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1. A DIVERSÃO DO APRENDER

1.6 Maria Montessori e seu Método

Como afirma Marcelino (2014), as habilidades de maior influência sobre o sucesso escolar se dão a partir da primeira infância através de estímulos feitos de maneira apropriada, possibilitando um processo de aprendizagem natural, descomplicado e prazeroso.

Maria Montessori (1870-1952) foi uma pedagoga, pesquisadora e médica italiana, idealizadora do método que carrega seu sobrenome e serviu de grande importância ao movimento Escola Nova, previamente já citado neste trabalho. Montessori iniciou sua carreira como médica e passou a desenvolver pesquisas e estudos psiquiátricos em crianças portadoras de distúrbios de comportamento e aprendizagem, defendendo a tese que a principal causa dos atrasos apresentados por essas crianças era a ausência de estímulos no ambiente para um desenvolvimento adequado. Dessa forma, passou a se dedicar na elaboração de fundamentos e materiais pedagógicos para estimulação do potencial de cada criança (MONTESSORI, 1936).

Foi em 1907 que Montessori fundou a primeira escola pública, a Casa dei Bambini (figuras 7 e 8), a qual começou a aplicar os princípios de individualidade, autoeducação e liberdade de sua teoria. Caracterizando, então, o método como ativo, onde a “educação ao ritmo próprio de cada criança não se contrapõe à socialização, mas deve facilitar a integração no grupo” (ARANHA, 1989 apud CIRIACO, 2016, p. 20). Foi nessa escola que Montessori reuniu os resultados de seus estudos e observações, os quais difundem a criança como protagonista de seu próprio processo de aprendizagem, com seu próprio ritmo e limites, e o ambiente como influenciador do desenvolvimento educativo quando atende as necessidades das crianças (GADOTTI, 2002 apud SIQUEIRA, 2016, p.40).

Figura 7 - Sala de aula na Casa dei Bambini Figura 8 - Pátio da Casa dei Bambini

Fonte: Montessori, 1936 Fonte: Montessori, 1936

Montessori (1936) caracteriza seu método por seis pilares pedagógicos, sendo o primeiro deles denominado de Autoeducação em que considera a capacidade de aprender que a criança possui de maneira natural e a partir dos seus próprios interesses, ela busca, explora, investiga. Assim sendo, a criança escolhe o que e como aprender, além do local para otimizar seus estudos.

O segundo trata acerca da Educação Cósmica, que relaciona o dever do educador de transmitir o conhecimento às crianças. O cosmo representa para Montessori ordem, logo a ideia é mostrar que existe uma função para tudo no mundo e que a ordem é essencial para assimilar essas informações para que a criança passe a entender qual sua tarefa no universo, como ela pode colaborar com ele, além de estimular sua imaginação.

A Educação Como Ciência é o terceiro pilar em que o educador é responsável pelas observações e análises sobre cada criança para melhor entendê-las, definindo a melhor maneira de ensinar e assim, aperfeiçoar o método dia após dia (MONTESSORI, 1936).

O quarto pilar e um dos mais importantes para a realização desse trabalho trata acerca do Ambiente Preparado, onde a criança desenvolve sua independência, entende sua liberdade e suas barreiras. Para Montessori (1936), o espaço deve se adequar as necessidades psicológicas e físicas de cada indivíduo, configurando um

mobiliário ergométrico acessível às crianças e com materiais didáticos expostos de fácil acesso.

Outro pilar é o Adulto Preparado que conceitua o orientador como responsável por guiar e orientar o processo de aprendizagem, necessitando assim, de profissionais capacitados, pois é necessário conhecer as fases do desenvolvimento infantil.

Por fim, o sexto e último pilar é a Criança Equilibrada que aborda a figura da criança como resultado do correto uso do ambiente e da ajuda do orientador preparado, possibilitando um desenvolvimento mais natural e possibilitando uma espontaneidade no trabalho (MONTESSORI, 1936).

Um diferencial da metodologia montessoriana em contraste com a pedagogia tradicional é o agrupamento de crianças por ambiente. Enquanto o sistema tradicional separa crianças por idade em cada sala de aula, o método em questão une diferentes idades em cada ambiente. Melhor dizendo, os alunos são divididos por agrupamentos da seguinte forma: de zero a três anos, dos três aos seis, dos sete aos nove, dos nove aos onze, dos onze aos quatorze e assim por diante. O objetivo desse agrupamento é desencadear o fator social e promover uma atmosfera de empatia e solidariedade (LAGÔA, 1981 apud SIQUEIRA, 2016).

