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Sistema de Partidos.

No documento Disserta Everaldo C de Moraes (páginas 33-36)

Não basta para o estudo dos partidos políticos estudar a sua organização, sua mobilização e as questões ideológicas que permeiam sua existência. Para ficar completa a análise dos partidos políticos deve-se relacioná-lo à sua totalidade, ao meio em que ele existe: o sistema de partidos.

O sistema de partidos pode ser definido como o conjunto de estruturado formado pelas relações ora de oposição, ora de cooperação que existem entre os partidos que agem no palco de uma mesma sociedade política23. Com tal definição podemos avançar em alguns pontos a respeito do estudo do sistema partidário. Se todos os partidos são concorrentes, as relações que eles estabelecem entre si podem mostrar-se conflituais ou cooperativas. Com isso, determinados partidos podem, à medida que percebem certa proximidade de objetivos ou diante de um inimigo comum, cooperar entre si. Este tipo de coalizão pré-eleitoral pode ser realizada mesmo que não haja um programa pré-estabelecido ou mesmo uma unidade quanto a candidaturas.

Mas como estudar estas relações entre os partidos políticos dentro do sistema de partidos? Alguns teóricos da ciência política se debruçaram sobre o problema. Duverger propõe uma tipologia dos sistemas de partidos fundada no número. O bipartidarismo e o multipartidarismo seriam os dois modelos de classificação de um sistema de partidos, segundo Duverger. Esta dicotomia é quebrada por Blondel quando este acrescenta um terceiro tipo de sistema de partidos, o de “dois partidos e meio”. Este “meio-partido”, contudo, mostra-se incapaz de pretender o exercício do poder nem em coalização, nem sozinho; ele se limita a perturbar o equilíbrio entre os dois principais partidos políticos, obrigando-os, por vezes, ao governo minoritário e a sempre compor com ele; exerce, portanto, uma influência inegável dentro do sistema político.

Para entender os porquês do modelo proposto por Duverger, deve-se expor suas explicações, mesmo que de maneira resumida.

23 Ibidem.

Para Maurice Duverger, o bipartidarismo seria o caminho natural de um sistema político. Pois, segundo o autor, a lógica do conflito é de caráter dualista, o que significa que o multipartidarismo é fruto de uma lacuna. O autor segue seu estudo identificando duas possíveis causas do multipartidarismo: a) o sinistrismo; e b) superposição de dualismos.

O sinistrismo pode ser explicado da seguinte forma: Um determinado partido político obtém sucesso nas eleições. Chegando ao governo, este partido seguirá um movimento natural de ajuste, indo gradualmente para o centro do espectro político. Com este ajuste, haverá uma tendência, também natural, de as alas mais à esquerda deste partido político see cindirem, fomentando o nascimento de um novo partido político.

A superposição de dualismos distintos seria a responsável pela coexistência de várias direitas e várias esquerdas dentro do mesmo sistema político.

Outra questão que irá influenciar, segundo Duverger, se um sistema de partidos tenderá a ser bipartidário ou multipartidário é o modo de votação majoritário ou proporcional adotado pelo país. Esta questão será tratada mais à frente no capítulo sobre sistemas eleitorais, onde se estabelecerão as relações existentes entre os sistemas eleitorais e o número de partidos políticos, e onde poderão ser desfeitos alguns equívocos da teoria de Duverger.

Giovanni Sartori traz para o debate uma rica contribuição. Para ele, nem o bipartidarismo, nem o multipartidarismo se fundam unicamente no número. O critério decisivo é o dos partidos que influenciam verdadeiramente o jogo parlamentar, com os quais é preciso contar quando se quer constituir um governo favorável, mesmo que nem sempre sejam partidários aptos para constituir uma coalizão.

Estudos recentes mostram que os sistemas partidários, na maioria dos países da América do Sul, têm observado sensíveis alterações no número efetivo de partidos e no grau de polarização24. Após 1990, na Colômbia, e após 2003, no Paraguai, a América Latina deixou de possuir representantes no seleto grupo de países com sistemas bipartidários. Ressalta-se que o aumento no número de partidos políticos efetivos tem impacto direto nas relações entre

24 ANASTASIA, Fátima. Governabilidade e Representação Política na América do Sul. Fátima Anastasia,

Carlos Ranulfo Melo e Fabiano Santos. Rio de Janeiro: Fundação Konrad Adenauer; [São Paulo]: Fundação Unesp Ed., 2004

executivo e legislativo. Como conseqüência, a tendência é a diminuição dos governos presidencialistas com partidos majoritários e gabinetes unipartidários, e sua substituição por tipos diferentes de governos de coalizão25.

A forma como são conduzidas as disputas pelo Poder Executivo, também, tende a influenciar o desenvolvimento do sistema partidário. Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Paraguai e Venezuela têm nas suas atuais constituições a não distinção entre partidos, movimentos políticos ou organizações cívicas no que se refere à participação nos processos eleitorais26. No entanto, Santos faz uma distinção vital entre monopólio da representação e oligopólio da participação, alertando que se no primeiro a manutenção por parte do partido é fundamental à democracia, a procura pelo segundo é perniciosa, na medida em que estreita as possibilidades de processamento institucional das clivagens relevantes em uma dada sociedade27.

O problema para o sistema democrático, como analisa Anastásia (2004), surge quando estes movimentos procuram disputar com os partidos o monopólio da representação, e quando inrrompem de forma desagregada, fora do conjunto institucional disponível para processar os conflitos.

1.2.4.1 Bipartidarismo

Tem-se bipartidarismo quando, entre os numerosos partidos que poderão ter representação no parlamento, o sistema político funcionar com a alternância dos dois grandes partidos. Em alguns casos, pode-se, dentro da teoria, substituir um dos dois partidos por uma coalizão estável e permanente de partidos.

25 Ibidem.

26 Ibidem.

1.2.4.2 Multipartidarismo

Por multipartidarismo, entende-se um sistema de partidos fundados na ausência – ou na extrema raridade – dos governos majoritários monopartidários e, por conseguinte, na pluralidade dos partidos representados no governo. Nos sistemas multipartidários, os governos de coalizão são a regra, e o governo de um único partido, a exceção.

Teoricamente poderíamos distinguir seis formas de multipartidarismo; simétrico não polarizado, assimétrico polarizado, simétrico bipolarizado, assimétrico bipolarizado, simétrico multipolarizado e assimétrico multipolarizado. Mas apenas três delas são encontradas nas democracias ocidentais:

A primeira é a assimétrica multipolarizada, em que um partido de vocação quase majoritário se opõe a diversos partidos, pequenos e médios, que se degladiam. Estes só são capazes de constituir governos de coalizões tão efêmeros quanto instáveis, e chegam até mesmo a ser incapazes de entender-se.

A segunda forma é a simétrica bipolarizada, em que dois partidos poderiam aspirar à vocação majoritária, mas parecem animados por uma vontade constante de ampliar sua maioria.

A terceira forma é a simétrica multipolarizada, onde vários partidos médios ou pequenos correspondem a pólos distintos. O governo de coalizão torna-se, então, a norma.

No documento Disserta Everaldo C de Moraes (páginas 33-36)