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Matriz parcial das recomendações – C&T para processos produtivos

Prazo Estratégia Curto Prazo Médio Prazo

LongoPrazo

1-2 Anos 3-5 Anos > 5 Anos

(Cp) (Mp) (Lp)

A Conscientização Social 3.17, 3.18

Informada

B Democratização do Processo Decisório

C Implantação da Gestão 3.19, 3.20 3.20

Estratégica

D Geração, Absorção, Adaptação, 3.15, 3.16, 3.19, 3.20 3.15, 3.16, 3.20

Inovação e Difusão de Conhecimento

IV C&T para sustentabilidade:

meios de implementação

I

NSTRUMENTOS DE

C&T

Além dos capítulos especiais à ciência e à transferência de tecnologia, a Agenda 21 dedica diversas referências aos meios de viabilização do papel fundamental da ciência e da tecnologia para o desenvolvimento sustentável. Quais sejam, especialmente:

• a geração de conhecimentos científicos e tecnológicos, de produtos, processos e metodologias;

• a formação de recursos humanos especializados;

• a geração de informações científicas e tecnológicas para subsidiar a formulação e a seleção de políticas, disseminação do conhecimento, avaliações científicas, capacitação e fortalecimento da responsabilidade social da ciência;

• a produção de avaliações científicas e tecnológicas;

• a promoção da interação entre o sistema de conhecimentos e a sociedade.

O papel da ciência e da tecnologia no desenvolvimento sustentável ressalta uma série de atividades, indicadas ao longo da Agenda 21 e em outros estudos governamentais sobre o desenvolvimento sustentável. A partir deles, essas atividades podem ser reunidas nos seguintes conjuntos: pesquisa e desenvolvimento; transferência de tecnologias e inovação; formação de competências; informação e difusão; cooperação estratégica nacional e internacional.

Nesse sentido, a reflexão sobre os instrumentos de C&T deve considerar:

• a adequação dos instrumentos de promoção da C&T com relação às atividades que se pretende promover e à especificidade do sistema de conhecimentos em uma sociedade que se pretende construir sob a égide do desenvolvimento sustentável;

• a eficácia desses instrumentos, garantindo a realização das atividades e a utilização de seus resultados em prol desse desenvolvimento.

Os atributos emanados da concepção de desenvolvimento sustentável são os referenciais básicos da análise da adequação dos instrumentos. A primeira pergunta a ser respondida é: que tipo de sistema de conhecimentos, conseqüentemente de atividades de C&T, é compatível e pode trazer uma real contribuição ao desenvolvimento sustentável? Internacionalmente, fortalece-se a tese da necessidade de um “sistema vital de conhecimentos”, baseado em uma forte interação com o entorno.27 Sendo interativo, esse sistema pressupõe uma

27 Entre outros exemplos, a Holanda preconiza como objetivo maior de sua política nessa área a criação de um ‘sistema forte e vital de conhecimentos’ (Holanda, 1997); o Canadá destaca a necessidade de vencer os desafios da ‘sociedade do conhecimento’, na qual o conhecimento está no coração do crescimento econômico, da criação de emprego, da qualidade de vida, influenciando de forma definitiva as políticas públicas, a administração e as atitudes da população de um

estratégia que garanta uma ‘simbiose frutífera’ entre C&T e a sociedade (promovendo um círculo virtuoso), na instrução do planejamento das atividades, bem como na adequação de mecanismos e instrumentos para implementá-las, promovendo-se a efetividade da utilização dos resultados, a curto e longo prazos.

