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5.2 Elites locais

5.2.1 Magistrados municipais

No que se refere a Olisipo, são conhecidos quinze magistrados municipais, integrando nove duúnviros e seis edis, ostentando nomes latinos. Estes indivíduos são normalmente citados em textos honoríficos, sendo que a tipologia destes monumentos é semelhante por todo o Império, tratando-se normalmente de cipos paralelepipédicos a colocar no forum, centro cívico da cidade, sendo o mais corrente o cipo sem qualquer ornato singular (Encarnação, 1995, p. 258). No caso em apreço, temos notícias dos membros da elite tanto em textos honoríficos como em epígrafes funerárias, sendo que todos os registos epigráficos que conhecemos de magistrados até ao momento pertencem ao Alto Império.

Apresentamos então de seguida os magistrados conhecidos até ao momento31, iniciando pela enumeração dos que alcançaram o cargo de duúnviro e seguidamente os edis. Os magistrados estão igualmente enumerados no anexo 1, constando as inscrições

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Sobre o advogado Q. Lucceius Albinus, vide Gonzélez Herrero, 2005, pp. 243-255.

31 Para além destes magistrados atestados em Olisipo, e tal como referido anteriormente, existe igualmente uma

referência a Marco Varrão, questor. A inscrição é apresentada por Vieira da Silva (EO 29, in 1994, pp. 128-129), ainda que refira que segundo Emílio Hübner a lápide será falsa por ser semelhante a uma outra descoberta na cidade de Parma em 1524, baseando-se talvez no padre Tomaz Caetano de Bem.

do anexo 2. A ordem apresentada observa, na medida do possível, a cronologia relativa das inscrições:

1. Q. Iulius Plotus – aedilis, IIvir, flamen Germanici Caesaris, flamen Iuliae Augustaape in perpetu (u)m.

O facto de Q. Iulius Plotus ter ocupado vários cargos de relevo, tendo sido edil, duúnviro, flâmine de Germânico César e flâmine perpétuo de Júlia Augusta, nome que Lívia usou depois da morte de Augusto, atesta desde logo a relevância deste elemento da gens Iulia.

Tendo em conta que Germânico morreu em 19. d. C. (Tac. Ann. 2.72) e que Lívia só se tornará Iulia Augusta após 14 d. C., quando em testamento Augusto assim o dispõe (Suet. Aug. 101), Curchin (1990b, pp. 174-175) data a carreira de Q. Iulius Plotus dos anos iniciais do reinado de Tibério, tal como R. Étienne, que data a epígrafe entre 14-19 d.C. (Étienne, 1958, p. 199). Curchin realça ainda que a pretensão de Francisco Martín de que Lívia poderia ter sido Augusta antes de 14 d. C., i.e., da época de Augusto (De Francisco Martín, 1977, p. 236) contradiz os termos do testamento de Augusto (Curchin, 1990b, pp. 174-175). Salinas de Frías e Rodríguez Cortés colocam- no entre 19 e 37 (Salinas de Frías e Rodríguez Cortés, 2000, p. 28) e José d’Encarnação coloca-o como flâmine de Calígula e de Agripina Minor (Encarnação, 1995, p. 258).

González Herrero realça a importância da datação desta epígrafe para o conhecimento da difusão do culto imperial nas cidades da Lusitânia, pois dado que Q. Iulius Plotus fui eleito flâmine para o culto de Germânico César em vida, tal significa que um membro vivo da família imperial era venerado em Olisipo antes de 19 d.C., contando com um culto municipal organizado. Dada a cronologia, considera igualmente que Iulia Augusta terá sido cultuada em Olisipo antes da sua morte, em 29 d. C., na medida em que actuou como seu flâmine após o sacerdócio que obteve antes de 19 d. C.

(González Herrero, 2002, p. 49). Realça-se aqui o facto de Q. Iulius Plotus ser flamen Germanici Caesaris e flamen Iuliae Augustae não havendo ainda, portanto, separação de tarefas rituais entre flâmines e flamínicas.

No que respeita à expressão in perpetuum, corresponderá a uma distinção honorífica, talvez por ter sido o primeiro a encarregar-se do culto destes dois elementos da família imperial. Mantas apresenta-o como provável representante da colonização itálica, talvez oriundo da Úmbria (Mantas, 2005, pp. 29-30, Kajanto, 1982, p. 242).

