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Meios, mediações, mediadores e intermediários

PARTE I: GLAMOUR

2. De Atores e Redes: Os Caminhos da Teoria

2.2. Meios, mediações, mediadores e intermediários

Algumas dicotomias, como percebemos, precisam ser esquecidas: a diferença entre explicação e descrição, para Bruno Latour, uma delas. E uma significante –

140 Livre tradução: “Turned into a black box, hardware tends to be very closed. (...) Software, on the other hand, is constantly reopened and sealed again because of its fluidity and low production costs. This is the process of constantly questioning some elements of the box (finding bugs) and trying to seal it again in a new up-grade”.

sobretudo quando as explicações são de ordem social. Latour (2005, p. 137) é bastante persuasivo com relação a este problema, e considera que “se uma descrição ainda precisa de uma explicação, significa que é uma descrição ruim”141. Explicações

advêm de descrições acuradas, portanto, e se as redes estão dispostas de forma adequada – ou seja, se as relações descritas são fiéis aos actantes.

As explicações geralmente limitam o entendimento de um contexto seguindo este raciocínio. Não que devamos abdicar de explicações e análises, este não é o caso, e o pensamento latouriano não é (necessariamente) um réquiem à crítica. O sentido de se professar a descrição e observação jaz no fato de que se as redes que formam um estado (state of affairs) estão completamente posicionadas e explicam o fato por si só, porque são por sua vez, transparentes, deixando-nos perceber que cascatas de mediação transportaram-na do ponto A ao ponto B, adicionar uma explicação ao que lá acontece se torna supérfluo. As explicações só são realmente necessárias quando o hiato é tão grande que para construir um argumento é necessário continuar aparando as arestas do contexto até que ele caiba na metafórica fôrma teórico-metodológica que o pesquisador preparou para ele.

Adentrar no domínio dos meios de comunicação – da mídia – é uma forma através da qual este trabalho busca elaborar uma descrição ampla que não necessariamente explica o fenômeno da agência nos MMORPGs. É uma forma de endereçar – uma palavra recorrente nos próximos parágrafos – uma problemática sem achatá-la: jogos eletrônicos se apresentam como meios de comunicação necessariamente híbridos; ignorar que as muitas teorias da mídia também resvalam na prática nestes desenvolvida é ignorar de que forma estas são capazes de oferecer insights. Para entender de que forma a questão deste trabalho se manifesta é necessário entender seu lugar de fala. Para que a descrição seja acurada, é necessário que conheçamos seus a priori.

Jogos eletrônicos comunicam através da ação. O modo através do qual eles fazem fazer se torna interessante porque, como pontua Nick Yee (2006), apesar de acreditarmos que eles nos divertem, no ínterim eles nos fazem trabalhar: que jogador nunca ficou preso em uma fase durante dias, às vezes por causa de um mísero e insistente erro, mas continuou voltando até que conseguiu superá-lo? Quem nunca prometeu a si mesmo ir dormir antes da meia-noite, mas acabou vendo o sol nascer

porque queria saber o que acontecia depois? Em sua mecânica, jogos eletrônicos prendem o jogador em um labirinto do qual para sair ele precisa agir. As imagens, as narrativas, as evoluções, os clímaces e o desfecho de uma história – ou a simples tela de “you win” – só são acessíveis através de ações. Eles recompensam sim, mas é necessário agir primeiro para tanto.

Contudo, o que realmente interessa? O que procuramos ao olhar para os jogos eletrônicos? Quais são os componentes que, podemos afirmar, contribuem para a experiência destes enquanto ação? Não buscamos responder estas perguntas neste capítulo, mas o intuito da argumentação por vir é simples: equipar-nos das ferramentas necessárias para se traduzir o contexto, observar suas nuances, posicionar seus atores em uma rede que faça jus à que eles experimentam em sua práxis.

