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4.3 Magistratus

4.3.3 Questores

Os questores estavam encarregados especificamente da administração e gestão dos fundos públicos (Lex Irnitana, 20), pelo que, como acima referido, teriam de prestar juramento de correcta gestão dos fundos municipais (Abascal e Espinosa, 1989, p. 138, D’Ors, 1953, pp. 145).

Tal como sucedia nas magistraturas anteriores, para desempenharem esta magistratura deveriam ter nascimento livre, ter pelo menos 25 anos de idade e possuir rendimentos (Abascal e Espinosa, 1989, p. 138).

De acordo com Roldán Hervás (2001, p. 418), estes são raros na Hispânia. A figura do questor ganhou nova importância com os Flávios, dado que uma das suas preocupações seria a regularização das finanças das cidades e evitar abusos dos magistrados a nível económico. As suas funções e poderes estão por exemplo expressas na Lex Irnitana, 20 (Mangas, 1996, p. 73).

Para além dos cargos acima mencionados, na ausência de um dos duúnviros por mais de um dia, era nomeado um praefectus, que o substituía até ao seu regresso, sendo eleito de entre os membros da cúria municipal com mais de 35 anos de idade e detendo poderes iguais. Caso os dois magistrados estivessem ausentes, seria designado um praefectus pro duoviris.

Nos municípios existiriam igualmente sacerdotes, sobre os quais nos debruçaremos no capítulo 5, e juízes para assuntos privados. No que se refere aos juízes, trata-se de um cargo sobre o qual não existe muita informação; apesar de tudo, de acordo com Abascal e Espinosa (1989, p. 145), o colégio judicial deveria contar com pelo menos 15 elementos, com idades compreendidas entre os 25 e os 65 anos de idade. Os juízes teriam um estatuto social equivalente ao dos duúnviros e ser-lhes-ia exigido uma fortuna mínima de 5000 sestércios11.

Em Olisipo, podemos constatar as marcas deixadas por cada um destes elementos que compunham o sistema de funcionamento dos municípios. Verificamos a presença de elementos do populus em diversas epígrafes e observamos a acção dos decuriões, por exemplo, em EO 15, 27, 36, 60. No que respeita à sua gestão, este município contaria com dois duúnviros e dois edis (Moita, 1994, p. 60), havendo actualmente registo de nove duúnviros e seis edis, como veremos em 5.2.1..

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Deles temos registos quer em lápides funerárias, como em EO 33, 42, 75, 87, quer em memórias que lhes são dedicadas, como é o caso da inscrição dedicada ao edil, duúnviro e flâmine do culto imperial Quintus Iulius Plotus (EO 41), quer no desempenho das suas funções. É o caso, por exemplo, das inscrições de homenagens a imperadores ou a outros membros da família imperial, em que a cidade Felicitas Iulia Olisipo oferece ou dedica através dos duúnviros, registando os respectivos nomes.

Relativamente ao cargo de questor, à semelhança do que sucede na maioria das cidades hispânicas, não existe referência segura da existência de um questor em Olisipo, sugerindo que a questura não terá existido em muitas delas, talvez por ser um munus pessoal e não um honor (Mantas, 2005, p. 27). O mesmo se passa, por exemplo em Emerita Augusta (Saquete Chamizo, 1997, p.120). Neste caso, os duúnviros ocupar-se- iam dos assuntos financeiros de Olisipo, com o apoio dos edis (Mantas, 2005, p. 28). Fazemos contudo breve referência a Marco Varrão, identificado como questor, referência que surge em lápide dedicada por seus pais, Lúcio Varrão e Fúlvia Élia. Ainda que seja apresentada por Vieira da Silva (EO 29), o mesmo refere que segundo Emílio Hübner a lápide será falsa pelo facto de ser semelhante a uma descoberta na cidade de Parma em 1524, baseando-se talvez no padre Tomaz Caetano de Bem (Silva, A.V., 1944, pp. 128-129).

5 Felicitas Iulia Olisipo e as suas elites

De acordo com Estrabão (III, 3,1) Decimus Iunius Brutus, governador da Hispânia Ulterior, ocupou Olisipo em 138 a.C., tendo procedido à fortificação deste município.

