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CAPÍTULO II. O PRECONCEITO SEXUAL

2.5. Medidas de Preconceito Sexual

Com o intuito de conhecer os instrumentos disponíveis para mensuração do preconceito frente a homossexuais, nesta perspectiva, realizaram-se buscas em bases de dados nacionais e internacionais. No âmbito internacional, realizou-se busca, no dia 06 de março de 2015, na base de dados PsycInfo. No caso, foram introduzidos os termos “sexual prejudice” e “Scale” foram encontrados 199 registros, incluindo artigos, capítulos de livro, livros e teses. Destes registros somente sete estudos tratavam propriamente do desenvolvimento de escalas que tivessem em conta o referido construto.

Quanto à busca no contexto nacional na data indicada, consideraram-se quatro bases de dados (IndexPsi, PePSIC, SciELO e LILACS) vinculadas à Biblioteca Virtual em Saúde (BVSPsi). Entrando com os descritores em língua portuguesa, “preconceito

sexual” + “escala”, oito registros foram encontrados. Contudo, considerando o Scholar Google, entrando com os mesmos descritores, dez registros foram encontrados. Do

total, apenas dois estudos tratavam de instrumentos relacionados ao referido construto. Nesse sentido, considerando os resultados acima mencionados, são apresentadas a seguir as principais medidas atitudinais deste construto presentes na literatura.

Em relação ao contexto internacional, Hill e Willoughby (2005) desenvolveram a Escala de Transfobia e Diversidade de Identidades de Gênero (Genderism and

Transphobia Scale - GTS). Este instrumento é formado por 32 itens com o objetivo de

mensurar preconceito e discriminação frente à população “T” (Transexuais, Travestis e Transgêneros). Tal medida é dividida em duas subescalas, a primeira, acerca da

Transfobia, é composta por 25 itens que avaliam atitudes gerais frente a pessoas “T”, por exemplo, Item 07. “Homens que se travestem por prazer sexual me enojam”. A segunda subsescala, Violência Frente à Diversidade de Identidades de Gênero, é composta por sete itens que mensuram atitudes violentas em relação a contexto de diversidade das identidades de gênero, por exemplo, Item 01. “Tenho que espancar

homens que agem como gays afeminados”. Este instrumento é respondido em uma escala tipo likert de 7 pontos (variando de 1 = Discordo plenamente a 7 = Concordo

plenamente). Os resultados apontam que esta medida reúne evidências de validade e

precisão, Transfobia (α = 0,95) Violência Frente à Diversidade de Identidades de

Gênero (α = 0,87).

Outra medida a ser destacada, nesta seção é a Escala de Transfobia de Nagoshi et al. (2008) (The Transphobia Scale – TS) composta por 12 itens que mensuram o preconceito contra pessoas transsexuais, por exemplo, Item 05. “Evito na rua pessoas

cujo sexo não é claro pra mim”. Os participantes avaliaram cada item em uma escala tipo Likert de 7 pontos variando de 1 = Discordo totalmente a 7 = Concordo

totalmente com altos escores indicando atitudes mais negativas frente às pessoas trans.

Os resultados encontrados por Nagoshi et al. (2008) indicaram alta consistência interna (α = 0,82), bem como validades de construto, convergente e discriminante.

Costa et al. (2014) desenvolveram a Escala de Atitudes frente aos Direitos Civis de Gays e Lésbicas (The Attitudes Toward Gay and Lesbian Civil Rights Scale). Tal

estudo objetivou investigar as atitudes de estudantes universitários frente à adoção por pessoas do mesmo sexo, bem como em relação aos direitos de gays e lésbicas. Considerando a estrutura unifatorial, abrangendo os oito itens, esta explicou 45% da variância total, apresentando índice de consistência adequado (α = 0,77). As saturações variaram de 0,55 (Item 08. Eu acho que o orgulho gay não faz sentido porque não há

nenhum orgulho heterossexual) a 0,91 (Item 03. Hoje em dia, os homossexuais têm os mesmos direitos que os heterossexuais).

Outra medida a ser salientada é a Escala Moderna de Homonegatividade, desenvolvida e validada por Morrison e Morrison (2002). Tal instrumento mensura o preconceito moderno frente a gays e lésbicas. Segundo os autores, tal construto é definido como uma forma mais sutil de preconceito. O instrumento consiste em duas subescalas equivalentes. A primeira tem como objeto atitudinal as lésbicas, composta por 12 itens, como por exemplo, Item 08. “Se as lésbicas desejam ser tratados como

todos os outros, eles precisam parar de fazer uma confusão sobre a sua sexualidade/cultura”. A segunda tem como objeto os gays, também formado por 12 itens, como por exemplo, Item 16. “Se os gays desejam ser tratados como todos os outros, eles precisam parar de fazer uma confusão sobre a sua sexualidade/cultura”.

Os sujeitos respondem a medida em uma escala tipo Likert de 5 pontos variando 1 =

Discordo totalmente a 5 = Concordo totalmente. A medida ainda apresentou adequada

consistência interna (α = 0,85 e 0,91, respectivamente), bem como, validades de construto, convergente e discriminante. Na direção contrária da medida anteriormente descrita, Morrison e Bearden (2007), desenvolveram um instrumento de mensuração dos estereótipos positivos sobre homens gays (Homopositivity Scale - HPS). As duas versões propostas da medida apresentaram evidências de validade fatorial e precisão, segundo seus proponentes. Tal estudo sugere o diferencial desta medida em relação a

outros instrumentos que avaliam os estereótipos negativos e preconceitos frente a homossexuais.