Em se retornando ao domínio da mídia, então, é possível identificar dois traços específicos da simetria latouriana na crítica que William J. T. Mitchell (2005) tece às propostas de Raymond Williams (1997) em relação aos meios de comunicação: o primeiro deles diz respeito à franca sugestão de Mitchell (2005, p. 203) de que os meios de comunicação são “ambientes nos quais as imagens vivem”142. Para além das óbvias implicações de uma sentença como tal, em especial a

aparente hipérbole no uso da declinação do verbo ‘viver’, se pode encontrar um caso de animismo que aponta para certa independência das imagens na formação de uma cultura visual. Não é surpreendente, portanto, que seu livro se chame “O que as imagens querem?” (What do pictures want?).

Este animismo – que Mitchell (2005, p. 2) identifica como tendência – está contemplado no turno epistemológico da Teoria Ator-Rede e é o próprio Latour (1994) quem afirma que ele consiste em nosso estado natural: descreditar a proposta de Mitchell (2005) seria, na melhor das hipóteses, se subscrever anacronicamente à dicotomia sujeito-objeto, negar que a todo momento projetamos características humanas nos não humanos ao nosso redor. Estranho não é que o animismo seja tendência, como afirma Mitchell (2005), mas sim que insistamos em negá-lo, como aponta Latour (1994). Voltaremos a este assunto no capítulo 3, pois ele se apresenta como parcela importante do entendimento da ideia de mediação da TAR.

O segundo traço que pode ser encontrado na proposta teórica de Mitchell (2005) diz respeito às suas intenções. O teórico americano afirma que, ao pensar a

respeito das imagens, não está preocupado em entendê-las, mas sim meramente endereçá-las. Sua proposta é criar “retratos” (pictures) dos meios de comunicação que permitam que “as especificidades dos materiais, práticas e instituições se manifestem” (2005, p. 198)143. Não apenas seu entendimento do locus onde as imagens vivem é adequado, contemplando o aspecto prático, material e institucional da mídia, mas em especial sua teoria não busca grandes generalizações. Sua diferença para com a teoria mcluhaniana é precisamente esta: Mitchell (2005) não busca fazer grandes afirmações sobre nenhum contexto. Ao invés disto, sua concepção teórica se debruça sobre casos específicos e como estes auxiliam neste endereçamento aos meios, de forma similar ao que a TAR propõe:

Resumindo, esta é menos uma tentativa de construir uma teoria geral da mídia do que é uma tentativa de explorar algo que pode ser chamado de “teoria do meio”, uma aproximação imanente de nível médio que funciona principalmente caso a caso (MITCHELL, 2005, p. 198)144.

Identificar estes traços não é uma coincidência. Ainda que Mitchell (2005) não clame nenhum tipo de pertencimento ao movimento acadêmico da TAR, as ideias de Bruno Latour – em especial as que se referem à dissolução da falácia modernista – permeiam a obra e o argumento do teórico americano.

Dito isto, a ideia de meio, para Mitchell, possui uma herança muito forte da professada pelo fundador do campo dos Estudos Culturais, o galês Raymond Williams (WILLIAMS, 1977). Um meio é muito mais que os materiais que o compõem:

o meio é mais que o material e mais que a mensagem, mais que simplesmente a imagem mais o suporte – a nao ser que entendamos o “suporte” como um sistema – toda a variedade de práticas que torna possível para as imagens se incorporarem ao mundo como contexto (MITCHELL, 2005, p. 198, grifo nosso)145.

Se substituirmos na citação acima a palavra sistema pela palavra rede, teremos, sem dúvida, uma assunção via TAR. Para Mitchell (2005), portanto, um meio é uma prática social material: “um conjunto de perícias, hábitos, técnicas,

143 Livre tradução: “ones that will allow the specificity of materials, practices, and institutions to manifest itself”. 144 Livre tradução: “This is, in short, less an attempt to construct a general theory of media than it is to explore something that might be called "medium theory," a middle-level, immanent approach that works mainly by cases”. 145 Livre tradução: “The medium is more than the material and (pace McLuhan) more than the message, more than simply the image plus the support – unless we understand the "support" to be a support system – the entire range of practices that make it possible for images to be embodied in the world as picture”.

ferramentas, códigos e convenções” (MITCHELL, 2005, p. 203)146, como propôs Williams (1977). Se entendemos, neste caso, o adjetivo social através da sociologia tradicional, a profundidade na expressão se perde; mas se o fizermos através do entendimento da Teoria Ator-Rede, a noção de meio ganha o sentido já insinuado de rede, ao congregar, em uma confluência, uma série de atores e ações.

