• Nenhum resultado encontrado

4.3 GUIMARÃES DUQUE E O AMBIENTE ECOLÓGICO SEMI-ÁRIDO

4.3.2 Manejo sustentável da Caatinga: a produção apropriada no Semi-árido

Destaca-se, inicialmente, que sua principal intenção era ampliar a resistência da produção sertaneja às secas, como forma de superação do pauperismo, proporcionando ao lavrador um sistema agrícola mais seguro, com base nas plantas resistentes às secas, na pecuária sustentada nas plantas forrageiras da Caatinga e na adoção de um modo de vida mais metódico, de acordo com o meio ambiente. Trata-se, portanto, da proposição de alternativas de desenvolvimento para a região semi-árida.

A concepção de desenvolvimento de Duque (2004, p. 114) expressa uma crítica aos modelos ortodoxos e modernos, que não satisfaziam as necessidades da população pobre numa região considerada atrasada. Ao analisar a recente trajetória da humanidade, refletia sobre as capacidades humanas obtidas por meio da ciência, que proporcionou o domínio sobre os outros seres vivos, sobre a terra, o oceano e o ar, perdendo o respeito às prerrogativas do mundo. Além disso, embora reconhecesse que a tecnologia permitiu a multiplicação do esforço no trabalho, ampliando as realizações humanas, não proporcionou a justa distribuição dos benefícios à comunidade e desvalorizou o trabalho manual em relação ao intelectual.

O tipo de desenvolvimento de que precisava o Semi-árido era aquele que proporcionasse a elevação da renda e o padrão de vida dos nordestinos, com a ampliação da produção agrícola nas atividades de transformação de matérias-primas e nos serviços. A garantia dos direitos dos cidadãos, o respeito às leis e a soberania da justiça são os alicerces do desenvolvimento. Numa sociedade desenvolvida, a população tem saúde, educação, acesso à renda por meio das alternativas econômicas, tem os seus direitos respeitados e a garantia do direito fundamental à alimentação: “Não pode haver saúde, nem prosperidade e muito menos felicidade se não existe a satisfação das necessidades materiais elementares da vida. A auto- suficiência alimentar para a população é a exigência mais urgente do Polígono” (DUQUE, 2001, p. 24).

De certa forma, Duque propõe as bases para um modelo de desenvolvimento tendo a semi-aridez como vantagem e não como impedimento. Quanto aos recursos naturais, devem ser compreendidos como uma grande vantagem, principalmente, quando combinados com a tecnologia avançada. A sustentabilidade do desenvolvimento no Semi-árido depende fundamentalmente de uma mudança de mentalidade em relação às suas características ambientais e de mudanças nas práticas e uso indiscriminado dos recursos naturais.

A convivência com o meio ambiente é um imperativo fundamental para o aproveitamento apropriado dos recursos naturais, com a ação humana buscando conciliar ou procurar corrigir as tendências negativas sem agravá-las. Para garantir sua perpetuidade, a população necessita aprender a viver em harmonia com o “código” da natureza do seu meio, buscando a adaptação ao seu habitat, e não a partir de uma relação de estranhamento, de destruição ou de combate. É assim com todos os seres vivos, cuja adaptação ao ambiente é requisito fundamental para a sobrevivência. Isso explica em parte porque no Semi-árido as conseqüências das práticas inapropriadas se revelam com maior nitidez nas estiagens prolongadas, devido às transgressões às capacidades do meio natural: “Se a terra é desnudada, a erosão aparece com o empobrecimento do solo, as inundações etc, e o resultado é a fome e o perecimento da população não importando quem tenha sido o causador do desastre” (DUQUE, 2001, p. 19).

O caminho para a formulação de políticas apropriadas para o desenvolvimento regional, considerando suas condições naturais, é o aprofundamento dos estudos e do conhecimento da realidade local como base para definição das alternativas apropriadas. Mas, não se trata do predomínio da ciência e da técnica, desvinculada dos saberes locais. Duque defendia que era necessário identificar a premência das necessidades da população local, e valorizar os seus “conhecimentos tradicionais”, aproveitando os sentidos aguçados pelas induções ecológicas e o contato mais íntimo com as dificuldades, embora reconhecesse que nem todas as práticas dos sertanejos eram corretas: “[...] algumas podem ser aproveitadas e melhoradas, outras devem ser combatidas, como as queimadas generalizadas, os plantios do morro abaixo, as plantações nas encostas escorregadias, o não poupar as árvores valiosas etc” (DUQUE, 2001, p. 48).