O prenome Quintus é frequente, como se pode verificar desde logo pela recolha levada a cabo por Vieira da Silva em 1944 (pp. 276-283). Já o cognome é muito raro, sendo relacionado por Kajanto com os cognomina relacionados com particularidades físicas (1982, pp. 241-242).

A epígrafe foi encontrada na muralha junto à Porta de Ferro, demolida entre 1758 e 1763 e integrada na colecção de Cenáculo, no Convento de Nossa Senhora de Jesus, em Lisboa, onde há dela notícia até 1798 (Silva, A.V., 1944, p. 143).

2. Q. Antonius Gallus – IIvir

Desempenhou funções de duúnviro em conjunto com T. Marcius Marcianus (nº 3), tendo dele nota através da inscrição honorífica a Matídia Augusta, sobrinha do Imperador Trajano, homenageada por Felicitas Iulia Olisipo através destes duúnviros. Vieira da Silva (1944, p. 193), com base em Hübner (Supl., pág. 1.114) coloca-o cerca do ano 114 d.C.. Mantas (2005, p. 30) situa este magistrado por volta de 107 d.C., associado ao facto de Matídia ter recebido o título de Augusta pouco antes de 107. Salinas de Frías e Rodríguez Cortés (2000, p. 29) colocam estes dois magistrados entre 98 e 107.

O gentilício deste duúnviro está bastante bem representado na Hispânia, o que poderá estar relacionado com as clientelas de Marco António, que concretizou diversas medidas de César após o assassinato deste (Mantas, 2005, p. 31), estando igualmente representado em Olisipo (Silva, A.V., 1944, p. 277). Kajanto apresenta o cognome Gallus32 como de origem geográfica, em relação com a Gália Cisalpina, maioritariamente associados a homens livres e frequentemente de elevado estatuto social (Mantas, 2005, p. 31, Kajanto, 1982, p. 45 e 195-196).

A epígrafe, que constitui um possível pedestal de estátua, encontrava-se nos finais do século XVI na Igreja de São Vicente de Fora, não havendo qualquer referência directa após a que se encontra no Anónimo Napolitano. As epígrafes deste tipo eram usualmente colocadas no centro nevrálgico da cidade, o forum, sendo que neste caso estaria distante do mesmo, quando comparado com a posição que se presume que o mesmo ocupasse.

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Atendendo a que esta zona se encontra sobre um dos grandes eixos viários de Olisipo, que entronca com a via para Scallabis depois do Campo de Santa Clara, poder- se-á colocar uma possibilidade de ter existido na zona um monumento importante. Para além disso, a existência de epígrafes do mesmo tipo em S. Vicente, nomeadamente a inscrição honorífica a Vespasiano (EO 80 e CIL II 185/CIL II S 5.217) e de uma outra epígrafe junto à desaparecida Igreja de São Tomé (CIL II 184) nas proximidades, dedicada a Nero, sugerem a possibilidade de ali ter existido um santuário do culto imperial. Para além disso, uma outra inscrição encontrada na área refere uma flamínica, [..]lia Vegeta (CIL II 197, EO 83), o que poderá ser significativo (Mantas, 2005, p. 30).

3. T. Marcius Marcianus – IIvir

Desempenhou funções de duúnviro em conjunto com Q. Antonius Gallus (nº 2) e, em conjunto, são dedicantes de uma inscrição, homenageando Matídia Augusta, sobrinha do Imperador Trajano (CIL II 4993; EO 82). Por este motivo, aplica-se o anteriormente mencionado para o magistrado com o nº 2, à excepção das características onomásticas.

No que respeita ao praenomen, Titus, e apoiando-nos em Vieira da Silva (1944, pp. 276-283) é pouco frequente; por seu turno Marcius ocorre sobretudo em regiões muito romanizadas da Hispânia, onde está razoavelmente representado (Mantas, 2005, p. 31).