Este entendimento não apenas se reafirma interessante do ponto de vista de que aproxima a teoria das imagens de Mitchell (2005) da Teoria Ator-Rede de Bruno Latour (2005). Mais que isto, através de uma articulação como esta a ideia de worldness, endereçada no preâmbulo deste capítulo ganha uma nova acepção, que a aproxima de um entendimento animista, precisamente.

Ainda assim, mesmo se subscrevendo à ideia de meio como prática social, Mitchell (2005) elabora uma crítica à proposta de Williams (1977). O ponto, segundo o teórico americano (MITCHELL, 2005), é que Williams (1977) se concentra por demais na reificação do suporte material, apontando para o fato de que o que deve ser estudado em um caso como estes são as práticas sociais em torno de tal materialidade, mas não ela própria. Mesmo o título do ensaio de Williams – “From Medium to Social Practice” – executa esta transição, propondo que o estudo dos meios de comunicação deve se eximir de uma

[ê]nfase mal posicionada no suporte material (como quando chamamos tinta, pedra, palavras ou números de meios de comunicação) e se mover rumo à descrição das práticas sociais que o

constituem (MITCHELL, 2005, p. 204)147

Williams, em seu ensaio (1977), busca problematizar o preciosismo acerca dos meios de comunicação. Mesmo McLuhan (1994) – talvez este em especial, dado o fato de o teórico canadense ser considerado o fundador e um dos mais importantes pensadores dentro do espectro dos estudos de mídia – é levado ao horizonte de crítica, no qual Williams (1977, p. 159), não livre de certo desdenho, acusa-o de determinismo tecnológico: “o meio é (metafisicamente) o mestre”148.

Se a argumentação de McLuhan (1994), acusado de determinismo tecnológico, vai de encontro à proposta de Williams (1977), consideremos que no escopo dos teóricos da mídia que advogam pela preocupação para com o aspecto

146 Livre tradução: “a set of skills, habits, techniques, tools, codes, and conventions”.

147 Livre tradução: “misplaced emphasis on the material support (as when we callpaint, or stone, or words, or numbers by the name of media) and move it toward a description of the social practices that constitute it”

material dos meios, Friedrich Kittler ocupa uma posição consideravelmente mais radical que a do canadense. Não há equilíbrio, para Kittler (1999), na experiência dos meios de comunicação e ele não parece ter problemas para com a ideia de que “os meios determinam nossa situação, o que – independente, ou por causa disso – merece uma descrição” (KITTLER, 1999, p. xxxix)149. O pensador alemão é favorável a uma

mudança de foco para além das práticas sociais, observando a lógica da tecnologia, as ligações de ordem material, entre corpo e meios, os procedimentos de processamento de dados: não haverá equilíbrio, e os estudos de mídia (Medienwissenschaft) não passarão de história da mídia enquanto os praticantes dos estudos culturais “conheçam matemática apenas de ouvir falar” (KITTLER, 1994, p. 219)150.

Quando mencionamos “equilíbrio” na experiência dos meios de comunicação, o que buscamos é que o sentido se faça na interação entre indivíduo e aspecto material – não humano. A afirmativa de Kittler (1999), neste sentido, deve ser interpretada de forma literal: ainda que o pensador alemão penda abertamente para o lado do determinismo tecnológico e que Raymond Williams (1977) vá para o lado oposto, advogando pela prática social eximida ou desconectada do meio, que apenas transporta sem transformar, ambas são bastante importantes para o desenvolvimento desta argumentação. A de Williams (1977) porque aponta para a necessidade de se considerar o meio como parte de uma prática; a de Kittler (1999) porque advoga pela necessidade de conhecermos as nuances internas do que estudamos.

