• Nenhum resultado encontrado

Atualmente no Brasil, o Mercado de "não tecidos" possui uma perspectiva otimista, mesmo diante das dificuldades burocráticas e políticas, conforme estudo realizado por Gherzi (2013) e Grebe (2015). A maior causa é a ampliação das aplicações desses materiais em produtos que até agora não contemplavam o seu uso. Por exemplo, atualmente o vestuário utiliza o "não tecido" apenas para inserções, acabamentos e usos secundários. Entretanto, devido à crescente necessidade de flexibilização das matérias-primas genéricas e do crescente preço das matérias-primas naturais, o mercado fluirá para alternativas vistas como sustentáveis e mais atraentes.

Também é notória a crescente utilização dos "não tecidos" em equipamentos, veículos e aplicações de segurança industrial e pessoal, além de aplicações médico-hospitalares e na construção civil. A motivação da expansão da utilização dos "não tecidos" é justificada pela baixa geração de resíduos, baixo consumo de energia na manufatura e constante necessidade de reciclagem dos materiais (GHERZI, 2015).

3.7.1 Mercado e comércio de lanifícios

Os principais países relacionados à produção mundial de lã são Austrália, Rússia, Nova Zelândia, Argentina, África do Sul, Estados Unidos, Uruguai, Reino Unido, Brasil e Chile. Na América do Sul, a Argentina e o Uruguai se sobressaem como produtores e fornecedores de lãs. No Brasil, a produção de lã representa menos de 1% da matéria-prima ofertada mundialmente (OLIVETE, 2013), numa população de um bilhão de cabeças de ovinos, dividido em duzentas raças (IWTO, 2015).

Ainda conforme dados da Iwto, a fibra da lã é a fibra de origem animal mais utilizada globalmente, uma vez que possui uma combinação de propriedades mecânicas que não são bem reproduzidas pelas fibras sintéticas disponíveis no mercado. Além disso, dois terços da produção de lã são disponibilizados para a confecção de vestuário, embora ela também seja empregada na fabricação de cobertores, tapetes de absorção de ruídos, estofados duráveis e componentes combinados com peças metálicas.

Segundo Olivete (2013), muitas fibras são produzidas, tendo como referência a fibra de lã. Todavia, nenhuma fibra consegue reproduzir com a mesma precisão e desempenho suas características e propriedades. O aperfeiçoamento da fibra de lã é proposto e estudado por

- 62 - meio de manipulações genéticas e cruzamentos de raça, buscando uma fibra ainda mais qualificada. Apesar das qualidades apresentadas pela fibra, a produção da lã vem reduzindo, uma vez que a demanda por produtos confeccionados com essa matéria-prima também diminuiu, devido às condições climáticas desfavoráveis que acabam por requerer uma nova adaptação para criação adequada dos rebanhos.

Nesse contexto, um estudo mercadológico e comercial se faz necessário para melhorar a competitividade do produto, permitindo que os anseios das indústrias e, consequentemente, dos consumidores sejam atendidos de forma inovadora. A identificação de padrões competitivos possibilita a visualização de novas oportunidades em negócios, pesquisas e projetos, agregando mais qualidade ao material e favorecendo sua inserção no mercado (LINARDAKIS; HOFF, 2010).

As tecnologias desenvolvidas com foco no enobrecimento têxtil têm proporcionado avanços econômicos e aumento da qualidade dos processos industriais produtivos em razão da implementação da automação que impacta no aumento da produtividade, da redução dos recursos hídricos e térmicos e, principalmente, da redução dos impactos ambientais. Portanto, torna-se necessária e evidente a conscientização das indústrias têxteis quanto à necessidade de adequação às legislações e aos acordos ambientais (PEIXOTO; MENDES, 2011).

Os avanços e as inovações que permeiam a produção de tecidos, conforme menciona Udale (2009), devem atender aos requisitos de sustentabilidade e ética nos processos de produção, assim como devem atender às exigências em relação aos avanços tecnológicos do setor têxtil. Os tecidos devem possuir qualidade, serem ecologicamente sustentáveis e inovadores e oferecer maior desempenho, resistência, praticidade e durabilidade. Embora de forma lenta, as empresas têxteis têm considerado os impactos ambientais provenientes da fabricação de tecidos. Assim, exigem que a escolha do material atenda critérios e diretrizes ambientais, incorporando práticas que visem o uso de materiais recicláveis e orgânicos nos processos (UDALE, 2009). Portanto, o feltro de lã se apresenta como um material composto de vários atributos, uma vez que atende a uma série de requisitos exigidos no mercado atual.

