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Maria de Padilha na crônica de Pero Lopez de Ayala: “muger de buen linage, é fermosa,

3. MARIA DE PADILHA E INÊS DE CASTRO NAS CRÔNICAS DE PERO LOPEZ

3.1 A DAMA E OS CRONISTAS: MARIA DE PADILHA NOS RELATOS DE PERO LOPEZ DE

3.1.1 Maria de Padilha na crônica de Pero Lopez de Ayala: “muger de buen linage, é fermosa,

Primeiramente, cabe-nos contextualizar Maria de Padilha em sua época e reino. No

artigo de Fátima Regina Fernandes, intitulado As potencialidades da função de aia, a autora

analisa não somente Maria, mas também Inês de Castro e Leonor Telles enquanto aias das

cortes régias ibéricas. Neste sentido, a historiadora afirma que a criação de mulheres nobres

(geralmente filhas bastardas de um grande senhor do reino) na casa de um importante senhor

garantia uma estabilidade que deveria ser compensada através da execução de tarefas

específicas. Desta forma, estas mulheres exerciam, portanto, a função de aia, a qual

demandava serem acompanhantes das mulheres de seus senhores ou, caso estivessem nas

cortes, acompanhantes de infantes ou rainhas. Além disso, atuariam também como amas dos

filhos dessa nobreza ou da realeza. Outra questão importante nesta função é que o casamento

não era a oportunidade que mais se oferecia, sendo que a maioria das aias acabava se tornando

amante ou barregã de nobres ou reis

100

, tal o caso de Maria e de Inês, como trabalharemos em

seguida.

Maria de Padilha viveu no período entre 1335 e 1361 e como consta em sua primeira

citação na Cronica de D. Pedro I, de Pero Lopez de Ayala, era uma donzela criada na casa do

nobre João Afonso de Albuquerque. Como aia, ela atuava servindo a mulher deste senhor,

Dona Isabel de Meneses

101

. Por influência do próprio João Afonso de Albuquerque conhece

99 AYALA, P. L. de. Op. Cit. Año Doceno (1361), Cap. VI, p. 513. (Ver apêndice, tabela das individualidades femininas em Ayala).

100 FERNANDES, F. R.. As potencialidades de aia na Baixa Idade Média. In: Estudios de Historia de España, Instituto de Historia de España, Universidad Catolica Argentina, Buenos Aires, VII (2005), pp.77-79.

101 GUIMARÃES, M. L. Os protagonismos do Cruel e do Cru antes dos “favoritos” de Fernão Lopes e Pero Lopez de Ayala. In: Questões e Debates, Curitiba, n. 41. p. 107-129, 2004. p. 121.

D. Pedro I e torna-se amante deste

102

. Passando à sua presença na crônica, observamos que ao

total ela é citada em quarenta e cinco capítulos que se dividem ao longo da narrativa composta

pela compartimentação de vinte anos

103

. Notamos também que ela é a mulher que tem mais

vezes seu nome citado no texto ayalino, estando em segundo lugar Dona Branca de Bourbon

(com citações em trinta e nove capítulos), que fora a primeira mulher com quem D. Pedro I de

Castela se casara, mas que abandonou logo em seguida, prendendo-a e matando-a

posteriormente. Desta forma, já podemos perceber seu destacado papel na narrativa, pois fora

Maria de Padilha a mulher mais importante da vida de D. Pedro, mesmo tendo sido este

monarca um homem de muitas mulheres. Enquanto Maria viveu, ele além de ter se casado

(mesmo que a contragosto) com Branca de Bourbon, tomou por livre e espontânea vontade as

donas Joana de Castro e Aldonza Coronel

104

, mas veio pouco tempo depois de seu

envolvimento com estas a retornar para os braços de Maria de Padilha.

