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IL MARTIRIO DI SAN SEBASTIANO

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 119-139)

4 A ENCENAÇÃO DECADENTISTA DO ETHOS DANNUZIANO EM LA FIGLIA DI LORIO E IL MARTIRIO DI SAN SEBASTIANO

4.2 IL MARTIRIO DI SAN SEBASTIANO

Il Martirio di San Sebastiano ocupa lugar de destaque na produção teatral dannunziana principalmente por representar a união de seu autor com a música e por ter sido escrita em Arcachon, na França, entre o verão de 1910 e o início do outono desse mesmo ano. Esse período, afirma Antonucci em sua nota de introdução ao texto dannunziano (1995), é marcado por um enorme fervor criativo, caracterizado pelo encontro de D‟Annunzio com Claude Debussy. Tal encontro não foi somente uma experiência artística importante, mas constitui também a expressão de uma relação de grande significado no nível humano.

D‟Annunzio se inspira em Debussy, pois sente que seu lirismo tem a necessidade da criatividade do grande musicista francês. O teatrólogo via em Debusy a representação daquilo que o poeta compreendia como sendo o ideal de música para o teatro. A confirmação dos pressupostos que havia lido em Nietzsche. A respeito dessa amizade entre o grande poeta e o famoso músico, Antonucci explica que

Una misteriosa predestinazione, nutrita di comune cultura, sembrava predisporre l‟incontro fra un poeta (...) e conoscitore di musica come forse nessun altro italiano del suo tempo e un musicista nutrito di letteratura come pochi altri (...) e come pochi altri consapevole del profondo legame fra poesia e musica e promotore dell‟approfondimento di quel legame.102 (p.2)

Il Martirio é considerado não um texto dramático autônomo, afirma Antonucci,

mas como um tipo de partitura verbal em função da música de Debussy, das cenas e das roupas de Bakst, das coreografias de Fokine e dos gestos mímicos, mais que da própria voz, de Ida Rubinstein. Antonucci credita o sucesso alcançado por D‟Annunzio com Il Martirio di San Sebastiano muito mais à qualidade dos colaboradores do poeta do que ao próprio texto teatral.

O poeta condensa em Il Martirio elementos diversos, segundo Antonucci: o medievalismo, um misticismo ambíguo e mórbido, a violência de seus textos

102 Uma misteriosa predestinação nutrida de comum cultura, parecia predispor o encontro entre um poeta (...) e conhecedor de música como talvez nenhum outro italiano do seu tempo e um musicista nutrido de literatura como poucos outros (...) e como poucos outros consciente da profunda ligação entre poesia e música e promotor do aprofundamento daquela ligação.

precedentes, um erotismo nada dissimulado e o mito do androgenio – San Sebastiano – ícone de grande importância na representação da arte decadentista do final do século XIX. Todos esses elementos serão aqui analisados, pois fazem parte do Ethos dannunziano.

A tragédia vai ao palco francês no dia 22 de maio de 1911 no teatro Chatelet, na França. Antes, entretanto, D‟Annunzio foi muito criticado, pois era uma tragédia onde seriam apresentados temas relacionados à fé cristã e muitas pessoas ligadas a ordens religiosas católicas sentiam-se apreensivos sobre a visão dannunziana a respeito da história do santo. Por conta disso, em 17 de maio de 1911, no jornal italiano La Stampa, no 135, é publicado um artigo intitulado Attendendo la rivelazione

del “Mistero” dannunziano. Neste artigo, de autor desconhecido, é passado ao

público que um jornal parisiense

(...)esprime il voto che l‟autore abbia saputo eliminare dalla sua tragedia lirica e dalla sua interpretazione tutto ciò che sarebbe di natura tale da allarmare le coscienze. (...) Noi conosciamo soltanto l‟autore e sua opera anteriore (...) noi non conosciamo l‟opera di domani, se non da informazioni ufficiose; noi conosciamo il tema del bel martire legato al palo, dove le freccie vengono a trafiggerlo. Desideriamo anche noi che un grande artista abbia saputo soddisfare alla ortodossia del teatro e alla ortodossia delle convenzione (...)103.