Pode-se concluir então que a escola baseada no método Montessori busca cativar os alunos ao processo de aprendizagem através de materiais lúdicos e interação com o ambiente. O envolvimento do aluno em uma classe com crianças com diferentes idades também proporciona a prática do espirito de cooperação, além de colaborar com a manutenção do ambiente.

Espera-se que o aprendizado seja sempre estimulado, sem haver a necessidade de dividir o horário de sala de aula e recreio, podendo este também ser passível de ensinar. Supõe também que os alunos sejam o guia do seu próprio processo de aprendizagem, aprendendo com seus erros, encontrando suas soluções em diferentes meios, não apenas em sala de aula, como também em bibliotecas e uso da internet (LAGÔA, 1981 apud SIQUEIRA, 2016).

Machado (1986 apud ELALI, 2002, p.77) listou características do Método Montessori, tais quais:

1) Ensino através da manipulação de materiais (figura 9); 2) Liberdade na escolha das atividades;

4) Exercícios de vida prática (abotoar roupa, calçar sapatos, varrer, cuidar do jardim, etc.);

5) Exercício da ginastica com aperfeiçoamento dos mecanismos motores; 6) Educação dos sentidos, os quais se subdividem em 6 tipos: auditivo, visual,

tátil-termico, tátil físico, pesos-medidas e olfato-paladar.

Figura 9 - Materiais didáticos para uso do Método Montessori

Fonte: < https://psicologiaacessivel.net/2015/04/25/metodo-montessori-outro-olhar-sobre-ensino-e- aprendizagem/ >. Acesso em 01 nov. 2019

Uma outra grande contribuição de Montessori para a viabilização desse método foi a produção de um material didático, o qual denominou “Material Dourado”, e que continha em sua composição cubos, placas e barras de madeira em diferentes cores, tamanhos e texturas. É através desse material que a criança pode aprender linguagem, matemática, ciências e questões sensoriais, servindo, portanto, como exercícios da vida rotineira (KOWALTOWSKI, 2011).

Figura 10 - Exemplo de layout de uma sala de aula do Método Montessori

Fonte: <https://montessorirocks.org/what-to-look-for-in-a-montessori-school/>. Acesso em 01 nov. 2019

No Método Montessori, o espaço:

Deve ser um local espaçoso, silencioso e em contato com a natureza (árvores, flores, gramados). Os móveis devem ser acessíveis ao tamanho da criança: pequenas cadeiras, mesas, armários e utensílios de cozinha, ferramentas diversas etc., e leves para serem mudadas de local pela criança com facilidade. A sala de aula não é aquela tradicional: carteiras enfileiradas, crianças quietas, sentadas imóveis, professora em posição de destaque na frente da classe, vigiando os alunos. Ao contrário, as crianças têm liberdade para comunicarem e se movimentarem na sala, geralmente sentam-se em tapetes no local que acharem mais adequado (LAMORÉA, 1996 apud CIRIACO, 2016, p. 21).

Foi na Holanda que o método teve uma grande repercussão e ficou sob a responsabilidade do arquiteto Herman Hertzberger o projeto de diversas escolas, sendo a primeira projetada em 1960, nomeada Escola Montessori Delft (figura 11 e 13). Esta escola tornou-se símbolo de edificação escolar que reflete os princípios do método de ensino em sua estrutura (SIQUEIRA, 2016, p.42). A autora também afirma que Hertzberger foi um dos primeiros arquitetos a relacionar as salas de aula e os espaços de interação, com a inserção de alpendre entre ambientes para uma gradação entre o interno e o externo.

Hertzberger (1999) propõe, mediante a elaboração desse projeto, salas de aula como unidades independentes, com a ideia de pequenos lares, dispondo todas as

classes ao longo do hall da escola, como uma rua comunitária. A caracterização da sala é decidida em conjunto entre professora orientadora e alunos, tendo autonomia para criar a própria aparência e atmosfera.

Figura 11 - Escola Montessori em Delft, Holanda.

