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turIsmO Cultural em guImarÃes: da Imagem dO destInO turÍstICO às

perCepÇÕes dOs resIdentes

Paula Cristina Remoaldo J. Cadima Ribeiro

resumO A cidade de Guimarães é um território que tem associada uma elevada carga simbólica,

estando estreitamente ligada à imagem de “berço da nacionalidade”. Nos últimos anos, tem tentado tirar partido em termos de desenvolvimento turístico da designação de Património da Humanidade, que lhe foi atribuída pela U.N.E.S.C.O. em 2001, através do incremento da oferta de infra-estruturas turísticas e da implementação de um programa de animação cultural crescentemente diversificado. O presente texto propõe-se fazer uma análise da imagem do destino turístico que é veiculada, em particular aquela que é passada via sítios electrónicos dedicados à divulgação do património cultural e pelos placards que encontramos na cidade. Propõe-se ainda casar brevemente essa informação com a que resulta das percepções do turismo que encontramos nos residentes de Guimarães.

palavras-chave: Imagem do destino; Percepções dos residentes; Desenvolvimento turístico; Estratégias

de promoção; Turismo cultural.

aBstraCt The city of Guimarães, in the northern Portugal, is a place of strong symbolic and cultural

significance and, mostly after its nomination by U.N.E.S.C.O. as world heritage, in the year 2001, is suc- ceeding in attracting increasing amounts of visitors. Meanwhile, tourism success is a two ways path, as tourists` flows can have strong impact on the quality of life of residents if some thresholds of visitors are surpassed. This paper aims to address the issue of the residents perception of cultural tourism ben- efits. To capture their perception, a survey was implemented, both addressed to city centre inhabitants and non-urban residents of the Guimarães municipality. It also includes a brief analysis of the promo- tional tourism websites and outdoors of the city.

Keywords: Image; Cultural heritage; Cultural tourism; Residents’ perceptions; Tourism development,

IntrOduÇÃO

O turismo é actualmente uma das actividades que mais contribui para a sobrevivência económica de nume- rosos territórios. Esta actividade tira partido económico dos recursos existentes e representa um importante factor desincentivador do processo de despovoamento.

Quando se fala de turismo histórico-cultural há vários factores que interagem e que devem ser considerados: os recursos e os produtos, a imagem do destino, as estratégias de marketing que vão sendo ou não postas em prática, os agentes envolvidos, a percepção mantida pela comunidade local sobre o interesse da actividade e a sustentabilidade ambiental. Como afirmou recentemente Hotola (2009: 1) “(…) a tourism development policy may become a strategic way of appearing decisive, while making a firm decision not to make a deci- sion. Moreover, they are frequently riddled with unrealistic expectations”.

na realidade, o turismo tem sido encarado como um poderoso instrumento de desenvolvimento económico e social de um qualquer país ou região, ainda que a sua potencialidade não seja fácil de ser convertida num caminho sustentável. O turismo não pode ser encarado como uma “poção mágica”, um caminho seguro para o desenvolvimento económico. Só o poderá ser se o desenvolvimento da actividade for prosseguido de uma forma sistemática e profissional, fazendo uso de muita prudência e respeitando a identidade e o equilíbrio ambiental e social dos territórios, pois o turismo também pode gerar vários efeitos negativos (Brunt e Court- ney, 1999; Williams e Lawson, 2001; Besculides, Lee e McCormick, 2002; Kuvan e Akan, 2005; Sharma e Dyer, 2009; Hotola, 2009).

A criação e sustentabilidade de um produto turístico pressupõem metas delineadas para um horizonte de longo prazo, com resultados bem equacionados e suportados por um extenso conjunto de actores sociais e políticos.

No presente texto preocupamo-nos com a imagem cultural da cidade de Guimarães e com a construção de um produto turístico que tem vindo a atrair cada vez mais turistas. Começa-se por definir turismo cultural e os factores que lhe estão subjacentes. Continua-se relembrando algumas ideias centrais da literatura empí- rica sobre a percepção dos residentes dos impactos do turismo. Depois de se caracterizar sumariamente o município de Guimarães, a análise centra-se nas percepções mantidas pelos residentes de Guimarães sobre os benefícios do desenvolvimento do sector e na imagem de Guimarães veiculada por alguns sítios electróni- cos e placards promocionais. Para situar o primeiro dos aspectos mencionados, a percepção dos residentes, serão usados resultados de um inquérito específico aplicado entre Janeiro e Março de 2010, naquele que foi um levantamento de informação ainda muito pouco protagonizado pelas cidades portuguesas.

O interesse deste tipo de estudos de opinião não parece irrelevante se se tiver presente a importância que os residentes têm na concretização de políticas sustentáveis de desenvolvimento turístico local.

1. defInIÇÃO e dImensÕes da COnfIguraÇÃO de um destInO de turIsmO Cultural

O turismo cultural pode ser definido, em sentido lato, como sendo todo o movimento de pessoas que satisfaz a necessidade dos indivíduos de diversidade, tendo subjacente a vontade de aumentar o seu nível cultural e propiciando novos conhecimentos e experiências (Henriques, 2007). Em sentido restrito e seguindo a per- spectiva da Organização Mundial de Turismo, corresponde ao movimento de indivíduos associados a deslo- cações por razões unicamente culturais e educativas.

Há inúmeros factores que interagem quando se equaciona a problemática do turismo cultural. De forma sim- Paula Cristina Remoaldo e J. Cadima Ribeiro

plificada, a Figura 1 retém aquelas que são as principais dimensões associáveis à configuração de um destino de turismo cultural. A primeira dimensão ou factor a considerar refere-se aos recursos e aos produtos turís- ticos que a partir daqueles se podem estabelecer. Os recursos naturais e o património material e imaterial, assim como o respectivo aproveitamento turístico sobre a forma de produtos capazes de ser inseridos em pacotes turísticos, são condições sine qua non para fazer emergir o potencial turístico de um qualquer ter- ritório. A esses recursos e competências básicas haverá que associar depois infra-estruturas e equipamentos que viabilizem o desenvolvimento da indústria turística.

Importa não esquecer que a actividade turística tira partido económico dos recursos e capacidades existentes e que pode ser fortemente desincentivadora do processo de despovoamento a que muitos territórios es- tariam votados.

figura 1-Dimensões e factores de viabilização de um destino

de turismo cultural. Fonte: elaboração própria.

Sublinhe-se que o turismo pode ajudar a preservar o património, material e imaterial, nomeadamente, con- tribuindo para a certificação de vários produtos (e.g., lenços de namorados, doçaria conventual), mas nem sempre o seu aproveitamento é realizado de forma conveniente. A ausência de aposta na autenticidade, na diversificação dos produtos a oferecer e na actuação concertada dos agentes envolvidos podem questionar a viabilidade dos projectos de desenvolvimento assentes no turismo (Brunt e Courtney, 1999; Besculides, Lee e McCormick, 2002; Cadima Ribeiro e Remoaldo, 2009).

A imagem do destino é um primeiro e decisivo factor na atracção do turista, para mais num momento em que estamos perante um turista que busca cada vez mais uma atmosfera única e memorável e qualidade de serviço. Essa imagem é desde logo construída a partir das fontes de informação a que aquele tem acesso, pelo que a consistência e qualidade da imagem veiculada são peças centrais na configuração de uma certa identidade do destino e, logo, na respectiva atractividade.