A fama que precede a representação da tragédia escrita por D‟Annunzio é responsável pela condenação de todas as suas obras segundo determinação em Roma, da Congregazione dell‟Indice. Além disso, houve ainda advertência aos

católicos franceses, feita pelo arcebispo de Paris, o cardial Amette, para que a igreja não participasse da representação do Martirio.

D‟Annunzio dedicou sua obra ao amigo escritor e jornalista francês Maurice Barrès e ele em agradecimento afirmou a respeito da obra e do autor que “Lei ha saputo esprimere bene il piacere e male lo slancio del cuore. L‟opera è pagana (...) è

103 Exprime o desejo de que o autor tenha sabido eliminar da sua tragédia lírica e da sua interpretação tudo aquilo que seria natural que alarmasse a consciência. (...) Nós conhecemos somente o autor e sua obra anterior (...) nós não conhecemos a obra de amanhã, se não por informações oficiosas; nós conhecemos o tema do belo martírio preso a estaca, onde as flechas vem a transpassá-lo. Desejamos também que um grande artista tenha sabido satisfazer a ortodoxia do teatro e a ortodoxia das convenções (...).

un inno al piacere (...)104

O ineditismo do “Martirio” era de tal ordem que causava pavor aos religiosos por levar à cena uma mulher no papel do santo e por unir o mito pagão de Adónis com a fé Cristã em São Sebastião.

A tragédia foi escrita primeiro em língua francesa, por causa da intérprete Ida Rubinstein, que não falava a língua italiana. Em nosso estudo, usaremos a versão italiana traduzida por Ettore Janni e que possui introdução e nota introdutória de Giovanni Antonucci e Ginni Oliva.

A história apresenta dois mundos em contraste, o pagão e o cristão. Vence o segundo. As três primeiras mansões, tipicamente pagãs, representam a vitória do sensualismo sobre o espírito. As duas últimas são a vitória do mundo cristão.

Il Martirio di San Sebastiano é dividido em cinco mansões105: 1- La corte dei gigli

2- La camera magica 3- Il concilio dei falsi iddi 4- Il lauro ferito

5- Il Paradiso

San Sebastiano, nascido na Gália narbonense, viveu e foi educado na região, que hoje corresponde a cidade de Milão, indo depois para Roma, onde seu valor militar foi tal que o imperador o nomeou capitão da primeira corte das milícias.

Sebastiano, entretanto, ajudava os escravos cristãos, e o imperador, que, contrariado, mandou prende-lo e junto a ele estão também dois irmãos gêmeos, Marco e Marcellino, seguidores do Santo. Enquanto os irmãos estão acorrentados

1043 Ele soube exprimir bem o prazer e mal o arremesso do coração. A obra é pagã (...) é um hino ao prazer (...).

1054

D‟Annunzio utiliza o termo mansione no lugar de ato. Isso, provavelmente, ocorre por ser este o termo utilizado para designar um lugar onde permanece por um tempo ou um refúgio dos peregrinos.

em uma pilastra e uma grossa camada de carvão para queimá-los é preparada, eles cantam súplicas ao céu. Chega, então, o Prefetto, que na Roma antiga tinha funções administrativas, políticas ou militares, e ordena

Il Prefetto Io inferirò. Apparitori, stringete più forte i legami! Io voglio che l‟un dopo l‟altro siano alzati, che siano sospesi alle due colonne e più non abbiano sostegno i piedi giunti.106 (Mansione 1, p.110) O Prefetto continua a dar ordens de tortura, mas subitamente ele pede que parem, pois tem pena da beleza dos irmãos.