A Escala de Atitudes frente a Gays e Lésbicas (Attitudes Toward Lesbians and

Gay Men – ATLG), desenvolvida por Herek (1984; 1988) é composta por 20 itens consistindo em uma medida geral sobre atitudes frente a gays e lésbicas. O instrumento consiste em 10 itens sobre gays (Item 03. O comportamento homossexual entre dois

homens é simplesmente errado) e 10 sobre lésbicas (Item 13. Homossexualidade feminina é um pecado). No estudo de Herek (1988), os resultados indicaram elevada

consistência interna para a escala total (α = 0,95), assim como para a subescalas dos gays (α = 0,91) e das lésbicas (α = 0,90). A estrutura final de tal medida consiste em uma medida unifatorial (reprovação / tolerância em relação à homossexualidade): atitudes frente à lésbicas e gays não emergiram enquanto fatores distintos. Nesse sentido, tais achados corroboram a validade de construto da referida medida.

A Escala Multidimensional de Preconceito Sexual (Multidimensional Measure of

Sexual Prejudice - MMSP) foi desenvolvida por Massey (2009) no contexto

estadunidense, sendo composta por 70 itens respondidos em uma escala de sete pontos, sendo 1 = Discorda totalmente e 7 = Concordo totalmente. Tais itens são oriundos de diversas escalas existentes na literatura acerca do construto em questão. Os resultados apontaram que o modelo com sete dimensões mostrou-se adequado (χ² (2058) = 7925,73, p < 0,001, χ²/gl= 3,85, (CFI = 0,94, TLI =0,95; RMSEA = 0,07). Por fim, a MMPS apresentou evidências de validade e precisão. A estrutura heptafatorial consistiu nas seguintes dimensões: Heterosexismo tradicional (α = 0,95), Negação contínua da discriminação (α = 0,83), Aversão frente a gays (α = 0,90), Aversão frente a lésbicas (α = 0,88), valorização da causa gay (α = 0,94), Resistência à Heteronormatividade (α = 0,90) e Crenças positivas frente a gays e lésbicas(α = 0,86).

Já no que tange ao contexto brasileiro, Marinho et al. (2004), objetivaram verificar se o preconceito de estudantes universitários frente a homossexuais também se apresenta nas formas explícita e implícita, bem como, adaptar a medida de homofobia, proposta por Castillo e cols. (2003) para o Brasil e verificar a existência de diferenças de gênero com relação a este construto. Tal instrumento é formado por 17 itens, que devem ser respondidos em uma escala tipo Likert de sete pontos (1= Discordo

Totalmente e 7= Concordo totalmente). Em relação à investigação dos parâmetros

psicrométricos da medida citada, contou-se com a participação de 231 estudantes universitários e chegou-se a uma estrutura bifatorial explicando 59,2% da variância total. Ambos os componentes apresentaram índices de consistência interna aceitáveis, homofobia explícita (α = 0,79) e homofobia implícita (α = 0,74). Em seguida, buscou comprovar a estrutura fatorial do referido instrumento por meio de AFC. Os resultados corroboram essa estrutura (χ2/gl foi de 1,96, com um GFI de 0,90, um AGFI de 0,86 e o

RMR de 0,22).

No estudo de Gouveia et al. (2011), o objetivo principal consistiu na adaptação da Escala de Motivações Interna e Externa para Responder sem Preconceito, considerando as versões em relação a dois grupos minoritários-alvos: gays (MEIG) e lésbicas (MEIL). O referido instrumento é composto por dez itens equitativamente em dois fatores: motivação externa e motivação interna. Estes itens avaliam em que medida as pessoas dão respostas não preconceituosas em relação a exogrupos, neste caso, gays e lésbicas; sendo respondidas em uma escala de nove pontos (variando de 1= Discordo totalmente a 9 = Concordo totalmente). Em relação à MEIG, o modelo bifatorial, com quatro itens em cada fator mostrou-se o mais adequado (χ² (18) = 28,34, p< 0,05, χ²/gl= 1,57, GFI = 0,97, AGFI = 0,94, CFI = 0,98, RMSEA = 0,050 (IC90% = 0,000 - 0,083) e Pclose = 0,468). Quanto à MEIL, de igual modo, o modelo bifatorial com quatro itens igualmente

distribuídos em cada fator mostrou-se o mais satisfatório (χ² (18) = 43,34, p< 0,05; χ²/gl= 2,41; GFI = 0,95; AGFI = 0,90; CFI = 0,95, RMSEA = 0,084 (IC90% = 0,052 – 0,116) e Pclose = 0,041).

Em resumo, diante dos achados das buscas realizadas nesta oportunidade, parece evidente o interesse da comunidade científica acerca desta temática e o esforço em empreender estudos que intentem o desenvolvimento medidas psicométricas adequadas para dimensionar o preconceito sexual. Não obstante, é importante destacar que dentre o conjunto de medidas previamente apresentadas, a proposta de Massey (2009) é potencialmente merecedora de destaque entre as demais, dada a natureza do construto em questão, que como já apontado neste capítulo. Neste sentido, em função da forma diferenciada com que se apresenta, possuindo variadas configurações e origens próprias, este construto é, portanto, considerado polimorfo (Polymorphous Prejudice). Sendo assim, a proposta de mensuração multidimensional desenvolvida por Massey (2009), constitui-se como mais apropriada para o contexto em que se desenvolve esta pesquisa.

Feitas estas considerações, a seguir apresenta-se o último capítulo que compõe o marco teórico desta tese. Na seção a seguir, são apresentados os principais modelos teóricos acerca do estudo dos valores humanos no âmbito da Psicologia Social, tecendo considerações que justificam adotar o modelo proposto pela Teoria Funcionalista dos Valores Humanos na presente oportunidade.