Destacam-se dentre as características desse sistema:

• manter critério de qualidade científica;

• apresentar dinamismo e continuidade no atendimento de demandas, sendo necessário encontrar um equilíbrio contra as pressões imediatistas que, muito freqüentemente, são incompatíveis com a natureza das atividades de C&T;

• ser produtor de conhecimentos novos e inovações tecnológicas, em redes de inovação;

• apresentar capacidade de antecipação sobre um-danças;

• ter flexibilidade para organização multidisciplinar da pesquisa;

• observar as características diferenciadas dos ambientes físicos e sociais vinculados ao universo das atividades de C&T, especialmente as diferenciações regionais e socioculturais;

• desenvolver cooperação estratégica baseada na autonomia, na diferenciação e no perfil das instituições, tendo em vista atender às necessidades de escalonamento, de multidisciplinaridade e de diminuição das disparidades regionais;

• ter capacidade de engenharia;

• ter forte responsabilidade social (accountability, coadjuvante essencial da autonomia institucional);

• ter base de sustentação financeira.

Atividades de C&T, fundamentadas na interação com seu entorno, são escolhidas com base em finalidades e objetivos de sua contribuição para a sociedade. Isso pressupõe uma estratégia que compreenda uma articulação intensa com os mais variados segmentos sociais, em um processo participativo de reciprocidade.

Além de unir atores – governo, comunidade científica e tecnológica, empresários, trabalhadores e outros segmentos sociais –, essa interação deve considerar as características da realidade social como determinantes na identificação e na formulação das demandas para o sistema de conhecimentos. Estas imprimem

‘atributos’ às estratégias e às ações desse sistema, no contexto do desenvolvimento sustentável. Tais atributos são indispensáveis para que a análise e a escolha dos instrumentos de promoção das atividades de C&T possam pautar-se por abordagens compreensivas, em relação às complexas interações e retroações dos fenômenos e problemas na diversidade de seus elementos.

Esses instrumentos devem, em síntese:

• adequar-se ao processo participativo interativo, atendendo às necessidades e às opções apresentadas e, ao mesmo tempo, contribuir para seu fortalecimento;

• adequar-se e promover a organização multidisciplinar e a abordagem interdisciplinar;

• refletir a intersetorialidade e a interinstitucionalidade;

• levar em consideração as diferenças regionais.

O processo participativo é, por princípio, interativo. Compreende a reciprocidade como uma condição indispensável para a realização da interação necessária entre o sistema de conhecimentos científicos e tecnológicos e a sociedade. Significa romper processos lineares e promover uma nova simbiose entre C&T e sociedade, daí derivando uma coordenação entre as opções da pesquisa e as necessidades de conhecimento. Essa simbiose exige uma interação dinâmica contínua dos diversos atores, de modo a gerar uma agenda de opções estratégicas que considere as características anteriormente apontadas.

A Agenda 21 destaca fortemente a necessidade do processo participativo, respaldado por um compromisso e uma participação genuína, com conhecimento modo geral (Canadá,1997). Essa mesma ênfase é encontrada na Alemanha, destacando-se as características do ‘sistema de conhecimentos interativo’, no qual a forma atual de conhecimento tem como base a interação com o contexto, a transdisciplinaridade, o diá-logo e a disponibilidade, buscando solução de problemas e sustentabilidade (Alemanha, 1996).

e consciência, pautados pela modernidade ética do desenvolvimento sustentável e em códigos de conduta e estrutura de valores condizentes com a sustentabilidade.28 Com efeito, o êxito desse processo está relacionado:

• à consciência da importância da participação (awareness) social no desenvolvimento sustentável;

• à existência de canais de participação e de estratégias de condução do processo decisório efetivamente interativos;

• à capacidade para uma participação fundamentada no conhecimento;

• ao reconhecimento e à aceitação dessa participação, por parte da comunidade científica e tecnológica, como condição de ações efetivas de intervenção social, promoção, indução e apoio à C&T, tendo em vista a elaboração de uma Agenda estratégica que supere as distorções do academicismo e do tecnocratismo;

• à efetividade do processo de avaliação e divulgação dos resultados e impactos das atividades de C&T e sua contribuição ao processo de desenvolvimento sustentável. Isso possibilitaria, de um lado, a transparência das ações; de outro, uma maior participação, pela geração de informações e de credibilidade do processo participativo de intervenção e construção social.

