoiaram a análise. Este material, assim como os dados recolhidos através da etnografia virtual permitiram fazer uma descrição dos acontecimentos a partir da metodologia de Estudo de Caso (Yin, 2009). As entrevistas foram analisadas tendo por base os princípios da Análise de Discurso (Laclau e Mouffe, 1987) e do framing.

Foi igualmente desenvolvido um estudo quantitativo, com recurso a uma amostragem não probabilística por conveniência, em que se aplicou um questionário aos estudantes de todos os cursos e níveis do ISCTE IUL, entre Junho e Julho de 2015, utilizando para isso a aplicação Qualtrics e as listas de email institucionais dos estudantes. Obtiveram-se 381 respostas, mas nem todos os questionários foram validados pela ocorrência de não-respostas e missing-values. Assim, tomámos como orientação as respostas à questão: “Já, por alguma vez, participou numa manifestação de protesto ou de reivindicação de direitos políticos/ sociais no espaço público?”, tendo ficado definida a amostra composta por 377 indivíduos (n=377). O questionário era composto por 21 questões, distribuídas pelas dimensões de análise, nos formatos fechados, pré-formatados e escalas de atitudes de Likert (Sampieri et al., 2006). Os dados foram, num momento posterior, exportados do Qualtrics para o SPSS, no sentido de desenvolver uma análise estatística com base em métodos não paramétricos.