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CAPÍTULO II MATERIAIS DIDÁTICOS E ENSINO DO PORTUGUÊS LÍNGUA NÃO MATERNA

2.3. Materiais didáticos utilizados no ensino do PLNM

A prática e o conhecimento do processo de E-A de L2 tem mudado bastante. Se, até em finais dos anos 1960, a aprendizagem de uma segunda língua era abordada, essencialmente, como um processo de formação de hábitos, focado única e exclusivamente no desenvolvimento da competência gramatical, mediante um tipo de prática controlada, passando essa fase, nos anos 1970, uma língua passou a ser encarada numa perspetiva muito diferente da anterior, por causa da influência da abordagem comunicativa, quer a nível da elaboração de programas para as línguas não maternas, quer ao nível da metodologia. E, como consequência, surge “a valorização de um conjunto mais amplo de competências, que passa a ser considerado necessário ao uso da língua não só de modo correto, mas também apropriado e fluente, em função da situação, dos participantes, das suas intenções e dos papéis que desempenham”. (Castro, 2015, p. 27).

O ensino de línguas (não maternas) tem a função capital de cristalização dos saberes e possui a capacidade de fomentar o respeito e a valorização pela diversidade e pela variedade linguística, tal evita a subversão do preconceito (sócio) linguístico. “Daí decorre a importância da abordagem que deve ser feita ao tema da variedade na sala de aula, da escolha dos instrumentos pedagógicos, como o manual de PLE e, por sua vez, a formação do professor. Isto assume um papel relevante no ensino e aprendizagem das línguas” (Marques & Sebastião, 2013, p. 28). Perante essa realidade, questiona-se como são, ou devem ser elaborados os materiais utilizados para o ensino de PLE? Será que se deve obedecer a certos parâmetros para a conceção dos mesmos? Contudo, não constitui uma tarefa fácil dar resposta a estas questões.

O aparecimento da abordagem comunicativa tem evoluído bastante e hodiernamente, já existem várias correntes que se baseiam em paradigmas e tradições diversas e que aplicam um conjunto geral de princípios diferentes (Richards, 2006 apud Castro, 2015). Mas sempre, com uma

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única finalidade, que é a de promover a referida competência comunicativa, formam-se novas metodologias e recursos mais eficientes para um ensino de línguas mais aberto e dinâmico.

Muitos autores defendem que, apesar da evolução das práticas metodológicas e da inovação no ensino de línguas, muitas são as pesquisas que mostram que, no ensino de línguas, ainda há a tendência em dar-se prioridade à comunicação, reforçando o controlo do professor e recorrendo a procedimentos treináveis. Muitos autores parecem supor que a apresentação clara e a prática ativa são relevantes para conduzir a aquisição de uma L2. Entretanto, “este entendimento manifesta-se no facto de muitos materiais continuarem a basear-se em abordagens de apresentação, prática e produção, que se traduzem, em muitos casos, no foco em itens linguísticos isolados e em atividades de prática elementar de audição e repetição” (Ellis, 2014 apud Castro, 2015, p. 25).

Em Portugal, pelo que se verifica, não há uma tradição ativa que organiza e conduz o uso de tarefas para o ensino de línguas refletida em materiais didáticos publicados. Uma vez que essa perspetiva foi analisada e aprovada por vários autores, verifica-se a sua adoção em quase todos os países europeus, uma orientação presente no Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (Conselho da Europa, 2001, p. 29), criando-se, deste modo, uma metodologia mais ativa e atual, com uma perspetiva “acional” que tem como objetivo formar um aprendente como um agente social e não meramente um tradutor ou analista de textos de LE (Dias, 2008).

O mesmo autor esclarece que é frequente nos manuais de PLE haver exercícios com explicitações de passos dialógicos para interação em microssituações bem delimitadas. Entretanto, “essas interações são fechadas sobre si mesmas, não se integrando em nenhuma das definições que dão forma ao trabalho” (Dias, 2008, p. 43), e isso realiza-se, possivelmente, pelo facto de muitos se basearem em métodos7.

