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NOTAS HISTÓRICAS SOBRE A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

TRABALHADOR – O TRABALHO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E O TRABALHO ESCRAVO

3 AS FUNÇÕES DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO.

3.2 NOTAS HISTÓRICAS SOBRE A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

A Organização Internacional do Trabalho foi criada em 1919, como parte do Tratado de Versalhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial (OIT, 2012c). Segundo Süssekind (1987, p.115), "foi criada pelo Tratado de Paz (Tratado de Versalhes), como parte da Sociedade das Nações (art. 6°), da qual recebia a receita destinada ao custeio das atividades empreendidas".

No mesmo sentido, lembrando a relação entre o fim da guerra e a criação da OIT, aponta Francisco de Assis Ferreira (1969, p.493):

Entrosava-se a O.I.T com a Sociedade das Nações, também instituída pelo Tratado de Versalhes, guardando, porém, independência e autonomia. Sua obra de 1919 a 1939 foi

relevantíssima, o que, porém, não impediu de periclitar a sua existência com o desaparecimento da Sociedade das Nações.

Mas quando se instituiu a Organização das Nações Unidas (O.N.U), na Conferência de S. Francisco, em 1945, durante a qual também se ultimou a Carta das Nações Unidas, a delegação da Inglaterra encareceu a necessidade de a O.N.U incumbir-se da ação social respectiva de comum acordo com a Organização Internacional do Trabalho. Tal composição celebrou-se a 30 de maio de 1946, em Nova York, consagrando-se a O.I.T ―‗como um organismo especializado, competente para empreender a ação que considerasse apropriada, de

conformidade com seu instrumento constitutivo básico, para cumprimento dos fins aí consignados‖

Fundou-se sob a convicção primordial de que a paz universal e permanente somente pode estar baseada na justiça social. No tocante à sua estrutura, a OIT inovou o panorama do Direito Internacional Público, em razão da adoção do princípio do tripartismo na composição de seus principais órgãos. A fórmula que congrega representantes governamentais ao lado de membros da sociedade civil, que, por sua vez, representam cada um dos polos das relações laborais: empregados e empregadores31, confere um maior grau de legitimidade à produção normativa dessa instituição (QUEIROZ, 2009).

Dentre os precedentes históricos mais importantes da OIT, consta a primeira Conferência Internacional do Trabalho, ocorrida em 1890, e considerada um marco histórico para todo o direito do trabalho. Nesta reunião, compareceram representantes da França, Alemanha, Áustria, Holanda, Bélgica, Inglaterra, Itália, Dinamarca, Portugal, Suécia, Noruega, Suíça, Espanha e Luxemburgo. ―Houve sugestões para a criação de uma Repartição Internacional para estudos e estatísticas. Na época, Guilherme II solicitou apoio ao Papa Leão XIII, e este, no ano seguinte, promulgaria a Encíclica Rerum Novarum‖. (NASCIMENTO, 2011, p.126)

A OIT é responsável pela formulação e aplicação das normas internacionais do trabalho (convenções, recomendações, resoluções e declarações) As convenções, uma vez ratificadas por decisão soberana de um país, passam a fazer parte de seu ordenamento

31 Sobre o tripartismo, afirma Oris de Oliveira: "o sistema tripartite consiste na participação, em todos os colegiados, de representantes dos trabalhadores e dos empregadores em pé de igualdade com os representantes dos governos. O tripartismo dá à OIT um caráter que a distingue dos demais organismos internacionais integrantes das Nações Unidas (OLIVEIRA, 1994, p. 40)

jurídico32. O Brasil está entre os membros fundadores da OIT e participa da Conferência Internacional do Trabalho33 desde sua primeira reunião. Na primeira Conferência Internacional do Trabalho, realizada em 1919, a OIT adotou seis convenções (ALVARENGA, [s.d.]).

A primeira delas respondia a uma das principais reivindicações do movimento sindical e operário do final do século XIX e começo do século XX: a limitação da jornada de trabalho a 8 diárias e 48 semanais. As outras convenções adotadas nessa ocasião referem-se à proteção à maternidade, à luta contra o desemprego, à definição da idade mínima de 14 anos para o trabalho na indústria e à proibição do trabalho noturno de mulheres e menores de 18 anos. Albert Thomas (francês) tornou-se o primeiro Diretor-Geral da OIT e presidiu o organismo até 1932 (OIT, 2012c).