M

ULTIDISCIPLINARIDADE E INTERDISCIPLINARIDADE

A busca da excelência em campos disciplinares específicos continua sendo fundamental. Todavia, em face da complexidade dos problemas contemporâneos, o conhecimento disciplinar não pode mais ser buscado isoladamente, desvinculado das interações com os conhecimentos interdisciplinares que constituem o contexto do problema do conhecimento. O que está em questão, hoje, é a organização multidisciplinar capaz de operar abordagens interdisciplinares de produção do conhecimento (cross disciplinary). Isso implica a solidez da formação para pesquisa, que, sem abrir mão da excelência disciplinar, deve saber dialogar com outros campos na construção do conhecimento. Essa exigência pressupõe, conseqüentemente, não só a articulação entre grupos e institutos de pesquisa, mas também a interação destes com os setores produtivos da sociedade que demandam C&T.

I

NTERSETORIALIDADE E INTERINSTITUCIONALIDADE

Naturalmente, a capacidade de construção da interdisciplinaridade implica inovações nas concepções do planejamento, organização e desenvolvimento das atividades de C&T. A exigência da intersetorialidade e da interinstitucionalidade refere-se tanto às instituições públicas responsáveis pela definição e pela condução de políticas e ações de C&T como às instituições executoras de ensino e pesquisa.

Esse novo aporte de exigências ainda está longe do sistema vigente na administração pública brasileira e, em grande parte, na organização do sistema das instituições e atividades de C&T, o que fortalece as inclinações ao isolamento, ao fechamento e às iniciativas individuais. Ainda prevalece a desarticulação no interior e entre as instituições políticas e científicas. Um bloqueio que se alimenta das indefinições prevalecentes nos organismos públicos, como o CCT e o Ministério da Ciência e Tecnologia, ainda tidos como órgãos setoriais da administração pública, quando a política de ciência e tecnologia é parte constitutiva de diversos setores econômicos, sociais e político-administrativos.

28 É importante lembrar que, além da Agenda 21, a ênfase no processo participativo e na nova ética correspondente ao desenvolvimento sustentável aparece em praticamente todos os documentos e análises que tratam do tema, alguns dos quais estão na bibliografia deste documento. A menção exclusiva à Agenda 21 justifica-se por sua importância como insumo para as discussões sobre a Agenda 21brasileira e pelas limitações do tópico específico que aqui deve ser tratado.

Em vista disso, um grande desafio à C&T para o desenvolvimento sustentável consiste em romper o processo perverso de competição e defesa de áreas de atuação, embasado em posturas refratárias à articulação e à integração compreensiva dos condicionantes à sustentabilidade.

D

IMENSÕES REGIONAL E LOCAL

O reconhecimento das diferenciações e das desigualdades regionais das políticas de C&T é uma urgência brasileira, agravada pela formação dos blocos econômicos transnacionais. Está claro que uma C&T comprometida com o desenvolvimento se condiciona ao estímulo a programas de inovação mais regionais, sob concepções de desenvolvimento regional interativo.

I

NSERÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA SUSTENTABILIDADE NA POLÍTICA DE C

&

T BRASILEIRA

O abrandamento das disparidades regionais, o aperfeiçoamento do processo participativo e a promoção de ações integradas setorial e institucionalmente há muito estão registrados nas propostas e nos planos de política de C&T no Brasil.29 Contudo, são metas de sustentabilidade do desenvolvimento que ainda permanecem no papel. Não obstante o destaque da retórica, muito pouco se absorveu na prática política do sistema de ciência e tecnologia no Brasil, sobretudo quanto à incorporação do estabelecido na Agenda 21. A prática pública de C&T ainda é presidida pela busca de competitividade essencialmente econômica, conforme se depreende dos dois importantes instrumentos atuais de promoção da política pública de C&T: o Conselho de Ciência e Tecnologia – CCT – e o Plano Plurianual – PPA.