Em uma análise mais detalhada da grande parte dos capítulos em que ela aparece,

percebemos que a forma como Ayala se refere à dama é lisonjeira. Um dos primeiros

exemplos se encontra no capítulo III do ano quarto (1353), do qual extraímos a seguinte

citação [o grifo é nosso]:

[...] é el Rey amaba muchó á la dicha Doña Maria de Padilla, tanto ya non avia voluntad de casar con la dicha Doña Blanca de Borbon su esposa, ca sabed que era Doña Maria muy fermosa, é de buen entendimento, é pequeña de cuerpo..105

Nesta situação, o cronista trata do momento da vinda de Dona Branca de Bourbon para

Castela, onde se casaria com D. Pedro. No entanto, descreve a falta de vontade que o monarca

tinha de largar a amante para se casar com a sobrinha do rei da França (negligenciando a

aliança e benefícios que teria com o reino francês). Além disso, Ayala justifica a atitude e o

amor do rei, exaltando as qualidades pessoais de Maria de Padillha, tanto físicas quanto

psíquicas. É interessante notar o valor que o cronista atribui à descrição física não somente

desta como de várias personagens, principalmente femininas. No entanto, devemos observar,

como no caso de Leonor da Aquitânia na análise de Georges Duby, que era bastante comum

102 AYALA, P. L. de. Op. Cit. Año Tercero (1352), Cap. V, p. 427.

103 Com relação à divisão dos anos, Maria está presente nas narrativas de onze: terceiro (1352), quarto (1353), quinto (1354), sexto (1355), nono (1358), décimo (1359), décimo – segundo (1361), décimo – terceiro (1362), décimo – quarto (1363), décimo – sétimo (1366), vigésimo (1369).

104 Vide AYALA, Op. Cit. Año Quinto (1354), Cap. X, p. 444; Cap. XII, p. 444; e Cap. XVII, p. 446. Año Noveno (1358), Cap. I, pp. 480 e 481.

exaltar a beleza das grandes damas (principalmente se fossem rainhas ou infantas) mesmo que

estas talvez não a possuíssem.

Outro conjunto de citações fundamentais que se referem à Maria de Padilha são as

relacionadas com as atitudes tomadas pelo monarca devido à sua ligação com a dama, bem

como às ligações que este estabelece com parentes da amante, dando grande privança a

pessoas como Juan Fernandez de Henestrosa (tio da aia) e Diego Garcia de Padilha (irmão

dela). Este conjunto começa com a atitude de D. Pedro de deixar Dona Branca em Valladolid

logo após seu casamento, realizado por conselho de João Afonso de Albuquerque, para ficar

com Maria de Padilha em Montalvan. Atitude esta que tenta ser impedida pelas rainhas

Leonor de Aragão e Maria (respectivamente, tia e mãe do monarca). D. Pedro as contraria e

vai ao encontro da amante, gerando um grande escândalo no reino. No entanto, após algum

tempo, os próprios parentes de Maria de Padilha aconselharam o monarca a voltar para

Valladolid a fim de que restabelecesse a ordem em Castela

106

. Já em 1354, temos uma

continuidade dessa questão, com a união de vários grandes senhores, de importantes donas e

até mesmo de cidades inteiras em favor de D. Branca de Bourbon, para que o rei abandonasse

Maria de Padilha e se estabelecesse com sua esposa legítima. O desenrolar desta questão é

longamente abordado na crônica, inclui conflitos e desavenças do rei com vários cavaleiros

(bem como desavenças com a França), assim como falsas promessas do monarca em voltar

para sua mulher legítima

107

. Nota-se, portanto, como a amante influi indiretamente nos

acontecimentos do período, gerando um conflito entre a nobreza e o monarca, além de uma

situação de potencial problemático do ponto de vista externo.

O interesse de observamos esta questão reside no fato de que D. Pedro não ter aceitado

a condição de se casar com uma importante nobre para garantir a estabilidade de seu reino e

manter separadamente uma amante; ele rompeu este acordo comum da nobreza do período,

abandonando a esposa com quem se casara para se estabelecer e viver com a amante. Seria

comum esperarmos um escândalo no reino, porém, neste sentido temos a interferência de

outra questão crucial na narrativa ayalina: a privança obtida pelos parentes de Maria de

Padilha e o poder que vinham ganhando com isto. Ayala deixa exposto em seu texto,

usando-se de um pensamento de lamentação atribuído a D. Pedro, que o motivo maior para a união

dos nobres em favor de Dona Branca não seria a pura defesa dela, mas sim por não gostarem