A principal proposta de Guimarães Duque para o desenvolvimento do Semi-árido, aproveitando as suas condições naturais, é o incentivo às lavouras xerófilas. As plantas xerófilas são superiores para o reflorestamento da Caatinga e também como atividade econômica geradora de renda nas atividades extrativistas, agrícolas e consorciadas com a pastagem. Duque fazia críticas ao incentivo dado às lavouras de cereais, que não eram apropriadas a essa realidade do Sertão, porque a falta de umidade no tempo certo e as irregularidades das chuvas causam prejuízos aos agricultores.

As lavouras xerófilas, ocupando as terras não irrigáveis, podem gerar trabalho e melhorar a renda para parte significativa da população sertaneja. Bastaria entender e seguir o recado dado pela própria natureza, conforme o Quadro 2:

• Algodão mocó: uma espécie de algodoeiro perene, dotado de capacidade de conservar reservas nutritivas nas raízes e nos galhos vegetativos para resistir às secas. Tem grande importância social no Sertão, permitindo após a safra, a compra de roupa, de ferramentas, de remédios, de arame farpado, de equipamentos; e, às vezes, até de gado. Nas décadas que antecederam a crise do algodão no Nordeste (com a praga do bicudo e as instabilidades de mercado), Guimarães Duque já havia chamado a atenção para a necessidade de melhoramento genético e seleção de espécies mais produtivas, da mecanização e da irrigação para aumento da produtividade.

• Carnaubeira: destaca a sua importância econômica e a possibilidade de plantações mistas ou consorciadas, além da extração da cera e da palha. Entre as suas vantagens destaca: manejo fácil, resistente às secas; o principal produto, a cera, é de fácil conservação e tem comércio garantido. No carnaubal, existe a possibilidade de consorcio de atividades: “As plantações mistas e a combinação da pastagem com o carnaubal são meios de que o lavrador lança mão para eliminar a vegetação ruim, ajudar o crescimento das palmeiras, obter colheitas todos os anos, aumentar a renda da área e manter o solo sob cobertura constante” (DUQUE, 1980, p. 217).

• Oiticica: é uma das poucas espécies que resistem verde às secas. Destaca a possibilidade de expansão da lavoura para extração da semente para produção de óleos secantes, diminuindo a importação do óleo de linhaça, na fabricação de tintas, vernizes, esmaltes finos, oleados, lonas etc. A industrialização do óleo da oiticica (óleo secante) tem como limites as variações nas safras, mas um processo de melhoramento genético poderá ajudar.

• Palma forrageira: destaca-se o seu potencial para melhoramento da pecuária na Região. É um tipo de cactus sem espinho, que contém nas suas folhas verdes 93% de água. É ótimo alimento forrageiro misturado com a torta de caroço de algodão para completar a ração do pasto seco.

• Umbuzeiro: destaca a possibilidade de melhoramento genético por meio do estudo, da seleção e enxertia, aumentando o volume da polpa com maior teor de açúcares, na diminuição do volume do caroço e no afinamento da casca. É uma fonte de diversas matérias-primas: “O umbu pode se converter na ‘ameixa’ das caatingas e o umbuzeiro se transformar em outra árvore industrial, alimentícia, saída da flora espinhenta e agressiva” (DUQUE, 2001, p. 115).

• Cajueiro (semixerófila): destaca-se o valor econômico, com a diversidade de produtos que podem ser obtidos do cajueiro: do tronco da árvore, resina, casca taninosa e madeira; do fruto, bebidas, doces, óleo da amêndoa e óleo da casca. Além disso, serve para reflorestamento no litoral setentrional e para as caatingas úmidas.

• Algaroba: destaca-se a sua importância para fornecimento de lenha, da estaca para as cercas, da folhagem, como rama para o gado, além do seu verdadeiro valor que está nas vagens (mesocarpo) e nas sementes (endocarpo), como alimentos concentrados.

• Maniçoba: sua importância é para o reflorestamento das áreas mais secas e a possibilidade de extração do látex para produção de borracha.