Presidido pelo Presidente da República, o CCT foi reestruturado recentemente pela Lei no 9.257, de 9/1/1996, e instalado em agosto do mesmo ano. Dentre suas responsabilidades, está a de nortear, a longo prazo, a política de ciência e tecnologia nacional. Para tanto, foram estabelecidas duas Comissões Temáticas: a Comissão de Prospectiva, Informação e Cooperação Internacional e a Comissão de Desenvolvimento Regional.

Já o Plano Plurianual – PPA –, embora mencione o desenvolvimento sustentável em sua introdução, não expressa a adoção de uma ética da sustentabilidade para a política brasileira. Pelo contrário, estão claras as restrições do desenvolvimento à estabilidade econômica. O “desenvolvimento sustentado” é visto como conseqüência linear da estabilidade econômica.

Ainda assim, o PPA 1996/1999 definiu cinco objetivos de C&T:

• elevar a capacitação científica e tecnológica nacional;

• melhorar a competitividade das empresas brasileiras;

• capacitar o país para as tecnologias portadoras do futuro;

• viabilizar o gerenciamento dos ecossistemas e o uso sustentável dos recursos naturais;

• promover o desenvolvimento social e regional (CCT, 1998).

Também o PPA do MCT apresenta como objetivo geral : “...capacitação científica e tecnológica como fator essencial para viabilizar o projeto de desenvolvimento

29 Em 1985, as ‘metas globais’ para ciência e tecnologia (MCT/CNPq, 1985) incluíam: a) planejamento setorial e intersetorial – observando-se prioridades regionais e seto-riais bem como oportunidades nacionais e internacionais; b) reordenamento do sistema nacional de desenvolvimento científico e tecnológico; c) democracia e participação deci-sória; d) aumento dos recursos financeiros com diversi-ficação de fontes, especialmente advindas do aumento da participação do setor privado; e) prioridades sociais e re-gionais; f) entre as ações emergenciais, assegurar o pleno funcionamento das instituições de P&D. Essas metas também se acham presentes nas estratégias dos ‘eixos de desenvolvimento’ expressas no PPA, período 1996/2000.

socioeconômico sustentável do país”. Desse objetivo emergem, segundo o documento, as seguintes necessidades:

• conjugar as atividades de C&T com as políticas regionais e setoriais;

• promover a sinergia entre as atividades de geração de conhecimentos científicos e tecnológicos de C&T e a apropriação socioeconômica;

• promover e/ou manter os padrões internacionais de qualidade e excelência;

• contribuir para a inserção competitiva do país na economia mundial;

• contribuir para a ampliação e o ajuste da base de C&T do país para responder a demandas atuais e futuras da sociedade, incluindo o estímulo às inovações e o acompanhamento do progresso técnico em curso nos países desenvolvidos.

Parece claro que, embora haja referência ao desenvolvimento sustentável, os princípios norteadores da política nacional de ciência e tecnologia parecem exclusivamente ancorados no objetivo de promover a competitividade e a inserção internacional do país.

Na verdade, o PPA espelha o relativo isolamento das ações ministeriais e, sobretudo, suas contradições com as necessidades apontadas pelo Plano. É forçoso observar-se que não há um PPA de ciência e tecnologia. Há, sim, um PPA do Ministério de Ciência e Tecnologia, o qual não apresenta o conjunto das ações nacionais em C&T e tampouco as interconexões das atividades do MCT com as dos demais ministérios.

Iniciativas pontuais mais recentes se insinuam como mudanças na estratégia de fomento, ainda se mantendo substancialmente voltadas para a melhoria da competitividade. Este é o caso, por exemplo, do Programa de Agronegócios e do PADCT III, que incorporam novas estratégias para ampliação do processo participativo das empresas e para a descentralização regional, conforme exibem os quadros a seguir.

Quadro 4.1 – PADCT/Programa de Apoio ao Desenvolvimento