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MECANISMOS UTILIZADOS PELA OIT NO COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO

TRABALHADOR – O TRABALHO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E O TRABALHO ESCRAVO

2. A melhoria de todos os aspectos de higiene do trabalho e do meio ambiente 3 A prevenção e o tratamento das doenças epidêmicas, endêmicas, profissionais e

2.2.2 MECANISMOS UTILIZADOS PELA OIT NO COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO

não por desconhecimento técnico, mas como artifício para chamar a atenção das pessoas.

No âmbito doméstico há ainda um eficaz mecanismo de combater o trabalho escravo: a chamada "lista suja" do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE.

2.2.2 MECANISMOS UTILIZADOS PELA OIT NO COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO

O problema do trabalho escravo é algo que não pode ser ignorado ou tratado como contingência necessária diante do desenvolvimento econômico. Fingir que nada está acontecendo e esperar que os "tomadores" dos serviços dos trabalhadores escravos se deem conta de que sua conduta é aviltante não é algo plausível. Como já pudemos frisar, a história

não segue necessariamente um rumo progressista, e esta tomada de consciência pode nunca acontecer.

Os dados existem, mas alguns (sobretudo os que concretizam os fins mais escusos do capital) fingem não ver e lutam para esconder a verdade. É por isso que o autor Rafael de Araújo Gomes publicou artigo em que se refere ao "trabalho escravo que alguns preferem não ver", apontando as seguintes incongruências:

Em audiência pública realizada pela Comissão da Agricultura da Câmara dos Deputados no dia 27 de setembro de 2011, convocada para discutir operações de combate ao trabalho escravo, foi dito pelo deputado federal Paulo Cesar Quartieiro: 'Ora, a lei tem que se ajudar à realidade, não a realidade à lei. Eu vivo e convivo na região mais pobre do País... e não vejo trabalho escravo. Nunca vi trabalho escravo' (GOMES, 2012, p. 245)

A manifestação do parlamentar acima parece em descompasso com a realidade, pois "Segundo cálculos da Comissão Pastoral da Terra (CPT), existem no Brasil 25 mil pessoas submetidas às condições análogas ao trabalho escravo" (AMARAL; PORTO, 2006, p. 1). Trata-se de utilização de técnicas parlamentares imorais (principalmente da bancada ruralista que explora este tipo de mão de obra) com objetivo de mascarar a triste realidade do trabalho escravo em nosso país.

O mecanismo básico de combate ao trabalho escravo utilizado pela Organização Internacional do Trabalho é justamente a expedição de atos normativos, além de uma intensa fiscalização dos relatórios emitidos pelos Estados-partes, que também passam pelo crivo da Comissão de Peritos da Organização Internacional do Trabalho, composta por vinte livres juristas de todo o mundo.

Em seguimento à Declaração foi lançado o primeiro relatório global de combate ao trabalho escravo. Tal relatório, para além de uma mera estatística, contém diversas ações realizadas ao redor do mundo aptas a balizar uma atuação conjunta de todo os países membros da OIT.

Este primeiro relatório (lançado na 89ª Reunião da Conferência Internacional do Trabalho, realizada em 2011) foi traduzido para o português com o nome de "NÃO AO TRABALHO FORÇADO" (OIT, 2001).

Na primeira parte, trata de expor as diversas formas de trabalho forçado utilizadas no mundo.

Na segunda parte, mais relevante para os objetivos deste trabalho (Parte II. Assessoria da OIT com vista à eliminação do trabalho forçado e compulsório: experiências até o presente) destacamos o seguinte:

a) "Em 1946, o Conselho de Administração criou uma Comissão de Peritos para levantar as condições de vida e de trabalho de povos indígenas em todo o mundo. Com base no trabalho dessa Comissão, a OIT desenvolveu um amplo e integrado programa de ação sobre as condições de vida e de trabalho dos povos indígenas, combinando pesquisa, produzindo normas e um programa de ação, no qual assumiu papel de liderança" (OIT, 2001, p. 93) b) "Em termos de assistência promocional, significativa realização desse período foi o Programa