Il Prefetto Carnefici, preparate l‟unghie di ferro per travagliare i petti; portate cesoie, tagliate loro le chiome (...) No. Aspettate. Son così pallidi! E io ho pietà di lor giovinezza. Dissipare io voglio la loro demenza. Si renderanno.107 (Mansione 1, p.110) O homem, então, oferece uma maneira de os irmãos serem perdoados e, dessa forma, sobreviverem e impõem algumas condições. Neste momento, um dos irmãos dá o primeiro testemunho da sua fé

Marco No, giudice. Per il Dio vivente, no, non voglio obbedire. Vittima non offrirò, non mangerò carne, non berrò vino maledetto. 108

(Mansione 1, p.110)

106 O Prefetto: Eu determinarei. Oficiais, apertem mais forte as cordas. Eu quero que um depois do outro sejam levantados, que sejam suspensos nas duas colunas e mais não tenham sustentação em seus pés.

107 O Prefetto: Algoz, preparem a garra de ferro para cortarem-lhes o peito; tragam tesouras, cortem os seus cabelos (...). Não. Esperem. Estão tão brancos! E eu tenho piedade da juventude deles. Eu desejo dissipar a demência. Render-se-ão.

108 Marco: Não, juiz. Pelo Deus vivo, não, não quero obedecer. Não oferecerei vítima, não comerei carne, não beberei vinho maldito.

Marco continua seu testemunho afirmando que fala também em nome de seu irmão, uma vez que não são mais dois e sim um só, em sua fé e sua dor. O Prefetto, mais uma vez, os avisa que irão morrer.

Marco Io non voglio che morire in Dio. Io cerco Colui che per noi è morto e cerco Colui che per noi è risorto. Odio la tua carne e il tuo vino. Io mangierò il pane di Dio, che è la carne di Gesù re (...). Avrò per bevanda il suo sangue, che è l‟incorruttibile amore. Non ho che questa fame, non ho che questa sete.109

(Mansione 1, p.111) O Prefetto já sem pena dos dois irmãos exclama que eles terão uma morte dolorosa.

Il Prefetto Ebbene, io ti farò morire. Ma non isperare che tanto io t‟ami da toglierti d‟un sol colpo la vita, figlio di Teodoto. Non t‟aspettar morte di spada, la buona morte.110 (Mansione 1, p.111) Ainda encantado pela beleza e juventude dos dois irmãos, o Prefetto ainda tenta salvá-los apelando para os sentimentos familiares e fazendo com que eles pensem na mãe e nas irmãs, mas os irmãos são inflexíveis e assim como já são um só dizem que também já não tem mais família, que são sozinhos.

Neste momento, a mão do Santo, que até esse momento está apenas observando o testemunhos dos gemêos, começa a sangrar e os expectadores começam uma grande confusão. Até que um dos que assistiam o martírio brada

109 Eu não quero apenas morrer em Deus. Eu cerco Aquele que por nós foi morto e procuro Aquele que por nós renasceu. Odeio a tua carne e o teu vinho. Eu comerei o pão de Deus, que é a carne de Jesus rei (...) Terei por bebida o seu sangue, que é incorruptível amor. Não tenho senão esta fome, não tenho senão está sede.

110 O Prefetto: Então, eu te farei morrer. Mas não espere que eu lhe ame a ponto de lhe matar com um só golpe, filho de Teodoto. Não espere morte de espada, a boa morte.

Il liberto Guddeno Signore, signore, tu perdi sangue! Odimi. Dalla mano lungo l‟arco il sangue ti cola, e non te ne curi. Odimi, signore: tu sanguini111. (Mansione 1, p.112) Os arqueiros que eram os escravos de Sebastiano quando ele servia ao Imperador pedem que as mulheres venham com pedaços de linho para que o sangue seja estancado.