4. M. Gellius Rutilianus, IIvir

Do duúnviro M. Gellius Rutilianus temos conhecimento através de duas inscrições em que é dedicante, em conjunto com L. Iulius Avitus (nº 5). Uma delas homenageia o imperador Adriano (CIL, 186, EO 91), outra homenageia a sua mulher, Sabina Augusta33 (CIL II 4992, CIL II 5221 e EO 72, ILER 1268, Curchin 369, 370).

Curchin (1990b, p. 175) data de 121- 122 d.C. e Salinas de Frias e Rodríguez Cortés (2000, p. 29) colocam estes dois magistrados igualmente entre 121-122 d.C..

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Esta inscrição encontrava-se em meados do século XVI no Beco do Bugio, havendo dela nota até 1773. Mantas

(2005, p. 32) considera que esta inscrição, em conjunto com a inscrição que os duúnviros aquí registados dedicam ao imperador Adriano, estariam colocadas em conjunto, o que explica a não colocação dos títulos imperiais nesta inscrição (vide anexo 2). Sobre os problemas que se levantam quanto à cronologia e atribuição desta epígrafe, vide Guerra, 2006, p. 280.

Mantas (2005, 32) data de 121 d.C., dado que Adriano deteve o poder tribunício pela quinta vez entre 10 de Dezembro de 120 d.C. e 9 de Dezembro de 121 d.C., ano a que pertencem os miliários hispânicos deste imperador com indicação do quinto poder tribunício. A datação levanta no entanto problemas. Tal como refere Amílcar Guerra (2006, p. 280), atendendo a que se tratam de dedicatórias pelos mesmos duúnviros, as mesmas teriam sido coevas, ponto que levanta problemas relacionados com a cronologia atribuída à titulatura destas figuras. Atendendo à referência ao quinto poder tribunício de Adriano, tal situa a dedicatória nos anos 120-121 d.C.; já no que respeita a Sabina, o epíteto Augusta implicaria uma datação mais tardia, possivelmente no ano de 128 d.C.. De todo o modo, a leitura do Anónimo Napolitano refere o seu décimo primeiro poder tribunício; aceitando, tal como Hübner (CIL, p. 692), que apenas o Anónimo Napolitano e Accursio efectivamente viram a inscrição e que os autores posteriores dependem deste último, a epígrafe dataria de ente Agosto de 126 d.C. e Agosto de 127 d.C.34.

A inscrição encontrava-se no século XVI num muro junto ao Tejo, frente ao convento de Xabregas, perdendo-se talvez ainda nesse século. O facto de a inscrição ter sido encontrada a alguma distância do centro de Olisipo, poderá estar relacionado com a possibilidade de neste local ter existido uma villa ou outro monumento romano, ou com a mudança e reutilização da pedra, que em muitos casos encontramos, o que parece ser corroborado pelo facto de se ter encontrado a epígrafe dedicada à imperatriz Sabina no Beco do Bugio, no centro da cidade, sendo de esperar que estivessem juntas (Mantas, 2005, p. 31).

O prenome Marcus está bem representado em Olisipo (Silva, A.V., 1944, pp. 276-283); o que não sucede com o gentilício Gellius, pouco representado na Península Ibérica, onde apenas conta com 12 representações, mesmo quando incluída a variante Gelius. O mesmo sucede com o cognome, Rutilianus, raro na Península Ibérica. (Mantas, 2005, p. 32).

A mulher deste duúnviro, [..]lia Vegeta, terá sido flamínica em Olisipo ( CIL II 197 e 5218; ILER 4453, EO 83); M. Gellius Rutilianus poderá ter sido igualmente flâmine mais tarde, ainda que não se possa falar de uma situação de causa-efeito35.

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Sobre o tema, e nomeadamente sobre o problema colocado relativamente às datas das epígrafes, vide Guerra, 2006, p. 280.

5. L. Iulius Avitus, IIvir

Desempenhou funções de duúnviro em conjunto com M. Gellius Rutilianus (nº 4), pelo que a descrição sobre as epígrafes de que são dedicantes e cronologia se lhe aplica igualmente.

No que respeita ao prenome, existem várias referências em Olisipo; por seu turno, em relação ao seu gentilício, encontra-se largamente representado nesta cidade (Silva, A.V., 1944, pp. 276-283). Avitus é um cognome frequente na Península, tendo uma boa representação em Olisipo36. É referenciado em todos os estratos sociais, ainda que pouco frequente entre libertos, e poderá recobrir por vezes um nome indígena, podendo derivar de um substrato itálico pré-latino (Mantas, 2005, p. 45, Kajanto, 1982, p. 18, 80).

