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O sOm da CIdade

MÚSICOS E MÚSICAS MIGRANTES

Apresentadas que foram os requisitos e as dificuldades na captura de som ou na simples observação acústica da paisagem sonora urbana, encontrei como já referi alguns produtores de som dominante nos locais que ocupavam, eram os músicos de rua, predominantemente migrantes.

Os locais de grande tonalidade turística, predominantemente reservados aos peões e muito frequentados na cidade do Porto, como a Ribeira do Porto, a rua de Santa Catarina, a Rua de Cedofeita a estação de S. Bento ou a praça Carlos Aberto, eram os sítios preferidos por estes músicos e alguns apenas deambulantes da área Metropolitana do Porto. As tomadas de som destes produtores era tarefa relativamente simples, pois muitos deles faziam-se acompanhar por aparelhos de suporte electrónico relativamente potentes.

O agrupamento que mais me atraiu foi o grupo Ayllu composto por equatorianos, cuja simpatia e comuni- cabilidade me levou a realizar um pequeno exercício fílmico em formato de documentário, intitulado Ayllu.

figura 1 Filme Ayllu

Costumavam ocupar alternadamente um lugar na rua de Santa Catarina e outro na Ribeira do Porto.

figura 2

Grupo Ayllu executando na Rua de Santa Catarina Porto, (Muna Qkilla de Chano Diaz)

Apresentam-se quase sempre caracterizados de índios Okavangos, sua tribo de origem, acham que a sua diferença atrai as pessoas para junto das suas músicas, gostam de ver famílias com crianças paradas a ouvi- los e acham que a falta de compreensão e de conhecimento entre as pessoas é causa de muito subdesen- Carlos Miguel Rodrigues

volvimento e apontam como o exemplo evidente que o não existir ainda uma via-férrea ao longo de toda a América do sul deriva desse facto. Gostam de viajar pela Europa, tocar juntos até com companheiros sempre diferentes ou até mesmo associados a artistas de outras áreas. Acham que é uma grande honra quando al- guma Universidade se lhes dirige para ouvir as suas músicas ou para os entrevistar, como na Real Academia de Música da Dinamarca e na Universidade Aberta, Delegação Norte em Portugal. Segundo eles a origem de muitos subdesenvolvimentos é a ignorância cultural das pessoas e os povos não se conhecerem entre si, a América latina ainda hoje não possui políticas estruturais comuns que unam todos os povos, devido a esse problema, era este o testemunho oral do mais velho e porta-voz do grupo Efrain Henriquez.

O agrupamento francês, Les Bruits du Couloir, escolheu a rua de Cedofeita, a estação de S. Bento e a ribeira do Porto para as suas exibições.

amantes das grandes viagens, estes alunos da escola de ar- quitectura de Paris, como expediente para financiar as suas viagens, constituíram um grupo musical denominado “Os barulhentos do corredor” com uma sonoridade muito pecu- liar composta exclusivamente por sopros e percussões. Tinham preferência pelas estações de comboio onde passa muita gente. Viajam juntos todos os anos durante as férias do Verão e tocam como um modo de poderem depois ir ao restaurante e dormir confortavelmente, coisa que segundo eles sempre conseguiam. Quase não tocam durante o pe- ríodo lectivo, ou muito esporadicamente se encontram para esse fim, mas com a chegada das férias atacam frenetica- mente essa tarefa, declararam portanto que precisam de to- car para poder viajar e de viajar para poder tocar, convivialidade internacional ao som de uma música muito original e curiosa, parece ser, no fundo, o lema que os une e a fenomenologia que os motiva.

Montoya, de ascendência cigana, é um músico de causas e acha que deve ajudar a defesa da paz e do am- biente, canta canções que ele mesmo compõe com poemas seus e outros de poetas portugueses como António Gedeão e outros, tem uma grande tendência para se exprimir com uma toada de rumba. A sua origi- nalidade e entusiasmo motivaram-me a delinear um roteiro para um pequeno filme documentário sobre a sua história de vida, para o qual ele conta com toda a sua família.

É de facto um músico de várias causas, o grupo que recente- mente formou com amigos que já se não viam há cerca de 20 anos, pretendem exibições com o melhor de si mesmos confiant- es de atrair muita gente e ao mesmo tempo ampliar a clientela das esplanadas o que acabaria por lhes ser rentável, ali na praça, onde o Montoya vive, sendo, nas suas palavras, as suas músicas, uma alternativa em relação à subjugação das pessoas à internet, aos jogos, ao mp3, aos telemóveis, etc.

encontrei rasmus rasmunsen músico sueco, na rua de santa ca- tarina, dependurando à cintura um amplificador com colunas de som que, no seu conjunto, pouco maior seriam que um telefone de casa normal, preparando-se para actuar para os transeuntes.

Figura 3 les Bruits du couloir (França)

Toca dobro. Gosta de fazer canções e vai aperfeiçoando os constructos da sua inspiração na própria actuação, sempre a cantar para o público… como se estivesse continuamente na posse da versão final. Gosta de viajar pela Europa toda e de assistir a grandes eventos musicais como o Festival Internacional de Música da Zambu- jeira, na Costa Alentejana, de onde tinha acabado de chegar com alguns companheiros de ocasião. Quando lhe perguntei, o que pretendes com a tua música para além das moedas, ele respondeu-me num espanhol razoável: “… quiero dar bona ambiência e inspiration para la outra gente”.

Com uma execução excelente, os Trio de São Petersburgo ocupavam nesse dia um espaço logo à entrada da Rua de Santa Catarina. Era composto por três elementos: Elena Galetskaia, Dmitri Tambovtsev, Aleksandr Loffe.

Elena Galetskaya com cerca de 47 anos de idade, tem formação superior em música e é devido à sua simpatia a relações públicas do grupo Trio de Saint Petersburg, toca Balalaica. O Trio como confia na performance do grupo acha que poderão continuar a viajar e a ganhar dinheiro tocando nas praças e aceitando tra- balho em bodas e outras festas…

dmitri tambovtsev com cerca de 47 anos tem formação superior de música e é um virtuoso do accordion russo, faz parte do trio de saint Petersburg e gosta de tocar pelas praças de toda a Europa. Acha que as pessoas gostam de os ouvir.

Aleksandr Loffe formado em música, com cerca de 49 anos de idade, casado sente que a distante fria e or- gulhosa Rússia ainda exerce sobre as pessoas um fascínio que é bem traduzido especialmente pela música. As pessoas gostam de ouvir e a actividade acaba por ser lucrativa, acrescentando também o lucro das vendas dos DVD com músicas do Trio e cenas da paisagem Russa.

Embora a minha grelha geral de dados da investigação diga respeito a 32 músicos, reporto apenas estes porque corresponde aos músicos com a melhor performance de rua.

A investigação está em curso, esta síntese dos actores sociais encontrados diz respeito apenas a alguns meses de pesquisa e toda a etnografia e estudos prévios estão numa fase muito inicial.

Figura 5. rasmus rasmunsen

(suécia)

Figura 6. o dobro, uma viola

com ressoadores metálicos

Figura 7. Trio de S. Petersburgo (Rússia)

REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, WEBGRÁFICAS E FILMOGRÁFICAS

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