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CAPÍTULO III – ASPETOS METODOLÓGICOS

3.4. Público-Alvo a que se destina a proposta dos materiais de PLNM/L2/LE

O clima de grande mobilidade, as mudanças económicas e sociopolíticas fazem crescer o interesse pela aprendizagem de línguas em vários países e contextos. O interesse pela Língua Portuguesa cresce cada vez mais, fazendo com que se abram portas a novos públicos, a novas necessidades de comunicação, na medida em que a mudança impõe e induz transformações que geram uma multiplicidade de linguagens e códigos que é preciso compreender e gerir. Isto exige a construção de novas formas de aprender, impondo-se um novo olhar sobre o papel das instituições de ensino e dos materiais elaborados com a finalidade de ensinar a língua estrangeira (Grosso, 2013, p. 15).

Tendo em conta a nova realidade a que a autora se refere e a necessidade de se criar materiais didáticos diversificados para o ensino do Português como LNM, achou-se por bem direcionar, de um modo geral, a proposta de materiais criados para o ensino do PLE a um público heterogéneo de jovens e adultos dos níveis A1/A2 e B1/B2, que queira desenvolver os seus conhecimentos sobre a Língua Portuguesa, designadamente de fonética, vocabulário, gramática, através da compreensão de textos e diversas situações reais de comunicação.

Optou-se pelo público jovem e adulto, por verificarmos que é o público que mais interesse e necessidade tem de aprender o “Português”; por diversos motivos (trabalho, convívio social, estudo, relações humanas, pesquisa em outras línguas, necessidade de entender as coisas na primeira pessoa), vivendo dentro ou fora da sua comunidade linguística, embora se verifique maior adesão por parte de estrangeiros residentes, imigrantes e estudantes de intercâmbios ou Erasmus.

Uma vez que as crianças na fase de escolarização ou alfabetização têm maior facilidade de aprender a língua, ao serem inseridas no sistema de ensino do país de acolhimento, a questão da

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aprendizagem dessa língua é facilitada, como podemos verificar na afirmação de Bizarro et alii (2013, p.17): “pela escolarização de crianças e jovens imigrantes e estrangeiros, a escola não pode ser alheia a uma concretização do potencial humano individual e a uma plena cidadania numa sociedade que tem como língua oficial uma língua que não é da família”. Deste modo, verifica-se que as crianças têm uma aptidão cognitiva mais eficiente para aprender uma determinada língua, uma vez que inseridos na comunidade, em pouco tempo, tornam-se proficientes nesta mesma língua, de modo diferente dos adultos.

Estes apresentam mais dificuldades em aprender a língua do país de acolhimento, porque já trazem um sistema linguístico bem patente, tornando-se mais difícil e demorada a adaptação a uma nova realidade linguística imposta; pois, muitas vezes, os adultos possuem um nível académico elevado e já não sentem a necessidade de continuar os estudos, porque estão mais preocupados em procurar um trabalho para se manter no país. E para facilitar o processo de socialização, optam por aprender a língua do país da forma mais adequada. O mesmo acontece com os jovens estudantes; estes sentem a necessidade de aprender a língua como uma maneira de facilitar o processo de E-A da formação que se encontram a frequentar.

Então, torna-se urgente olhar para esse público que mais necessidades e dificuldades apresenta na aquisição de uma segunda língua. A mesma realidade se verifica em Angola, apesar de algumas particularidades, como a escassez de instituições públicas vocacionadas para o ensino do PLE, e a presença de um número reduzido ou a quase não existência de intercâmbio de estudantes entre países e os alunos Erasmus.

Isso, não o isenta de não abarcar um número considerável de estrangeiros e imigrantes. Segundo o Censo populacional, realizado em Angola em 2014, verificou-se, (que 100%) da população residente no território angolano, 2,3% (586 480) da mesma é de nacionalidade estrangeira (INE, 2014, p. 65). Estes números demonstram a necessidade de se implementar o ensino do Português como língua estrangeira neste território, uma vez que o Português é a língua oficial do país, a língua de escolarização, de socialização e da administração pública, embora existindo outras línguas regionais usados por muitos nativos (Angola, 2010, p. 9).

Segundo estudos feitos por Daniel (2017, p. 52), um bom número de estrangeiros presentes em Angola não é proveniente de países lusófonos, mas de países vizinhos, anglófonos ou francófonos e alguns asiáticos, como Nigéria, Camarões, República Democrática do Congo, China, Coreia, Mali, Tunísia, entre outros. De entre os residentes, a maior parte informou que aprendeu o Português em condições informais, em convívios com amigos que falam Português, no local de trabalho, na rua e

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com a família. Alguns aprendem com um professor particular de Língua Portuguesa como LM, outros aprenderam no país de origem, quase nenhum informou que aprendia numa instituição vocacionada ao ensino do Português como língua estrangeira, facto que demonstra que existe pouca procura e pouca oferta dos locais vocacionados para o ensino do PLE, embora existam alguns centros onde se ensina o PLNM.

Atendendo a essa necessidade e não só, sentimo-nos motivados para criar materiais que se adaptem à realidade angolana, de modo a facilitar este processo e ajudar o Governo a promover o ensino do PLNM, uma vez que o mesmo tem criado cada vez mais mecanismos, por meio de projetos e decretos, para levar a cabo neste território o ensino do PLE. Portanto, idealizamos uma forma de ajudar as instituições que já trabalham com este público, a fim de melhorar o processo de E-A, como é o caso dos centros já mencionados ao longo da nossa dissertação (Cefojor, Aliança Francesa, Luanda Comunicacion Center), e algumas instituições públicas como o ISTM (Instituto Superior Técnico Militar) e o ESG (Escola Superior de Guerra), que recebem e formam vários estudantes estrangeiros vindos de países não lusófonos.

Usam-se materiais e programas do ensino do Português como língua materna, e manuais de ensino do PLE não adaptados ao contexto angolano, realidade que, até certo ponto, prejudica a aprendizagem dos alunos.

O que se verifica nestas instituições, é que a interação na língua-alvo nem sempre é garantida ao fim. Pode-se considerar que esta situação se deve, entre outros aspetos, à falta de professores formados para ensinar o português como língua não materna e à falta de meios de ensino apropriados para exercer esta função.

Estes formandos constituem um público importante e os materiais propostos no âmbito da presente dissertação, podem ser uma mais-valia para os mesmos, atendendo à necessidade e à urgência em dinamizar o processo de E-A do PLE. Estes materiais foram criados na perspetiva de um público heterogéneo e não específico, o que faz com que se enquadre em qualquer contexto de E-A do PLE. De realçar que o mesmo material também se encontra disponível em suporte digital numa plataforma web (https://kuzwelacontos.wixsite.com/uminho).