106 Ibidem, Año Cuarto (1353), Caps. XII, XIV, XXI, XXII. 107 Ibidem, Año Quinto (1354), Caps. XXIV, XXVI, XXVII, XXX.

da privança que os parentes de Maria de Padilha tinham com ele

108

. É aqui que percebemos

outro ponto fundamental que trabalhamos ao longo deste estudo: muito mais que controverter

os preceitos religiosos do período, as normas canônicas ou convenções morais, D. Pedro ao

optar ficar com a amante, gerou um escândalo permeado por questões políticas. Os parentes

de Maria de Padilha obtiveram muito da confiança do monarca, além de bens, podendo

interferir no destino de outras pessoas, inclusive, ao aconselharem o rei. Pode-se imaginar o

temor que vários grandes senhores tinham de tal situação, visto que muitos homens, como

João Afonso de Albuquerque, que antes detinha grande privança do monarca, poderiam

acabar no lado extremo oposto, vindo a morrer por conselho dos parentes da amante do rei.

Um exemplo seria o próprio caso de Branca, que teria sido encarcerada em Toledo por

influência de parentes de Maria

109

. Tem-se, portanto, mais uma vez, a questão do

estabelecimento seguro na corte. A aia atua aqui não de maneira direta, mas pelos benefícios

que, por meio dela, seus parentes podem obter.

Voltando à caracterização da dama e sua atuação no reinado de Pedro na crônica

ayalina, temos um outro conjunto de referências. Durante várias situações que ocorreram no

período do reinado do monarca, é possível ler a atuação de Maria em um papel de oposição às

crueldades do amante. O exemplo inicial disso se encontra no ano de 1353, nos capítulos

XXIII e XXIV. No primeiro, Ayala comenta como Gutier Gómez de Toledo foi preso, mas

logo depois ganhou o perdão do rei pela interferência de Maria de Padilha

110

. Já no segundo, o

cronista aborda a situação desde o título: “Como Doña Maria de Padilla envió apercibir á Don

Alvar Perez de Castro, é á Alvar Gonzalez Moran que non fuesen al Rey.”. Maria, portanto,

avisa Álvaro Peres de Castro (o qual veremos, é irmão de Inês de Castro) e Álvaro Gonzalez

Moran para fugirem do reino, pois estavam sendo perseguidos por D. Pedro, conforme o

trecho:

É llegó á ellos un Escudero antes que entrasen en la villa, é aparto á Don Alvar Perez de Castro é Alvar Gonzalez Moran, é dixoles que les enviaba decir Doña Maria de Padilla muy secretamente que se pusiesen en salvo, ca si entrasen en la villa que eran muertos. (...) É esto les envió decir Doña Maria de Padilla con bondad; ca non le placia de muchas cosas que el Rey facia. É era asi verdad, que si los dichos Don Alvar Perez de Castro é Alvar Gonzalez Moran llegáran al Rey luego avian de ser muertos.111

108 Ibidem, Año Quinto (1354), Cap. XXXII, pp. 454, 455 e 456. 109 Ibidem, Año Quinto (1354), Cap. XXI, p. 448.

110 Ibidem, Año Cuarto (1353), Cap. XXIII, p. 437. 111 Ibidem, Año Cuarto (1353), Cap. XXIV, p. 437.

Temos nesta passagem a dama atuando contra a crueldade do monarca inclusive de

maneira secreta, exercendo um papel de defensora, protetora, ao avisar os dois nobres, pois

apesar de ser amante de Pedro não apoiava seus atos extremos. Além destes capítulos, esta

visão de Maria como pessoa boa, correta e de bom senso está presente em outros, como no

que trata de sua morte, o qual trabalharemos mais adiante. Porém, o mais marcante é o que

trata do assassinato de D. Fadrique, Mestre de Santiago, irmão bastardo de Pedro (filho de

Afonso XI com Leonor de Guzman). Neste, é descrito que Fadrique foi ver Maria de Padilha

e suas filhas depois de um encontro com o rei, a dama sabia que a morte do Mestre de

Santiago havia sido planejada e, conforme Ayala, “(...) quando lo vió fizo tan triste cara, que

todos lo podrian entender, ca ella era dueña muy buena, é de buen seso, é non se pagaba de

las cosas que el Rey facia, é pesabale mucho de la muerte que era ordenada de dar al

Maestre”.