Gli Arcieri di Émesa -Signore, ferito ti sei. Soffri? (...) -Donne, donne, recate lini per fermare il sangue che cola. (...) -Donne, balsamo non avete? (...) -Più forte tu sei del dolore. -Noi t‟amiamo, signore, ti amiamo. (...) -I tuoi arcieri ti amano. -Sei bello. -Sei bello al pari di Adone112.(Mansione 1, p.112) O Santo, que antes apenas estava com a cabeça voltada para o céu, tem sua primeira fala e nega a ajuda a ele oferecida.

Il santo Arcieri, lasciate il mio sangue scorrere. Conviene che scorra. Non lini, donne, non balsami. Lasciate il mio sangue

111 O liberto Guddeno: Senhor, senhor, você perde sangue! Ouça-me. De sua mão o sangue pinga, e não se da conta. Ouça-me, senhor: você sangra.

112 Os arqueiros de Emesa: Senhor, está ferido. Sofre? (...) Mulheres, mulheres, peguem linho para estancar o sangue que escorre. (...) Mulheres, não possuem bálsamo? (...) Mais forte você é que a dor. Nós lhe amamos. (...) Os teus arqueiros o amam. É belo. É belo como Adónes.

scorrere113. (Mansione 1, p.112) Eis que chega a mãe dos gêmeos, desesperada e comovida. Ela pede que os filhos abandonem o martírio, pois ainda estão vivos. Tenta tocá-los, mas por acharem-se distantes um do outro não consegue estar com os dois ao mesmo tempo. Marco, mais uma vez, oferece uma prova de sua fé.

Marco Non mi tocar così, o donna. Non parlare. Non piangere. Distogli lo sguardo. Lascia ch‟io sia immolato mentre l‟ara è pronta. Lascia ch‟io riceva la vita vera. Non venire a corrompere la mia volontà di esser di Dio. Donna, togli le mani dal mio corpo. Rinascere io voglio114. (Mansione 1, p.113) A mãe acusa o Santo, afirmando que foi ele quem levou seus filhos para serem mortos. Marco e a mãe iniciam um diálogo forte, onde a mãe tenta convencê- los de que é necessário que sobrevivam. É nessa hora que Marcellino fala pela primeira vez e exprime fraqueza, muito provavelmente pelo discurso que escutou de sua mãe.

Marcellino Fratello, fratello, io tremo. Ahimè! Ho paura. (...) Fratello, fratello, io tremo. Io mio cuore si scioglie115.

(Mansione 1, p.114) A mãe aproveita esse momento de vulnerabilidade de seu filho e ainda uma vez tenta fazer com que ele desista. Marcellino, porém, renova suas forças e pede a mãe que compreenda o seu sofrimento e o de seu irmão.

113 O Santo: Arqueiros, deixem o meu sangue escorrer. Convém que escorra. Sem linho, sem bálsamo. Deixem o meu sangue escorrer.

114 Marco: Não me toque assim, mulher. Não fale. Não chore. Desvie o olhar. Deixa que eu seja sacrificado enquanto o altar fica pronto. Deixa que eu receba a verdadeira vida. Não venha corromper a minha vontade de ser de Deus. Mulher, tire as mãos de meu corpo. Eu quero renascer.

115 Marcellino: Irmão, irmão, eu tremo. Ah! Tenho medo. (...) Irmão, irmão, eu tremo. O meu coração se dilui.

Marcellino Madre, madre mia dolce, abbi pietà. Io perdo Dio, se perdo questa guerra. Voglio essere di Dio. Voglio morire116.

(Mansione 1, p.114) As cinco irmãs dos gêmeos, Epione, Flavia, Giunia, Telesilla e Crisilla, aparecem e, junto à mãe, também suplicam aos dois que voltem para casa. Junto a elas nove companheiros dos jovens também chegam ao local do martírio e pedem que eles renunciem.

