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CAPÍTULO III – ASPETOS METODOLÓGICOS

3.2. Relevância do estudo

A escolha do tema – Criação de materiais didáticos para o ensino do PLNM/L2/LE: do papel ao digital - surge da experiência pessoal do contexto de E-A do PLNM em Angola por parte da investigadora. Em Angola, há uma tensão entre a necessidade de conhecer a importância do uso de materiais didáticos para LE, ligados ao contexto sociolinguístico e cultural da realidade em que os aprendentes se encontram imersos no domínio da prática educativa como uma forma, não somente do ensino da LE, mas como um instrumento comunicativo, determinado por necessidades políticas e económicas, mas também como um meio de transmitir as vivências e as diversidades culturais dos povos, hábitos, costumes, modos de vida, tradições, tudo o que sustenta o modus vivendi de um povo, sem pôr de lado os outros membros ligados às comunidades linguísticas da CPLP.

Em Angola, pelo que se observa, as poucas instituições trabalham com o ensino do PLNM como se se tratasse de uma LM. Focalizam-se, geralmente, na explicação dos aspetos gramaticais e na atividade de tradução. Deste modo, o objetivo do ensino da LE reduz-se a cumprir os programas que

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facilitem a integração dos aprendentes no mercado de trabalho e, por outro lado, facultar uma maior aceitação no meio social em que se encontram (Kuzoma, 2018)9.

É muito frequente ver alunos com boas classificações nos testes, mas sem uma sólida competência comunicativa aceite no nível frequentado. Ademais, os professores que trabalham com estes aprendentes de PLE, na sua maioria, não são formados para ensino do PLNM. Embora tenham a formação em Português como língua materna, há que reconhecer que não conhecem determinados critérios metodológicos exigidos aos profissionais de PLNM, facto que não permite que haja resultados eficientes no processo de E-A da LE.

Por outro lado, verificou-se que, em algumas instituições de ensino do PLE em Luanda, os materiais didáticos utilizados para o ensino não obedecem aos critérios que se devem ter em conta para que se tenha êxito no processo de ensino de uma LE ou não materna. Portanto, parece que quase tudo ainda se realiza instintivamente, sem se levar em conta um rigor pedagógico-científico e metodológico. Ainda neste âmbito, é provável que os programas tenham sido elaborados sem ter em conta os níveis dos aprendentes ou as proficiências linguísticas que os mesmos possuem, uma vez que se sabe que o E-A está cada vez mais divulgado e muitos são os que começam por aprender uma língua, mesmo sem antes irem a uma escola, como afirma Sequeira (1993, p. 8)

vive-se, hoje, num mundo onde as fronteiras artificiais se vão esbatendo e onde as tecnologias de informação se vão aperfeiçoando e expandindo, por isso, é difícil atualmente limitar o nosso olhar e a nossa compreensão às fronteiras do nosso país, àquilo que é unicamente nosso. Assim sendo, é necessária uma visão transnacional que abarque culturas e civilizações, línguas e valores, e que transforme o homem moderno num ser mais educado e mais aberto ao mundo e ao modo como a sociedade funciona.

Em conformidade com esta autora, podemos verificar que, com as novas dinâmicas das sociedades modernas, os especialistas dedicados ao ensino de línguas não podem olhar para o aprendente de uma língua como um mero observador, que nada sabe ou entende sobre o assunto, como um saco vazio para receber tudo que lhe é atribuído. Na mesma reflexão, Sequeira (1993) não se limita a tratar da questão da dinâmica da aprendizagem, também faz menção da cultura que deve estar subjacente neste processo. Por isso, é muito importante que os materiais didáticos para o ensino de PLE reflitam alguns aspetos culturais da realidade social em que o aprendente está imerso, como uma forma de tornar mais familiar e fácil a sua interação com a comunidade.

Por sua vez, verifica-se que os materiais didáticos usados nas instituições de ensino do PLNM em Angola não trazem esta particularidade. Porque são materiais criados para um contexto totalmente

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diferente, são criados fora do território angolano e por especialistas que não convivem com a realidade social, cultural e, acima de tudo, linguística, o que faz com que os mesmos se distanciem muito daquilo que deveria ser um material mais direcionado para aquele contexto.

Os materiais usados são, geralmente, provenientes de Portugal e com realidades muito direcionadas para os países europeus. Isto é evidente tanto nas imagens, como nas abordagens socioculturais e o público-alvo a que são direcionados: o “universitário”. Embora estejam bem elaborados e direcionados para o ensino do PLE, os materiais não refletem a realidade social e linguística do contexto em uso.

Apesar de existir um grande interesse por parte do estado angolano em difundir e dinamizar o processo de E-A do PLNM, há que realçar que ainda pouco se tem feito para que essa realidade se efetive. Até onde se observou, não existem documentos oficiais que regem o ensino do Português como LNM, não existem programas, muito menos manuais. Essa é uma questão inquietante, porque sabemos que os materiais didáticos são elementos fulcrais para o funcionamento e a dinamização do processo de E-A (Silva, 2008, p.143). As instituições existentes cuja responsabilidade é o ensino do PLE são na sua maioria privadas. Mas, embora de forma vagarosa, evidencia-se o esforço para que se criem instituições de carácter público, responsáveis por essa área.

Tendo em conta o facto de que há pouca oferta de materiais para o ensino do PLE e o elevado esforço que se tem verificado por parte do governo angolano, criando políticas que garantam maiores possibilidades para os aprendentes do PLE naquele território, despertou em nós o interesse em criar materiais que sejam capazes de dinamizar esse processo.

É bem provável que este estudo contribua para a diversificação de materiais didáticos para o ensino do PLE, capaz de responder à procura de materiais ligados ao contexto angolano e, de um modo geral, sirva de base para a compreensão das vantagens que existam no uso de materiais didáticos em suporte de papel e digital com atividades construídas a partir de contos de tradição oral, adaptáveis a situações reais de comunicação, não só para o investigador, mas também para aqueles que têm como foco nos materiais didáticos para o ensino de PLNM.