112

. Observa-se a carga emocional que o cronista coloca nesta ocasião, pois lá estava

D. Pedro rumo a uma nova crueldade e desta vez contra o irmão do futuro rei de Castela,

Henrique Trastâmara, a quem Ayala serviria fiel até o fim de sua vida; e por fim, temos nossa

dama novamente atuando como contraponto aos atos maléficos de Pedro. Como ressalva final

desta questão, é interessante perceber como Maria nunca aparece em alguma artimanha

maldosa, nunca interfere contra outras pessoas. O cronista deixou esta função a cargo de seus

parentes, pois estes sim aparecem como cobiçosos de poder e como conselheiros de maldades

a Pedro (como influenciando a prisão de Dona Branca). Até em um momento em que a aia

teria motivos plausíveis para cometer um ato maldoso não o faz, como quando D. Pedro

tomou para si Dona Aldonza Coronel (a qual era mulher de Álvaro Peres de Guzman). O rei

coloca a dita dona na torre do Oro,em Tarazana, deixando alguns cavaleiros para fazerem sua

guarda, pois temia a reação de Maria de Padilha e de seus parentes. No entanto, quem teve

alguma reação explícita com relação a isso não fora Maria, mas sim seu tio, Juan Fernandez

de Henestrosa, que foi preso pelos cavaleiros, mas logo após foi solto a pedido do rei, visto

que era homem de confiança do monarca. Logo em seguida, o cronista desvia o foco dessa

questão e já chama a atenção para o fato de que o rei perdera o interesse por Aldonza e

passara a enviar cartas para Maria de Padilha secretamente, dizendo que abandonaria a

primeira. E assim o monarca fez, arrependendo-se de ter tomado Aldonza e principalmente,

de ter ouvido quem lhe deu tal conselho

113

. Esta afirmação final pode dar a entender que o rei

tomara outra mulher muito mais pelos conselhos que teve para isso (o que muito bem poderia

112 Ibidem, Año Noveno (1358), Cap. III, pp. 482 e 483. 113 Ibidem, Año Noveno (1358), Cap. I, pp. 480 e 481.

estar relacionado ao fato de quem o aconselhou querer afastar os parentes de Maria de Padilha

do monarca), do que por perda de interesse em Maria.

Partiremos agora para outro ponto fundamental da presença de Maria na crônica de

Ayala: a geração dos descendentes que teve com o rei castelhano. A primeira a ser citada é a

filha Constança, em 1354:

[...] nasciera una fija de Doña Maria de Padilla en la villa de Castro Xeriz, que le dixeron Doña Constanza, la qual casó despues con el Duque de Alencastre, é ovieron fija á la Reyna Doña Catalina, que es agora muger del Rey Don Enrique.114

Esta é uma citação que pronuncia já as reverberações da influência de Maria e seu caso

com Pedro I. Pois sua filha Constança teve arranjado pelo pai um excelente casamento na

Inglaterra. O fruto deste casamento, Catarina, torna-se bastante tempo depois (à época da

escrita da crônica em questão) rainha de Castela, casando-se com Henrique III, união que

curiosamente junta os descendentes de Henrique Trastâmara e de Pedro Cruel, os quais foram

grandes rivais. Desta forma, Maria de Padilha, mesmo não tendo sido rainha e nem seus filhos

terem chegado à coroa (apesar das tentativas destes), teve uma neta que integrou a realeza

castelhana. Outra citação se refere em 1355 ao nascimento de Dona Isabel, “(...) que casó

despues con Mosen Aymon, fijo del Rey Eduarte de Inglaterra, que fué despues Duque de

Yort.”

115

. Observamos, portanto, como esta filha de Maria também fará um bom casamento e

viverá bem estabelecida na Inglaterra, longe dos perigos de ser uma filha de rei em meio a

outros que buscam tomar para si e manter a coroa. Além destas duas filhas, a dama ainda teve

com D. Pedro, Dona Beatriz

116

(a mais velha, que nasceu em 1353), à qual o monarca dera

muitos senhorios, e D. Afonso

117

(o mais novo, nasceu em 1359), o qual o rei pretendia fazer

seu sucessor, não fosse sua precoce morte em 1362

118

.

