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Sistemas Eleitorais Mistos

No documento Disserta Everaldo C de Moraes (páginas 55-60)

1.3 Os Sistemas Eleitorais.

1.3.3 Sistemas Eleitorais Mistos

56 NICOLAU, Jairo Marconi, op. cit

57 Maiores detalhes da definição de “partidos atomizados” ver:SARTORI, Giovanni. Engenharia

Constitucional; como mudam as constituições. Brasília: Ed. Universidade de Brasíila, 1996, p. 202.

58As várias propostas de adoção do sistema majoritário na Constituinte de 1987/88 foram derrotadas no âmbito

das Comissões. Para maiores informações das discussões ver BAAKLINI, Abdo I. O Congresso e o sistema

Os autores Blais e Massicotte definem como sistemas mistos aqueles que “utilizam, simultaneamente, aspectos dos dois modelos de representação em eleições para o mesmo cargo”59. No caso de eleições para o Legislativo, as eleições teriam a combinação de algum tipo de representação proporcional e de algum tipo de representação majoritária.

Os sistemas mistos podem ser de dois tipos: de combinação ou de correção. A diferenciação se dá segundo o papel desempenhado pelas cadeiras proporcionais60. No sistema de combinação as cadeiras distribuídas no sistema proporcional são independentes do resultado do sistema majoritário. No sistema de correção as cadeiras proporcionais são distribuídas com o objetivo de corrigir as possíveis distorções provocadas pelo sistema majoritário.

1.3.3.1- Combinação

No sistema misto de combinação, o país é dividido em distritos de um (1) representante (M = 1) e em distritos com mais de um representante (M < 1). O número de cadeiras alocadas pelo sistema proporcional no Parlamento define o grau de proporcionalidade da representação. Entre os países que adotam este sistema, o número de cadeiras (em porcentagem) alocadas pelo sistema proporcional varia entre 16% (Equador) e 50% (Rússia). No Japão, por exemplo, a Câmara Baixa dispõe de 500 cadeiras, sendo 200 delas destinadas à representação proporcional e 300 cadeiras para a representação majoritária61.

Em alguns países, os eleitores têm o direito a dar dois votos, sendo o primeiro para o candidato do sistema majoritário (no respectivo distrito) e o segundo ao partido. O segundo voto irá servir para o cálculo das cadeiras proporcionais. Os partidos formam uma lista (fechada, e geralmente nacional) para ordenar os candidatos que serão eleitos pelo sistema proporcional. É observada nos países que adotaram tal sistema a utilização de cláusulas de exclusão. Neste caso, os partidos que não obtiverem um percentual mínimo de representação,

59NICOLAU, Jairo Marconi. Sistemas Eleitorais, p. 59 60 Ibidem.

via sistema majoritário, ficam impossibilitados de acesso às cadeiras destinadas à representação proporcional. Na Rússia, que adotou cláusula de exclusão de 5%, apenas quatro partidos receberam cadeiras da parte proporcional, enquanto cerca de 22 partidos obtiveram vitória nos distritos de um representante.

1.3.3.2 Correção

Nos países que optaram pelo sistema misto de correção, os eleitores têm direito a dois votos. O primeiro é dado ao candidato do distrito de um representante (majoritário), enquanto o segundo voto é destinado a uma lista de candidatos de um determinado partido para o cálculo de cadeiras recebidas pelo sistema proporcional. A correção se dá da seguinte forma: a) primeiro é feito o cálculo de quantas cadeiras cada partido, no âmbito nacional ou regional (dependendo da legislação eleitoral do país), recebeu pelo sistema proporcional; b) com o resultado do primeiro cálculo diminui-se o total de cadeiras pelo número de cadeiras conquistadas pelos partidos nas eleições majoritárias nos distritos; c) a diferença entre (a) e (b) é compensada pelos candidatos apresentados nas listas partidárias62. Com exceção da Venezuela, todos os países que adotaram o sistema misto de correção se utilizam de cláusulas de exclusão para o acesso dos partidos às cadeiras destinadas à representação proporcional. Quanto maior a cláusula de exclusão, maior será a desproporcionalidade da representação no sistema.

