• Nenhum resultado encontrado

Sistema Eleitoral

No documento Disserta Everaldo C de Moraes (páginas 103-106)

ESTADO Nº SUPLENTES PELO TOTAL DE CADEIRAS ( 3 )

4.3 Sistema Eleitoral

A proposta de Reforma Política da Câmara dos Deputados prevê a alteração do sistema eleitoral brasileiro, que passaria do proporcional de lista aberta para proporcional de lista fechada. Não é necessário entrar nas tecnicidades do sistema proposto, pois isto já foi feito no capítulo referente aos sistemas eleitorais (Capítulo 2). Cabe, sim, esclarecer as justificativas apresentadas para a escolha de tal sistema. No relatório em que se apresenta a escolha pelo sistema eleitoral proporcional de lista fechada, o Relator enumera alguns problemas, ditos emergenciais, no sistema político brasileiro que os projetos pretendem sanar. Entre eles, dois estão diretamente ligados à proposta de mudança do sistema eleitoral: a) a extrema personalização do voto nas eleições proporcionais, da qual resulta o enfraquecimento das agremiações partidárias; b) a excessiva fragmentação do quadro partidário98.

O número de partidos políticos existentes em cada país não é relevante só para a configuração dos sistemas de governo, como nos ensina Marco Maciel99, mas também para a própria caracterização da discussão do poder político, pois indica o quanto o poder político está ou não fragmentado, disperso ou concentrado. O número de partidos políticos também nos alerta para o possível número de correntes de interação que intervêm no sistema político. Não se deve esquecer que essas correntes de interação ocorrem em múltiplos níveis – eleitoral, parlamentar e governamental. Com isso, pode-se presumir uma relação, até certo ponto questionável, entre número de partidos políticos (com voz) e a complexidade do sistema político.

No sistema eleitoral de lista aberta, como se tem hoje no Brasil, o eleitor é levado a votar num candidato, e não em um partido, o que tem diversas implicações, algumas delas já explicitadas neste trabalho100. Quando o eleitor escolhe a legenda, diz-se que o partido cumpre a relevante função de veículo de articulação entre o Governo, a sociedade e as

98

Projeto de Lei nº 2.679, de 2003 (Da Comissão Especial de Reforma Política), da Câmara dos Deputados. Ver: Comissão Especial da Câmara (Cap. 4.1)

99MACIEL, Marco. Reformas e Governabilidade. Brasília: Senado Federal, 2004, p. 33. 100 Ver Capítulo 1.2 (Sistemas Eleitorais)

instituições representativas. Ao contrário, quando o eleitor vota no candidato, “fulaniza101” o voto, gerando a fragilização do sistema partidário. Com isso, têm-se os aumentos constantes do número de partidos políticos, o que em nada ajuda no fortalecimento do sistema partidário.

Com base nisto, o estabelecimento do sistema eleitoral de lista fechada estaria promovendo uma alteração importante. Se aqueles que estudam e praticam a engenharia eleitoral estiverem corretos, o fechamento das listas dará mais força aos partidos políticos, evitando a personalização – ou “fulanização” – do voto. A fragmentação partidária tenderia a diminuir, pois os incentivos à criação de novos partidos e à migração partidária seriam profundamente enfraquecidos. Os partidos políticos com maior capacidade de articulação de interesses seriam beneficiados. Os programas de governo estabelecidos pelos partidos seriam cada vez mais objeto de apreciação por parte do eleitorado.

Outros efeitos, não anunciados, poderiam ocorrer. Com um sistema eleitoral proporcional de lista fechada, a luta intrapartidária ficaria restrita às convenções partidárias, não avançando sobre as eleições, como ocorre hoje. Os candidatos endinheirados não teriam, a

priori, a vantagem do poder econômico. A possibilidade de competir numa eleição mesmo

sem o apoio de grupos econômicos poderá elevar qualitativamente os quadros partidários. As militâncias podem ter seu papel aumentado, o que é benéfico numa democracia representativa que busca os caminhos para se tornar uma democracia com maior participação popular.

