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Maioria Simples

No documento Disserta Everaldo C de Moraes (páginas 40-43)

1.3 Os Sistemas Eleitorais.

1.3.1 Sistemas Eleitorais Majoritários

1.3.1.1 Maioria Simples

O sistema de maioria simples pressupõe que o candidato eleito é aquele que obtiver mais votos num determinado distrito eleitoral (M = 1). Geralmente, o território do país fica dividido em diversas circunscrições eleitorais (distritos). O número de distritos costuma ser o mesmo de cadeiras distribuídas no Parlamento, usualmente utilizado nas eleições para a Câmara Baixa.

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PORTO, Walter Costa. O voto no Brasil. Rio de Janeiro : Toopbooks Editora e distribuidora de livros ltda. 2ª Edição revista, 2002 p. 382

34 Ibidem.

O Reino Unido utiliza o sistema de maioria simples para as eleições da Câmara dos Comuns desde a origem do Parlamento medieval, em 1264. A representação majoritária estava ligada à noção de representação de comunidades, e não de partidos ou grupos de indivíduos. O distrito com apenas um representante data no Reino Unido de 1707, mas somente em 1948 é que passou a ser utilizado com exclusividade36. Atualmente o Reino Unido conta com 659 distritos, com aproximadamente 66 mil eleitores cada um. É comum nas eleições no Reino Unido um candidato se eleger com menos de 50% dos votos do distrito.

Uma das características mais importantes do sistema de maioria simples é o seu caráter geográfico (ou espacial) de formação da representação. Os partidos com uma votação mais dispersa por todo o país tem chances menores de ter sucesso nas eleições do que aqueles partidos que, mesmo com uma votação menor, tenham maior concentração dos votos em determinadas áreas geográficas. Desta forma, partidos pequenos e grupos sociais minoritários dependem da concentração espacial dos votos. Essa característica tem como exemplo as eleições parlamentares do Canadá. Em 1993, o Partido Conservador obteve aproximadamente 16% dos votos espalhados por todo o território, elegendo dois deputados, enquanto o “Bloco de Quebec” obteve uma votação relativamente menor, mas muito mais concentrada. Mesmo com 13,5% dos votos o Bloco de Quebec conseguiu eleger nada mais nada menos que 54 deputados37.

Alguns países inventaram mecanismos que promovem a representação de partidos ou grupos minoritários. A Índia, que herdou o sistema político majoritário da colonização britânica, criou um mecanismo particular: o sistema eleitoral indiano garante 22% das cadeiras (num total de 544 representantes para a Câmara Baixa: Lok Sabha) para grupos sociais socialmente marginalizados. Ficam assim reservadas 79 cadeiras para castas e 41 cadeiras para tribos, onde nestes distritos apenas pessoas que pertençam a estes grupos étnicos específicos têm o direito de concorrer38.

Os distritos eleitorais com magnitude eleitoral igual a um (M = 1) tendem a criar um maior controle dos representantes por parte do eleitorado, pois o representante é associado a

36 NICOLAU, Jairo Marconi. Sistemas Eleitorais, p. 17 37 Ibidem, p. 18.

uma determinada área geográfica do país (distrito eleitoral) e o eleitor só precisa controlar a atuação parlamentar do representante de sua região (distrito). Um possível problema desse sistema surge quando não existe a necessidade de o candidato ter domicílio eleitoral no mesmo distrito em que pretende concorrer nas eleições. Como os deputados não precisam viver no mesmo distrito eleitoral em que pretende representar, surge a oportunidade de os partidos criarem “distritos garantidos” para que fique assegurada a eleição dos importantes dirigentes nacionais39.

O sistema de representação por maioria simples costuma provocar bases parlamentares unipartidárias. Uma análise feita mostra que, em 510 eleições de 20 democracias tradicionais, um partido conseguiu maioria (50% + 1 das cadeiras) em 72% dos casos, contra 10% nos sistemas proporcionais40.

Nos países parlamentaristas com representação majoritária é mais fácil a formação do governo sem a necessidade de coalizões. Desta maneira, o eleitor consegue estabelecer uma melhor relação entre o sucesso ou fracasso do governo e o partido responsável. A cultura política do eleitorado, neste sistema, o leva a escolher os representantes pelo partido (legenda), pois sabe que é no partido que reside a força para a formação do próximo governo. Nestes casos, o sistema eleitoral promove uma forte influência sobre o sistema partidário. Os sistemas eleitorais majoritários dariam mais ênfase à governabilidade que os sistemas proporcionais.

Alguns países adotaram sistemas de representação majoritária com magnitude do distrito eleitoral maior que um (M>1). Uma dessas variantes do sistema majoritário é o voto

em bloco utilizado atualmente nas Filipinas e na Tailândia. Este sistema consiste basicamente

em dar ao eleitor a possibilidade de votar em quantos candidatos forem as cadeiras disputadas em geral, podendo ser votados candidatos de diferentes partidos. As cadeiras serão preenchidas pelos candidatos individuais mais votados. As eleições brasileiras para a disputa das duas vagas por distrito (Estado) ao Senado (1994) se realizaram dentro deste mesmo sistema.

39 Ibidem, p. 19.

Uma outra variação do sistema de maioria simples, com M >1, é o voto em bloco

partidário. Neste sistema, os partidos apresentam uma lista com o número de candidatos,

conforme o número de cadeiras do distrito. O eleitor vota na lista que melhor o agrada, sendo que o partido mais votado elege todos os representantes do distrito.

Existe ainda um sistema derivado do sistema de maioria simples com M > 1 que se chama voto único não transferível. Neste sistema cada partido pode apresentar quantos candidatos forem o número de cadeiras em disputa, sendo eleitos os candidatos com maior número de votos. Os partidos políticos devem considerar, ao indicar o número de candidatos, a possibilidade de dispersão de votos. Um partido que apresentar muitos candidatos pode não eleger nenhum deles, caso a dispersão de votos entre eles seja muito grande. Já um partido que apresente apenas um candidato pode perder votos, caso ele receba uma votação superior à necessária. Alguns autores, como Sartori, Lijphart, e Bogdanor, classificam o sistema de voto

único não transferível como semiproporcional, pois o sistema aumenta a possibilidade de

pequenos partidos terem acesso à representação parlamentar. Mas este trabalho estabelece a natureza do sistema, e não seus efeitos para termos de classificação.

No Brasil (período pós-1985), foi sugerida a adoção do sistema majoritário, contudo tal sistema não conseguiu muitos defensores. Jairo Marconi Nicolau lembra que: “Durante a Constituinte de 1987/88, o projeto que defendia a introdução do sistema de maioria simples para as eleições parlamentares foi derrotado ainda na fase das subcomissões e nem sequer foi apreciado em plenário41.”

No documento Disserta Everaldo C de Moraes (páginas 40-43)