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Quadro 2.1 O caso da Amazônia no Brasil

O caso da Amazônia no Brasil é exemplar para programas integradores e construção de redes técnico-científicas como alternativa a programas isolados. O Programa Piloto para Florestas Tropicais do G-7 (PP-G7) tem essa região como objeto de trabalho. E o governo brasileiro tem estabelecido ações de vulto sobre a Amazônia. No âmbito do MCT, além do Subprograma do PP-G7, há o Programa do Trópico Úmido, e foi estabelecida a CORPAM como comissão de assessoramento do ministério para a política de C&T regional. Inúmeras outras instituições nacionais e estrangeiras trabalham com temas sobre a região.

Apesar do volume de projetos, os diagnósticos sempre apontam para sérias deficiências no quadro da ciência e tecnologia na região, de modo especial

relacionadas às condições de pesquisa e às possibilidades de fixação dos recursos humanos qualificados. Corre-se o risco de as instituições de pesquisa tornarem-se “enclaves”, algumas delas se reduzindo a ‘intermediários’ entre a região – seus recursos e realidade social - e o contingente de pesquisadores no resto do Brasil e do mundo trabalhando sobre esses recursos e essa realidade.

Contingente esse de grupos e instituições que, muitas vezes, serão exatamente os que exercerão grande atratividade sobre os pesquisadores regionais e que, certamente, poderão absorver os que mais se destaquem, contribuindo exatamente para enfraquecer o potencial regional da pesquisa.

É fundamental promover uma real integração e cooperação entre essas instituições - da Amazônia, do restante do Brasil e internacionais. Porém, isso só será possível se a região conseguir institucionalizar a pesquisa, fortalecer sua base técnico-científica mais ampla, para o que é necessário fortalecer as instituições, apoiar a cooperação com valorização dos recursos e instituições regionais, estabelecer diretrizes conjuntas e promover a articulação de esforços entre os diversos setores que demandam e promovem a geração dos conhecimentos.

No momento em que as nações se envolvem em esforços tecnológicos sem precedentes na história da humanidade, o entendimento, a confiança e o interesse da população em relação às questões ambientais e sobre os resultados das atividades de C&T tornam-se cruciais. Entretanto, no Brasil, a compreensão da sociedade em relação a essas questões é ainda bastante limitada e prejudicada pela urgência de superação de graves problemas econômicos e sociais.

A dialética a respeito dos benefícios resultantes das atividades de C&T em comparação com seus efeitos adversos ganha espaço nas mentes dos cidadãos de todos os países do mundo. Portanto, as atividades de avaliação tecnológica e divulgação precisam ser intensificadas nas instituições de C&T, não apenas para consumo de seus protagonistas diretos mas para toda a sociedade.

Por outro lado, a elevação dos custos dos investimentos em P&D, exige do Estado a tomada de medidas complexas e coerentes de longa duração. Isso não implica necessariamente a formulação de uma política integral de educação, ciência, tecnologia e desenvolvimento como a única solução, mas é certo que o jogo de mercado já se revelou impotente para a superação das necessidades da sociedade. Apesar de admitir a potência das pressões do mercado, o processo de desenvolvimento sustentável envolve interações bem mais complexas que requerem a regulação e a regulamentação do Estado.

Atualmente, as tecnologias da informação e de telecomunicações (Internet e redes locais) permitem a realização de consultas rápidas e a baixo custo, envolvendo grande número de pessoas e instituições, facilitando a prática democrática nas organizações públicas e atividades de marketing das empresas.

Estas não somente podem contribuir para melhorar a instrução dos processos decisórios das instituições, mas também para elevar o nível de comprometimento dos agentes pertinentes, além de viabilizar a definição de propósitos compartilhados e processos de educação a distância para alcançar um público alvo mais amplo. Particularmente, as instituições de C&T podem realizar consultas sistemáticas aos itens de pauta mais críticos das reuniões para instruir seus conselhos e comissões.

