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Na presidência de Sergipe, procurando solucionar os problemas na produ- ção econômica, Graccho Cardoso afirmava ter criado o Banco Estadual de Sergipe; disseminado os processos racionais de cultura por meio de reformas no Centro Agrícola Epitácio Pessoa e da introdução da coloniza- ção alemã; fundado o Instituto de Química; incumbido ao então criado Departamento Estadual do Algodão a renovação da produção algodoeira; obtido aprovação na Assembleia Legislativa de lei para fundação de linhas férreas; estabelecido uma estação experimental para o cultivo de arroz na zona do rio São Francisco e adquirido seu maquinário; incrementado os serviços de estradas de rodagem; e instituído o ensino agrícola elementar no Patronato Agrícola São Maurício (SERGIPE. Mensagem [...], 1926). Graccho Cardoso acreditava na agricultura como fator de desenvolvi- mento do Brasil, desde que fossem adotados os métodos científicos, a pequena propriedade e um sistema de créditos para os agricultores, assim como um ensino agrícola. São suas as seguintes palavras:

O peso da tradição e a rotina continuam a esmagar-nos; os velhos processos condemnados inda persistem em não ceder o passo a methodos mais compensadores e intensivos. / [...]. Absoluta, intima é a interdependência entre os meios que fazem avançar a agricultura e a irradiação do ensino que lhe diz respeito. [e atestava a importância] da organização de um ensino rural vasto, completo, systematisado, positivo e, quando possível, eminentemente pratico (Diario Official [...], de 5 a 8/3/1922).

Segundo o administrador, a falta de instrução por parte dos agricultores era um problema a enfrentar. As representações do administrador trans- formavam-se em mecanismos de difusão de instrução. Em 1923, referia-se ao Patronato Agrícola da seguinte maneira:

[...]. O Patronato São Mauricio, no Centro Agricola Epitacio Pessoa, constituirá a primeira escola destinada ao preparo de jornaleiros, para as diversas lavouras do Estado. Atraz do

ensino agricola primário simples, virão, ad instar das estações de algodão, os campos de demonstração, intuitivos, econo- micos e modestos, e da diffusão delles resultará a victoria da cultura racional sobre os meios broncos que, por séculos, vêm immobilizando a fortuna e a grandeza do Brasil (SERGIPE.

Mensagem [...], 1923, p. 37-38).

Vivia-se no período uma concorrência de representações. A empiria e o apego à tradição diante da abstração proveniente das pesquisas científi- cas e a busca pela racionalização das práticas faziam parte de um mesmo contexto. Tal contexto, marcado pelas mudanças, poderia assistir inclu- sive à resistência às práticas administrativas do governo. As representações dos agricultores sobre suas atividades econômicas requeriam, no olhar do governo Graccho Cardoso, mudanças. As representações, resultantes de processos de apropriação dos próprios sujeitos, são meios importantes para a compreensão da história, uma vez que envolvem saberes e práticas dos indivíduos de uma determinada época (CHARTIER, 1990).

A ênfase das palavras de Graccho Cardoso em favor da adoção de méto- dos racionais para o desenvolvimento econômico tornava-se corrente. A racionalização da produção é retida como signo essencial de moderni- dade (LE GOFF, 1994). Conforme Touraine (2002, p. 19), “A raciona- lização, componente indispensável da modernidade, se torna, além disso, um mecanismo espontâneo e necessário de modernização [...]”. Acerca do Centro Agrícola Epitácio Pessoa, órgão oficial de estudos agrícolas no estado, Graccho apontava a necessidade de sua mecanização como fator para o desenvolvimento racional da sua produção (SERGIPE. Mensagem [...], 1925, p. 59).

O Departamento Estadual do Algodão, criado em substituição ao antigo Serviço de Defesa do Algodão, era auxiliado por um escritório constru- ído especialmente para a promoção da instrução dos lavradores das esta- ções experimentais de algodão implantadas no estado. Tais estações, de acordo com o governante, eram aparelhadas com mecanismos modernos de lavoura (SERGIPE. Mensagem [...], 1925, p. 38).

A preocupação com a instrução como base para o melhoramento dos pro- cessos e prosperidade econômica do estado tornava-se evidente também pela iniciativa do governo de criação do Instituto de Química, em 1923. Destinado a análises e pesquisas, consoante Graccho Cardoso, o Instituto visava à preparação, em curso de três anos, de químicos capazes de orientar,

no futuro, os laboratórios e os institutos do estado. Para a organização e direção inicial do Instituto, fora convidado o Dr. Archimedes Pereira Guimarães, profissional externo ao estado de Sergipe6.

Profissional externo a Sergipe, também fora contratado para a organiza- ção do Departamento Estadual do Algodão. A contratação recaiu no pro- fessor Thomás R. Day, natural do Texas, importante região algodoeira dos Estados Unidos. Tal contratação e a decisão do contratado de criar estações experimentais para a produção, de certo, representavam elevados custos, recebendo, consequentemente, críticas e reprovações. Acerca disso, afirmava o governante:

O professor Day era a competencia indicada para encarregar-se desse serviço, e estando disso convicto fechei ouvidos a cri- ticas e murmurações da vesga descrença que gera e alimenta o derrotismo em nossa terra. Depois não ha economia mais onerosa do que aquella que é feita em prejuizo do aproveita- mento das capacidades superiores na direcção de certos traba- lhos. A remuneração deve ser sempre proporcional ao merito e aos serviços que cada um presta (SERGIPE. Mensagem [...], 1925, p. 38).

