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Dada a natureza dos lançamentos realizados no Balanço de Pagamentos, o BP registra somente as variações de reservas decorrentes das transações entre residentes e não residentes. Ou seja, o Balanço de Pagamentos NÃO registra as variações de reservas oriundas de monetização ou desmonetização de ouro, alocação ou cancelamento de Direitos Especiais de Saque e/ou valorizações ou desvalorizações monetárias. Vamos denotar a variação de reservas registrada no BP por ΔResBP.

A variação monetária total das reservas internacionais (ΔResTOTAL) decorre tanto das variações causadas pelas transações entre residentes e não residentes (ΔResBP), quanto das operações de valorização/desvalorização, monetização/desmonetização e alocação/cancelamento (já sabemos que essas variações não são registradas no BP). Vamos denotar as variações de reservas não decorrentes de transações entre residentes e não residentes de ΔResC. Algebricamente:

ΔResTOTAL= ΔResBP+ ΔResC

Para o cálculo de ΔResC, é utilizado o artifício contábil de incluir a rubrica Contrapartidas no Balanço de Pagamentos, dentro da conta Caixa. A lógica é a mesma que a do BP: lançam-se a débito os aumentos de qualquer uma das contas de caixa e, necessariamente, a crédito, a respectiva contrapartida, dado que a soma de toda operação tem que ser zerada. Dessa forma, ΔResC iguala-se ao saldo da conta Contrapartidas (C):

ΔResC= 𝐶

Você se lembra de como é a estrutura do Balanço de Pagamentos (BPM5)? Se a resposta for não, dê mais uma olhadinha lá, está bom?! Para facilitar, vou reproduzir aqui a composição da conta Capitais Compensatórios:

V) Capitais Compensatórios (“abaixo da linha”): Kc = – BP = (V.A) + (V.B) + (V.C) + (V.D)

V.A. Contas de Caixa ou Variação das Reservas Internacionais Totais (−ΔResTOTAL) (i) Haveres monetários de curto prazo no exterior

(ii) Ouro monetário

(iii) Direitos especiais de saque (DES) (iv) Posição de reservas no FMI

V.B. Empréstimos de Regularização (ER) V.C. Atrasados Comerciais (AC)

V.D. Contrapartidas (𝐶 = ΔResC)

Sabemos que o saldo da conta Capitais Compensatórios é dado pela soma do saldo das Contas de Caixa ou Variação das Reservas Internacionais Totais (−ΔResTOTAL)9; dos Empréstimos de Regularização (ER); dos Atrasados Comerciais (AC); e das Contrapartidas (C = ΔResC). Assim:

KC= −ΔResTOTAL+ ER + AC + ΔResC

Além disso, o saldo da conta Capitais Compensatórios tem o mesmo valor, mas com sinal trocado, que o saldo total do BP (isso por causa da técnica das partidas dobradas):

KC= −BP → −BP = −ΔResTOTAL+ ER + AC + ΔResC→ ΔResTOTAL= BP + ER + AC + ΔResC Utilizando essa relação acima e sabendo que a variação total das reservas é decomposta entre variações decorrentes de transações registadas no BP (ΔResBP) e aquelas que não são (ΔResC), temos:

ΔResBP= 𝐵𝑃 + 𝐸𝑅 + 𝐴𝐶

Ou seja, a variação de reservas decorrente apenas das transações entre residentes e não residentes (ΔResBP) corresponde à soma do saldo total do Balanço de Pagamentos com o saldo dos Empréstimos de Regularização (ER) e com o saldo dos Atrasados Comerciais (AC).

Resumindo...

9 O saldo da conta Caixa ou Variação das Reservas Internacionais Totais é uma conta do ativo, ou seja, aumenta a débito

e diminui a crédito. Por essa razão, seu saldo é o negativo da variação total das reservas internacionais (um aumento nas reservas (sinal positivo) é lançado a débito (sinal negativo)).

A variação nas reservas internacionais foi consequência de uma transação entre residentes e não residentes? SIM

É contabilizada no BP, e nada acontece na conta contrapartida.

Altera o termo Δ𝑅𝑒𝑠𝐵𝑃

NÃO

NÃO é contabilizada no BP. Deve ser feito um lançamento na respectiva conta do caixa, acompanhado de uma contrapartida com mesmo saldo e sinal oposto (ambos os lançamentos devem somar zero).

