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compreender o programa de enriquecimento instrumental de Reuven Feuerstein

2.4.5. O mapa cognitivo do PE

programa de enriquecimento instrumental” (FEUERSTEIN, 1980, p. 105).

2.4.5.

O mapa cognitivo do PEI

O mapa cognitivo do programa de enriquecimento instrumental (PEI), de Feuerstein, é, segundo ele, um modelo de análise do ato mental que permite conceituar a relação entre as características de uma tarefa e o rendimento do sujeito.

Para Reuven Feuerstein (1980), o mapa cognitivo define o ato mental através de sete parâmetros: (1) conteúdo; (2) operações mentais; (3) modalidade lingüística; (4) fases do ato mental; (5) nível de complexidade; (6) nível de abstração, e (7) nível de eficiência, “através dos quais, o ato mental pode ser analisado, categorizado e ordenado” (p. 105). Na sua concepção, o manejo destes parâmetros impõe um papel muito importante na interação professor-aluno, na medida em que serve para validar as hipóteses relativas às deficiências cognitivas e às dificuldades do sujeito.

Objetivando esclarecer o mapa cognitivo elaborado por Feuerstein, apresentaremos, a seguir, os principais traços dos sete parâmetros:

2.4.5.1.

Do conteúdo

Para Feuerstein (1980), “cada ato mental pode ser descrito de acordo com o assunto que trata e pode ser analisado em termos do universo de conteúdo que opera” (p. 105). Na sua perspectiva, um assunto X do PEI pode derivar de matemática, por exemplo, para ajudar na compreensão de um evento histórico ou geográfico.

Daí, segundo ele, deriva a natureza livre do seu conteúdo. Entretanto, no seu entendimento, a competência do indivíduo no conhecimento de uma

matéria específica, está ligada diretamente à sua experiência passada, histórica, educativa, pessoal e cultural. Para Feuerstein, alguns conteúdos podem ser pouco familiares, daí exigir um intenso e específico investimento de tempo, tanto por parte do estudante como do professor. Portanto, como afirma o referido autor, quando se quer trabalhar com uma determinada operação cognitiva, o conteúdo adquire um papel importante.

O que de fato nos instiga é entender em que medida a relevância desse conteúdo implica na caracterização e determinação de uma deficiência cognitiva ou falta de experiência de aprendizagem mediada, ou síndrome de privação cultural por parte do sujeito.

É possível e legítimo afirmar que, entre outras tantas possibilidades, o conteúdo pode fazer parte da cultura de um determinado grupo humano específico e não fazer sentido algum, para esse grupo, determinadas conceituações, fatos, questionamentos, procedimentos e atitudes? É possível que as tarefas do PEI estejam equivocadas, sem sentido? Ou esta questão é descabida?

Diante de um determinado conteúdo, a operação cognitiva que realiza um brasileiro economicamente pobre, nascido e criado na periferia, é a mesma que um brasileiro economicamente rico, nascido e criado na zona de elite?32 São tensões que, de acordo com as nossas observações, o PEI ignora.

32

Obviamente se estabelecermos essa mesma lógica para estudarmos como operam os brasileiros nordestinos moradores da capital e do interior, as diferenças se acentuariam. O que não quer dizer melhor ou pior, mas diferentes. E se estabelecermos um paralelo entre os brasileiros de estados distintos, ou entre países distintos, perceberíamos que a beleza e a riqueza estão na diversidade de lógicas, de compreensões e sentidos atribuídos por cada grupo humano e não a definição de uma única via de sentidos, como, ao que tudo indica, pretende o PEI desenvolver. O ideal seria possibilitar o intercâmbio dessas trocas simbólicas e subjetivas e não a imposição de uma lógica em detrimento de outra.

4.2.5.2.

Das operações mentais

As operações podem ser relativamente simples a partir de uma reorganização ou identificação de objetos para mais complexas atividades como classificação, seriação e multiplicação lógica, entre outras. Além disso, as operações mentais podem ser aplicadas nas informações existentes, ou elas mesmas podem solicitar generalizações que não estão imediatamente presentes no repertório de informações do indivíduo, como no caso do raciocínio silogístico, analógico ou inferencial. Numa definição de natureza de uma operação mental é importante identificar os pré- requisitos necessários para sua generalização e aplicação. (FEUERSTEIN,1980, p.106-107)

Tomando como referência essa perspectiva, acima descrita, podemos afirmar que as operações mentais podem ser definidas como um conjunto de ações interiorizadas e organizadas, que nos possibilitam elaborar as informações derivadas de fontes externas ou internas. Elas podem abranger desde a identificação das características de objetos e eventos a atividades de ordem mais elevada, tais como: o estabelecimento de analogias e realização de inferências.

Segundo Feuerstein, essas operações são classificadas em relativamente simples ou complexas, dependendo das exigências da tarefa. Entendemos, por isso, considerando a nossa vivência como aplicadora de PEI, que a intervenção pedagógica proposta por ele, depende, exclusivamente, do uso ou não uso de estratégias por parte do aluno para resolver a folha de algum dos instrumentos do PEI. Sendo assim, todo o processo pedagógico gira em função do exercício, isto é, em torno do comportamento dos estudantes diante de seu grau de facilidade ou dificuldade.

Será que a efetiva necessidade do estudante do ensino médio, do ponto de vista cognitivo, afetivo e cultural, dependerá dessa exclusiva exigência do já dado, posto e estruturado nas folhas de aplicação (PEI)? Como sabermos se essa necessidade do aluno se apresenta de fato no momento da aplicação e na seleção das operações mentais, que são, sistematicamente, trabalhadas

numa aula-PEI? Será que as atividades desenvolvidas nas disciplinas curriculares não trabalham sequer essa dimensão cognitiva, do levantamento e escolha da melhor estratégia, bem como da clareza do processo desencadeado por conta desse planejamento?

São questões que, certamente, com a continuidade de mais pesquisas voltadas para compreender essa proposta pedagógica para o ensino médio, aqui, na Bahia, poderão ser respondidas.

Adiante, buscamos apresentar os tipos de raciocínio ou operações mentais33, que, segundo Feuerstein, são desenvolvidas nos alunos a partir da aplicação de sua proposta pedagógica aqui em exame, o PEI.