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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1.2 Inteligência na abordagem psicométrica

2.1.2.5 Habilidades Cognitivas em crianças típicas

2.1.2.5.4 Memória

A Memória pode ser considerada o núcleo da cognição. É a memória que envolve os processos de codificação, retenção e consolidação durante algumas horas ou até mesmo para sempre. A consolidação da memória ocorre no momento seguinte ao acontecimento. Assim, qualquer fator que aja nesse instante pode fortalecer ou enfraquecer a lembrança, qualquer que seja ela (Myers, 1999; Weiten, 2002).

Há três tipos de memória: a memória sensorial, que se caracteriza por sua brevidade, isto é, ela desaparece dentro de um segundo se uma figura ou som não é guardado ou não se relaciona aos conhecimentos existentes; a memória de curto prazo, chamada também memória ativa, que retém informações durante algumas horas; e a memória de longo prazo, também chamada de memória permanente, que se refere ao conhecimento potencialmente disponível durante um longo tempo, às vezes até mesmo para sempre (Neufeld, Stein, 2001).

Ter as informações na memória não é o suficiente para poder usá-las (Izquierdo, 2002). Essas informações devem ser organizadas por meio do processo de codificação da memória ativa para a memória de longo prazo. Cada vez que as informações são transferidas da memória de longo prazo para a memória ativa, os processos de ensaio, elaboração, interpretação e recodificação são utilizados.

O desenvolvimento da memória envolve mudanças nas habilidades de reconhecimento e recordação, estratégias, solução de problemas, metacognição e conteúdo da informação. As habilidades básicas de reconhecimento e recordação estão presentes desde o nascimento (Bee, 2003). O reconhecimento leva o bebê a voltar sua atenção para uma figura familiar. Recém-nascidos podem formar associações e reconhecer objetos familiares. Aos nove meses, os bebês são capazes de lembrar de objetos e eventos que não estão fisicamente presentes e imitam ações de pessoas e atividades realizadas anteriormente (Weiten, 2002; Papalia et al., 2006).

As crianças utilizam algumas estratégias e estilos de linguagem para facilitar a memorização dos conteúdos para a aprendizagem (Moraes et al., 2001; Bragato, Chiari, 2005).

Pela repetição mental ou vocal de palavras e idéias, a criança já aos 2 anos de idade utiliza a estratégia de decorar. A estratégia de agrupamento primitivo de idéias, objetos ou palavras também ocorre por volta dos 2 anos de idade, com a finalidade de elaborar e encontrar um significado comum entre as lembranças ou mesmo uma referência comum para as coisas que precisam ser lembradas (Myers, 1999). Crianças que utilizam mais as estratégias de decorar e de agrupamento de idéias memorizam e lembram com mais facilidade do que aquelas que não usam estratégias. Para aprender, a criança precisa entender, organizar, armazenar e evocar a informação (Baddeley, 1998; Almeida, 2002). Uma criança com dificuldades de atenção, de permanência na tarefa, de visualização dos pormenores de uma gravura ou de comparação de diferenças e semelhanças entre duas situações verbais ou escritas certamente apresentará grandes dificuldades na captação da informação que lhe é apresentada e na sua apreensão.

A quantidade de símbolos que as crianças podem reter na memória ativa, ou de curto prazo, assim como a velocidade de processamento de informações aumenta no período que vai da infância até a adolescência (Bee, 1996; Baddeley, 1998; Bee, 2003). Aos 3 anos, uma criança pode guardar uma unidade de informação; aos 5 anos, pode recordar uma lista de quatro dígitos; e um adolescente pode lidar com sete unidades de memória. O número de símbolos que uma pessoa pode guardar na memória dobra da infância para a idade adulta.

Com a idade, as crianças tornam-se mais hábeis para selecionar itens importantes que devem ser lembrados. As crianças adquirem estratégias cada vez mais eficientes para a codificação, repetição e recuperação da informação (Baddeley, 1998; Baddeley, 2000; Weiten, 2002). Atividades de estratégias rudimentares para utilizar a memória podem ser observadas em crianças desde 1 ano e meio de idade, mas o uso da memória aumenta rapidamente por volta dos 5 anos até a adolescência. Aos 7 anos, a criança se depara com novas

formas de aprender e com novos conteúdos de aprendizagem para serem assimilados. A criança ainda está em um momento do desenvolvimento no qual os símbolos gráficos se tornam inerentes a esse desenvolvimento. É neste momento que ocorre uma formulação de novos conceitos e de resolução de problemas.

Estudos vêm demostrando a correlação entre a memória de curto prazo e a memória operacional ou de trabalho (Baddeley, 1998; Baddeley, 2000; Ribeiro, Almeida, 2005; Andrade, Dias, 2006; Flores-Mendoza, Colom, 2006; Schelini, Wechsler, 2006). Esta compreende um sistema de controle de atenção auxiliado por dois sistemas de suporte, um de natureza viso-espacial e outro de natureza fonológica. Esses dois sistemas ajudam no armazenamento temporário e na manipulação das informações. A memória operacional exerce a função de selecionar estratégias e planos, tendo sua atividade relacionada à supervisão das informações. Também o cerebelo está envolvido no processamento da memória operacional, atuando na catalogação e manutenção das sequências de eventos, o que é necessário em situações que requerem o ordenamento temporal de informações. Já no sistema fonológico, a articulação subvocal auxilia na manutenção da informação; lesões em partes específicas do cérebro geram dificuldades na memória verbal auditiva de curta duração. Esse sistema está relacionado à aquisição de linguagem.

Flores-Mendoza e Colom (2006) discutem as relações entre a memória de trabalho e o fator geral de inteligência (g). Avaliam a presença de um isomorfismo entre ambos os construtos, embora ainda se desconheça a resposta à pergunta do porquê desse isomorfismo. Enquanto algumas propostas favorecem uma explicação baseada no controle da atenção, outras se inclinam para o papel da habilidade de armazenar transitoriamente a informação e, em menor grau, da velocidade de processamento. Conclui-se que os componentes de armazenamento e velocidade de processamento podem constituir a fonte de explicação da relação entre o construto de memória de trabalho e o fator g.

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