• Nenhum resultado encontrado

Prevenção e Controlo da Metrite Pós-Parto

Parte I – Introdução

2. Metrite no Pós-Parto

2.8. Prevenção e Controlo da Metrite Pós-Parto

A incidência da Metrite Pós-Parto pode ser diminuída através da manipulação dos fatores de risco (Williams et al. 2005). Desenhar um plano preventivo para esta infeção uterina deve ter em consideração a magnitude do problema na exploração, assim como os custos e benefício da sua implementação.

Atualmente o controlo da patologia passa pela realização de uma vigilância atenta das vacas no pós-parto, independentemente de existirem fatores de risco associados ou não. Critérios vigiados diariamente, como a temperatura rectal, os valores de produção leiteira e o aspeto do muco vaginal devem ser tidos em atenção pelos tratadores em todas as fêmeas no primeiro mês após o parto (Burnell 2008, Chastant-Maillard 2008, LeBlanc 2008).

Apesar de ter vindo a ser feito pouco progresso no que respeita ao controlo e prevenção das doenças uterinas nas explorações de leite, os protocolos terapêuticos para a MPP encontram-se bem estabelecidos e são relativamente eficazes para o tratamento da doença. Contudo, após a eliminação dos sinais clínicos o problema da subfertilidade mantém-se (Sheldon et al. 2008). Por isso, é essencial a identificação precoce dos animais em risco de desenvolverem MPP (Dervishi et al. 2016, Opsomer 2008). A simples observação da atitude do animal, bem como da produção diária de leite, são parâmetros úteis para sinalizar animais com potenciais problemas (LeBlanc 2008). Apesar de uma vigilância apertada se traduzir num maior investimento de tempo, poderá permitir assinalar os animais afetados de forma precoce, e assim permitir uma recuperação mais rápida e eficaz, que se traduz em menores prejuízos para a exploração (Chastant-Maillard 2008). O tempo que o animal passa a alimentar- se poderá ser utilizado como indicador, pois as vacas com MPP apresentam uma diminuição de tempo gasto na manjedoura em comparação com as vacas saudáveis (Urton et al. 2005).

No entanto, apesar destes indicadores, a realização de um exame físico poucos dias após o parto, por parte do médico veterinário, é essencial para a deteção da doença. Contudo, na maior parte das explorações, o mais frequente é este ser realizado uma vez, às duas a três semanas pós-parto, permitindo que muitos casos de metrite passem despercebidos (Urton et al. 2005).

Uma vez que vacas com MPP mostram alterações em certos metabolitos e mediadores inflamatórios, a sua deteção antes do parto e do aparecimento dos sinais clínicos será útil na identificação precoce de animais em risco. Estas moléculas incluem alguns metabolitos dos hidratos de carbono, as proteínas da fase aguda e com citoquinas pro-inflamatórias. A utilização das citoquinas, ou de determinadas proteínas da fase aguda (haptoglobina e amilóide A sérica, por exemplo) como biomarcadores precoces da doença em vacas leiteiras no período de transição, embora não sejam específicos, poderia apresentar-se como uma forma de prevenir a patologia ou de sinalizar os animais problema (Smith et al. 1998, Chan et al. 2010, Dubuc et al. 2010, Dervishi et al. 2016).

É também fundamental que se alterem algumas práticas de maneio quando se pretende prevenir o aparecimento desta patologia. Para otimizar a função imunitária nas vacas em período de transição pode recorrer-se a um maneio que estimule a ingestão de alimento de boa qualidade, prestando-se simultânea atenção à condição corporal da fêmea no pré-parto (idealmente, deverá ser 3, na escala de 5 ponto) (Ferguson et al. 1994, Sordillo 2016). Recomenda-se ainda que a dieta no pré-parto inclua 5 mg/kg de selénio (Hogan et al. 1993), e 1000-2000 UI/vaca/dia de Vitamina E

(Weiss 1998, Baldi et al. 2000), de modo a estimular o bom funcionamento da imunidade do animal.

O acesso a áreas de pastoreio nos meses de verão poderá também ser eficaz na prevenção da MPP. Para além de contribuir para o bem-estar da fêmea, permite- lhe exercitar a musculatura e aumentar a sua condição, contribuindo para a ocorrência de um parto mais fácil (Bruun et al. 2002).

A utilização de antibioterapia de forma preventiva é extremamente controversa, uma vez que significa que animais que poderiam nunca desenvolver a doença seriam também tratados, aumentando a exposição desnecessária das bactérias a antibióticos, e assim favorecer o desenvolvimento de resistência das bactérias. Por outro lado, as diretrizes impostas pera União Europeia relativamente ao uso racional de antibióticos no âmbito do programa de redução de antibioresistencias seriam ignoradas (Bartolome et al. 2014).

Recentemente, o desenvolvimento de uma vacina experimental contendo componentes das bactérias E. coli, F. necrophorum e T. pyogenes mostrou-se eficaz na prevenção da metrite em vacas leiteiras (Machado et al. 2014).

No futuro, o progresso beneficiará de um conhecimento mais profundo da interação entre a infeção e a imunidade do trato genital feminino da vaca leiteira (Sheldon 2008), de modo a que melhores estratégias preventivas, baseadas na nutrição e maneio, possam ser usadas com objetivos mais específicos (LeBlanc 2014, Sordillo2016).

Parte II – Trabalho de Campo

Quando se iniciou o trabalho de campo, tínhamo-nos proposto comparar os níveis circulantes de corpos cetónicos após o parto em vacas de leite com puerpério normal e em vacas que vieram a desenvolver metrite pós-parto. Contudo, as práticas seguidas pelos criadores inviabilizaram o trabalho proposto sobretudo porque dificultaram a obtenção de amostras sequenciais no pós-parto, em número e no intervalo pretendido. Também o ritmo de visitas ou a chamada do Médico Veterinário não foi realizada suficientemente cedo para permitir um diagnóstico precoce da patologia. Por isso, o objetivo a que nos propusemos teve de ser alterado. Desta forma, foram objetivos específicos da componente prática desta Dissertação:

1. Determinar os níveis de CC no sangue de vacas Holstein-Friesian, no momento do diagnóstico;

2. Analisar a relação entre os casos de metrite diagnosticados e a ocorrência prévia de retenção placentária;

3. Determinar o risco relativo e a razão de probabilidades de metrite em vacas com e sem retenção placentária e em vacas com valores normais ou elevados de corpos cetónicos no momento do diagnóstico.

Documentos relacionados