Fonte: Disponível em < http://hertzbergertca.blogspot.com/2009/10/montessori-school-delf.html >. Acesso em 01 nov. 2019

Inspirado no Material Dourado criado por Montessori, Hertzberger brinca com a criatividade das crianças ao encaixar, no meio do chão do pátio, uma caixa quadrada preenchida por blocos de madeira soltos que podem ser retirados e montados conforme as ideias do usuário, servindo como arranjo de assentos ou outras formas a depender da inventividade da criança (figura 12). Pode-se perceber aqui, a preocupação do arquiteto para seguir os princípios do método, além da importância dada à escala humana das crianças e a articulação entre usuários e espaço construído (SIQUEIRA, 2016, p.43).

Esta escola, projetada em 1960 e ampliada várias vezes desde então (figura 13), possui uma articulação espacial onde permite atividades simultâneas sem que uma atrapalhe a outra. As salas de aula, em formato de L, geram um amplo corredor central complementar que serpenteia diagonalmente pelo edifício, de modo a articular diferentes zonas de concentração. Muita atenção também foi dada à zona externa e às entradas, criando espaços que possam ser usados de diversas maneiras. Foram feitos todos os esforços para diminuir o

limiar entre o mundo exterior e a escola. O playground não está fechado e pode ser usado pelas crianças locais após o horário escolar1

(MONTESSORI..., 2019, s.p.).

Devido à importância dos ambientes no dever de influenciar o aluno e estimular o processo de aprendizagem, Montessori (1936) defende que os espaços escolares devem proporcionar a observação, a atividade, a ordem, a liberdade e a autonomia, deve-se também resistir à repressão de atividades infantis. A organização do ambiente também é digna de atenção, seguindo o segundo pilar da pedagogia, e a disposição dos objetos devem concordar com as necessidades das crianças. No mais, toda escola deve ser pensada para ser um lugar para se experimentar, aprender e viver (MONTESSORI, 1936).

Dessa forma, para oferecer espaços de conexão com ambientes adequados em suas proporções e dimensões, o edifício escolar infantil deve se adaptar as possibilidades variadas de uso e um planejamento de conforto ambiental, como elaboração de um projeto prevendo uma ventilação e iluminação natural.

1Do original: “his school, designed in 1960 and extended several times since, has a spatial articulation that permits

activities to take place simultaneously without one disturbing the other. The classrooms, which are L-shaped so as to articulate different zones of concentration, together generate a complementary wide central corridor which meanders diagonally through the building. Much attention has also been given to the external zone and the entrances, creating spaces which can be used in many ways. Every effort has been made to soften the threshold between the outside world and the school. The playground is not closed off and can be used by the local children after school hours.”(MONTESSORI school delft. AHH, 2019. Herman Hertzberger, Manfred Kausen, Roos Eichhorn. Disponível em: < https://www.ahh.nl/index.php/en/projects2/9-onderwijs/114-montessori-school-delft> Acesso em: 01 nov. 2019.

Figura 12 - Caixa de madeira no pátio da escola em Delft

Fonte: Disponível em < https://www.ahh.nl/index.php/en/projects2/9-onderwijs/114-montessori- school-delft >. Acesso em 01 nov. 2019

Figura 13 - Evolução durante os anos da escola em Delft

Fonte: Disponível em < https://www.ahh.nl/index.php/en/projects2/9-onderwijs/114-montessori- school-delft >. Acesso em 01 nov. 2019

Em uma análise feita por Kowaltowski e Alvares (2013 apud CIRIACO, 2016, p.21) a partir de pesquisas bibliográficas e Problem Seeking, foram identificadas várias características de um ambiente escolar montessoriano, listados abaixo:

2) Salas com espaço para acomodar, prezando o conforto, os alunos (entre 25 e 30 por sala) e materiais didáticos;

3) O ambiente deve despertar a curiosidade da criança, como também estimular, atrair, convidar e desafiar;

4) As salas devem ser confortáveis e proporcionar uma sensação parecida com a de um lar;

5) Os corredores devem ser aproveitados como espaços de aprendizagem; 6) O projeto deve evitar o sistema tradicional;

7) O ideal é ter algum acesso conduzindo para jardim, e outro que possa permitir a circulação da criança (entrar/sair);

8) A sala deve ter um pequeno jardim ou ambiente fechado por cerca ou muro, que permita a criança trabalhar ao ar livre;

9) O layout da sala de aula deve proporcionar o trabalho em pequenos grupos;

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