• Nenhum resultado encontrado

Panorama mundial da legitimação de direitos homossexuais

CAPÍTULO I. CONJUGALIDADE E PARENTALIDADE POR ADOÇÃO NO

1.1. Algumas considerações acerca da homossexualidade

1.1.1. Panorama mundial da legitimação de direitos homossexuais

Segundo o levantamento de dados sobre o reconhecimento dos direitos homossexuais, no que diz respeito à união entre pessoas do mesmo sexo, adoção homoparental, leis anti-discriminação e penalização por práticas homossexuais, realizado pela International Lesbian Gay Bisexual Trans and Intersex Association (ILGA) em 2014, 32 países reconhecem uniões entre pessoas do mesmo sexo, 15 possuem aparato jurídico que legitima a adoção homoparental e 70 países ao redor do mundo possuem leis anti-discriminação com base na orientação sexual.

Não obstante, ainda segundo o mesmo levantamento, em sete países do mundo a homossexualidade é punida com pena de morte, em 78 é previsto por lei o aprisionamento por práticas homossexuais – com penas que variam de 14 anos de reclusão à prisão perpétua, e ainda prisão sem indicação de duração ou banimento, como pode ser visualizado no mapa mundial de direitos de lésbicas e gays, na Figura 1, abaixo.

Figura 1. Mapa Mundial de direitos de lésbicas e gays tangentes a penalização, anti-discriminação da homossexualidade, união/casamento entre pessoas do mesmo sexo e adoção homoparental (ILGA, 2014). Fonte: http://old.ilga.org/Statehomophobia/ILGA_Map_2

Quanto ao reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo, em alguns países a legislação não é equivalente a dos casais heterossexuais, sendo destinada apenas uma parcela desses direitos à comunidade homossexual. Os países que dispõe de um estatuto que regulamenta o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo são: Holanda (2001), Bélgica (2003), Canadá (2005), Espanha (2005), África do Sul (2006), Noruega (2009), Suécia (2009), Islândia (2010), Portugal (2010), Argentina (2010) Dinamarca (2012), Nova Zelândia (2013), Uruguai (2013) e França (2014). Além destes, há ainda os países que possuem estatutos diversos para a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Nos Estados Unidos, por exemplo, alguns estados aprovaram o reconhecimento da união homossexual, tais como: Massachusetts (2004); Connecticut (2008); Iowa e Vemont (2009); Distrito de Columbia e New Hampshire (2010); Nova Iorque (2011); Maine e Washington (2012); Califórnia, Delaware, Illinois, Havaí, Maryland, Minnesota, Nova Jersey, Novo México e Rhode Island (2013). O mesmo ocorreu no Reino Unido: Inglaterra e País de Gales (2013); Escócia (2014) também possuem legislação específica para tratar do assunto (ILGA, 2014).

Há ainda, alguns países que parcialmente garantem o reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo. O Brasil encontra-se dentre esses países, desde 2011, quando legitimou sob o regime de união estável a união entre pessoas do mesmo sexo, tendo sido a primeira vez que o judiciário brasileiro se manifestou quanto ao tema. A aprovação desse dispositivo jurídico por unanimidade de votos, em uma decisão histórica, marca na história do país o reconhecimento dos casais homoafetivos como entidade familiar (Pereira et al., 2013). Desde a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), casais homossexuais também têm conseguido, por meio de pedidos judiciais, acesso ao casamento civil, apesar de não existir na legislação brasileira uma lei que

tipifique tais arranjos conjugais sob o regime de casamento civil, como é o caso de outros países da América Latina, como Argentina e Uruguai.

No que diz respeito à adoção homoparental, assim como em relação à união entre pessoas do mesmo sexo, esta também possui estatutos jurídicos que variam de país para país. Dentre os países que legalizaram a adoção de crianças por casais homossexuais, podem ser listados, a Holanda (2001), África do Sul (2002), Suécia (2003), Espanha (2005), Andorra (2005), Inglaterra (2005), País de Gales (2005), Bélgica (2006), Islândia (2006), Israel (2008), Noruega (2009), Escócia (2009), Uruguai (2009), Dinamarca (2010) e Argentina (2010). Nestes países, na forma de lei, é permitida a adoção por parte de casais homossexuais sem quaisquer restrições. Em outros países, como Austrália, Canadá, Estados Unidos e França as leis sobre adoção variam de jurisdição para jurisdição, possuindo, entretanto, uma quantidade considerável de estados que permitem a adoção homoparental. No caso do México, apenas a Cidade do México permite por lei o direito ao casamento e adoção por casais homossexuais (ILGA, 2014).

No Brasil, Segundo Cecílio, Scorsolini-Comin e Santos (2013), como a adoção por casais homossexuais ainda não era regulamentada na forma de lei, muitos decidiam pela “guarda única” da criança, constituindo arranjos de monoparentalidades, onde posteriormente ao processo adotivo, a criança passa então, a ser criada numa família homoparental. Ressalta-se, todavia que, assim como em relação à união homossexual, existem casos ocorridos no país, segundo os mesmos autores, para os quais foi concedida a adoção homoparental legitimada por processos judiciais.