A partir do conjunto de considerações arroladas, recomenda-se

R

ECOMENDAÇÕES

A

TORES SOCIAIS

Sigla Significado

EF Executivo Federal

EE Executivo Estadual

EM Executivo Municipal

EP Empresas Públicas

Epr Empresas Privadas

LF Legislativo Federal

LE Legislativo Estadual

LM Legislativo Municipal

JD Judiciário

IEBF Instituições de Ensino Básico e Fundamental

UP Universidades e Institutos de Pesquisa

OSC Organizações da Sociedade Civil

OI Organizações Internacionais

Q

UANTO AO PROCESSO DE PARTICIPAÇÃO INTERATIVO

2.8 - É necessário incorporar a perspectiva da ciência e da tecnologia nas atividades do planejamento participativo, utilizando-o como mecanismo para:

a) promover uma participação ativa das comunidades locais na escolha de prioridades;

b) levar informações a essas comunidades, permitindo-lhes que conheçam os saberes e as tecnologias disponíveis ao equacionamento dos problemas e às oportunidades locais e de seu entorno;

c) ampliar a base de conhecimento da realidade, no sentido de subsidiar o processo decisório sobre a política de C&T;

d) promover o processo de conscientização e incorporação das normas de conduta e dos códigos éticos sobre o desenvolvimento sustentável, bem como sobre o aproveitamento dos conhecimentos tradicionais e comunitários contribuintes (posição na matriz: B, CP e MP).

Atores: EF, EE, LF, LE, IEBM, UP, EP, EPr e OSC.

Meios: Estudos setoriais, temáticos e prospectivos; campanhas e eventos de disseminação de informações; mecanismo financeiro (fundo) a ser mobilizado pela sociedade civil com o objetivo de aportar subsídios científicos e técnicos;

audiências públicas para a tomada de decisão sobre políticas e programas de desenvolvimento.

2.9 - Fortalecer os canais de controle social. Assim como se tem conseguido consolidar o sistema de proteção ao consumidor, poder-se-ia estabelecer um sistema de proteção ao ambiente e de promoção do desenvolvimento sustentável com envolvimento direto das comunidades. Esse sistema funcionaria como um meio de controle social e viria a exercer importante papel na identificação de demandas e sua tradução, no caso, em ciência e tecnologia (posição na matriz: B, CP e MP).

Atores: JD, LF e LE.

Meios: Audiências públicas para disseminação de informações e para discussão de projetos de lei, propostas de políticas, programas e planos;

mecanismo financeiro (fundo) a ser mobilizado pela sociedade civil com o objetivo de aportar às organizações da sociedade civil informações e subsídios políticos, científicos e técnicos.

2.10 - Fortalecimento e interação com as organizações regionais e locais.

As comunidades locais devem ter seu papel fortalecido no controle do uso dos recursos. As organizações locais são fundamentais no fluxo de informações, eliminando barreiras entre grupos e indivíduos. Têm, nesse sentido, papel multiplicador significativo como target groups para programas de conscientização, educação científica, tecnológica e ambiental (posição na matriz:

B, CP e MP).

Atores: EF, EE, EM, LF, LE, LM, UP, EP, EPr e OSC.

Meios: Articulação com os conselhos comunitários; programas de conscientização e educação; mecanismo financeiro (fundo) a ser mobilizado pela sociedade civil com o objetivo de aportar às organizações da sociedade civil informações e subsídios políticos, científicos e técnicos; novos arranjos institucionais que venham a tornar mais participativo o processo de tomada de decisões.