Na altura em que é conquistada pelos romanos, a cidade pré-romana deveria restringir-se ao povoado indígena do alto da colina do Castelo e à zona ribeirinha. Através dos vestígios que se vão encontrando nas escavações, vislumbra-se que nesta área conviveriam indígenas, indivíduos de vários pontos do Mediterrâneo, incluindo romanos ou romanizados, que mantinham os seus entrepostos de produção e comercialização. A cidade deverá ter-se desenvolvido de uma forma rápida, dado que é possível verificar, com base na cronologia dos principais monumentos, que no século I a.C. os romanos já deveriam ter povoado toda a parte sul da colina do Castelo (Moita, 1994, p. 43).

A área urbana de Olisipo estendia-se do Castelo à Rua dos Bacalhoeiros e da Rua Augusta ao Chafariz d’El Rei, ficando as necrópoles fora desta área, como sucedia nas urbs romanas (Alarcão, 1994, p. 60). De acordo com Vasco Mantas (2005, p. 25), Olisipo ocuparia uma área de 35 hectares.

Jorge de Alarcão estima a população de Olisipo, em época de Augusto, entre 30 a 40 000 habitantes (Alarcão, 1990, p. 396). Irisalva Moita (1994, p, 45), por seu turno, ainda que não avance um número mas considere que deveria ser elevado, refere que atendendo à área da cidade e ao elevado número de habitantes, dado o grande número de lápides encontradas e o facto de apenas uma minoria poder tê-las, Olisipo deveria ter sido uma cidade bastante populosa, mais do que Pax Iulia a que Alarcão atribui em torno de 30 000 habitantes.

A importância de Olisipo surge desde logo associada ao Tejo, pela relevância das actividades que lhe estão associadas, pelos contactos entre povos e culturas que permite, pela dimensão que por estes motivos adquire. O rio Tejo será, desde períodos muito anteriores ao domínio romano, uma grande via de comunicação que permite tanto o acesso ao interior peninsular, como a comunicação marítima com o exterior, sobretudo como escala da rota atlântica dos minérios desenvolvida e controlada por Fenícios e Cartagineses (Mantas, 1997, p. 16).

O dinamismo de Olisipo sobressai sobretudo nos séculos I e II d.C., o que é demonstrado pelos vestígios arqueológicos, e estará assim associado ao facto de ser um local de recepção e de distribuição dos produtos que chegavam por via mediterrânica. Entre os produtos locais produzidos e com possibilidade de exportação seria de salientar sobretudo o já referido garum, de relevo para a economia de Olisipo, ainda que como referido anteriormente este tivesse de concorrer com o garum de Gades, que era preferido no Império Romano. Em complementaridade a esta produção desenvolveram- se uma série de outras actividades e indústrias, nomeadamente a pesca, a olaria, para a produção de ânforas para o transporte do produto, a produção de sal e a construção de redes.

No ager Olisiponensis haveria igualmente produção de vinho, existindo indícios de cultivo da vinha com eventuais raízes já em épocas pré-romanas (Fabião, 1998, p. 174), e do azeite, no entanto estes não conseguiam concorrer com os produtos similares de outras províncias do império, como era o caso do azeite da Bética, por serem considerados de qualidade inferior.

Atendendo à relevância de Olisipo, resulta curioso, como refere Maria Graciana Dias Marques, que nunca tenha sido identificado o seu nome em qualquer moeda cunhada na Hispania. A autora admite como hipótese para esta situação o facto de Olisipo se encontrar afastada das grandes zonas mineiras de exploração de cobre e prata, mais favoráveis à produção de moeda comum, usufruindo, por seu turno, dada a sua posição estratégica, enquanto centro de circulação viária e portuária, de moedas locais e regionais, bem como romanas, nomeadamente através de legionários12.

A história das elites fica associada às marcas registadas na cidade a nível de monumentos, pelo que antes de analisarmos quem constituía a elite de Olisipo e qual o estatuto deste município, abordaremos brevemente os seus mais significativos vestígios arqueológicos, contribuindo, desta forma, para traçar um breve perfil da própria cidade enquanto estrutura urbana.

Lisboa assemelha-se, como referido anteriormente, a Roma enquanto urbs. Recebe teatro, termas, circo, monumentos que, num ou noutro caso, podemos associar a indivíduos de relevo na cidade. No que respeita aos vestígios do período romano em Lisboa, têm sido identificados em vários locais, entre eles a Sé, o Castelo de São Jorge,

a Praça da Figueira, a Casa dos Bicos, a Rua das Pedras Negras, a Rua de São Mamede ao Caldas, a Rua da Madalena, ou a Rua Augusta.