A atenção dispensada à agricultura ocorria também no âmbito da indús- tria, principalmente a têxtil. De acordo com o presidente, Sergipe era um dos estados em que esse tipo de indústria fabril apresentava desenvolvi- mento mais seguro. Além das fábricas de fiação existentes, Graccho, em 1925, sinalizava a instalação de novas em Riachuelo, Villanova (atual Neópolis) e Barra dos Coqueiros. Nessa última cidade, seria instalada ainda uma fábrica para utilização de fibra de coco e seus derivados. Vale lembrar também o início de pesquisas do Instituto de Química acerca das salinas do estado a partir do final de 1924 e a iniciativa da produção naval. A produção naval era vista como uma possibilidade para a resolução do problema do escoamento da produção sergipana. Esta, em determinados momentos, aguardava até trinta dias a fim de que pudesse chegar ao mer- cado (SERGIPE. Mensagem [...], 1925, p. 118-119).

6 Professor de Química Orgânica e Industrial da Escola Polytechnica da Bahia. Já lecionara Química Industrial Agrícola na Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária em Niterói. Ver: SERGIPE. Mensagem [...], 1923, 1925.

No entanto, paralelamente a esse avanço industrial, o governo Graccho Cardoso, no seu último ano, conviveu com uma queda nas exportações, principalmente de algodão, que, em 1926, chegou a 656 fardos, diferen- temente de 1925, quando chegara a 8.604. A previsão que o presidente fazia, em 1925, para a safra de 1925-1926, não era tão promissora, devido, principalmente, à escassez de chuvas (SERGIPE. Mensagem [...], 1925, p. 53-55).

A queda na produção em virtude de sua suscetibilidade diante dos fenôme- nos naturais parecia demonstrar fragilidade na condução de um empreen- dimento moderno, como queria o governo Graccho Cardoso. No entanto, ao lembrarmos os reais objetivos do Departamento Estadual do Algodão, que, segundo o presidente, não era o lucro econômico em si, mas o conhe- cimento acerca de práticas modernas de lavoura (SERGIPE. Mensagem [...], 1926) e o ensino delas, podemos dizer que o estado viveu um espí- rito empreendedor na busca pela modernidade das práticas produtivas. Em outras palavras, na visão do administrador estadual, os sergipanos precisavam tornar-se modernos e, para isso, eram necessários estudos e experimentação.

A relação entre receitas e despesas na administração Graccho Cardoso demonstrava no início do seu governo uma situação econômica promis- sora. A receita orçada para 1923 era de 4.995:434$400, entretanto pro- duziu 9.061:690$007. A despesa, por sua vez, fixada em 4.995:049$740, elevou-se a 7.733:370$324 (SERGIPE. Mensagem [...], 1924, p. 18). Apesar da ampliação dos gastos públicos com a reorganização da Força Pública em 19247 e do aumento das despesas previstas para o referido ano,

do valor de 4.995:043$435 para 10.908:014$462, Graccho Cardoso afir- mava, em 1925, que a situação financeira do estado apresentava-se segura e animadora, mantendo, consequentemente, o erário e a pontualidade nos seus pagamentos, inclusive, segundo o presidente, “[...] os referentes á divida consolidada, cujo resgate, suspenso havia alguns annos, reini- ciei em 1923, e mais aos juros respectivos, que encontrára atrazados, de um semestre, ao occupar a presidência” (SERGIPE. Mensagem [...], 1925, p. 133).

No balanço financeiro que o presidente fazia em 1925, justificava o aumento das despesas com o elevado número de obras em construção e

reformas, levadas a efeito em um período de alta geral dos preços. Ao observarmos o ano de 1924, de modo mais específico para um balanço do governo Graccho Cardoso no que se refere às despesas com obras públi- cas, novas ou reformadas, podemos perceber mais detidamente o lugar da instrução pública.

Os investimentos do governo em obras públicas denunciavam um pro- jeto modernizador em que, além da atenção aos serviços de instrução, tinham lugar de destaque os serviços de embelezamento e higienização dos espaços públicos. Os serviços de eletricidade na capital e em cidades do interior, juntamente com os de calçamento de ruas e abastecimento de água, chegavam a totalizar 1.706.446$315, aproximadamente 37,19% do total dos custos. Os gastos poderiam ser considerados também frutos de uma situação financeira animadora, com constante aumento das receitas (SERGIPE. Mensagem [...], 1925, p.  136). Nesse sentido, referindo-se à próspera situação financeira de Sergipe, Graccho Cardoso afirmava:

A riqueza publica eleva-se de anno a anno e a particular tem tido um surto admiravel neste ultimo triennio. / A creação de dois novos estabelecimentos de credito no Estado – o Banco Mercantil Sergipense e o Banco de Credito Popular, de Maroim; o augmento do capital do Banco de Sergipe, o desen- volvimento das transacções do Banco Estadual e da Agencia do Banco do Brasil, são attestados de valia incontrastavel (SERGIPE. Mensagem [...], 1925, p. 140).

Havia uma compreensão sobre modernidade presente na administra- ção Graccho Cardoso que podia ser percebida, por exemplo, quando o governante criticava o que chamava de peso da tradição, materializado na rotina dos processos econômicos e administrativos, problema cuja solução passava, segundo o presidente, pela difusão do ensino necessário para os diversos tipos de trabalhadores. Para tanto, acreditava e defendia que era necessária a instrução dos agricultores, o que levaria o governo a determi- nar a promoção da instrução dos lavradores das estações experimentais de algodão como uma responsabilidade do Departamento Estadual do Algodão. Acreditava na ideia de progresso mediante o aperfeiçoamento dos métodos de produção agrícola e a adoção de modernos processos mecânicos para os diversos cultivos.