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Para a manutenção do ensino pelo governo estadual contribuía o fundo escolar. Este se constituía dos ganhos sobre o registro de diplomas, cartas e certificados expedidos pelos estabelecimentos de ensino público primário ou secundário; das retribuições e direitos pagos por nomeações, promo- ções e licenças de professores; das multas estabelecidas no regulamento da instrução de 1924; das taxas de matrícula na Escola Normal, no Atheneu e no curso primário superior; dos emolumentos e selos devidos pelos atos relativos à instrução; dos donativos e legados feitos em favor da instrução pública; das perdas de vencimentos ou de gratificações do pessoal da ins- trução e ainda de verbas especiais votadas pela Assembleia Legislativa. O fundo escolar destinava-se à aquisição de livros e material escolar para os alunos pobres das escolas públicas; à aquisição de livros para as biblio- tecas da Escola Normal e do Atheneu; à constituição do fundo das caixas

escolares que viessem a ser fundadas no estado; e à distribuição de uma quota pelas caixas escolares já fundadas (Art. 70 e 71).

As caixas escolares consistiam em instituições destinadas a incentivar a frequência das escolas, facultando às crianças mais pobres meios para sua educação. O Regulamento de 1924 determinava que a sua criação fosse obrigatória nos grupos e facultativa nas escolas isoladas (Art. 73).

Desde 1915, as caixas eram apontadas como um dos meios responsáveis pelo aumento da matrícula e da frequência escolares, vindo o presidente do estado, general Oliveira Valladão (1914-1918), a afirmar que o estabele- cimento dessas associações, em caráter obrigatório, não deveria ser adiado (SERGIPE. Mensagem [...], 07/09/1915). Um ano depois, as caixas esco- lares, tendo em vista a necessidade de melhor funcionamento e suporte na manutenção dos alunos nas escolas, ganhariam regulamentação ofi- cial conforme Decreto n. 630 (SERGIPE. Mensagem [...], 07/09/1916). As unidades educacionais do período sofriam não só com a insuficiência de matrículas, mas também com a baixa frequência dos alunos matriculados. Exemplo disso pode ser visualizado no Grupo Escolar Manoel Luís. Em 1925, o secretário do estado determinou o funcionamento no grupo de apenas os dois primeiros graus no turno da tarde, devido à ausência de frequência mínima33.

De acordo com o regulamento da instrução de 1924, os membros das caixas escolares – presidente, secretário, tesoureiro e fiscais – não recebiam vencimentos para a execução de suas tarefas. O patrimônio dessas insti- tuições beneficentes era composto de joias doadas pelos sócios, contribui- ções pagas pelos associados, produtos de subscrições e festas de iniciativa pública ou particular, doação e legados, verbas fixadas no orçamento do estado ou no dos municípios e a quota do fundo escolar, conforme a dis- tribuição realizada pelo diretor geral da instrução.

O patrimônio das caixas deveria ser utilizado para o fornecimento de rou- pas e calçados, assim como livros e outros objetos escolares aos alunos reconhecidamente pobres; para o despacho das receitas prescritas pelo inspetor sanitário escolar; para proporcionar merenda nas escolas que

33 Na instituição, o turno matutino era destinado às alunas e o vespertino, aos alunos. Estes apresentavam matrícula e frequência menor no Grupo. Of. n. 1120 de 10/06/25, da Secretaria Geral do Estado de Sergipe para a Diretoria Geral da Instrução.

funcionavam em dois períodos; e para aquisição de estojos, brinquedos e medalhas, objetos utilizados com o fito de premiar os alunos que mais se destacassem, conforme regulamento da instrução (Art. 78). Os recursos das caixas, dessa forma, poderiam ser utilizados não apenas com o obje- tivo de promover meios básicos para que estudantes carentes permane- cessem na escola, mas poderiam ser também direcionados à aquisição de materiais para premiar os melhores alunos. Assim, a própria regulamenta- ção das caixas escolares abria espaço para que o seu principal fim – ajudar a infância pobre – encontrasse problemas em sua realização.

Em 1920, o estado de Sergipe já contava com nove caixas escolares. Quatro delas encontravam-se na capital, ligadas aos grupos escolares exis- tentes na cidade. No entanto, a partir de 1922, primeiro ano da admi- nistração Graccho Cardoso, críticas ao funcionamento dessas entidades beneficentes começavam a surgir. A respeito das caixas escolares, era da seguinte maneira que se pronunciava o diretor do Grupo Escolar Coelho e Campos, o farmacêutico Bruno Manoel de Carvalho:

Apesar dos esforços empregados pela sua Directoria, esta socie- dade tão util ás crianças pobres, não tem saptisfeito á espec- tativa, em virtude do limitado numero de socios que possui, espero porem, que mais contribuintes [ilegível] fôr observado os beneficios por ella espalhados, torne-se um verdadeiro animo de ditas crianças (Relatório do movimento do GECC de 17/06/922, p. 4 – Manuscritos – APES).

No ano seguinte, o próprio presidente Graccho Cardoso começava a lamentar o estado das associações e solicitava dos deputados estaduais pro- vidências para a melhoria do seu funcionamento (SERGIPE. Mensagem [...], 1923, p. 7).

Dois anos após, em 1925, a situação não tinha obtido melhora (SERGIPE.

Mensagem [...], 1925, p. 15). Apesar dos problemas apresentados, a obriga-

toriedade instituída pelo Regulamento de 1924 em vigor acarretava, pois, a criação de novas caixas pelos diretores dos grupos escolares do interior do estado. Fato ocorrido no Grupo Escolar João Fernandes de Brito, na cidade de Propriá, exemplifica bem essa questão. O diretor do estabele- cimento escolar fundou a Caixa Escolar D. Delphina Britto, inaugurada em 19/07/1925 (Of. de 20/07/1925, do GEJFB – Manuscritos – APES). O Grupo Escolar Gumercindo Bessa, na cidade de Estância, também criou

a sua entidade beneficente. O seu diretor, Dr. Jessé de Andrade Fontes, assim informava à Diretoria Geral da Instrução em setembro de 1927:

[...] / Tenho mais a satisfação de vos communicar que tomei a iniciativa de fundar junto a este Grupo uma caixa escolar a que foi dado o nome de Graccho Cardoso benemérito filho desta terra e esforçado pioneiro da santa cruzada da instrucção em Sergipe, obtendo franco exito a minha iniciativa (Of. de 15/09/1927, do GEGB – Manuscritos – APES).

O crivo da Diretoria da Instrução atingia as caixas escolares, as quais deveriam, por meio de um relatório, prestar contas anualmente ao órgão. A prestação de contas referente a um ano letivo não poderia exceder o mês de junho do ano subsequente. As caixas deveriam possuir regulamentos, uma vez que, “para ter existencia juridica, a caixa fará registrar os seus estatutos, de accordo com a legislação vigente” (SERGIPE. Regulamento [...], 1924, p. 28).