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1. A DIVERSÃO DO APRENDER

1.5 O espaço definido pela metodologia

Sabe-se que o caráter que define o edifício escolar segue uma determinada ideologia político-pedagógica, a partir de análises do profissional sobre um processo de leitura, assimilação e interpretação do modelo pedagógico para poder refletir o método no projeto escolar, ou seja, materializar a pedagogia na arquitetura. Tornando, assim, as ideologias como princípio para as decisões projetuais.

Percebe-se que, durante a trajetória da arquitetura escolar, o edifício passou a se adequar ao sistema pedagógico, em conjunto com o momento político, social e econômico. Portanto, passa a ser necessário o conhecimento das metodologias pedagógicas, uma vez que o edifício escolar pode sofrer influências do arquiteto, e como o mesmo também pode ser influenciado pelo conceito de ensino.

De acordo com Carvalho; Jácome (2013), “em um projeto de escola concebido especificamente para uma metodologia de ensino previamente definida, as ideologias pessoais do autor (arquiteto), em certa medida, convivem e são superadas pelas ideologias pedagógicas” (p. 2).

Diante disso, a capacidade do ambiente de induzir o usuário em suas atividades desenvolvidas pode afetar positivamente ou negativamente a forma como os indivíduos interagem com o espaço, seja estudando, aprendendo, brincando ou trabalhando, torna-se necessário a compreensão das estratégias de ensino para que a definição de um programa de necessidades seja cabível com a demanda de interesses da população.

De acordo com Buffa; Pinto (2002), ideias pedagógicas estão conectadas a maneiras de projetar e construir escolas, possuindo um dinamismo próprio na evolução da concepção arquitetônica.

Mediante as teorias de Froebel, Pestalozzi e outros pedagogos já mencionados nesse trabalho, surge um movimento de renovação educacional, conhecido como Escola Nova, idealizado por John Dewey e que se repercutiu na primeira metade do século XX (CIRIACO, 2016).

Como sugere Ciriaco (2016), o espaço de sala de aula ainda permanece com sua devida importância, mas agora passa a compartilhar com outros ambientes o papel principal quanto local de ensino. Espaços como cozinha, refeitório passam a ser utilizados para expor novos conteúdos, atividades externas como horticultura ensinam a importância da natureza e de uma alimentação saudável, além de brinquedos educativos passarem a configurar o ambiente externo como pátio e circulações.

O mesmo acontece com o arranjo do layout das salas de aula, que passaram a exigir um mobiliário mais flexível devido a tarefas diversificadas, abandonando a disposição de carteiras enfileiradas.

Algumas metodologias como a Waldorf, Reggio Emilia, Montessori possuem uma organização diferente, casos em que a arquitetura é claramente influenciada pelo ideal político-pedagógico do método. Como forma de melhor assimilar a relação entre pedagogia e arquitetura escolar, serão apresentados brevemente como são dadas essas ligações do ambiente construído escolar e a pedagogia adotada.

Uma dessas propostas foi proposta pelo filósofo Rudolf Steiner (1861 – 1925) e é conhecida como pedagogia Waldorf. Com sua primeira escola fundada na Alemanha no início do século XX e destinada aos filhos de operários de uma fábrica de onde originou o nome do método, tem como base o processo de aprendizagem e desenvolvimento intelectual da criança, além de ter como princípio o encorajamento da liberdade de pensamento e a criatividade de seus alunos (LANZ, 1998 apud ALVARES, 2010, p.1). A filosofia antroposófica é bem marcante no processo de idealização desse método, conhecida como uma ciência espiritual, e tem o objetivo integrar as áreas do conhecimento e desenvolver em conjunto o aspecto físico, psicoemocional e espiritual.

De acordo com o pensamento de Steiner, a fase de maturação do ser humano se desenvolve através de ciclos com durabilidade de 7 anos, ou seja, o primeiro ciclo ocorreria entre 0 a 7 anos, seguido pelo segundo de 7 a 14 anos e por fim, o último ciclo dos 14 aos 21 anos.

(...), no ciclo de 0 a 7 anos, as crianças têm como principal característica a necessidade de se desenvolver pela liberdade de

movimento e pela experimentação e vivencia no meio, ou seja, pelo convívio com os adultos e com as práticas diárias da vida. No ciclo dos 7 aos 14 anos, a proposta é desenvolver na criança sua emotividade, sua fantasia criadora e seus sentimentos. Esse processo aconteceria por meio de experiências que promovam o envolvimento sentimental da criança no processo educativo, como artes e artesanato inseridos na realidade da vida pratica. Por fim, dos 14 aos 21 anos, nesse conceito, o jovem estaria pronto para a abstração (OLIVEIRA; IMAI, 2015, s.p.).

Pode-se perceber, então, que a criança se desenvolve a partir da fantasia no jardim de infância, caminhando pelos limites da realidade no mundo através da arte e chegando ao conhecimento, por fim, abstrato (ALVARES, 2010, p.48).