Quando o pensador alemão fala do conhecimento de “matemática avançada”, ele se refere à necessidade existente dos media scholars de transcenderem o horizonte da crítica adentrando processos de produção. Como criticar uma fotografia se não se conhece o mecanismo de funcionamento de um obturador? A questão é controversa e não desejamos nos posicionar de um lado ou de outro do problema. Ainda assim, é importante reconhecer que há pertinência no sentido em que a academia abunda de pensadores que discursam sobre um fenômeno ou sobre uma cultura sem realmente participarem dos processos de produção, da formação da rede destas. Como entender a ação que se dá dentro destas redes, não participando nelas? Uma questão frisada inclusive, por Latour (2011), que acredita que as agências de uma rede desaparecem, se o pesquisador não se aproximar dela da forma correta, buscando a natividade.

149 Livre tradução: “Media determine our situation, which – in spite or because of it – deserves a description”. 150 Livre tradução: “Solange die Kulturwissenschaften höhere Mathematik bestenfalls vom Hörensagen kennen, ist und bleibt auch die Medienwissenschaft Mediengeschichte”.

Retornando à argumentação de Williams (1977) e continuando com a problemática do trabalho, o equívoco para o galês jaz em considerar que o meio é uma forma de organização, fazê-lo diferir da mera “substância comunicativa intermediária” (p. 159)151.

Em todo caso o ‘meio’ é uma forma de organização social, algo

essencialmente diferente de uma substância comunicativa

intermediária. (...) As propriedades ‘do meio’foram abstraídas como se elas definissem a prática, ao invés de serem seu resultado. Esta interpretação, então, suprimiu todo o sentido de prática, o qual precisa sempre ser definido como trabalho em um material com um propósito específico, dentro de certas condições sociais necessárias

(WILLIAMS, 1977, pp. 159-160)152.

Uma ressalva se faz necessária: embora, naturalmente, nossa perspectiva aqui seja bastante conciliatória com relação a esta problemática, e identifiquemos nos atos de produção e de consumo uma rede de atores humanos e não humanos – estes últimos consistindo prioritariamente em dispositivos técnicos – responsáveis pelas características finais de um devido construto; e embora nos alinhemos em grande parte ao pensamento de Mitchell (2005), que considera o campo dos estudos da mídia ainda sem identidade, é notório que o interesse deste trabalho se dá em maior índice, aos aspectos materiais.

Esta falta de identidade nos media studies, segundo Mitchell (2005), adviria de uma necessária negação da figura de Marshall McLuhan (1994) enquanto seu criador; e um dos sintomas desta falta de identidade é que, no decorrer dos últimos trinta anos, desde a morte do teórico canadense, vários outros pensadores decretaram “o fim dos meios de comunicação, e a morte de seus estudos” (p. 206)153.

Mitchell (2005, p. 207) acusa Friedrich Kittler e Paul Virilio de serem obcecados com máquinas de guerra e de costurarem ligações entre quaisquer inovações técnicas para com as artes da coerção, agressão, destruição, vigilância e espetáculos da propaganda; ele subscreve teóricos da cultura digital como Peter Lunenfeld e Lev Manovich a agendas de pesquisa que ignoram o espectro midiático e consideram apenas a Internet como horizonte de interesses e, por fim, critica aqueles,

151 Livre tradução: “intermediate communicative substance”.

152 Livre tradução: “Yet in either case the 'medium' is a form of social organization, something essentially different from the idea of an intermediate communicative substance. (...) The properties of 'the medium' were abstracted as if they defined the practice, rather than being its means. This interpretation then suppressed the full sense of practice, which has always to be defined as work on a material for a specific purpose within certain necessary social conditions

como Niklas Luhmann, que consideram arenas especializadas, como a das comunicações de massa, como invenções modernas que podem ser rigorosamente distintas da mídia mais tradicional.

No quarto capítulo, ao discutirmos os preceitos agenciais advindos das duas correntes teóricas que são utilizadas para ler a interação entre homem e máquina – um sentido agencial decorrente do pensamento narratológico e outro do pensamento sociológico – a conexão entre estas esferas se fará de forma mais evidente. Neste momento, para que sejamos capazes de engendrar o entendimento necessário dos jogos eletrônicos enquanto meios nos quais a narrativa é experimentada em função da ação, havemos de empreender uma separação que só possui validade porque é meramente didática, não atacando o entendimento composicionista com o qual nos subscrevemos.

