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COACÇÃO ENQUADRAMENTO JURÍDICO, PRÁTICA E GESTÃO PROCESSUAL

I. Introdução I Objetivos

2. Prática e gestão processual 1 Emissão em Portugal

2.3. O incumprimento das medidas e as suas consequências

Havendo incumprimento de uma medida de coacção no Estado-Membro de execução, e no caso de o arguido não regressar voluntariamente ao Estado de emissão, poderá aquele ser entregue ao Estado de emissão, em conformidade com a Decisão-Quadro 2002/584/JAI, do Conselho, relativa ao Mandado de Detenção Europeu e aos processos de entrega entre Estados-Membros. A eficácia do modelo defendido pelo regime de reconhecimento e fiscalização de decisões que apliquem medidas de coacção depende da existência de supervisão efectiva pelo Estado de execução da medida de coacção que foi aplicada. Para este fim, é essencial ter um canal permanentemente aberto de comunicação entre as autoridades competentes, para que os objectivos não fiquem comprometidos por negligência dos Estados emissores e executores.

Nesse sentido, nos termos do artigo 24.º, n.º 3, da Lei, o Estado de execução deve notificar imediatamente o Estado de emissão se houver qualquer violação da medida de coacção ou de qualquer outra constatação que possa resultar na renovação, revisão ou revogação da decisão sobre medidas de coacção26. Assim, o Estado de emissão pode agir imediatamente através de

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uma possível mudança das medidas de coacção, reforço da supervisão ou, nos casos mais graves, através da emissão de um mandado de detenção ou qualquer outra decisão judicial executória com os mesmos efeitos. Assim, a Lei reforçou esta última possibilidade prevendo, no artigo 8.º, a utilização do regime do Mandado de Detenção Europeu para os casos de incumprimento da medida de coacção aplicada, mas sem aplicação do n.º 1, do artigo 2.º, da Decisão-Quadro 2002/584/JAI, transposto pelo artigo 2.º, n.º 1, da Lei n.º 65/2003, de 23 de Agosto.

O artigo 2.º, n.º 1, da Lei 65/2003, de 23 de Agosto, determina que “O mandado de detenção

europeu pode ser emitido por factos puníveis pela lei do estado membro de emissão, com pena ou medida de segurança privativas da liberdade de duração máxima não inferior a 12 meses ou, quando tiver por finalidade o cumprimento de pena ou de medida de segurança, desde que a sanção aplicada tenha duração não inferior a 4 meses”. Este artigo consubstancia uma

concretização do princípio constitucional da proporcionalidade, afastando a detenção e transporte de um cidadão para outro Estado-Membro pela prática de crimes, ou aplicação de sanções, de menor gravidade. Contudo, no âmbito da lei que aqui se analisa, Lei n.º 36/2015, a verificação dos requisitos plasmados no referido artigo 2.º, n.º 1, não é necessária, sendo possível a entrega do cidadão quando este incumpra as medidas de coacção aplicadas, independentemente do crime em investigação.

Com efeito, a Decisão-Quadro 2009/829/JAI prevê a possibilidade dessa entrega ao abrigo do regime do Mandado de Detenção Europeu no artigo 21.º, admitindo a possibilidade da emissão desse mandado para qualquer infracção, independentemente da duração máxima da pena aplicável. Assim, passa a ser possível, desde que se trate de um cidadão incumpridor de uma anterior medida de coacção emitida nos termos da Lei, emitir um Mandado de Detenção Europeu para que este indivíduo seja entregue ao Estado de emissão.

Nestes termos, esta Lei pretende reforçar a resposta a uma violação pelo suspeito da medida de coacção imposta. Por conseguinte, é claro que esta disposição, ao atenuar os requisitos específicos do Mandado de Detenção Europeu, destina-se a demonstrar que o incumprimento é sancionado, actuando como um reforço do sistema no que diz respeito à aplicabilidade deste quadro legal.

A autoridade competente para a execução do Mandado de Detenção Europeu é o Tribunal da Relação, nos termos do artigo 5.º, n.º 2, da Lei n.º 36/2015, de 4 de Maio, e do artigo 15.º, n.º 127, da Lei n.º 65/2003, de 23 de Agosto.

27 “É competente para o processo judicial de execução do mandado de detenção europeu o tribunal da relação da

área do seu domicílio ou, se não o tiver, da área onde se encontrar a pessoa procurada à data da emissão do mandado”.

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IV. Hiperligações e referências bibliográficas Hiperligações Comissão Europeia Parlamento Europeu https://www.ejn-crimjust.europa.eu/ejn/EJN_Home.aspx https://eur-lex.europa.eu/homepage.html?locale=pt https://e-justice.europa.eu http://curia.europa.eu/juris/document/document.jsf?text=&docid=182303&pageIndex=0&do clang=PT&mode=lst&dir=&occ=first&part=1&cid=4606570 www.dgsi.pt Referências bibliográficas

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Luís Miguel Garcia I. Introdução

II. Objectivos

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