Figura 1: Felicitas Iulia Olisipo (in Mantas, 1990, p. 166, Fig. 2)

Ainda que brevemente, podemos então identificar entre os mais significativos vestígios arqueológicos de Felicitas Iulia Olisipo os seguintes:

-O teatro

Situado na Rua de São Mamede ao Caldas, as suas ruínas são descobertas em 1798, quando se procedia à urbanização da zona. A descoberta é tradicionalmente atribuída a Francisco Xavier Fabri, que terá efectuado nesse ano os primeiros levantamentos gráficos13.

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A autora coloca ainda a questão contrária, i.e., questiona sobre se seria exactamente essa larga exposição ao exterior por parte de Olisipo um obstáculo à produção de moeda. Cf. Marques, 2008, p. 10

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Figura 2: Levantamento das ruínas do teatro romano de Lisboa, de Francisco Xavier, c. 1798 (in Fernandes, Lídia, 2007, p. 29).

Esta estrutura de lazer surge desde logo relacionada com a figura de Caius Heius Primus, augustal perpétuo, que no ano 57 d. C. manda fazer obras de renovação e ornamentação do monumento, com uma repavimentação da orchestra e a renovação do proscaenium, com a utilização de pedras marmóreas. Esta «marmorização da arquitectura», como refere Lídia Fernandes (2007, p. 37), surge com Augusto no centro do Império e vai-se alastrando depois às províncias, sendo este acto de benemerência disso um exemplo.

A obra é dedicada a Nero14, como consta na inscrição do muro do proscenium (CIL II, 183, EO 70) que hoje se encontra no Museu do Teatro Romano, e coincide com a data em que é inaugurado em Roma o anfiteatro de Nero. A remodelação do teatro de Olisipo por Caius Heius Primus visaria enaltecer o imperador e integrar o município nos ludi romani que decorriam em Roma (Fernandes, Lídia, 2007, p. 38). O monumento deverá ser, no entanto, anterior, possivelmente do tempo de Augusto ou pouco posterior.

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Stylow contesta que a inscrição seja dedicada a Nero, parecendo-lhe mais lógico que a titulatura imperial sirva como datação, propondo assim a correcção da leitura de NERONI para um ablativo de datação – NERONE. Há igualmente referência a C. Heius Primus em CIL II 196 e EO 71. Para além disso, terá sido recentemente detectada uma inscrição incompleta que documenta uma outra doação deste augustal, inscrição reutilizada num edifício moderno próximo do teatro. Cf. Fernandes, Luís, 2005, pp. 31-32.

Terá sido abandonado/demolido nos finais do século IV, inícios do século V d. C. (Diogo e Trindade, 1999a, p. 87).

Para além da inscrição do muro do proscenium em que consta o acto benemérito de Caius Heius Primus, realçamos outras duas peças encontradas no local do teatro, nomeadamente os dois silenos encontrados nos primeiros trabalhos de descoberta, um deles hoje no Museu do Teatro Romano e o outro no Museu Nacional de Arqueologia.

A presença em Olisipo de um teatro, seria um símbolo do poder de Roma e da romanidade e contribuiria para o aprofundar do modus vivendi romano.

-As Termas da Rua das Pedras Negras – «Termas dos Cássios»

As ruínas são descobertas em 1771, quando se construía o Palácio do Correio- Mor, depois conhecido por Palácio Penafiel. As «Termas dos Cássios» situar-se-iam, de acordo com Vieira da Silva (1944, pp. 48-49, 114), pelos números 14 e 16 da Rua das Pedras Negras.

A sua construção datará possivelmente do século I d.C e delas temos de novo notícia aquando da sua renovação por Numério Albano, vir clarissimus e praeses provinciae Lusitaniae, como é atestado em CIL II 191 e EO 22. Na própria inscrição é mencionado o nome dos cônsules, Nepociano e Facundo, o que permite assim datar a renovação de 336 d.C. Nela são designadas por «Thermae Cassiorum», o que levou arqueólogos a atribuírem a sua construção a Quintus Cassius Longinus, Propretor da Hispânia Ulterior em 44 a. C., e a Lucius Cassius, seu irmão e seu legado ou lugar- tenente, donde lhe ser atribuída uma data anterior a 49 a. C., ano em que faleceu o primeiro dos irmãos Cássios. Ainda que esta possa ser uma hipótese, dada a quantidade de vezes em que aparece o nome Cassius em inscrições de Olisipo, os Cássios referidos na inscrição poderão não ser os irmãos aqui acima referidos (Moita, 1994, p. 48).