A questão aqui é de uma ordem simples: como se subscrever a um pensamento que renega as possibilidades que as estruturas materiais possam oferecer efeitos nelas mesmas? Como ignorar que a televisão, o rádio, a pintura e a literatura dependam crucialmente de seu suporte? É importante lembrar, aqui, que por mais que estejamos dando um escopo amplo à discussão, o texto seminal do campo dos game studies, o Cybertext de Aarseth (1997) atesta precisamente para o outro lado do problema. Este também é o caso do raciocínio de Mitchell (2005), para quem o gesto de de-reificação de Williams vai longe demais: “toda prática social é um meio?”154 Se nos atermos a

Aarseth (1997), nos aproximamos de seu argumento, que consiste em observar não o que se lê, mas de onde vem a mensagem.

E quão curioso, o fato de que o termo escolhido por Williams (1977) para minimizar a importância da materialidade é, precisamente, substância intermediária? Certamente, não é a pura coincidência que nos guia, ainda que a comparação não esteja necessariamente nos mesmos termos. Ainda assim, evoquemos mais uma vez a teoria latouriana, para a qual os actantes distribuídos em uma situação podem se organizar, eventualmente, em mediadores e intermediários.

Um intermediário, em meu vocabulário, é o que transporta significado ou força sem transformação: definir sua entrada é o suficiente para definir sua saída. Para todos os casos, um intermediário pode ser tomado não apenas como uma caixa-preta, mas como uma caixa preta que só conta por um, mesmo que esta seja internamente composta de muitas partes. Mediadores, do outro lado,

não podem ser contados apenas como um; eles podem contar por um, por nada, por muitos, ou pelo infinito. Sua entrada nunca é um grande previsor de sua saída; sua especificidade precisa ser levada

em conta a cada momento (LATOUR, 2005, p.39)155.

Lendo a afirmação de Williams (1977) através da Teoria Ator-Rede, e considerando que o galês acredita que os meios de comunicação são apenas intermediários, transparece a ideia de que é mais importante de que se fala, o conteúdo do meio, do que que meio é utilizado. Transparece o argumento de que as mensagens não são afetadas pela materialidade, pelo canal que as cerca. Edwin Sayes (2014) é quem oferece um insight que nos serve de justificativa: “[s]e antes era possível afirmar com sinceridade que os não humanos são as massas ausentes das ciências sociais, deve ser admitido que este não é mais o caso” (p. 134)156.

Antes de prosseguir, retornemos aos intermediários. Estes, portanto, não oferecem informações, dados, fatos importantes para um evento, a uma ação – eles fazem parte da rede ali posicionada, mas eles estão no background, não são centros do discurso ali sendo desenvolvido e raramente atraem atenção para si. “O que ele ‘transporta’ não faz os outros fazerem coisas” (LEMOS, 2013, p. 47). Perceba-se que Lemos (2013) lê a ideia de intermediário através não da (falta de) ação destes, mas de como esta não causa repercussões na rede. Se um elemento não causa repercussão na rede, se ele não cria ou resiste a testes, se ele não faz fazer, ele não importa para a ação, não cria mediação, ele desaparece. Como o próprio Latour (2005) menciona na citação anterior, eles são caixas-pretas, mas do qual toda rede interior é irrelevante.

Mediadores, por sua vez são os centros táticos da ação – são os actantes que executam os processos de tradução e que são responsáveis pelas disputas (trials) que compõem um contexto, um enquadramento, um state of affairs. Há aqui uma problemática que vem à tona tanto no pensamento de Lemos (2013) quanto no argumento de Bruno Latour (em LEMOS, 2013) a respeito da especificidade destes conceitos:

Veja que a noção de intermediário, e a diferença em relação ao mediador (actante) são sempre problemáticas, já que não existe

155 Livre tradução: “An intermediary, in my vocabulary, is what transports meaning or force without transformation: defining its inputs is enough to define its outputs. For all practical purposes, an intermediary can