6. Q. Coelius Cassianus – IIvir

Temos notícia deste duúnviro e do seu colega referido no nº 7, M. Fulvius Tuscus, através da homenagem que fazem ao imperador Cómodo, ainda em vida de Marco Aurélio.

Atendendo a que esta epígrafe se perdeu, não é possível confirmar a versão correcta, encontrando-se no anexo 2 a sua leitura, considerada por Hübner a mais correcta.

O seu gentilício, Coelius, tem alguma representação na Hispânia, menor na Lusitânia, tendo um cognome que o associa à gens Cassia, de provável origem itálica. Neste contexto, de acordo com Mantas, é possível que L. Cassius Reburrus (CIL XIV 413), duúnviro de Óstia, tenha aqui sido um representante do ramo lusitano (Mantas, 2002, pp.136-137).

Do seu filho Q. Coelius Aquila temos registo em CIL II 284, inscrição achada em Dois Portos, Torres Vedras. A epígrafe reflecte a existência de uma villa nesta zona, ainda não localizada, e será um sinal representativo da presença de elementos itálicos no termo de Torres Vedras (Mantas, 2002, pp. 136-137). Para Guilherme Cardoso (Cardoso et alii, 2008, p. 5), Q. Coelius Cassianus seria certamente o proprietário da villa de Dois Portos, Torres Vedras.

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Relacionado com esta questão está a epígrafe da ermida da Serra de S. Julião, perto de Dois Portos, onde se regista o nome Mascellius, também presente numa inscrição da Quinta da Portucheira. Para Vasco Mantas (2005, p. 35), a sua ocorrência na região de Torres Vedras pode indicar relações com os Coelii de Olisipo, tal como sugere uma inscrição de Roma mencionando uma Coelia Macellina, negoatatrix olearia ex Baetica.

Antes de 1755, a epígrafe estava na parede de uma das casas da Rua da Madalena, próximo portanto do local onde se poderia situar o fórum da cidade, de onde poderia ter sido deslocada (Silva, A.V., 1944, p. 117).

Emílio Hübner (Silva, A.V., 1944, p. 116), Julián de Francisco Martín (1978, p. 236), Curchin (1990b, p. 175) e Salinas de Frías e Rodríguez Cortés (2000, p. 29) colocam estes dois magistrados entre 178-180 d.C.. De acordo com a titulatura, Mantas (2005, p. 34) situa a homenagem em 176 d.C., dado que indica os títulos de germânico e Sarmático, recebidos em 172 d.C. e 175 d.C., não mencionando outros títulos assumidos em 177 d.C. ou ainda no final de 176 d.C., quando aos 15 anos de idade toma o título de Imperator, enquanto sucessor presuntivo de Marco Aurélio, com quem governa entre 176-180 d.C..

7. M. Fulvius Tuscus - IIvir

Desempenhou funções de duúnviro em conjunto com Q. Coelius Cassianus (nº 6), pelo que as informações relativas à cronologia se lhe aplicam igualmente.

O facto de a epígrafe se ter perdido permite várias leituras do nome deste duúnviro, sem possibilidade de confirmação. Assim, é apresentado por Vieira da Silva (1944, p. 116) como M. Fulvius Tuscus, encontrando-se em Curchin (1990b, p. 175) como M. Fabricius Tuscus. Julián de Francisco Martín (1977, p. 236) apresenta-o com M. Fabricius Turcus (?).

De acordo com o levantamento efectuado por Vieira da Silva (1944, pp. 277- 283), trata-se da úníca referência, em indivíduo masculino, em Olisipo.

8. |Se|x(tus) Iulius Avitus e 9. [.]Cassius […] , duúnviros

Os duúnviros surgem numa inscrição numa ara, em que em nome de Felicitas Iulia Olisipo consagram a uma entidade divinizada de natureza abstracta associada ao

imperador, Liberdade Augusta. Trata-se de dois elementos pertencentes a duas das mais conhecidas famílias de Olisipo, nomeadamente a gens Iulia e a gens Cassia.