É evidente que nem tudo são flores na política. Não se trata apenas de ser otimistas em relação às mudanças. O sistema político brasileiro ainda é carregado de imperfeições, não tanto de natureza legais, mas principalmente sociais. Muitos dos partidos políticos brasileiros não passam da extensão da propriedade privada de alguns indivíduos, os chamados caciques. Estes indivíduos controlam a máquina de seus partidos com mãos de ferro. Dizem defender uma democracia que não é, nem de perto, praticada no interior de seus partidos. Por isso, pode-se antecipar que, aprovado o fechamento das listas, estes mesmos caciques poderão aumentar ainda mais seu poder “informal” sobre seus partidos políticos. Os caciques

101 Termo usado pelo Senador Marco Maciel em : Maciel, Marco. Reformas e Governabilidade. Brasília.

defendem seus partidos como se defendessem seus bens materiais. Não vêem a competição pelos cargos de direção do partido com bons olhos.

Neste caso, o Brasil poderá vir a encontrar um sistema partidário com duas classes bem distintas de partidos políticos. Os oligárquicos e os democráticos. Os oligárquicos seriam aqueles partidos com baixa ou nenhuma prática de democracia interna, um microcosmo dos Estados autoritários, chefiados pelos caciques políticos. Neste sentido só é possível crescer dentro do partido com o beneplácito do cacique. Estes possíveis partidos de características oligárquicas têm pouca ou nenhuma divisão interna. Os democráticos, por sua vez, seriam aqueles partidos que, independentemente de seu tamanho ou origem, estabelecem uma organização interna com bases democráticas, com ou sem líderes fortes. Este tipo de partido provavelmente terá, pelo seu caráter democrático e plural, maiores divisões internas, podendo vir a criar grupos que competem internamente pela liderança do partido. Convém lembrar que existe uma grande diferença entre líderes partidários e caciques políticos. Os primeiros são fundamentais para o crescimento e o fortalecimento dos partidos, se pondo como instrumentos a serviço do partido. Os segundos poêm os seus partidos a serviço de seus interesses pessoais.

Está classificação entre partidos oligárquicos e partidos democráticos tem pouco apelo teórico e é apresentada com o intuito não de criar uma nova categorização, mas de trazer à luz um ponto importante a respeito do sistema partidário brasileiro, a democracia interna. Acredita-se que para aprimorar nossas instituições democráticas o principal ator responsável, o partido político, deve estar em harmonia com os objetivos pretendidos. Como se busca uma democracia mais participativa, mais transparente e eqüitativa, deve-se cobrar o mesmo daqueles que detêm o monopólio exclusivo da representação, neste caso, os partidos políticos.

O atual projeto de Reforma Política não parece estar preocupado com estes problemas, pois não prevê nenhuma modificação na organização interna dos partidos políticos. Para o projeto, não é pertinente – e nem mesmo juridicamente legal - discutir a democracia interna dos partidos políticos. Mesmo que no caso Brasileiro os fatos demonstrem o contrário.

Não obstante isso, uma sombra de casuísmo paira sobre o projeto, no que tange à ordenação das listas. Em determinada altura do projeto lê-se:

“Os atuais detentores de mandato de Deputado Federal, Estadual e Distrital que, até a véspera da convenção para a escolha de candidatos, fizerem comunicação por escrito, ao órgão de direção regional, de sua intenção de concorrer ao pleito, comporão a lista dos respectivos partidos ou federações na ordem decrescente dos votos obtidos nas eleições de 2002, salvo deliberação em contrário do órgão competente do partido.”

Talvez este tenha sido o preço para que o projeto tivesse uma certa sobrevida. Deixando este artigo transitório, pois só valeria para a próxima eleição, o projeto nos mostra que os interesses individuais dos parlamentares não deixam de ser contemplados, e que a racionalidade é basicamente utilitarista. Por mais que o sistema eleitoral mereça mudanças, nenhuma alteração será feita se não se levar em consideração os interesses dos políticos eleitos pelo sistema pernicioso que o Brasil tem hoje.

No documento Disserta Everaldo C de Moraes (páginas 103-106)