A criação de uma organização internacional para as questões do trabalho baseou-se em argumentos (PORTO ALEGRE, [s.d.]):

a) humanitários: condições injustas, difíceis e degradantes de muitos trabalhadores, • políticos: risco de conflitos sociais ameaçando a paz, e

b) econômicos: países que não adotassem condições humanas de trabalho seriam um obstáculo para a obtenção de melhores condições em outros países.

Em 1926, a Conferência Internacional do Trabalho introduziu uma inovação importante com vistas a supervisionar a aplicação das normas. Criou uma Comissão de Peritos, composta por juristas independentes, encarregada de examinar os relatórios enviados

32 Na verdade, a solução depende das disposições internas do direito constitucional de cada país, como vimos ao estudar os tratados internacionais. O mais frequente é a necessidade de ratificação. A OIT não e um parlamento internacional ou uma organização supranacional com total força de determinação sobre os Estados- membros. Aproxima-se mais de uma conferência diplomática em matéria de direito do trabalho, e, nessas condições, do assentimento dos participantes depende a força das suas decisões. (NASCIMENTO, 2011, p. 136- 137).Ratificação é o ato formal de um Estado-membro da OIT pelo qual decide adotar uma convenção internacional incorporando-a ao seu direito interno. Os Estados não são obrigados a ratificar as convenções. No entanto, precisam submetê-las às autoridades competentes no prazo de um ano ou, excepcionalmente, em dezoito meses. O processo de ratificação é variável, dependendo das normas constitucionais particulares. O instrumento de ratificação deve ser comunicado ao Diretor- -Geral da Repartição Internacional do Trabalho (RIT), que a transmitirá ao Secretário-Geral da ONU. A partir da ratificação, o Estado deve determinar todas as medidas necessárias ao fiel cumprimento das disposições contidas na convenção. (NASCIMENTO, 2011, p. 137).Scelle sustenta que uma convenção ratificada derroga todas as leis contrárias e inclusive a Constituição de um país, posição considerada extremada por Bayon Chacón e Pérez Botija. A Corte de Cassação da França, em aresto de 28 de março de 1962, proclama a primazia da convenção sobre a lei interna francesa, mesmo posterior. Pensamos que o princípio da hierarquia é o da predominância da norma favorável. Assim, uma convenção internacional favorável ao trabalhador preferirá à lei interna. Se, no entanto, as disposições desta forem mais benéficas, a convenção não prevalecerá. (NASCIMENTO, 2011, p. 137).

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A OIT realiza anualmente (todo mês de junho) a Conferência Internacional do Trabalho que funciona como uma Assembleia Geral. Cada Estado-Membro tem direito a enviar quatro delegados à Conferência, acompanhados por conselheiros técnicos: dois representantes do governo, um dos trabalhadores e um dos empregadores, todos com direito a voto independente. Nestas conferências internacionais é que se originam as convenções, recomendações e resoluções que tratam das relações do trabalho. Disponível em: http://www.guiatrabalhista.com.br/guia/oit.htm. Acesso em: 03/08/2012

pelos governos sobre a aplicação de Convenções por eles ratificadas (as "memórias"). A cada ano, esta Comissão apresenta seu próprio relatório à Conferência. Desde então, seu mandato foi ampliado para incluir memórias sobre convenções e recomendações não ratificadas (OIT, 2012c).

Em 1932, depois de haver assegurado uma forte presença da OIT no mundo durante 13 anos, Albert Thomas faleceu. Seu sucessor, Harold Butler, teve que enfrentar o problema do desemprego em massa, produto da Grande Depressão. Nesse contexto, as convenções já adotadas pela OIT ofereciam um mínimo de proteção aos desempregados. Durante seus primeiros quarenta anos de existência, a Organização Internacional do Trabalho concentrou a maior parte de suas energias a desenvolver normas internacionais do trabalho e a garantir sua aplicação, através da fiscalização dos relatórios. Entre 1919 e 1939 foram adotadas 67 convenções e 66 recomendações. A eclosão da Segunda Guerra Mundial interrompeu temporariamente esse processo (OIT, 2012c).

Em agosto de 1940, a localização da Suíça, no coração de uma Europa em guerra, levou o novo Diretor-Geral, John Winant, a mudar temporariamente a sede da Organização de Genebra para Montreal, no Canadá (OIT, 2012c).