• Faveleiro: é uma planta dotada de grande resistência à secura, prestando-se ao reflorestamento de vastas extensões erodidas e proporcionando o óleo e torta de alto valor energético, sendo talvez o vegetal de maior importância econômica, no Semi-árido.

• Licuri: destaca-se a possibilidade de utilizar as amêndoas para produção de torta, na alimentação de suínos e dos bovinos, e o aproveitamento das folhas para produção de cera usada na fabricação de papel carbono, graxa para sapato, para móveis, para pintura de automóveis.

• Jurema: tratando-se de uma leguminosa espontânea que despeja no chão boa quantidade de matéria orgânica, cada ano, é possível associá-la com o algodoeiro perene, no Sertão, formando um conjunto protetor-produtivo.

Quadro 2: Lavouras Xerófilas

A cultura xerófila não é apenas uma medida econômica, mas uma forma de gestão do ambiente natural. Ela deve ser acompanhada de um sistema de manejo do solo para melhor aproveitamento da água de chuva, utilizando o contorno de curvas de nível, as culturas em faixas, a cobertura do solo, os quebra-ventos, o repouso do solo, o desvio de enxurradas de infiltração etc. A produção apropriada no Semi-árido requer o equilíbrio no cuidado da planta e do solo ao mesmo tempo, porque o solo é permanente e a cultura é temporária. Em todos os casos, a conservação dos solos deve buscar a justa medida entre os princípios agroecológicos e a técnica do uso científico da terra. Já o princípio agroecológico básico a ser respeitado é de que “[...] a terra é um organismo vivo, que reage negativamente, reduzindo sua produtividade, quando retirada de seu estado natural” (DUQUE, 2004, p. 278).

Ele condena a monocultura como artificialismo nos países de clima quente. Por isso, deve ser adotada a prática da policultura, combinando as culturas permanentes, com as árvores que protegem o solo; e as culturas temporárias, de modo a harmonizar as raízes profundas das perenes com as mais rasas das anuais, com uma mistura de plantas ou lavouras intercaladas para manter a produção num período mais longo possível. Dessa forma, antecipa, em alguns, anos a proposta das agroflorestas que hoje tem sido difundida no Semi-árido.

O manejo adequado da Caatinga deve evitar os desmatamentos e queimadas porque, nesse caso, a terra nua é “atacada” pelo clima; enquanto que o solo coberto é defendido pelas plantas. Daí, a importância do reflorestamento com a recuperação da Caatinga, para que a revitalização do solo seja rápida. Duque era convicto de que o sistema de cultura mais racional para a terra seca é o que não desnuda o solo, buscando a combinação harmônica de um tipo florestal rarefeito com uma lavoura comercial. Defendia a necessidade de que, no Polígono das Secas, fossem mantidas ou refeitas pelo menos 500.000 km2 de Caatingas altas para satisfazer as necessidades dos habitantes e as de proteção (DUQUE, 2001, p. 85). Outra alternativa para a manutenção da fertilidade do solo na Região é a adubação verde ou o uso dos adubos orgânicos, chamados de compostos, em substituição à adubação química.

O manejo adequado do solo e da vegetação deve visar ao melhor aproveitamento da água da chuva. Se não houver o controle da erosão, por exemplo, a água que corre no solo vai destruir a plantação e inviabilizar a colheita. Isso explica porque, muitas vezes, o problema não é a falta de chuva nem o seu excesso, mas os erros nos manejos agrícolas. Uma agricultura apropriada deverá conduzir a água da chuva para dentro do solo, aumentando o húmus da terra e mantendo o terreno fértil, retendo e infiltrando as chuvas caídas nas terras altas, protegendo as áreas baixas contra as enxurradas e o alagamento dos campos.

Duque formula algumas críticas aos métodos e práticas culturais inadequadas que destroem os recursos naturais. Uma de suas críticas é quanto à tentativa de copiar a técnica do “dry farming”, que é aplicada em outras regiões semi-áridas do mundo, com solos profundos, alta umidade e períodos do ano em que chega a nevar. As características do Semi-árido brasileiro, com seu solo raso, superfícies não planas, evaporação intensa e elevada insolação, dificultam o emprego do “dry farming”. Outro alerta Duque faz quanto aos processos de mecanização no Sertão. Considera que as lavouras mecanizadas no Semi-árido podem ser danosas, tendo em vista que a cultivação profunda poda as raízes e impedem o meio de guardar água no solo, provocando erosão e aumentando os prejuízos econômicos para os agricultores.