Os sistemas mistos de correção podem apresentar algumas características interessantes, variando de país para país. Na Alemanha, por exemplo, um mesmo candidato pode concorrer simultaneamente nos distritos e nas listas. Outra característica que pode ocorrer é a não-existência de um número fixo de cadeiras de uma determinada região (Estado) para o parlamento. Neste caso, o número pode variar de acordo com o percentual de eleitores que compareceram nas eleições na região63, ou mesmo a possibilidade de haver um número

62NICOLAU, Jairo Marconi. Sistemas Eleitorais, p. 60 63NICOLAU, Jairo Marconi. Sistemas Eleitorais, p. 66.

maior de cadeiras no Parlamento do que inicialmente estabelecido (cadeiras adicionais). Este último pode ser observado nas eleições da Alemanha64.

O sistema eleitoral praticado na Alemanha é, no que diz respeito a sua classificação, alvo de uma grande polêmica. Aqui é classificado como misto de correção, mas outros autores discordam desta afirmação. De acordo com Sartori, seria incorreto caracterizar como “misto” o sistema alemão: “sistemas mistos seriam aqueles nos quais a combinação de elementos leva a um resultado semiproporcional, o que não seria o caso, uma vez que na Alemanha a distribuição dos assentos federais, feita com base exclusivamente nos votos em lista, obtidos pelos partidos na segunda votação, garante um resultado perfeitamente proporcional para os partidos com mais de 5% dos votos.”65

Por outro lado, Tavares concorda que o sistema é proporcional quanto ao cálculo de distribuição das cadeiras, mas sustenta que “o princípio retor do sistema é na realidade o da eleição por maioria simples em distritos uninominais e em um único turno66.” Neste ponto, Tavares, além de ressaltar a maior importância conferida aos candidatos distritais, concorda com Duverger, segundo o qual a opção feita pelo eleitor por ocasião do primeiro voto, pode condicionar, ou mesmo sobredeterminar, o voto dado na lista, que perde, assim, sua “sinceridade”. Acrescenta-se a isso, o fato de que ainda que a fotografia retirada a cada eleição mostre resultados proporcionais, um filme que conte a história das eleições tenderá a revelar a progressiva retirada de alguns partidos de cena, em conseqüência do efeito do sistema sobre o comportamento do eleitor67.

As principais diferenças, tendo em vista os resultados obtidos, entre os sistemas mistos de correção e o de combinação podem ser resumidas da seguinte maneira:

64 Ibidem.

65

SARTORI, Giovanni. Op. cit. p. 92.

66 TAVARES, José Antônio Giusti. Sistemas Eleitorais nas Democracias Contemporâneas: Teoria,

Instituições, Estratégia. Rio de Janeiro: Relumé-Dumará, 1994, p. 119.

Tabela 7 - Diferenças entre Sistema Misto de Correção e Sistema Misto de Combinação

Sistema Misto de Correção Sistema Misto de Combinação Proporcionalidade entre votos

e cadeiras

Maior Menor

Capacidade de gerar maiorias parlamentares Menor Maior Representação de pequenos partidos Maior Menor Capacidade de monitoramento dos representantes por parte dos eleitores68

Menor Maior

Parte das críticas aos sistemas mistos implica a criação e estímulos de dualidade nas conexões eleitorais. Os parlamentares eleitos pelo sistema proporcional tendem, a priori, a criar um maior vínculo dentro do partido, enquanto os eleitos pelo sistema majoritário costumam estabelecer maiores laços territoriais. Particularmente esta “dualidade” é uma virtude, pois evita que um tipo específico de conexão eleitoral seja preponderante. Desta forma a combinação entre proporcional e majoritário cria um equilíbrio entre a importância do partido e a do eleitor (do distrito, da região ou do estado).

Outra crítica constante aos sistemas mistos é a possibilidade de que em vez de se conseguir o melhor dos dois mundos: a representação de minorias do proporcional, e a facilidade de criação de maiorias parlamentares do majoritário, se chegue ao pior dos dois mundos: a fragmentação partidária; e a ausência de representação de grupos minoritários.

68 A capacidade de monitoramento leva em consideração que os sistemas majoritários-distritais, devido ao seu

Capitulo II

Sistema Político Brasileiro

No documento Disserta Everaldo C de Moraes (páginas 55-60)