Fotografia 2: |Se|x(tus) Iulius Avitus e [.]Cassius […], in Guerra, 2006, p. 281

Tal como avança Amílcar Guerra, existe desde logo uma associação de |Se|x(tus) Iulius Avitus a L(ucius) Iulius Avitus, que surge como duúnviro, com M. Gellius Rutilianus, em duas dedicatórias, nº 5 e 4, respectivamente. Apesar do cognomen ser igual, dado os cognomina serem repetidos com frequência nas grandes famílias, não será possível estabelecer maior relação entre estas duas personagens que não seja o facto de ambos pertencerem à gens Iulia (Guerra, 2006, p. 281).

A inscrição insere-se no culto imperial provincial, introduzido por Tibério, possuindo um carácter religioso e sobretudo político, sendo proposta por Amílcar Guerra uma cronologia no âmbito do século II d. C. (Guerra, 2006, p. 282).

10. C. Caecilius Q. f. Gal. Gallus – aedilis

O seu nome surge em homenagem que lhe faz sua mulher Peticia Tusca, a qual figura igualmente na inscrição EO 53, CIL II 292 e ILER 2195.

A inscrição encontrava-se no muro da Porta do Ferro, sendo que após a demolição do muro, a pedra, visível em 1768, foi levada para a colecção de Cenáculo, onde há testemunhos de estar pelo menos em 1798 (Silva, A.V., 1944, p. 184).

Atendendo ao facto de a Porta do Ferro se encontrar no centro urbano de Olisipo, Mantas (2005, p. 36) julga poder atribuir-se esta pedra à necrópole que se situava na zona da antiga igreja de S. Nicolau.

Julián de Francisco Martín relaciona-o com o edil Q. Caecilius Q. f. Gal. Caecilianus (nº 13), como familiar, sugerindo igualmente um inter-relacionamento entre os dois edis e L. Caecilius Celer Rectus, ainda que, dada a frequência do gentilício Caecilius, comporte alguma dúvida (De Francisco Martín, 1977, pp. 238-239). Mantas (2005, p. 36) propõe igualmente como hipótese a possibilidade de considerar outras relações prováveis, nomeadamente com um T. Caecilius Gallus, registado em S. Miguel de Odrinhas, Sintra, bem como com L. Caecilius Gallus, tio de M. Fulvius Caecilianus (CIL II 193; IRCP 446), registado em inscrição funerária encontrada no Redondo, próximo de Évora.

O seu cognome encontra-se sobretudo em zonas mais romanizadas (Untermann 1965, mapa 41, pp. 111-112).

Segundo Mantas (2005, p. 37), é quase certo tratar-se de mais um testemunho de emigração itálica para a Hispânia, propondo uma datação do século I d.C..

11. C. Iulius C. f. Gal. Rufinus – aedilis designatus

Trata-se de um novo representante da gens Iulia, o qual morre antes de exercer as funções de edil para a qual havia sido designado como referido na sua inscrição fúnebre.

A epígrafe foi descoberta no século XVII nos alicerces da muralha da Porta do Ferro, tendo sido extraviada e posteriormente redescoberta, em 1922, numa escavação de um armazém da Rua das Canastras. Actualmente, encontra-se no Museu da Associação dos Arqueólogos Portugueses, no convento do Carmo (Silva, A.V., 1944, p. 145).

Os C. Iulii estão bem representados em Olisipo (Silva, A.V., 1944, p. 280), contando tanto com ingénuos como com libertos, como são disso exemplo os augustais C. Iulius Euthicus e C. Iulius C [atulinus?], que apresentaremos adiante. A associação Caius e Julius, indica uma relação bastante provável com os estatutos adquiridos nos finais da República, início do Império. De acordo com Mantas, será talvez do século I (Mantas, 2005, p. 39).

O nome e magistratura surgem numa epígrafe funerária datável de finais do séc. I d. C.-inícios do séc. II d. C, actualmente presente no adro da igreja paroquial de Bucelas, no concelho de Loures, no ager Olisiponensis.