A mesma crítica quanto à mecanização do solo se aplica às técnicas de irrigação que foram desenvolvidas em outros países e regiões brasileiras com realidades ecológicas diferentes dessas do Semi-árido, e que estavam sendo indevidamente transpostas, colocando em risco o solo e os investimentos realizados pelo Governo e pelos proprietários. Considerava que os solos das áreas irrigáveis deviam ser preservados do manejo inadequado e deveriam receber atenção especial no Semi-árido porque, nessa realidade, a irrigação era uma exigência social, uma solução técnica do problema social da fome, proporcionando o aproveitamento da água armazenada nos açudes e as margens dos rios perenes para aumentar a resistência dos sertanejos nos períodos secos.

No entanto, a irrigação é também de uma questão ambiental. As práticas agrícolas inadequadas nas bacias de irrigação promovem a destruição do solo pela erosão, o esgotamento e a salinização. Muitas vezes, as obras de drenagem dos terrenos são subestimadas e mal executadas, causando o aumento de sais solúveis no solo, prejudicando as suas propriedades físicas e alterando a nutrição das plantas. Também condenava o emprego de herbicidas que desnudavam o solo, expondo-o à insolação direta e à erosão causada pelos ventos baixos e privando-o de sua fonte de matéria orgânica, natural. Para evitar a degradação, a salinização e o endurecimento do solo, defendia um tipo de irrigação que trazia o solo sempre coberto de plantas ou restos de culturas, sem a queima dos resíduos orgânicos, evitando os cultivos excessivos e o uso indiscriminado de químicos (DUQUE, 2001, p. 65).

Além dos aspectos da relação harmônica ou saudável como o meio ambiente, Duque também sugere um conjunto de propostas estruturais para o desenvolvimento do Semi-árido, defendendo a garantia do trabalho com acesso à terra, à infra-estrutura e ao crédito: “Um lote de terra a quem quer trabalhar, a máquina nas mãos de quem vai lavrar a sua roça, o empréstimo em dinheiro ao que vai limpar o seu algodoal etc.” (DUQUE, 2001, p. 251).

Em relação ao acesso à terra, considerava que os minifúndios não eram apropriadas ao Semi-árido. Criticava, sobretudo, os regimes de divisão de terras em travessões perpendiculares aos eixos dos rios, com poucas braças de frente e léguas de fundo, impossibilitando o bom aproveitamento da terra e impedindo as medidas conservadoras ambientais. É uma das bases de sua crítica ao tipo de reforma agrária, que não era apropriada a esse ambiente, com a simples divisão dos latifúndios em pequenos lotes para a colonização, a não ser nas bacias dos açudes. Duque afirmava que nas outras áreas do Semi-árido, era preferível a grande propriedade: “[...] porque, no Sertão, fora das várzeas irrigadas, tem de predominar a grande fazenda, com as operações em maior escala, para que o sistema extensivo, único possível na terra seca, seja compensador” (DUQUE, 2001, p. 24).

Além das atividades agrícolas, Duque também defendia o avanço no processo de industrialização adequada no Semi-árido, baseada na matéria-prima local, como uma necessidade, à medida que crescia a população e que a energia elétrica fosse sendo disponibilizada no interior. A transformação ou beneficiamento dos produtos teria grande importância para um melhor aproveitamento das matérias-primas vegetais e minerais, agregando valor aos produtos e gerando trabalho e renda na Região.

Além das orientações ambientais e de melhoria da infra-estrutura para promoção do desenvolvimento regional, Duque revela a sua formação e a opção humanista, ao propor um conjunto de medidas socioeconômicas para a melhoria das condições de vida e para a cidadania da população sertaneja. Dava destaque especial para a educação “[...] o problema das secas se transforma na questão de educar a população” (DUQUE, 2001, p. 37). A falta da educação nas ações contra as secas e suas conseqüências era um impeditivo. Além dos aspectos produtivos, a educação é um instrumento de reabilitação da dignidade, da grandeza e das virtudes da população, o que impõe a necessidade de democratizar o ensino, de levar a instrução a todos as comunidades sertanejas. A educação deveria, portanto, ser apropriada à realidade local, fornecendo os conhecimentos e ferramentas para disseminar as noções do manejo e uso racional dos recursos naturais. Para isso, a educação deveria ter duas características básicas:

a) estimular atitudes e aptidões de cooperação para o bem comum, atenuando a tendência competitiva e individualista e

b) a contextualização do ensino, com a integração da escola na vida da comunidade, evitando a uniformização dos programas escolares, que contraria as realidades regionais específicas, desconsidera as condições do trabalho e o modo de vida da população local.