Terão sido abandonadas/demolidas nos finais do século IV, inícios do século V d. C. (Diogo e Trindade, 1999a, p. 87).

Figura 3: Inscrição publicada por Vieira da Silva na sua Epigrafia de Lisboa, correspondente a “copia dum desenho da pasta s/n.o de inscrições lapidares de Cenáculo (Biblioteca regional de evora)” (Silva, A. V., 1944, p. 114, n.o 22). (in Fernandes, Lídia, 2009, p.198).

-O criptopórtico

O monumento do subsolo da Rua da Prata foi reconhecido em 1770, tratando-se de uma estrutura que se estende a sul até à Rua de São Julião, a oriente termina no início da rampa que sobe para a Madalena, a norte atinge a Rua da Conceição e a poente aproxima-se da Rua Augusta.

Na altura é designado de «Termas Romanas da Rua da Prata», atendendo ao facto de nela se ter encontrado uma epígrafe, possivelmente do tempo de Tibério, dedicada pelos augustais M. Afranius Euporio e L. Fabius Daphnus ao deus Esculápio, divindade protectora da saúde e da medicina, que aparece frequentemente junto de monumentos termais.

De todo o modo, não se sabe exactamente onde se encontrava esta epígrafe nem se originalmente estaria no criptopórtico ou na parte superior (Fabião, 1994, p. 68).

A designação na altura atribuída e a sua função foi sendo posta em causa, estando hoje o monumento identificado como criptopórtico (Ribeiro, J, 1994 b), sendo clara a semelhança estrutural com outras estruturas idênticas (Guerra, 1995, p. 92)15.

Não estão no entanto identificadas quais as construções das quais o criptopórtico seria a base. Jorge de Alarcão (1988b, p. 125) sugeriu que se trataria de um criptopórtico em que assentariam umas termas, tendo sido sugerido por Cardim Ribeiro que poderia tratar-se da base do fórum corporativo de Olisipo, um fórum secundário destinado simultaneamente a funções socioeconómicas e religiosas (Ribeiro, J, 1994 a, pp. 193-194 e 1994 b, p. 323).

-Necrópole da Praça da Figueira/Largo de S. Domingos/ Calçada do Garcia

Destaca-se esta necrópole por se tratar do maior local de enterramento conhecido até ao momento em Olisipo, abrangendo uma cronologia entre os séculos I e III d.C. (Alarcão, 1988a, p. 125).

Tal como acontecia em toda as cidades romanas, as necrópoles de Olisipo ficavam na saída da cidade, fora do seu pomerium, ao longo das vias que iam para norte, noroeste e oriente. Era assim o caso da necrópole que ocuparia uma área a sudoeste da cidade, junto à via que levava à capital conventual, e o da necrópole que se implantava numa área ao longo desta mesma via, entre o campo de Santa Clara e a Calçada da Cruz da Pedra. Na área da civitas foram já recolhidas lápides funerárias em vários outros pontos, como seja em Chelas, Ajuda ou na Avenida da República (Moita, 1994, p. 54).

Através da análise da origem dos antropónimos patentes nas inscrições poder-se- á ver, no que respeita à composição da população deste município, que ainda que na maior parte dos casos os antropónimos tenham sido alatinados ou substituídos por outros de origem latina, para além de romanos ou itálicos, havia um número importante de indivíduos de aparente origem oriental, em particular grega, como o revelam os nomes de Filocalo (EO 12), Tyche (EO 25), Thymele (EO 39) e Filogeno (EO 47), entre outros.

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-Circo16

O circo situava-se na zona do Rossio, com uma datação provável de construção na 2ª metade do século III d.C., para cuja datação contribui o estudo da terra sigilata encontrada na escavação arqueológica do Rossio, bem como outros factores, como seja o facto de circos com euripus serem apenas conhecidos a partir das alterações de Trajano no Circus Maximus. O circo encontrava-se em terrenos ocupados ou adjacentes à necrópole da Praça da Figueira, a qual terá funcionado entre os séculos I e III d.C., tendo a sua desactivação permitido que o espaço fosse dedicado a uma nova função. É assim avançada como bastante plausível a hipótese da sua construção após o desactivar da necrópole, reforçada pelos materiais encontrados nas escavações, em que alguma cronologia vai até ao século IV d.C., pelo que a sua construção deverá ser a partir da segunda metade do século III ou mesmo nos inícios do século IV d.C. (Sepúlveda et alii, 2002, pp. 250-259).