Dando continuidade aos temas, temos as referências com relação à morte da dama em

1361 e acontecimentos posteriores relacionados a ela. Sobre seu falecimento há o seguinte

trecho:

En este año morió en Sevilla de su dolencia Doña Maria de Padilla: é fizo el Rey facer alli, é en todos sus Regnos grandes llantos por ella, é grandes complimientos. É levaronla á enterrar al su Monasterio de

114 Ibidem, Año Quinto (1354), Cap. XIII, p. 445. 115 Ibidem, Año Sexto (1355), Cap. XIV, p. 466. 116 Ibidem, Año Cuarto (1353), Cap. II, p. 429. 117 Ibidem, Año Décimo (1359), Cap. XIX, p. 499. 118 Ibidem, Año Treceno (1352), Cap. XIV, p. 524.

Sancta Clara de Estudillo, que ella ficiera é dotara. É fué Doña Maria muger de buen linage, é fermosa, é pequeña de cuerpo, é de buen entendimiento.119

Notamos a explicitação do motivo de sua morte, por doença, e novamente a descrição

da dama pelo cronista, ressaltando suas qualidades físicas e psíquicas. Muito do que se criou

de mito ao redor de Maria de Padilha ao longo dos anos deve-se provavelmente a essa visão

idealizada da dama criada por Pero Lopez de Ayala.

Por fim, temos o capítulo referente à anunciação de D. Pedro nas cortes de Sevilha, em

1362, de que havia se casado secretamente com Maria de Padilha antes de suas bodas com

Branca de Bourbon e que por isso seu casamento com a dama francesa não teria sido válido.

O rei afirmou também, segundo Ayala, que não anunciara antes seu casamento com Maria de

Padilha por temer a reação de pessoas no reino que não gostavam dos parentes desta. Para

comprovar seu casamento com a aia, possuía testemunhas

120

, as quais eram Diego Garcia de

Padilla, Mestre de Calatrava e irmão dela, Juan Ferrandez de Henestrosa, tio de Maria, Juan

Alfonso de Mayorga, chanceler de selo e escrivão da puridade, e Juan Perez de Orduña, abade

de Santander e capelão-mor; sendo que tais homens juraram ali perante os santos Evangelhos

que as bodas realmente ocorreram e eles estavam lá. Sendo assim, o monarca declarara

também que teria sido Maria rainha de Castela e Leão e, portanto, seus filhos eram os

herdeiros legítimos da coroa castelhana. O arcebispo de Toledo, Don Gomez Manrique, faz

nesse dia um grande sermão defendendo as razões do rei Dom Pedro, o qual daquele dia em

diante exigia que chamassem Dona Maria de Padilha de Rainha Dona Maria, ao filho Infante

Dom Afonso e às filhas de Infantas. O monarca também mandou que todos ali jurassem e

fizessem procurações para que o Infante Dom Afonso fosse o herdeiro dos reinos de Castela e

Leão, o que não veio a se concretizar devido à morte precoce deste.

É luego ordenó el Rey Perlados, é Caballeros, é Dueñas que fuesen á Estudillo, do yacia Doña Maria de Padilla enterrada, é traxieron su cuerpo muy honradamente á Sevilla, asi como de Reyna, é soterraronle en la capilla de los Reyes, que es en la Iglesia de Sancta Maria de la dicha cibdad, fasta que el Rey fizo facer otra capilla cerca de aquella capilla de los Reyes, muy fermosa, do fué el dicho cuerpo despues enterrado. É dende adelante, segund avemos dicho, fué llamada la Reyna Doña Maria, é su fijo el Infante Don Alfonso, é sus fijas Infantas.121

Percebemos aqui as honrarias que D. Pedro concedeu à amante depois de morta, bem

como a primazia que conferiu aos filhos que teve com ela (visto que não havia tido nenhum

119 Ibidem, Año Doceno (1361), Cap. VI, p. 513.

120 Algumas um tanto suspeitas para tratar do assunto, como o irmão e o tio de Maria de Padilha, que certamente não negariam as bodas da dama com o rei.

filho por casamento legítimo com outra dama); o que confere, portanto, mesmo após sua

morte, reverberações de sua presença na corte castelhana. Esta descrição tem fundamental

importância quando comparada ao caso de Inês de Castro, como veremos a seguir na análise

da crônica de Fernão Lopes.

3.1.2 Maria de Padilha na crônica de Fernão Lopes: “tal voontade pos elRei em ella, que já