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Parte I – Introdução

1. Materiais e Métodos

1.1 Contextualização da situação

Para este trabalho utilizaram-se os dados relativos a vacas diagnosticadas com metrite pós-parto em cinco explorações de produção leiteira, distribuídas pelos concelhos da Póvoa de Varzim e de Vila Nova de Famalicão (Região Litoral Norte de Portugal) no período compreendido entre Novembro de 2015 e Janeiro de 2016.

Para efeitos do presente trabalho considerou-se como metrite todas as situações clínicas em vacas até aos 38 dpp que manifestavam em simultâneo os seguintes sinais clínicos: útero aumentado de dimensão e com conteúdo, presença de corrimento vaginal de odor fétido e/ou coloração alterada, diminuição de apetite e de atividade, assim como temperatura corporal igual, ou superior a 39,5ºC. Este intervalo de tempo, superior ao referido na revisão bibliográfica, deriva de uma requisição tardia dos serviços veterinários.

A visita às explorações foi realizada no seguimento de chamada telefónica do proprietário do animal. Na maior parte dos casos era relatada uma quebra na produção leiteira, a diminuição na ingestão de matéria seca, e a presença de um odor

pútrido ou de corrimento vaginal anómalo, que captaram a atenção do responsável pelos animais para a existência de um potencial problema no animal.

O tratamento instituído para a resolução da metrite diagnosticada foi semelhante em todos os casos clínicos, e incluiu a administração de AINEs nos animais com pirexia, ou evidente desconforto durante a palpação transretal, e antibioterapia sistémica durante três a cinco dias consecutivos. Nos animais mais debilitados foi ainda utilizada a suplementação com multivitamínicos.

Os animais abrangidos neste estudo constituem uma amostra de conveniência, uma vez que a seleção foi realizada segundo o programa de trabalho do Orientador de estágio, nas explorações daquela região, e não obedeceu a um desenho experimental específico.

Foram recolhidas informações de um grupo de 60 fêmeas no pós-parto. Contudo, por falta de registos dos produtores, relativos aos parâmetros produtivos e reprodutivos, 18 animais foram excluídos do estudo. Por consequência, o número final de fêmeas de raça Holstein-Frísia incluídas neste estudo foi de 42. Este número inclui não só vacas diagnosticadas com MPP (n=19), como também animais controlo (n=23), provenientes das mesmas explorações.

1.2. Explorações e animais

As explorações incluídas neste estudo (n=5) apresentavam características de maneio semelhantes entre si, mas de dimensões distintas. A dimensão do efetivo em lactação variou entre 52 e 186 vacas leiteiras.

Os animais encontravam-se inseridos num sistema de produção intensivo, passando por todas as etapas do ciclo reprodutivo e produtivo; estavam separados em diferentes parques, num mesmo estábulo, existindo um parque para vacas em lactação, outro para vacas secas no pré-parto e ainda um para novilhas. As principais diferenças de maneio dentro de cada exploração centravam-se nos cuidados nutricionais entre o grupo de vacas em lactação e o grupo de novilhas e vacas secas.

Para categorizar o nível produtivo médio das explorações, estipulou-se que o mesmo seria classificado como baixo, quando a produção leiteira média aos 305 dias dos animais fosse inferior aos 7000 kg; médio, se a produção se situasse entre os 7000 e os 9250 kg; ou alto, se a exploração produzisse, em média, mais de 9250 kg de leite. O nível produtivo médio aos 305 dias das explorações incluídas variava, aquando da recolha dos dados, entre os 8811kg e os 10215kg, estando quatro das explorações incluídas na categoria de produção média e apenas uma na categoria de alta produção.

Relativamente ao período de voluntário de espera (PVE), existia alguma variabilidade, sendo este da responsabilidade do proprietário. Três dos cinco produtores referiam que em média aguardavam cerca de 30 a 35 após o parto, para tentarem uma primeira inseminação artificial (IA), enquanto em duas das explorações era realizado um intervalo de cerca de 60 dias. Em todas as explorações a IA era efetuada por um inseminador profissional, após deteção de estro pelo proprietário ou trabalhador.

As fêmeas integradas neste estudo encontravam-se devidamente identificadas por marcação auricular bilateral e passaporte, existindo também para cada animal um número relativo à identificação dentro da exploração.

Durante o exame físico, para cada vaca foi estimada a condição corporal usando uma escala de 5 pontos, subdividida em meios pontos (NADIS 2016).

1.3. Recolha de dados e amostras

No seguimento da visita à exploração, os animais diagnosticados com metrite pós-parto foram isolados dos restantes e, após serem devidamente contidos, foram submetidos a um exame físico detalhado, enquanto iam sendo recolhidos dados relativos à história clínica. Os responsáveis pelos animais foram inquiridos quanto aos sinais clínicos evidenciados e à duração dos mesmos, ao tipo de parto (eutócico ou distócico), ao sexo do vitelo, à ocorrência de retenção placentária ao parto e sobre a eventual ocorrência de problemas reprodutivos em gestações anteriores.

A realização do exame do estado geral incluiu a mensuração da temperatura rectal, a auscultação cardíaca, respiratória e ruminal acompanhada de percussão, a avaliação de dor por sucussão e pressão na área toracolombar, a observação da coloração da mucosa ocular e do tempo de repleção capilar gengival, assim como avaliação do grau de desidratação. Na Tabela 1 encontram-se expressos alguns dos valores dos parâmetros fisiológicos em bovinos saudáveis que foram usados como referência neste trabalho.