Por sua vez, Tavares (2008, p. 38) afirma que, “dada a não existência de um programa oficial para o ensino de PLE, o manual didático surge como a imagem visível do currículo, plano ou programa de ensino”. Embora a sua elaboração tenha, hoje, como base importante documentos como o Quadro Europeu e o Nível Limiar, os autores têm também como referência ou modelo outros manuais de ensino de outras línguas estrangeiras.

O ensino, a aprendizagem e a avaliação encontram-se interligados. Por isso, é muito importante que o manual inclua não somente exercícios de aplicações dos conhecimentos, mas que também ofereça a possibilidade de o aprendente proceder à avaliação da aprendizagem que efetuou, realidade que dificilmente se verifica nos manuais destinados ao ensino do PLE, como esclarece

7 Método é aqui entendido como um conjunto de documentos para ensino e para aprendizagem da língua a ser desenvolvido ao longo de um período determinado para atingir um nível de proficiência nessa língua.

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Ribeiro (1990, apud Tavares, 2008, p. 38). Revela-se, assim, uma clara opção pelo método expositivo, em que o professor assume o papel principal por oposição ao papel passivo dos aprendentes, um papel central no ensino tradicional de línguas, em que os manuais didáticos adotam a forma de livros de texto que incluíam também informações gramaticais. Embora reconheçamos que muitos especialistas em criação de manuais tendem a adaptar o máximo possível as novas metodologias na construção de materiais, na sua maioria ainda apresentam características tradicionais, não muito interativas. Contudo, muitos estudos estão a ser feitos de modo a influenciá-los com novas metodologias de construção de materiais didáticos para o ensino de PLE.

Para além dos manuais de tipo generalista, que se destinam a um público heterogéneo, encontramos também manuais específicos, que se dirigem a um público específico que pode ser de uma determinada nacionalidade ou de uma certa área do saber profissional (Baltazar, 2013).

Sobre os materiais didáticos utilizados no ensino do PLE, começamos por destacar o manual, pelo facto de o mesmo continuar a ser um recurso, amplamente usado em diferentes contextos de E-A de LE, embora se diga que, quanto à sua forma de conceção e ao seu uso, tendem a ser cada vez mais questionados, à medida que as novas tecnologias têm vindo a generalizar-se, permitindo o acesso a vários recursos, assim como certas fontes que chegam a superar as potencialidades mais limitadas do manual.

De facto, a utilização de novas tecnologias na aprendizagem de segundas línguas abrange uma vasta gama de opções, desde a aprendizagem de línguas assistida por computador (que inclui materiais disponíveis em páginas da internet, software informático e experiências linguísticas com recurso a fontes eletrónicas) ou, ainda, as tecnologias de informação e comunicação que podem fazer uso de ambas (Castro, 2015). Os materiais didáticos disponíveis em online também têm sido usados consideravelmente no ensino de PLE, embora não se faça com muita profundidade, mas, aos poucos, vão-se adaptando ao uso das novas tecnologias.

As potencialidades são, com certeza, várias, principalmente no que toca ao acesso a fontes autênticas e atualizadas, mas também existem alguns aspetos negativos, como o caso do perigo a uma excessiva dependência das novas tecnologias que pode levar à sobrevalorização de certos aspetos disponíveis nos multimédia e que nem sempre são informações verdadeiras ou são dadas como deviam, criando, assim, um constrangimento no processo de aprendizagem. Este facto pode vir a desmotivar o aprendente. Por isso, o uso dessas ferramentas nunca deve ser feito sem o auxílio de um perito na matéria. E, já que ambos andam de mãos dadas, deve ter-se em conta que, às vezes, é necessário usar os manuais, além dessas ferramentas.

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2.4. O conto enquanto texto literário e o seu uso na criação de materiais didáticos para o