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Sistema Eleitoral, Proibição de Coligações nas Eleições Proporcionais.

No documento Disserta Everaldo C de Moraes (páginas 73-77)

No seu Relatório Final, a Comissão Especial do Senado propôs a adoção do Sistema Eleitoral Misto, distrital e proporcional. Entre os argumentos expostos, durantes as discussões, para a mudança no sistema eleitoral brasileiro estavam: O sistema eleitoral proporcional de listas abertas impede o fortalecimento dos partidos políticos, promove um aumento na “personalização” das eleições, leva a uma disputa eleitoral intrapartidária, não favorece a coesão partidária. Com a mudança, a Comissão Especial (SF) acredita que irá estabelecer-se um novo tipo de representação. Pelo sistema distrital (majoritário), se busca uma melhor representação das diversas regiões do Estado, além de trazer uma maior proximidade entre eleitor e representante77. Pelo sistema proporcional, irá assegurar-se a representação das minorias.

O sistema misto proposto pela Comissão Especial (SF) tem como características: O eleitor terá direito a dois votos desvinculados. O primeiro será dado ao candidato da sua circunscrição distrital (majoritário), e o segundo, na legenda partidária de sua preferência (proporcional lista fechada). O segundo voto (legenda) servirá para o cálculo do coeficiente partidário. O número de cadeiras em cada estado, por partido, na Câmara Federal, se dará a partir do sistema proporcional, tendo preferência para a ocupação das vagas conquistadas os eleitos pelo sistema distrital, sendo que estes assumirão a vaga respectiva independentemente do quociente eleitoral do partido a que pertence, tanto no âmbito estadual quanto no nacional. As listas serão fechadas, cabendo à Convenção Regional, mediante votação secreta, escolher os candidatos que integrarão a lista partidária, sendo a ordem definida pelo resultado da votação.

As coligações partidárias ficariam, segundo a proposta da Comissão, vedadas, pois desvirtuaria o sistema proposto, já que os partidos devem ter desempenho eleitoral próprio.

Mesmo que no Relatório Final, e durante as discussões, o Relator não tenha utilizado este termo, fica claro que se trata de um Sistema Misto de Correção, parecido com o sistema

77 Esta linha de argumentação pode ser vislumbrada, no tocante a conexão eleitoral, no Capítulo I, no conjunto de

Alemão, de onde provavelmente foi tirada a idéia para a mudança do sistema eleitoral brasileiro. A proposta acima transcrita estabelece também uma mudança na questão da suplência para a Câmara dos Deputados. Pela proposta, a suplência, mesmo dos candidatos eleitos pelo sistema majoritário, será preenchida seguindo a ordem estabelecida na lista partidária, ou seja, pelo candidato mais bem votado na Convenção Regional que não se elegeu. Desta forma, acaba-se com a questão de falta de legitimidade dos suplentes na Câmara dos Deputados, que pela atual legislação prevê que cada deputado escolha seus próprios suplentes, que em muitos casos são familiares, ou seus financiadores de campanha.

A proposta da Comissão Especial (SF) não foi a primeira no sentido de modificar a legislação eleitoral para promover um sistema eleitoral misto. Outros projetos com o mesmo objetivo foram apresentados por diversos parlamentares, entre deputados e senadores.

Tabela 8 – Relação de Projetos e Autores favoráveis ao Sistema Eleitoral Misto:

PROJETO AUTOR POSIÇÃO DO PARLAMENTAR

PEC. 043/96 Sen. José Serra Favorável ao Sistema Eleitoral Misto, na forma que preceitua, para Deputados Federais

PL 004/95 Dep. Adylson Motta Favorável ao Sistema Distrital Misto, majoritário e proporcional, na forma que preceitua, para Dep. Federais e Estaduais

PEC. 010/95 Dep. Adhemar de Barros

Filho Favorável ao Sistema Distrital Misto majoritário e proporcional, na forma que preceitua, para Dep. Federais.

Fonte: Relatório Final da Comissão encarregada de estudar a reforma político-partidária.

Algumas considerações podem ser feitas ao se observar a ementa dos projetos apresentados, e que serviram de base para a discussão no seio da Comissão Especial (SF), tais como: alguns projetos dão maior amplitude ao sistema eleitoral misto, levando sua adoção para as esferas estaduais e até mesmo municipais; outros projetos envolvem, na discussão, cargos da esfera executiva, como prefeitos e vice-prefeitos (PEC 285 / 95 ).

Mesmo que não tenha sido alvo de discussão na Comissão Especial (SF), um problema deve ser resolvido e estudado para as futuras discussões e melhorias do sistema eleitoral, principalmente se estabelecido o sistema eleitoral misto proposto pela Comissão. Trata-se de criar mecanismos que impeçam manobras políticas na formação dos desenhos dos distritos eleitorais. O desenho tendencioso na formação dos distritos eleitorais é visto em muitos dos países que adotaram o sistema distrital. Nos EUA é conhecido como

Gerrymandering, na França como Charcutage ou Efeito Deferre, e em ambos os casos tinham

uma mesma característica: formação de distritos por critério puramente político.78A cautela para a regulamentação da formação dos desenhos dos distritos eleitorais pode evitar problemas posteriores à adoção do sistema distrital misto.

