• Nenhum resultado encontrado

Artigo 12.º: Envio de decisão sobre medidas de coacção para fiscalização noutro Estado membro

3. A Lei n.º 36/2015, de 4 de Maio

A Lei n.º 36/2015 foi alvo da declaração de rectificação n.º 23/2015 de 04 de Maio, e regula o regime jurídico da emissão, do reconhecimento e da fiscalização da execução de decisões sobre medidas de coacção em alternativa à prisão preventiva, bem como a entrega de uma pessoa singular entre Estados Membros no caso de incumprimento das medidas impostas. Transpôs a Decisão Quadro 2009/829/JAI, de 23 de Outubro, que, supra, analisámos.

De referir que o prazo para transposição da Decisão Quadro foi ultrapassado, devendo tal ter sido efectuado até 01.12.2012.

Da análise da Lei, por contraposição à Decisão Quadro, constatamos que esta foi correctamente transposta, importando para a ordem jurídica interna as normas estabelecidas pela União Europeia, que nos escusaremos de analisar repetidamente, na medida em que as regras contidas na Lei em análise reproduzam o vertido na DQ.

De realçar que, no que ao artigo 3.º da Lei n.º 36/2015 respeita, o mesmo contém o elenco dos crimes a que se aplica o presente regime, sendo que apenas se exige que os mesmos

constituam crime no local onde foi cometida a infracção – o Estado de emissão e que sejam punidos, nesse mesmo Estado, com pena de prisão superior a 3 anos. Caso estejam em causa crimes não elencados no artigo 3.º, optou o legislador por exigir a dupla incriminação, regra segundo a qual, o facto tem que constituir crime, quer no estado de emissão, quer no Estado de execução.

Assim, o regime da presente Lei aplica-se aos seguintes crimes: a) Participação numa organização criminosa;

b) Terrorismo;

c) Tráfico de seres humanos,

d) Exploração sexual de crianças e pedopornografia;

e) Tráfico ilícito de estupefacientes e substâncias psicotrópicas; f) Tráfico ilícito de armas, munições e explosivos;

g) Corrupção;

h) Fraude, incluindo a fraude lesiva dos interesses financeiros das Comunidades Europeias na acepção da Convenção, de 26 de Julho de 1995, relativa à Protecção dos Interesses Financeiros das Comunidades Europeias;

i) Branqueamento dos produtos do crime;

j) Falsificação de moeda, incluindo a contrafacção do euro; k) Cibercriminalidade;

l) Crimes contra o ambiente, incluindo o tráfico ilícito de espécies animais ameaçadas e de espécies e variedades vegetais ameaçadas;

RECONHECIMENTO E EXECUÇÃO DE DECISÕES EUROPEIAS QUE APLICAM MEDIDAS DE COAÇÃO

5. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

m) Auxílio à entrada e à permanência irregulares;

n) Homicídio voluntário, bem como ofensas corporais graves; o) Tráfico de órgãos e tecidos humanos;

p) Rapto, sequestro e tomada de reféns; q) Racismo e xenofobia;

r) Roubo organizado ou à mão armada;

s) Tráfico de bens culturais incluindo antiguidades e obras de arte; t) Burla;

u) Extorsão de proteção e extorsão; v) Contrafação e piratagem de produtos;

w) Falsificação de documentos administrativos e respetivo tráfico; x) Falsificação de meios de pagamento;

y) Tráfico ilícito de substâncias hormonais e de outros estimuladores de crescimento; z) Tráfico ilícito de materiais nucleares e radioactivos;

aa) Tráfico de veículos furtados ou roubados; bb) Violação;

cc) Fogo-posto;

dd) Crimes abrangidos pela jurisdição do Tribunal Penal Internacional; ee) Desvio de avião ou navio;

ff) Sabotagem.

No que concerne ao elenco das medidas de coacção constantes do diploma que analisamos,

optou o legislador por fazer constar da Lei as medidas obrigatórias a todos os Estados Membros:

a) Obrigação de comunicar às autoridades competentes qualquer mudança de residência, especialmente para receber a notificação para comparecer em audiência ou julgamento durante o processo penal;

b) Interdição de entrar em determinados locais, sítios ou zonas definidas do Estado de emissão ou de execução;

c) Obrigação de permanecer num lugar determinado durante períodos especificados; d) Obrigação de respeitar certas restrições no que se refere à saída do território do Estado de execução;

e) Obrigação de comparecer em determinadas datas perante uma autoridade especificada; f) Obrigação de evitar o contacto com determinadas pessoas relacionadas com a ou as infrações alegadamente cometidas.

Além das medidas obrigatórias a todos os Estados Membros, constam ainda 4 medidas, conforme permitido pelo artigo 8.º, n.º 2 da DQ:

– Alíneas g) a j):

g) Suspensão do exercício de profissão, de função, de actividade e de direitos; h) Caução;

RECONHECIMENTO E EXECUÇÃO DE DECISÕES EUROPEIAS QUE APLICAM MEDIDAS DE COAÇÃO

5. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

i) Sujeição, mediante prévio consentimento a tratamento de dependência de que padeça e haja favorecido a prática do crime, em instituição adequada;

j) A obrigação de evitar o contacto com determinados objectos relacionados com as infracções alegadamente cometidas).

O artigo 5.º estabelece como autoridade competente para recepção de pedidos de

reconhecimento e acompanhamento da execução de medidas de coacção provenientes de outros estados membros da União Europeia, a secção central de instrução criminal, ou, nas áreas não abrangidas por secções ou juízes de instrução criminal, a secção de competência genérica da instância local ou, em caso de desdobramento, a secção criminal da instância local por referência ao Tribunal de 1.ª instância da comarca da residência ou da última residência conhecida do arguido ou, se não for possível determiná-la, a secção criminal da instância local do tribunal judicial da comarca de Lisboa. respeitou-se a DQ, que determina que deverá tratar- se sempre de uma autoridade judiciária. Já como autoridade central para assistir a autoridade competente, foi designada a Direcção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais.

O artigo 9.º, n.º 2, da DQ prevê a possibilidade de o Estado de emissão enviar, a pedido do interessado, a decisão sobre medidas de controlo a um Estado que não seja aquele em que a pessoa tenha a sua residência legal, caso este estado consinta no seu envio. Prevê ainda a DQ, no artigo 9.º, n.º 3, que os Estados membros determinem em que condições as autoridades competentes podem consentir no envio de uma decisão sobre medidas de controlo nos casos abrangidos pelo n.º 2. A Lei n.º 36/2015 nada dispõe relativamente a tal matéria.

No artigo 18.º prevê-se o prazo de 20 dias para reconhecimento da decisão, prazo que é prorrogável caso seja interposto recurso. Embora a DQ não especifique que prazo estará em causa, se o da decisão, se a do reconhecimento, nesta Lei, o legislador explicitou que está em causa o recurso da decisão que aplica a medida.

O artigo 8.º da Lei n.º 36/2015 dispõe que “Em caso de incumprimento da medida de coacção, se a autoridade competente do Estado de emissão tiver emitido um mandado de detenção ou qualquer outra decisão judicial executória com os mesmos efeitos, a pessoa em causa pode ser entregue de acordo com a Lei n.º 65/2003, de 23 de Agosto.

A Lei faz, assim, apelo à aplicação do regime do Mandado de Detenção Europeu, sobre o qual nos debruçaremos de seguida, de forma a explicitar o mecanismo em articulação com a Lei n.º 36/2015.

Documentos relacionados