Para facilitar nosso entendimento, vejamos alguns exemplos de lançamentos e como se dá a alteração nas reservas internacionais (SIMONSEN & CYSNE, 2009):

1) Importações pagas em dólares – como a importação de mercadoria gera uma saída de recursos, iremos debitar a conta Importações do BP, suponha um débito de – 𝑥. Dado que o pagamento foi realizado em moeda estrangeira, teremos uma redução nas reservas internacionais, sendo que essa redução foi decorrente de uma transação entre residentes e não residentes. Essa diminuição nas reservas é representada por um crédito na conta Haveres no Exterior (lembre que as contas do ativo diminuem a crédito), suponha um crédito no valor de +𝑥. O saldo total do Balanço de Pagamentos é dado pela soma entre o saldo em conta corrente (– 𝑥) e o saldo de capitais autônomos (0). Dessa forma, 𝐵𝑃 = −𝑥. Vale dizer que não houve nenhuma contrapartida neste caso (C = 0), já que a operação considerada não envolve monetizações, valorizações ou alocações. Assim:

ΔResTOTAL= ΔResBP+ ΔResC= 𝐵𝑃 + 𝐸𝑅 + 𝐴𝐶 + 𝐶 = −𝑥 + 0 + 0 + 0 = −𝑥

2) Amortização devida a não residentes, vencida e não paga (atrasada) – a amortização devida a não residentes é lançada com um débito na conta Amortização (Conta Capitais Autônomos), suponha um débito no valor de – 𝑥. O saldo do BP, nesse caso, é dado por – 𝑥. Como a amortização está atrasada, temos um lançamento a crédito, no valor de 𝑥, na conta Atrasados Comerciais. Logo:

ΔResTOTAL= ΔResBP+ ΔResC= 𝐵𝑃 + 𝐸𝑅 + 𝐴𝐶 + 𝐶 = −𝑥 + 0 + 𝑥 + 0 = 0

Se a amortização venceu, mas não foi paga (está atrasada), não há porque haver variação de reservas. 3) Valorização do Euro (supõe-se que o país mantenha parte de suas reservas nesta moeda) em relação ao dólar, implicando um aumento das reservas medidas em dólares no valor de x dólares – O aumento nas reservas internacionais não foi decorrente de transações entre residentes e não residentes, mas sim da simples valorização da moeda. Logo, ΔResBP= 0. O lançamento contábil da operação é um débito na conta Haveres no Exterior em – 𝑥 (as contas do ativo aumentam a débito). Teremos uma contrapartida de um crédito no valor x (para que a soma de lançamentos se anule). Dessa forma: C = +x. Então:

ΔResTOTAL= ΔResBP+ ΔResC= 𝐵𝑃 + 𝐸𝑅 + 𝐴𝐶 + 𝐶 = 0 + 0 + 0 + 𝑥 = 𝑥

4) Compra de ouro pelo Banco Central para utilização como liquidez internacional (monetização) – a variação nas reservas internacionais não foi consequência de transação entre residentes e não residentes, e sim de uma monetização. Teremos um débito na conta Ouro Monetário no valor de – 𝑥, e uma contrapartida de um crédito no valor x, C = +x. A variação das reservas é:

ΔResTOTAL= ΔResBP+ ΔResC= 𝐵𝑃 + 𝐸𝑅 + 𝐴𝐶 + 𝐶 = 0 + 0 + 0 + 𝑥 = 𝑥 Vamos ver isso em uma questão de prova!

ANPEC – 2003 – Questão 1

As operações abaixo foram registradas, no ano t, para uma economia aberta: (a) O país recebeu donativos, em mercadorias, no valor de $20 milhões; (b) A renda líquida enviada ao exterior foi nula;

(c) O país importou equipamentos no valor de $5 bilhões, financiados no exterior mediante empréstimo de longo prazo;

(d) Multinacionais estrangeiras reinvestiram no país lucros no valor de $10 bilhões; (e) O país apresentou déficit em transações correntes de $30 bilhões;

(f) O país recebeu capitais de curto prazo no valor de $15 bilhões.

Com base nas informações acima, avalie as proposições que se seguem. No ano t: (4) Não houve variação de reservas cambiais.

RESOLUÇÃO:

Sabemos que a variação total das reservas internacionais pode ser escrita como: ΔResTOTAL= ΔResBP+ ΔResC= 𝐵𝑃 + 𝐸𝑅 + 𝐴𝐶 + 𝐶

Anteriormente, nós já fizemos os lançamentos associados a essa questão (caso você não lembre, volte algumas páginas antes de prosseguir). Não houve empréstimos de regularização, nem atrasos comerciais, nem tampouco lançamentos na conta contrapartida. Dessa forma, as variações totais nas reservas internacionais correspondem ao saldo do Balanço de Pagamentos:

ΔResTOTAL= 𝐵𝑃

Obtivemos que o saldo do Balanço de Pagamentos é nulo. Assim, não houve alteração nas reservas cambiais.

Resposta: VERDADEIRO

Chegamos ao fim da parte teórica da nossa aula de hoje! Chegou a hora de treinar resolvendo questões de provas passadas da Anpec. Mãos à obra!!!

Questões comentadas pelo professor