As sadas de aula “Waldorf” (figura 5) buscam seguir princípios orgânicos em sua arquitetura, antagônico à arquitetura racionalista, e consta com influencias na época por Charles Mackintosh, Antoni Gaudí, Frank Lloyd Wright, entre outros (KOWALTOWSKI, 2011).

Figura 5 - Sala de aula de uma escola Waldorf

Fonte: Disponível em < https://en.wikipedia.org/wiki/Waldorf_education >. Acesso em 01 nov. 2019

A pedagogia Waldorf sustenta-se com base em três objetivos holísticos, sendo eles a integração, a correlação e a inspiração. (WONG, 1987 apud ALVARES, 2010, p.52).

Observa-se que o processo de Integração inicia no jardim de infância, em que o ambiente de estudo e vivencia transmite segurança e proteção conceituando o local como sua casa, até alcançar os anos mais avançados em uma configuração de sala

mais tradicional, passando por mudanças de forma gradual. Deseja-se também criar a sensação de comunidade e podem-se observar características arquitetônicas desse princípio, tais como: classes em pequenos agrupamentos de acordo com o período de desenvolvimento da criança, geralmente afastando os anos iniciais com as séries mais adiantadas; a presença de um palco ou auditório no centro desses agrupamentos simbolizando o coração da escola; ambientes aconchegantes e com pequenos espaços dentro do ambiente maior, os cantos (CIRIACO, 2016, p.25-26).

Tratando do segundo processo, o de Correlação, Ciriaco (2016) afirma que a arquitetura deve ser coerente com o desenvolvimento natural da criança, carregando características como: sala de aula artisticamente modelada, esquadrias geometricamente desenhadas, salas e espaços de diferentes formas, com uma mudança progressiva de acordo com a idade do aluno, flexibilidade para diferentes layouts, mudanças formais nos planos de piso, paredes, telhados e tetos e variação das pinturas da sala de aula.

De acordo com Ciriaco (2016), ao processo de Inspiração, com o objetivo de cultivar a criatividade e a harmonia nas crianças, são abordados fatores arquitetônicos como: iluminação natural controlada, pinturas com técnicas especiais, conexão com a natureza e ambientes naturais, aberturas nas salas com janelas baixas e uso de materiais naturais nos ambientes.

Outro método pedagógico que trata o ambiente como reflexo de sua metodologia de ensino é o Reggio Emilia. Esse método surgiu no final da Segunda Guerra Mundial na Itália onde a comunidade criou uma escola a partir das cicatrizes da guerra como símbolo de recomeço e que por muito tempo foi administrada pelos pais (BARACHO, 2011, p.22).

Foi após a visita do jornalista e pedagogo Loris Malaguzzi (1920 – 1994) que a proposta reggiana se concretizou. Como critica as escolas administradas pelo Estado, pela indiferença às crianças e autoaproveitamento, o pedagogo dedicou-se à organização de um projeto educativo inovador, no qual a criança participa ativamente no seu processo único de aprendizagem (BARACHO, 2011 apud CIRIACO, 2015, p. 29).

De acordo com Alfredo Hoyuelos, 2004, (MARTIN, 2014, p.9, apud CIRIACO, 2016, p.29) pode-se listar como princípios da metodologia Reggio Emilia a participação e colaboração da comunidade (crianças, pais e educadores, a documentação do processo de aprendizagem, a importância da formação dos

educadores, a incorporação do atelier e um profissional artístico em parceria ao educador, o ambiente como terceiro educador, os trabalhos desenvolvidos através projetos, o desenvolvimento da criatividade, respeito à diversidade e interação racial. Sergio Spaggiari, 1999, (BARACHO, 2011, p.28 apud CIRIACO, 2016, p.29) acredita que a escola Reggio Emilia proporciona um ambiente propenso às atividades como dialética e busca se manter aberta e democrática.

O princípio do ambiente como terceiro educador serve como agente passivo de mudanças e impulsiona a curiosidade, interação e conhecimento do mundo exterior (CIRIACO, 2016, p. 29) (figura 6).

Figura 6 - Exemplo de layout de uma sala de aula Reggio Emilia

Fonte: < https://www.archdaily.com.br/br/774406/uma-introducao-a-arquitetura-nas-pedagogias- alternativas?ad_medium=gallery >. Acesso em 01 nov. 2019

Dessa forma, Alessandra de Sá (2010 apud CIRIACO, 2016, p.30) pontua algumas questões pertinentes ao projeto do ambiente com grande valor educativo, como por exemplo: a experiência de viver o ambiente, o diálogo entre interior e o exterior, o uso da transparência (vidros, paredes vazadas), a relação do edifício com a identidade local através da participação de diferentes pessoas, a importância do atelier, a ausência de portas separando os ambientes como forma de integrar podendo

também haver a divisão por mobiliário, o espaço central na entrada da escola (denominado praça), a presença de plantas, o uso de móveis planejados e pensados à altura das crianças), a utilização de brinquedos vazados e grandes, uma área externa grande e com poucos brinquedos, o emprego de iluminação natural com grandes janelas próximas ao piso.

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