Fotografia 3: L. Iulius Iustus, CIL II 313 (fotografia de J. Cardim Ribeiro, in Fernandes, Luís, 2003, p. 53)

Esta epígrafe transmite-nos a informação de que o edil morreu aos 28 anos de idade, dando-nos igualmente a conhecer o nome dos seus pais, dedicantes, Lucius Iulius Reburrus e Iulia Iusta37. O edil está identificado com os tria nomina, com a indicação da sua filiação e com a sua tribo, a Galéria, denotando a sua condição de cidadão romano, já os seus pais não indicam de forma clara o seu estatuto. Assim é que o seu pai indica os tria nomina mas não faz referência nem à filiação nem à tribo, podendo assim tratar-se de um liberto. Por seu turno, a sua mãe omite igualmente a filiação e tem o mesmo nomen que o marido, pelo que se poderá tratar de um casal de libertos (Fernandes, Luís, 2003, p. 31).

O prenome Lucius está bem representado em Olisipo, sendo Iustus um cognomen latino associado a qualidades morais e sociais. Em Olisipo encontram-se

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registos tanto em cidadãos romanos como em libertos (Silva, A.V., 1944, pp. 277-283). No que respeita ao cognomen do pai, Reburrus, trata-se de um antropónimo indígena, não estando atestado no meio servil. Salienta-se que a omissão da filiação e da tribo é comum nos dedicantes masculinos aparentados com cidadãos romanos, em Olisipo e seu ager, pelo que o pai poderá ter sido um cidadão romano de origem indígena (Fernandes, Luís, 2003, p. 32). Possuiria certamente propriedades agrícolas na zona de Bucelas, onde foram encontrados vestígios arqueológicos atribuíveis ao final do século I. d.C. e ao século II d.C.. Como sugerido por Luís da Silva Fernandes (2003, p. 47), o cultivo de cereais e eventualmente de vinho deveria constituir uma das suas fontes de rendimentos.

13. Q. Caecilius Q. f. Gal. Caecilianus, aedilis – Serra de São Julião

Fotografia 4: Q. Caecilius Caecilianus, CIL II 26138

A inscrição CIL II 261 encontra-se no Museu Municipal de Torres Vedras, tendo sido objecto de estudo por parte de Vasco Mantas, que a data de meados do século II d.C. (Mantas, 1982, p. 78). Trata-se de uma tampa de arca cinerária proveniente de uma parede do pátio da Quinta da Rainha que para aqui havia sido levada, após 1633, estando anteriormente na ermida da Serra de São Julião, concelho de Torres Vedras, pertencente ao ager olisiponensis, onde servia como pedra de altar. A epígrafe pertenceria a um mausoléu, com qualidade e dimensões de acordo com uma família da

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Agradecemos ao Dr. Carlos Anunciação, do Museu Municipal de Torres Vedras, o facto de nos ter permitido realizar esta fotografia.

ordo decurionum, constituindo um bom indício da riqueza e cultura desta família (Mantas, 1982, p. 71, e 2002, p. 136).

Trata-se de uma dedicatória feita pela mulher, Iulia M. f. Marcella, ao edil e ao filho, M. Caecilius Avitus (CIL II 261; ILER 5550; Curchin 376).

Julián de Francisco Martín apresenta este edil como provavelmente aparentado com o edil C. Caecilius Q. f. Gal. Gallus, relacionando-os com L. Caecilius Celer Rectus, ainda que a abundância do gentilício permita alguma margem de dúvida (De Francisco Martín, 1977, p. 239). Mantas relaciona ainda os dois edis, como provavelmente aparentados com L. Caecilius Gallus, tio de um M. Fulvius Caecilianus, que constam numa inscrição funerária recolhida no Redondo, próximo de Évora (CIL II 193). Q. Caecilius Caecilianus será possivelmente de origem itálica, apesar de o cognomen do filho, Avitus, poder reflectir parentesco com indígenas romanizados. Ainda que a epígrafe não explicite em que município o magistrado exerceu as suas funções de edil, atendendo à vocação olisiponense da região de Torres Vedras, bem como à referência à tribo Galeria, à distribuição do gentilício Caecilianus e do cognome Avitus, Vasco Mantas (1982, pp. 74-78) inclui-o nos magistrados de Olisipo, atribuindo- lhe uma datação de meados do século II.

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