Em 1944, à luz dos efeitos da Grande Depressão a da Segunda Guerra Mundial, a Organização Internacional do Trabalho adotou a Declaração da Filadélfia como anexo da sua Constituição. A Declaração antecipou e serviu de modelo para a Carta das Nações Unidas e para a Declaração Universal dos Direitos Humanos (OIT, 2012c), pondo-se a OIT, outra vez, na vanguarda do movimento de internacionalização dos direitos humanos (junto com a Liga das Nações e com a ideia de direito humanitário, flexibilizando as bordas da até então absoluta soberania estatal).

Cita-se, a seguir, um trecho do referido documento, em seu preâmbulo:

[...]considerando que existem condições de trabalho que implicam, para grande número Considerando que só se pode fundar uma paz universal e duradoura com base na justiça social; Considerando que existem condições de trabalho que implicam, para grande parte das pessoas, a injustiça, a miséria e as privações, o que gera um descontentamento tal que a paz e a harmonia universais são postas em risco, e considerando que é urgente melhorar essas condições: por exemplo, relativamente à regulamentação das horas de trabalho, à fixação de uma duração máxima do dia e da semana de trabalho, ao recrutamento da mão-de-obra, à luta contra o desemprego, à garantia de um salário que assegure condições de subsistência adequadas, à protecção dos trabalhadores contra doenças gerais ou profissionais e contra acidentes de trabalho, à protecção das crianças, dos jovens e das mulheres, às pensões de velhice e de invalidez, à defesa dos interesses dos trabalhadores no estrangeiro, à afirmação do princípio "a trabalho igual, salário igual", à afirmação do princípio da liberdade sindical, à organização do ensino profissional e técnico e outras medidas análogas; Considerando que a não adopção, por parte de qualquer

nação, de um regime de trabalho realmente humano se torna um obstáculo aos esforços de outras nações empenhadas em melhorar o futuro dos trabalhadores nos seus próprios países; As Altas Partes Contratantes, movidas por sentimentos de justiça e de humanidade, assim como pelo desejo de assegurar uma paz mundial duradoura, e tendo em vista alcançar os objetivos enunciados neste preâmbulo, aprovam a presente Constituição da Organização Internacional do Trabalho [...] (SILVA, [s.d.], p.3-4)34

No final da Segunda Grande Guerra, nasce a Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de manter a paz através do diálogo entre as nações. A Organização Internacional do Trabalho, em 1946, se transforma em sua primeira agência especializada35 (OIT, 2012c).

Em 1969, em seu 50º aniversário, a Organização foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz. Em seu discurso, o presidente do Comitê do Prêmio Nobel afirmou que a OIT era "uma das raras criações institucionais das quais a raça humana podia orgulhar-se" (OIT, 2012c).

A OIT desempenhou um papel importante na definição das legislações trabalhistas e na elaboração de políticas econômicas, sociais e trabalhistas durante boa parte do século XX (OIT, 2012c).

Em 1998, após o fim da Guerra Fria, foi adotada a Declaração da OIT sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho e seu Seguimento. O documento é uma reafirmação universal da obrigação de respeitar, promover e tornar realidade os princípios refletidos nas Convenções fundamentais da OIT, ainda que não tenham sido ratificados pelos Estados Membros (PORTO ALEGRE, [s.d.]). Assim sendo, mesmo os Estados que não tenham ratificado as Convenções são obrigados a cumprir os princípios da referida

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O texto original da Constituição, estabelecido em 1919, foi modificado pelos seguintes instrumentos: pela emenda de 1922, em vigor a 4 de Junho de 1934; pelo Auto de emenda de 1945, em vigor a 26 de Setembro de 1946; pelo Auto de emenda de 1946, em vigor a 20 de Abril de 1948; pelo Auto de emenda de 1953, em vigor a 20 de Maio de 1954; pelo Auto da emenda de 1962, em vigor a 22 de Maio de 1963 e pelo Auto de emenda de 1972, em vigor a 1 de Novembro de 1974. Fonte: Trecho da Constituição da O.I.T. obtida no sítio: www.ilo.org . Acesso em: 01/08/2012.