Além da educação, propugnava pela cooperação como elemento garantidor da participação e da solidariedade nas iniciativas implementadas na região semi-árida. Aponta que falta ao lavrador o espírito de cooperação, do trabalho mútuo, em união. O cooperativismo era considerado essencial na proposta de Duque, para o uso das bacias dos açudes públicos com as áreas irrigadas, como unidade de um conjunto organizado para produzir, vender e comprar. A cooperação é a solução para a questão produtiva com a união das famílias em sociedades ou cooperativas de consumo, de produção e comercialização.

Além de desenvolver o espírito de solidariedade e cooperação interna, os agricultores nordestinos deveriam ser sensibilizados para participar das iniciativas públicas no Semi-árido, evitando as atitudes de apatia e de indiferença. A participação ativa e consciente é um segredo para o sucesso das iniciativas. Por isso, sugere aos governantes que a elaboração de planos de ação ou a implantação de obras no Semi-árido deveriam passar pela consulta ao povo, estimulando a participação mais ativa dos sertanejos nas finalidades das obras e no melhoramento da Região, despertando as energias coletivas. Caso contrário, a imposição de idéias pode causar desprezo no valor e na importância das experiências.

Um último aspecto a ser abordado sobre as análises e sugestões do autor para o Semi- árido se refere à questão demográfica. Para o autor, a população é fator dinâmico e decisivo do desenvolvimento econômico e social. Considerava que os nordestinos devem ser preparados para usar os recursos naturais e criar uma sociedade a partir das características ambientais. No entanto, em algumas áreas do Nordeste, a fragilidade ambiental não permite um aporte populacional muito grande, e estas áreas correm riscos de desertificação devido ao manejo inadequado do solo, com a retirada da vegetação para atender às necessidades demográficas: Nessas áreas, o autor concorda com a necessidade de retirar o excedente da população para outras regiões de favorável colonização.

São essas as contribuições fundamentais de José Guimarães Duque, um engenheiro que adotou a ecologia como parâmetro para o conhecimento e a valorização das características naturais como potencialidades da Caatinga; e denunciou os erros técnicos, políticos e sociais na implantação das obras de combate à seca. Ao sugerir um conjunto de alternativas apropriadas para uso dos recursos naturais, propondo ações estruturais de melhorias das condições de vida da população local, incluindo a educação, a solidariedade e a participação como base da cidadania, aposta claramente no futuro do Semi-árido.

CAPÍTULO 5

CELSO FURTADO: POLÍTICAS REGIONAIS E A SUPERAÇÃO DO

SUBDESENVOLVIMENTO

Saí em passeio pelo meu Sertão de origem, em plena estação seca, e dei asas à fantasia, antecipando a transfiguração daquelas terras ásperas mediante a proliferação de oásis onde se repetiria o milagre da multiplicação dos frutos do trabalho humano. É caminhando à noite, sob o céu estrelado, que o sertanejo se deixa arrebatar pelo orgulho de sua terra. Os ventos que prolongam os alísios avançam céleres pelo horizonte aberto, e o mundo inteiro parece estar ao alcance da vista (CELSO FURTADO, 1989).

Celso Furtado nasceu aos 26 de julho de 1920, em Pombal (Paraíba) e faleceu aos 20 de novembro de 2004, no Rio de Janeiro. Formou-se Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1944). Participou da Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial, na Itália. Retornando à Europa, em 1948, fez seu doutoramento em Economia, na Universidade de Paris (Sorbonne), estudando a economia colonial brasileira no período do açúcar. Dez anos depois, realizou seus estudos pós-doutorais em Cambridge, Inglaterra, onde elaborou uma das suas mais importantes e conhecidas obras “Formação Econômica do Brasil”, um clássico nas Ciências Sociais.

Autor de dezenas de obras, nos mais variados campos do conhecimento, sendo algumas delas literárias, Celso Furtado foi além da interpretação da realidade brasileira, sendo