(Qui il coraggio dei giovani prigionieri comincia a mancare. Marco resiste ancora, chiudendo le palpebre, stringendo le labbra, trattenendo il respiro, per il timore che non gli sfuggano parole che lo possano perdere. Ma Marcellino piega verso le sorelle il viso tutto umido di lacrime; le guarda, le chiama, coi cari nomi. Ed esse tentano di sciogliere i ruvidi nodi, alzandosi sulla punta dei sandali (...)117 (Mansione 1, p.120)

O Prefetto aproveita este momento e pergunta se os gêmeos querem, finalmente, obedecer ao Imperador, mas, subitamente, o Santo rompe o silêncio e o som de sua voz impregna de medo e pavor os homens que estavam assistindo.

Il Santo Atleti del Cristo, rispondete! Rispondete la parola forte! Scagliate la risposta di ferro! Io prendo fra i miei pugni il rosso cuor nudo della vostra fede, fratelli, poiché legati sono i pugni vostri; e lo sollevo verso l‟alto cielo dove l‟eterna corona è sospesa per la vostra gloria. (...) Dio vi escolta.118

(Mansione 1, p.121)

116 Marcellino: Mãe, minha doce mãe, tenha piedade. Eu perco Deus, se perco essa guerra. Quero ser de Deus. Quero morrer.

117 Aqui a coragem dos jovens prisioneiros começa a faltar. Marco resiste ainda, fechando as pálpebras, apertando os lábios, prendendo a respiração, pelo medo que não lhe fujam palavras que o possam perder. Mas Marcellino se curva em direção a suas irmãs com o rosto todo úmido de lagrimas; as olha, as chama, com nomes carinhosos. E essas tentam soltar os grosseiros nós, ficando nas pontas das sandálias (...).

11817 O Santo: Atletas de Cristo, respondam! Respondam a palavra forte! Arremessem a palavra de ferro! Eu prendo entre os meus punhos a cor vermelha da vossa fé, irmãos, uma vez que estão ligados seus punhos; e o ergo verso o alto céu onde a eterna coroa está suspensa para a vossa glória. (...) Deus os escutará.

Os gêmeos, firmemente, olham para o Prefetto e bradam que se confessam como seguidores de Deus.

A mãe, novamente, vai contra o Santo, ofendendo-o e o acusando. É neste momento que as palavras do Santo são tão fortes e envolventes que ele convence a mãe para que também se confesse cristã e deseje sofrer seu martírio.

Il Santo

Io sono lo schiavo dell‟Amore. Io sono il signore della Morte. Donna, e io ti conosco. Io so che toccherò il tuo cuor rosso in fondo al petto esausto che gonfia il latte del dolore. Io ti conosco, donna. Segnata tu sei col segno misterioso. Avrai tu pure un giorno il tuo martirio, la tua corona e la tua allegrezza. Egli ti guarda.119 (Mansione 1, p.122)

Por pouco tempo a mãe tenta negar seu encantamento pelas palavras do Santo, mas rapidamente se converte.

La madre dolorosa

Vengo, vengo, sono con voi. (Con una volontà più che umana, si strappa alla stretta delle figlie, che gettano un grido unanime. Ella camina sola verso le due colonne viventi.)

Sono con voi. Eccomi pronta, figli, sento il battito dei vostri cuori. (...) Vi porto io. Mi carico io del vostro duplice peso. Dove bisogna salire? Dove bisogna discendere? (...) Eccomi. Ho la fame vostra, la vostra sete. (...) Uomini, io confesso il Cristo. Sono Cristiana. (...) Io voglio morire120. (Mansione 1, p.125)

11918 O Santo: Eu sou o escravo do Amor. Eu sou o senhor da Morte. Mulher, eu te conheço. Eu sei que tocarei seu coração vermelho no fundo do peito exausto que incha o leite de dor. Eu te conheço, mulher. Marcada você foi com o sinal misterioso. Terá você também o seu martírio, a sua coroa e a sua alegria. Ele te olha.