2.11 - Descentralização com cooperação entre os níveis de governo. É imprescindível a continuidade das ações dos projetos, como o Alfa e o Ômega, para fortalecer a participação de organismos governamentais e de outras instituições em nível estadual e local no processo de promoção da ciência e da tecnologia. Isso proporcionará melhores condições para a identificação e o atendimento de necessidades locais e regionais, possibilitando canais mais

efetivos de participação, compartilhamento da coordenação das ações e, de modo especial, a complementaridade de ações e uso dos recursos e instrumentos. São necessários instrumentos para fortalecer a cooperação entre níveis de governo federal, estadual e local, de forma que o processo de descentralização seja executado por meio da prática de divisão de responsabilidades, e não como vem acontecendo em vários exemplos, como um mero repasse de competências de uma esfera governamental para outra (posição na matriz: B e C, CP).

Atores: EF, EE, EM, LF, LE, LM, EP e OSC.

Meios: Arranjos institucionais que incentivem a participação dos diferentes segmentos da sociedade no processo de tomada de decisões no segmento de C&T; programas com execução descentralizada

2.12 – Promover a capacitação dos atores para que venham a formular suas necessidades, de modo especial aqueles menos privilegiados e marginalizados. Muito embora a tradição, o senso comum e a experiência prática sejam geradores de conhecimento, é necessário levar aos diversos atores do processo social os conhecimentos científico e tecnológico e as soluções que deles podem emanar para as questões e os problemas envolvidos na promoção do desenvolvimento sustentável. Isso significa difundir o conhecimento fundamentado e formar a consciência sobre o que o sistema de conhecimentos pode fazer e qual a potencialidade de C&T para o desenvolvimento sustentável (posição na matriz: A e B, CP).

Atores: EF, EE, EM, UP e OSC.

Meios: Mecanismo financeiro (fundo) a ser mobilizado pela sociedade civil com o objetivo de aportar às organizações da sociedade civil informações e subsídios políticos, científicos e técnicos; palestras, debates, seminários e cursos de especialização; desenvolvimento de projetos piloto que visem a analisar novas formas de organização e participação da sociedade civil no processo de tomada de decisão.

Q

UANTO À COORDENAÇÃO DA POLÍTICA DE

C&T

2.13 – Democratização dos fóruns para tomada de decisão – um dos aspectos ressaltados pela Agenda 21 diz respeito à democratização das esferas de decisão sobre políticas, programas, planos e projetos. Embora o segmento de C&T se caracterize por admitir certo grau de democratização em seus processos decisórios, essa democratização, contudo, tem ficado restrita às esferas governamental – principalmente a federal –, acadêmica e empresarial.

Ademais, mesmo para as duas últimas – acadêmica e empresarial – a legitimidade da representação tem sido questionada, uma vez que ela é exercida em função de atributos pessoais e não do critério da representatividade social. É necessária então a discussão dessa questão, com o objetivo de estabelecer mecanismos que venham a imprimir maior representatividade e legitimidade aos processos decisórios para o segmento de C&T. Outra questão também relevante para o funcionamento dos fóruns de decisão é a ampla divulgação de suas decisões, de forma a tornar seus processos decisórios mais transparentes para todos os interessados (posição na matriz: B, CP e MP).

Atores: EF, EE, EM, LF, LE, LM, UP e OSC.

Meios: Projeto de lei com o objetivo de viabilizar para o segmento de C&T arranjo institucional que permita participação mais representativa dos diferentes segmentos da sociedade; estabelecimento de mecanismo que torne pública as decisões e as deliberações dos diferentes fóruns afetos ao segmento de C&T.

2.14 – Promover maior interação setorial e institucional tanto em nível do governo federal como em instituições estaduais, municipais e não-governamentais. É fundamental o reconhecimento do papel que essa interação pode desempenhar, sobretudo como agente para a identificação de necessidades e oportunidades em níveis regional, estadual e local para o gerenciamento das interações com atores nesses níveis e para contribuir na implementação descentralizada de atividades, a exemplo do que já vem ocorrendo com os projetos Ômega e Alfa (posição na matriz: C, CP).

Atores: EF, EE, EM, LF, LE, LM, EP, EPr e OSC.