Tabela 1 - Valores de referência para alguns parâmetros fisiológicos em bovinos saudáveis (Bowen 2009,

Terra e Reynolds 2015).

Parâmetro Valores de referência

Temperatura 38-39ºC

Frequência Cardíaca 40-80 bpm

Frequência Respiratória 12-36 rpm Frequência dos Movimentos Ruminais 1-3 pm

Fez ainda parte do exame físico realizado a observação da locomoção dos animais, tendo-se em atenção a curvatura dorsal e os sinais de claudicação. Ao exame do estado geral seguiu-se a avaliação ginecológica com recurso à palpação vaginal e transrectal. Foram explorados o rúmen, rim esquerdo, artéria aorta, nódulos linfáticos subaórticos, útero e estado de repleção da bexiga. O corrimento vaginal foi avaliado quanto à coloração, ao odor e à viscosidade.

O diagnóstico de metrite era estabelecido com base na história recolhida e nas alterações detetadas durante o exame físico da fêmea, sendo então instituído o tratamento.

No momento do diagnóstico da infeção uterina num animal, eram também recolhidos dados relativos a pelo menos um animal saudável da exploração, que dentro do universo da mesma representaria o mesmo período pós-parto, idade e nível produtivo da vaca doente, para constituir um grupo controlo.

Para além da informação relativa à identificação da vaca do grupo controlo, foram recolhidos dados referentes à sua idade, ao número de lactações e tipo de parto (eutócico/distócico), registo de retenção placentária no último parto e à condição corporal do animal.

A ocorrência de RP no último parto foi confirmado por inquirição ao proprietário, usando-se na sua definição os critérios de visualização das membranas fetais retidas por um período igual ou superior a 24 horas após o parto. O proprietário foi ainda inquirido sobre a forma como decorreu o parto de cada vaca utilizada neste trabalho. Considerou-se que todos os partos classificados como eutócicos decorreram sem intervenção do tratador, ou veterinário. No caso dos partos distócicos, todos foram resolvidos por tração forçada. As causas das distócias registadas foram associadas a estática fetal deficiente e a situações de desproporção feto-materna.

De cada animal selecionado para o estudo foi recolhida uma amostra de sangue na veia caudal, para determinação dos níveis circulantes de BHBA como indicador de cetonemia. Após limpeza e assepsia local, recolheram-se 2 a 3 gotas de sangue, com uma agulha de 18G, por capilaridade diretamente para a tira de amostra do teste FreeStyle Precision β-Ketone®, previamente introduzida no dispositivo eletrónico de leitura (FreeStyle Precision Neo®). O limite máximo de leitura neste aparelho é de 8,0mmol/L. Para o diagnóstico de cetonemia utilizaram-se os critérios expressos na Tabela 2.

A medição de corpos cetónicos foi conseguida em apenas 21 animais, sendo 10 relativas a vacas leiteiras com diagnóstico de metrite e 11 de fêmeas em pós-parto, sem sinais de doença.

Tabela 2 - Critérios para diagnóstico de cetonemia com base na determinação de BHBA no

sangue (Rutherford et al. 2016)

Sem Cetose < 1,2 mmol/L Cetose Subclínica 1,2 – 2,9 mmol/L Cetose Clinica > 2,9 mmol/L

1.4. Análise Estatística

Os dados foram registados e processados em suporte informático, tendo sido transpostos e organizados para uma base de dados Excel (Microsoft® Excel 2010).

Os animais foram organizados em dois grupos, consoante apresentavam ou não diagnóstico de metrite pós-parto (grupo metrite e controlo, respetivamente). Como a avaliação das vacas leiteiras incluídas neste estudo foi dispersa por diferentes períodos do pós-parto, e para facilitar o tratamento estatístico, criaram-se cinco categorias distintas de acordo com a semana pós-parto na qual a metrite foi diagnosticada (i.e., foram categorizadas em 1ª, 2ª, 3ª, 4ª e > 4ª spp).

Para efeitos deste trabalho, paridade correspondeu ao nº de gestações obtidas por cada vaca, e foi sobreponível ao número de ordem de lactação, pelo que os dois termos designam a mesma situação. Para efeitos de consistência, utilizou-se o termo paridade ao longo da apresentação de resultados.

Para análise estatística dos dados utilizou-se o software IBM® SPSS Statistics versão 22 ® (IBM Software, NY, USA). Para além da estatística descritiva, foi ainda testada a diferença entre grupos através da análise de qui-quadrado (teste exato de Fisher) para os seguintes parâmetros: idade, número de parto, condição corporal no momento do diagnóstico, história de retenção placentária e tipo de parto (eutócico, ou distócico). Para a análise dos efeitos da cetonemia sobre a ocorrência de metrite, e para ultrapassar o número limitado de amostras, apenas se consideraram duas categorias: valores normais (até 1,1 mmol/L; representando animais sem cetose) e valores aumentados (acima de 1,2 mmol/L; representando cetose subclínica e clinica em conjunto).

Foram ainda calculados o risco relativo e a razão de probabilidades para a ocorrência de metrite para os eventos: a) ocorrência ou não de RP no último parto; e b) níveis de corpos cetónicos normais/alterados no momento do diagnóstico.

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