35 Sobre o processo de incorporação da Organização Internacional do Trabalho como agencia especializada da ONU, apontam MORAES FILHO e MORAES (2000, p. 215-216): ―Terminada a Segunda Guerra Mundial, desapareceu a Sociedade das Nações, surgindo em seu lugar a Organização das Nações Unidas, cuja redação de projeto se deu na Conferência de Dumbarton Oaks em 1944. Criou-se aí o Conselho Econômico e Social, como parte sua importante. Convocou a OIT a XXVI Conferência Internacional, realizada na cidade de Filadélfia, das mais significativas da sua história, pois dela saiu uma declaração de princípios, somando aos seus clássicos de 1919 mais os adotados na Carta de Atlântico de 1941. Estabeleceu-se aí que ‗todos os seres humanos, sem distinção de raça, crença ou sexo, têm o direito a procurar seu bem-estar material e seu desenvolvimento espiritual em condições de liberdade e dignidade, de segurança econômica e em igualdade de oportunidades. (...) Na Conferência de São Francisco, de junho de 1945, foi proposta pelos delegados ingleses a manutenção da OIT, com a sua composição tripartida e suas finalidades. Após longos debates e alguma oposição, redigiu-se o art. 57, permitindo a sua sobrevivência com organismo especializado ao lado da ONU. Na XXVIII Conferência, realizada em novembro de 1945, em Paris, nomeou-se uma comissão para redigir a nova Constituição da OIT e resolveu-se aprovar a expressa colaboração com a ONU. Entrou em vigor a nova Constituição de 26 de setembro de 1946, com modificações posteriores. O que importa, no entanto, é que a 30 de maio de 1946 foi firmado o acordo entre as duas entidades internacionais‖

Declaração pelo simples fato de serem Estados-partes na Organização Internacional do Trabalho.

Desde 1999, a OIT trabalha pela manutenção de seus valores e objetivos em prol de uma agenda social que viabilize a continuidade do processo de globalização através de um equilíbrio entre objetivos de eficiência econômica e de equidade social (ALMEIDA, 2012).

Em junho de 2008, durante a 97ª Sessão da Conferência Internacional do Trabalho, que se realiza anualmente em Genebra, representantes de governos, empregadores e trabalhadores, adotaram um dos mais importantes documentos da OIT: a Declaração sobre Justiça Social para uma Globalização Equitativa36. O documento corresponde a uma das primeiras manifestações de um organismo internacional com preocupações sobre o mundo globalizado e a grave crise financeira internacional que iria eclodir a partir de setembro de 2008 (OIT, 2012c), ocasionada pela crise do subprime, através de um processo de especulação econômica.

É importante assinalar que já existia uma crise do emprego antes da eclosão da crise econômica e financeira internacional. Essa crise se manifestava, entre outros indicadores, na existência de 195 milhões de desempregados no mundo e no fato de que 40% das pessoas que estavam ocupadas (cerca de 1,4 bilhões de pessoas) ganhava menos de 2 dólares por dia (situando-se, portanto, abaixo da linha da pobreza) e 20% delas ganhava menos de um dólar ao dia (portanto, abaixo da linha da extrema pobreza). Além disso, oito em cada dez pessoas não tinha acesso aos regimes de previdência social, estando desamparados em caso de doenças ou velhice. (OIT, 2007 apud OIT, 2012c).

Essa situação era resultado de um processo de globalização injusto e inequitativo, tal como assinalado desde 2004 pela Comissão Mundial sobre a Dimensão Social da Globalização, reunida no âmbito da Organização Internacional do Trabalho, e que caracterizou essas desigualdades globais como "inaceitáveis do ponto de vista moral e insustentáveis do ponto de vista político" (OIT, 2005 apud OIT, 2012c). É preciso adequar o desenvolvimento econômico a uma política de proteção dos direitos humanos, garantindo-se o chamado piso social mínimo.

A crise foi precedida por um desequilíbrio crescente nos rumos da globalização, que se manifestou, em particular, em uma distribuição muito desigual dos seus benefícios (entre os países e no seu interior) e no aumento das desigualdades de renda, que caracterizou a

36 É a terceira declaração da OIT em 89 anos, aprovada por consenso depois de debates preliminares com duração de cerca de um ano entre os 183 países membros. Segundo o diretor-geral da OIT, Juan Somavia, as demandas do mercado estão mudando, e esta declaração mostra nossos esforços para gerar respostas através da Agenda de Trabalho Decente.

realidade da maioria dos países, mesmo durante os anos de prosperidade econômica (primeiros anos da década de 2000) (OIT, 2012c).

Segundo a OIT, o Brasil registrou avanços significativos em diversas áreas do trabalho decente nos anos recentes, mas ainda persistem inúmeros desafios. É o que constata o relatório "Perfil do Trabalho Decente no Brasil - Um Olhar sobre as Unidades da Federação", divulgado pelo Escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil. O relatório constitui a segunda edição do Perfil do Trabalho Decente no Brasil. Ele se refere, predominantemente, à segunda metade dos anos 2000, mas inclui também diversos indicadores para os anos de 2010 e 2011 (OIT, 2012b). É um relatório recente que demonstra que muito ainda falta para que o trabalho decente seja garantido a todos os brasileiros e brasileiras.