Andino dirigido pela OIT. Esse programa começou com a criação de centros de ação na Bolívia, Equador e Peru, em 1954, e foi-se estendendo a outros países andinos no decorrer da década seguinte. Seu principal objetivo era melhorar as condições de vida e de trabalho dos povos indígenas dos Andes, para facilitar sua inclusão na vida econômica, social e política de suas respectivas comunidades nacionais" (OIT, 2001, p. 94). Tal programa só vem a confirmar que, para um efetivo combate à chaga em tela não basta resgatar as pessoas do trabalho escravo, mas é preciso ação enérgica dos poderes públicos e da sociedade para instruir e inserir esses trabalhadores no mercado de trabalho.

c) "A política da OIT com relação a trabalhadores na agricultura e rurais tem três diferentes aspectos. O primeiro diz respeito ao direito de associação, com apelo aos governos para que facilitem a criação de organizações de trabalhadores rurais fortes e independentes. Esse direito aparece quando exercido na forma de ação coletiva para melhorar a situação dos trabalhadores interessados. O segundo aspecto é a extensão, a trabalhadores rurais, de elementos das instituições de proteção social, inclusive a inspeção do trabalho, que estão disponíveis, pelo menos formalmente, para outros trabalhadores. O terceiro aspecto é caracteristicamente de desenvolvimento, com pesquisa e atividades voltadas para cooperativas, posseiros e meeiros e o trabalho de organizações de trabalhadores rurais" (OIT, 2001, p. 94-5)

Mais recentemente tivemos a "Aliança global contra o trabalho forçado - Relatório Global do Seguimento da Declaração da OIT sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho", lançado na 93ª Reunião da Conferência Internacional do Trabalho, realizada em 2005 (OIT, 2005).

Além de todos os efeitos maléficos causados ao próprio trabalhador, não se pode ignorar os efeitos socioeconômicos ocasionados pela manutenção da mão de obra escravista. Há uma plêiade de argumentos que demonstram de que forma este tipo de mão de obra causa problemas à sociedade.

É neste sentido Arnaldo Sussekind (1987, p.), versando sobre os fundamentos do direito internacional, aponta que:

[...]motivos de ordem econômica impõem, inquestionavelmente, a necessidade de ser nivelado, tanto quanto possível, no campo internacional, o custo das medidas sociais da proteção ao trabalho, a fim de que os Estados que as tenham adotado, através de sistemas completos e tutelares, não sofram, por esta razão, no comércio mundial, a indesejável concorrência dos países que obtêm produção mais barata pelo fato de não o onerarem com os encargos de caráter social.

3 AS FUNÇÕES DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO.

Se nos objetiva analisar as funções da Organização Internacional do Trabalho no combate ao trabalho degradante, se nos cumpre o dever de estudar de forma mais aprofundada sua história e organização.

3.1 A ATUAÇÃO DA OIT E O DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – CLASSIFICAÇÃO DIDÁTICA

Em regra, o estudo das características e normas da OIT se dá num ramo da ciência jurídica que passou a ser conhecido como Direito Internacional do Trabalho.

Não sustentamos a existência do Direito Internacional do Trabalho como ramo autônomo dentro da ciência jurídica, em que pese reconheçamos que se avolumam, sobretudo na doutrina alienígena, livros e estudos sobre a matéria (muitos deles encomendados ou incentivados pela própria OIT). O crescimento destas obras, sem dúvidas, projeta para um futuro, talvez não tão remoto, um processo de autonomização do Direito Internacional do Trabalho.

Por enquanto, todavia, o Direito Internacional do Trabalho é compreendido como um capítulo do estudo do Direito Internacional, vez que segue seus paradigmas, e se utiliza de seus métodos e de seu arsenal normativo (a regulamentação internacional do trabalho é feita através de tratados internacionais).

A distinção de Ulpiano, consistente na dicotomia direito público e direito privado (Publicum jus est quod ad statum rei romanae spectat, privatum, quod ad singulorum

utilitatem), no que tange ao Direito Internacional do Trabalho é explicado por Francisco de

Assis Ferreira (1969, p.489-490):

O direito internacional do trabalho pode ser de direito público e de direito privado. É exemplo do primeiro caso a celebração de tratados ou convenções entre Estados regulando condições de trabalho. Trata-se de Direito Internacional Privado do Trabalho quando um indivíduo ou um grupo de trabalhadores qualificados contratam com empregador estrangeiro, deixando sua pátria de origem para exercerem sua atividade em outra nação.