120 A mãe dolorosa: Vou, vou, estou com vocês. (Com uma vontade mais que humana, se solta do aperto de suas filhas, que soltam um grito unanime. Ela caminha sozinha até às duas colunas viventes.) Estou com vocês. Estou aqui pronta, sinto o bater dos seus corações. (...) A vocês me entrego. Eu carrego o duplo peso de vocês. Onde precisa subir? Onde precisa descer? (...) Estou aqui. Tenho a fome de vocês, a sede de vocês. (...) Homens, eu confesso o Cristo. Sou Cristã. (...) Eu quero morrer.

Iluminado por um amor divino, Sebastiano pede ao céu um sinal que manifeste o poder do Deus único. Ele lança uma flecha em direção ao céu e aguarda. Como a flecha não retorna, o Santo compreende o milagre.

Em meio ao entusiasmo febril que a realização do milagre provoca no povo, Sebastiano se oferece para ser o primeiro a ser sacrificado e a caminhar em cima das brasas e diz estar completo em seu martírio.

Il santo

Eccomi pronto! Eccomi pronto! I miei piedi sono nudi per la rugiada del Signore e nude le mie ginocchia per la meravigliosa alternanza. O gemelli, (...) cantate la gloria del Cristo re, e il nostro amore! (...) Fratelli, che sarebbe il mondo alleggerito di tutto il nostro amore? (...) O dolce miracolo, dolce miracolo! I gigli, i gigli!121 (Mansione 1, p.133)

O frenesi vai ao seu máximo: um cego recupera a visão, uma muda volta a falar, toda a família de Marco e Marcellino se converte e, diante do povo, sete serafins surgem das altas flores de lírios.

Tem início a segunda mansione, denominada La camera magica. No fervor de sua missão divina e ajudado por seus arqueiros, Sebastiano chega até a Camera

Magica, um refúgio da ciência hermética, onde, sete magas acorrentadas mantém o

fogo dos planetas, do sol e da lua.

(Si lanscia. Ha l‟aspetto selvatico del distruttore. Un martello pesante è nel suo pugno, il martello del tagliapietre (...) Apenna scorge la grande porta, sale impetuosamente i gradi della scala.)122 (Mansione 2, p.136)

Com um martelo em sua mão, Sebastiano começa a destruir o recinto, por

121 O Santo: Estou pronto! Estou pronto! Os meus pés estão nus para o sereno do Senhor e nus os meus joelhos para a maravilhosa alternância. Ó gêmeos, (...) cantem a glória do Cristo rei, e o nosso amor! (...) Irmãos, o que seria do mundo atenuado de todo o nosso amor? (...) Ó doce milagre, doce milagre! Os lírios, os lírios!

122 21 Se joga. Tem o aspecto selvagem de destruidor. Um martelo pesado está em seu punho, o martelo de quebrar pedras (...). Assim que vê a grande porta, sobe impetuosamente os degraus da escada.

não ser um ambiente de Cristo e, uma depois da outra, elas reconhecem a santidade de Sebastiano e caem vencidas pela força do santo.

Por trás de uma porta de bronze escuta-se o canto da virgem Erigone.

Sebastiano chama um grupo de cristãos e de escravos para que o ajudem a destruir também esta força pagã.

Os grupos de servos e de catecúmenos a todo o momento crescem e se colocam entorno de Sebastiano, cada vez mais fanáticos pelo Cristo. Esses querem sempre perguntar da sua fé, questionam que Sebastiano teria feito o milagre de fazer a mulher enxergar e a outra falar, mas o Santo afirma que não foi ele e sim a fé delas.

Il Santo

Uomini, avete visto ch‟io toccassi con le mie dita gli occhi della cieca? Ho io dunque toccato con le mie dita le labbra d‟Alce? Una ha visto, l‟altra ha parlato; fu la fede loro soltanto che le guarì. La vostra fede soltanto guarirà

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 119-139)

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