Apesar da crise financeira internacional, o Brasil manteve a trajetória de declínio da taxa de desemprego (OIT, 2012b), o que demonstra que a estabilidade econômica atingida em âmbito doméstico fez com que o Brasil sofresse com menos intensidade os efeitos da crise econômica.

A taxa de desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do país, medida pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, que tinha alcançado 9,0% em março de 2009, em decorrência da crise econômica internacional, começou a recuar em abril e continuou diminuindo fortemente ao longo de 2009, atingindo 6,8% em dezembro e encerrando o ano com uma taxa média de 8,4% - ainda num patamar superior ao observado em 2008 (7,2%). Embora a taxa tenha subido outra vez no início de 2010, - uma vez que mais pessoas entraram no mercado de trabalho em busca de emprego - já em setembro de 2010 ela havia caído para 6,2%, bem abaixo do nível pré-crise (7,6% em setembro de 2008, aferido pela Pesquisa Mensal de Emprego - PME), encerrando-se 2010 com uma taxa média anual de 6,7%, a menor do período 2003/2010. Em 2011, essa trajetória foi mantida, a taxa declinou para 6,0% (OIT, 2012b).

A Organização Internacional do Trabalho desenvolveu uma agenda para auxiliar os programas de busca por trabalho decente, conforme se pode observar deste trecho extraído do próprio endereço eletrônico da organização (na versão de língua inglesa)37:

A OIT desenvolveu uma agenda para a comunidade de trabalho. Ele fornece suporte através de integração de Programas de Trabalho Digno em cada país, desenvolvidos em coordenação com seus constituintes. Colocar em prática a Agenda do Trabalho

37 Disponível em ―http://www.ilo.org/global/about-the-ilo/decent-work-agenda/lang—en/index.htm‖. Acesso em 14 jan 2013.

Decente em prática depende da implementação dos quatro objetivos estratégicos da OIT, com a igualdade de gênero como um objetivo transversal:

Criação de empregos - uma economia que gera oportunidades de investimento, empreendedorismo, desenvolvimento de competências, criação de empregos e meios de vida sustentáveis.

Garantia de Direitos no trabalho - para obter o reconhecimento e respeito pelos direitos dos trabalhadores. Todos os trabalhadores, e em especial os trabalhadores desfavorecidos ou pobres, precisam de representação, participação, e as leis que funcionem para os seus interesses.

A extensão da proteção social - para promover a inclusão e produtividade, garantindo que as mulheres e homens desfrutam de condições de trabalho que sejam seguras, permitam tempo livre e descanso adequado, tenham em conta a família e os valores sociais, forneçam uma compensação adequada em caso de perda de renda ou redução e permitam o acesso a cuidados de saúde adequados.

Promoção do diálogo social - Envolver os trabalhadores fortes e independentes e os empregadores é essencial para aumentar a produtividade, evitando conflitos no trabalho, e construindo sociedades coesas. (tradução livre)

Em relação ao combate ao trabalho infantil, tem sido notória a atuação da OIT. O empenho da organização tem sido essencial, no Brasil, para a prevenção e eliminação do trabalho infantil, como se observa do seguinte excerto:

O carro chefe das ações do governo brasileiro para prevenir e eliminar o trabalho infantil é o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), criado em 1996, numa ação conjunta de governo federal com governos estaduais, entidades da sociedade civil e apoio institucional da OIT e do Unicef, bem como das prefeituras municipais. De lá pra cá, ele sofreu uma série de transformações e hoje está integrado ao Programa Bolsa Família, política de assistência social do Governo Federal, no contexto do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e ligado ao Ministério do Desenvolvimento Social.

É importante frisar que, conforme exposto no trecho acima, a integração do PETI ao sistema do Programa Bolsa Família, reitera o que já pusemos no sentido de que o combate ao trabalho infantil se faz, necessariamente também, através de programas voltados para a família e não só para a criança. Essa integração, aliás, em tese, visa prevenir que ocorra a situação dantes relatada em que uma criança que, sendo arrimo de família, ao ser retirada do mundo do trabalho, possa comprometer a única fonte de renda daquela família. Através do bolsa família, portanto, os pais podem dar educação ao filho sem que sua renda fique comprometida, já que vão estar recebendo do Estado um benefício assistencial.