Meios: Estabelecimento de arranjos institucionais que tenham por objetivo a construção de espaços de negociação que integrem os diversos níveis da esfera executiva, do setor privado e da sociedade civil.

2.15 – Promover o atendimento a necessidades regionais e locais diferenciadas – embora o discurso no contexto do segmento de C&T seja o de considerar a realidade brasileira como constituída de heterogeneidades marcantes, sua prática, contudo, tem dado sinais de que o tratamento adotado é o de homogeneizar por cima. Isso tem resultado em atitudes que ao invés de reduzirem as disparidades regionais e locais existentes as têm exacerbado ainda mais. A realidade hoje existente nas regiões Norte e Centro-Oeste é exemplo representativo dessa situação. Assim, é imprescindível que os instrumentos e as práticas do segmento de C&T considerem de forma efetiva as desigualdades existentes no contexto nacional, tendo por meta o objetivo precípuo de redução dessas desigualdades (posição na matriz: C, CP).

Atores: EF, EE, EM, LF, LE, LM, EP, EPr, UP e OSC.

Meios: Estabelecimento de critérios regionalmente diferenciados para o processo de tomada de decisão sobre a concessão de bolsas e de projetos de pesquisa; programas regionais.

2.16 – Promover o fomento de forma interinstitucional – é necessário melhorar o nível de articulação entre agências, tornando seus instrumentos integrados em nível interno, promovendo complementaridade, evitando duplicações (quando consideradas desnecessárias), debatendo a escolha de prioridades e articulando as respectivas estratégias (posição na matriz: C, CP).

Atores: EF, EE e OSC.

Meios: Estabelecimento de arranjos institucionais que incentivem a coordenação entre as agências de fomento à C&T.

Q

UANTO ÀS INSTITUIÇÕES

2.17 – Consolidação da estrutura institucional de C&T – uma prática que tem se tornado corriqueira nos processos de mudanças governamentais são as alterações, às vezes radicais, das estruturas institucionais, seja na esfera federal seja na estadual ou municipal. Essa prática é resultado do grave erro de considerar que as instituições políticas são mero reflexo da sociedade e que, portanto, podem ser modificadas sem prejuízos operacionais ou políticos. A vasta literatura internacional sobre o “novo institucionalismo” tem demonstrado, entretanto, que as instituições políticas são estruturas que interagem dialeticamente com os indivíduos que nelas operam, no sentido tanto de permitir como de inibir suas ações. Dessas interações resulta o estabelecimento de regras, normas e valores institucionais, os quais usualmente são identificados como a “cultura da casa”.

Quando esses valores, normas e regras sofrem modificações, a principal conseqüência é o inadequado funcionamento das instituições no período em que seus integrantes são reeducados para novas rotinas e que novas normas, regras e valores de funcionamento institucional são estabelecidos. Isso é o que se observa quando o processo de mudança é aceito, pois, do contrário, o que se vê são reações contra as mudanças pretendidas, resultando em maiores ineficiências.

A consolidação do processo de mudança institucional depende, portanto, do aprendizado que os indivíduos que operam nos ambientes institucionais estabelecem com as novas rotinas. Se as mudanças aparecem como eventos constantes na vida de uma instituição, o resultado é uma operacionalidade ineficiente e de certo modo caótica.

É importante ressaltar também o equívoco da crença de que os processos de mudança institucional podem ser fortemente controlados, no sentido de garantir que os objetivos inicialmente estabelecidos sejam plenamente atingidos.

O que se observa empiricamente é que no processo de implementação das mudanças os indivíduos distorcem os objetivos inicialmente planejados, de

maneira a acomodá-los ao core belief dos principais atores envolvidos na mudança (posição na matriz: C, CP).

Atores: EF, EE, LF e LE.

Meios: Legislação que tenha por objetivo o estabelecimento de maior estabilidade para as estruturas institucionais do segmento de C&T, seja o federal seja o estadual.