78 Para maiores informações sobre o Gerrymandering e seus correspondentes em outros países ver:

PORTO,Walter Costa. Dicionário do Voto, p. 221.

PROJETO AUTOR POSIÇÃO DO PARLAMENTAR

PEC. 181/95 Dep. Paulo Gouvêa Favorável ao Sistema Eleitoral Misto, distrital majoritário e proporcional, na forma que preceitua, para Dep. Federais e Estaduais

PEC. 168/95 Dep. Mendonça Filho Favorável ao Sistema Eleitoral Misto, distrital majoritário e proporcional, na forma que preceitua, para Dep. Federais.

PEC. 289/95 Dep. Osvaldo Reis Favorável ao Sistema Eleitoral Misto, distrital majoritário e proporcional, na forma que preceitua, para Dep. Federais e Estaduais, Senadores, Prefeitos e vice-prefeitos e Vereadores.

Sob o ponto de vista da hipótese deste trabalho, a mudança no sistema eleitoral é fruto de uma forte base teórica (acadêmica). Isto porque acredita que é possível melhorar o sistema partidário e a representação parlamentar via engenharia eleitoral. Por um lado existem fortes argumentos a favor das teorias que estabelecem relação causal entre o sistema eleitoral e o sistema partidário - fortes/fracos, coesos/fragmentados (atomizados), bipartidarismo/multipartidarismo. Neste caso, seria possível criarem-se mudanças significativas no débil sistema partidário brasileiro mediante a alteração do sistema eleitoral. Contudo não se pode deixar de levantar alguns argumentos contrários a esta tese.

Como já mencionado anteriormente, muitos dos problemas do sistema político brasileiro não estão diretamente relacionados ao sistema eleitoral. Nossa cultura política talvez seja o motivo maior dos problemas vistos hoje. No entanto, não cabe aqui desenvolver as questões culturais, mas apenas mencioná-las para estabelecer futuros estudos neste campo. Podem, sim, situar-se alguns dos porquês de não se pôr toda a culpa do atual sistema partidário brasileiro no sistema eleitoral. Do ponto de vista puramente teórico, o sistema eleitoral brasileiro, proporcional de lista aberta, talvez seja um dos sistemas eleitorais mais promissores no que diz respeito à representação parlamentar, pois dá ao eleitor uma importância significativa na escolha dos representantes, isto, é claro, em detrimento do partido político. Neste caso, a influência dos caciques políticos seria diminuída fortemente, impossibilitando a formação de uma oligarquia partidária vitalícia. Mas como já se mencionou isto tudo ocorre apenas no campo teórico. A realidade começa a comprometer o sistema partidário à medida que se incluem na análise do atual sistema eleitoral brasileiro outros pontos relevantes. Primeiramente se deve mencionar que a força dada ao eleitor no sistema proporcional de lista aberta tem um alto custo, qual seja, a complexidade na racionalização do voto. No proporcional de lista aberta, o eleitor, em termos ideais, deve, ao decidir seu voto, primeiramente gastar um tempo significativo no estudo da composição das chapas apresentadas pelos partidos políticos. Isto porque o seu voto, mesmo que dado a um determinado candidato da legenda, irá primeiramente para o cálculo do quociente eleitoral do partido como um todo. Por isso, o eleitor consciente deve saber que seu voto poderá ajudar a eleger outro candidato que não o de sua preferência. Desta forma a complexidade do voto se acentua. A racionalização do voto, portanto, passaria a ter de identificar quais seriam, dentro

da legenda de sua preferência, os candidatos mais fortes, pois é provável que sejam eles os beneficiados pelos votos dados aos outros candidatos da mesma legenda. Isto faz com que o sistema proporcional de lista aberta seja um dos mais complexos do ponto de vista da racionalização do voto. Contudo, esta complexidade não é passada ao eleitores, pois, como já mencionado, é uma parcela diminuta da população que conhece de fato como funciona o sistema eleitoral.

É repetido, principalmente pelos políticos, que o brasileiro vota em pessoas, e não em partidos. Isto pode até ser considerado verdade quando analisamos a prática eleitoral, mas não passa de um engodo quando se analisa sob o ponto de vista da técnica do sistema. O voto do eleitor tem duas fases. Na primeira se escolhe a legenda, querendo interferir na ordenação dos candidatos dentro da legenda, acrescenta-se o número pessoal de um candidato. A falta de entendimento dos mecanismos que traduzem o voto em cadeiras no parlamento costuma levar o eleitor a cometer erros estratégicos. Por exemplo, é comum encontrar pessoas que gastam um tempo considerável na escolha dos candidatos a cargos majoritários (presidente, governador, senador e prefeito) e quase nenhum para a escolha dos candidatos aos cargos proporcionais (deputados federais, estaduais e vereadores). Isto talvez se deva ao número astronômico de candidatos, o que costuma deixar qualquer indivíduo confuso no momento da escolha. O que ocorre é que muitas vezes o eleitor acaba escolhendo seus candidatos proporcionais por questões praticamente aleatórias, com pouco ou nenhum grau de racionalização. Provavelmente, boa parte dos eleitores mudaria seus votos, ou pensaria duas vezes antes de fazê-lo, se soubesse como funciona o sistema eleitoral nos seus detalhes.

No documento Disserta Everaldo C de Moraes (páginas 73-77)