É importante destacar que para que seja deferida a adoção homoparental (conjuntamente pelos pares adotantes), segundo, Scorsolini-Comin e Cecílio (2012) é primordial que os adotantes sejam casados legalmente, ou ainda que mantenham união

estável comprovada, atestando a estabilidade familiar. Nesse sentido, ainda segundo os mesmos autores, a extensão do reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo em 2011 pode ser considerada o pontapé inicial para uma possível regulamentação jurídica da adoção homoparental no Brasil.

E é exatamente isso que vem acontecendo no contexto brasileiro. Segundo Brasileiro (2014) uma nova cultura de adoção já vinha sendo impulsionada no âmbito nacional a partir da entrada em vigor da Lei de nº 12.010/09, conhecida como a Nova Lei da Adoção. Com ela, buscou-se maior eficiência nos processos de adoção, a partir de uma curiosa mudança de perspectiva: ao contrário do que ocorria, o foco do processo de adoção passa a direcionar-se para a busca de uma família para uma criança, e não mais de uma criança para uma família. Por esse novo prisma, ressalta a autora, tem-se promovido o incentivo de outras modalidades de adoções, tais como adoção tardia, transracial, de crianças com deficiência e grupos de irmãos, as quais sinalizam no Brasil um potencial contexto de favorabilidade em relação à constituição parental e à filiação adotiva.

Neste sentido, o mesmo prognóstico que se estabelecia em relação aos novos arranjos parentais supracitados, recentemente contemplou, também, a filiação adotiva homoparental no contexto brasileiro. Concretizado, sobretudo, devido a ação do judiciário que tem se mostrado bastante implicado com o reconhecimento dos direitos das minorias sexuais no Brasil. Tanto que em 2011, legitimou a união estável entre pessoas do mesmo sexo e em 5 de março de 2015, garantiu o direito à adoção e o reconhecimento de entidade familiar aos casais homossexuais (JusBrasil, 2015).

O discurso da ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF) a respeito da adoção homoparental, ilustra bem o quão implicado o judiciário brasileiro tem se mostrado em relação aos direitos homossexuais no país: "O conceito contrário

implicaria forçar o nosso Magno Texto a incorrer, ele mesmo, em discurso indisfarçavelmente preconceituoso ou homofóbico”, afirmou a ministra. Ainda segundo a ministra, “a isonomia entre casais heteroafetivos e pares homoafetivos somente ganha plenitude de sentido se desembocar no igual direito subjetivo à formação de uma autonomizada família” (JusBrasil, 2015).

A respeito das leis anti-discrminação, 70 países dispõe de legislação específica que proíbe a discriminação com base na orientação sexual. Contudo, o Brasil não se insere neste conjunto, embora um ensaio tenha sido levado a cabo a partir do Projeto de Lei na Câmara 122/06, que advoga a criminalização da homofobia no país. No entanto, segundo Perón (2015), após quase dez anos no Senado Federal, quando estava pronto para ser votado na Comissão de Direitos Humanos (CDH) passou a ser tramitado em conjunto com outras matérias no novo Código Penal. Contudo, a relatoria da Comissão de Constituição e Justiça recomendou que a matéria voltasse a tramitar de forma independente. Isso automaticamente fará com que o PLC 122 seja excluído da pauta, em função dos dispositivos regimentais, segundo os quais, as propostas que tramitam há mais de duas legislaturas, como é o caso da PLC 122, devem obrigatoriamente ser arquivadas. Enquanto isso, o Brasil ainda lidera o ranking mundial de assassinatos tipificados por violência homofóbica (GGB, 2014).

Por fim, apesar dos avanços e conquistas parciais da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) ao longo da história em diversos países, ainda persistem alguns impasses seriamente preocupantes, como é o caso dos países que ainda mantêm a penalização da homossexualidade. Ao todo são cinco países em que a homossexualidade é punida com pena de morte (Mauritânia, Irã, Arábia Saudita, Sudão e Iêmen), acrescentando-se ainda partes da Somália e Nigéria. Além das dezenas de outras nações nas quais a homossexualidade é

tipificada como crime sujeito à reclusão, temporária, perpétua ou indeterminada, conforme apontado anteriormente. Como exemplos, pode-se citar a Guiana Inglesa, país no qual as penas podem variar desde a reclusão até a prisão perpétua, bem como o Afeganistão, onde a homossexualidade pode ser punida com penas que vão desde a reclusão sem duração de tempo previsto até o banimento (ILGA, 2014).

Após a descrição deste panorama mundial dos direitos homossexuais, pode-se conjecturar que tais contextos sociais influenciem, em alguma medida, nos padrões de aceitação e oposição frente ao contexto da homossexualidade, em específico em relação à conjugalidade e parentalidade constituídas neste âmbito, foco de interesse da presente tese. Neste sentido, recorre-se ao estudo das atitudes, devido à sua importância na construção de padrões avaliativos frente a objetos sociais, justificando-se assim a sua pertinência teórica ao escopo deste empreendimento científico. A seguir disserta-se acerca desta construção teórica fazendo uma aproximação no âmbito da conjugalidade e parentalidade homossexual.

1.2. Conjugalidade e parentalidade nas relações homossexuais: Uma contribuição