Os circos necessitavam de uma área considerável e que fosse de preferência plana, com fáceis acessos e que ficasse próximo da cidade; para além disso o euripus necessitaria de uma quantidade de água considerável, para encher as suas bacias. Tal só seria possível tendo a cidade um abastecimento de água constante (Sepúlveda et alii, 2002, pp. 258-259), o que no caso de Lisboa terá sido construído no século III d.C. (Almeida, F, 1969, p. 179).

Ainda que o século IV d.C. não seja tradicionalmente um século de grandes obras públicas, o facto é que em Olisipo contamos igualmente com uma obra importante neste século, tendo as «Termas dos Cássios», como referido anteriormente, sido igualmente renovadas no século IV d.C..

-Templos

Augusto Vieira da Silva (1944, p.81 e pp. 120-123, EO 25 e 26) considera a possibilidade de existência de um templo dedicado à Mãe dos Deuses, junto ao local onde duas lápides lhe são dedicadas, uma delas (EO 25) pela cernófora Flavia Tyche. As ruínas deste monumento romano surgem quando João de Almada construía o seu prédio, situado entre a Rua das Pedras Negras, Travessa do Almada e Largo da Madalena, em 1753, e pelo facto de se terem então encontrado nelas as duas referidas

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inscrições dedicadas à grande Mãe dos Deuses, Idae Phrygiae. O edifício acaba por passar a ser conhecido como um templo dedicado à deusa Cíbele, hipótese que, como refere Irisalva Moita, se não for certa constitui de todo o modo uma possibilidade (Moita, 1994, p. 40).

Existe um número significativo de registos epigráficos referentes a divindades romanas cultuadas em Olisipo, como seja em monumentos consagratórios e votivos – bases de estátuas ou ex-votos - o que revelará que mesmo que não tenham tido templos próprios, foram de todo o modo objecto de culto neste município.

Há assim registos de culto a diversas divindades, entre elas a Júpiter, que temos conhecimento por exemplo através de uma ara dedicada a Iovi Optimo Maximo (EO 127), a Baco, referido em ara em que é designado por Patri Libero (EO 144-F), ao deus Mercúrio, a Esculápio desde logo conhecido pela lápide encontrada no monumento da Rua da Prata e já aqui referido (EO 103), a Diana, culto documentado numa ara encontrada no Castelo de São Jorge em 1939 (EO 1). O culto a Apolo é também conhecido através de uma base de estátua que lhe é dedicada, com uma inscrição consagrada pelo augustal M. Iulius Tyrannus (EO 101). É conhecido igualmente o culto à deusa Concórdia, a quem se refere uma ara encontrada perto ou incrustada na antiga igreja de São Mamede (EO 24).

Foi também avançada a possibilidade de existirem outros monumentos, como é o caso do templo dedicado à deusa Tétis, colocado no local onde se encontra hoje a Igreja de São Nicolau, o que para Mantas é de autenticidade duvidosa (Mantas, 1994, p. 73).

Uma breve nota para o facto de que, como avança Robert Étienne, se dever entender o templo como um complexo arquitectónico que integra o edifício religioso, com pórticos que desenham os percursos das procissões onde as estátuas de sacerdotes e sacerdotisas são instaladas em território sagrado, o temenos do templo. Étienne realça que a revolução flávio-trajânica transformou o fórum tradicional num fórum de tipo imperial, com o templo rodeado por três pórticos, onde a circulação se faz de forma idêntica à do pronaos e à da cella do templo; uma segunda praça, diante da primeira, é também rodeada por pórticos e acolhe os devotos (Étienne, 2002, pp. 101-102).

-Barragem romana e aqueduto

Olisipo terá tido também um aqueduto, de que Francisco de Holanda, no século XVI, dá conta. Associada está também a construção de uma barragem, no século III

d.C., que teria servido para a formação da albufeira de onde partia o aqueduto que levava a água até Lisboa, até à Porta de Santo André (Almeida, F, 1969, pp. 179-189). De acordo com Alarcão (1994, p. 60), a barragem será possivelmente bastante mais antiga do que o século III d. C.

-Unidades de preparados piscícolas

Foram encontrados diversos vestígios destinados a preparados piscícolas neste município. A actividade possivelmente seria já pré-existente à chegada dos romanos, sendo possível que no actual território português a actividade de conserva de peixe se tenha desenvolvido a partir do século V a.C., em locais onde com o domínio romano

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