A ovinocultura de lã no Brasil apresenta poucos estudos voltados para uma maior competitividade dessa matéria-prima no mercado têxtil, fator que aponta no sentido da criação de subsídios e na elaboração de estratégias competitivas para esse setor. A baixa prospecção de propostas inovadoras com enfoque na cadeia produtiva de lã ovina no Brasil resulta numa

- 63 - carência competitiva e econômica referente ao mercado nacional. Desse modo, a necessidade de um estudo que permeie a produção de lã em relação às demandas desse mercado nacional se faz necessária bem como um estudo de suas influências econômicas. Adicionalmente, um estudo das demandas do mercado internacional de lã fina, lã suja, lã de alta micragem e derivados da lã, como o “feltro de lã”, faz-se necessário, devido à grande quantidade de lã requerida para suprir outros segmentos industriais internacionais, além do setor têxtil (LINARDAKIS; HOFF, 2010).

3.7.2 Produtos e artigos em feltro de lã

O feltro de lã é utilizado em diversos segmentos industriais: automobilístico, metalúrgico, eletrônico, eletrodinâmico, frigorífico, aeronáutica, construção civil, decorativos, esportivos, vestuário e acessórios, e na fabricação de produtos que não podem ser fabricados com o feltro sintético, pois ele não apresenta todas as propriedades e qualidades encontradas no feltro de lã. Nesses diversos segmentos, existe uma variedade de produtos, como rolos e mantas, discos de polimento, componentes de máquinas, ponteiras de caneta, isolamento térmico e acústico, elementos filtrantes, chapéus, cases para notebooks, artigos de decoração, estofados, tapetes e revestimentos, calçados, artigos esportivos (PRALANA, 2015), conforme ilustrado nas Figuras 3.73, 3.74 e 3.75.

Figura 3.73 - Mantas em Feltro de lã.

Fonte: Disponível em

<http://www.feltrospralana.com.br/>. Acesso em 14 de out. 2015.

Figura 3.74 - Artefatos em Feltro de lã.

Fonte: Disponível em

<http://www.feltrospralana.com.br/>. Acesso em 14 de out. 2015.

- 64 -

Figura 3.75 - Chapéu e bolsa em feltro de lã natura.

Fonte: Disponível em <http://culture-se.com/noticias/1070/gucci-apresenta-bolsas-masculinas-em-feltro>. Acesso em 10 de maio 2018.

Como visto, o feltro de lã vem se revelando um material cada vez mais versátil e com grande potencial para aplicação em áreas e segmentos do mercado onde essa matéria-prima não tinha grande visibilidade. Esse material apresenta muitas qualidades positivas e a versatilidade da fibra de lã o torna ainda mais útil. Entretanto, para a utilização desse material em outros produtos, faz-se necessário que as suas propriedades e características sejam identificadas e comprovadas por meio de testes, como será mostrado no Capítulo 4 deste estudo.

3.7.3 Sustentabilidade do feltro de lã

Em seu trabalho, Morais (2013) enfatiza aspectos da insustentabilidade quanto à utilização dos recursos não renováveis nos processos produtivos da indústria têxtil, bem como os impactos ambientais ligados ao desperdício de água e à geração de resíduos químicos, além dos impactos econômicos gerados durante as fases da produção. Segundo Bernhard (2013), a produção sustentável está ligada aos aspectos que envolvem todo o processo produtivo, como a mão de obra, o bem-estar animal, o meio ambiente, o uso das práticas saudáveis e a utilização dos recursos locais.

Em alguns estados do Brasil, o processo produtivo sustentável tem sido utilizado com os rebanhos. Eles são colocados em áreas de proteção ambiental, o que favorece o processo sustentável pelo fato de haver uma maior fiscalização e maior restrição do uso da água e da terra, contribuindo para que os animais se adaptem melhor e produzam menos danos ao meio ambiente (BERNHARD, 2013).

Quando aliamos a isso algumas práticas de manejo voltadas ao bem-estar dos animais e valorizamos a mão de obra adequadamente, utilizando-nos dos recursos naturais de forma correta, automaticamente tornamos sustentável o nosso sistema de produção. Isto nos permite levar ao mercado um produto com valor agregado, trazendo mais renda ao produtor (BERNHARD, 2013, p. 13).

- 65 - Bernhard (2013) afirma que o processo de retirada da lã é realizado de forma sustentável, pois não causa prejuízo ou dano ao ovino, pelo contrário, é um processo que gera alívio e bem-estar ao animal.

A fibra de lã apresenta muitos benefícios ao meio ambiente, pois é totalmente natural, biodegradável e renovável. A produção da lã demanda uma manutenção adequada do animal e pode ocorrer em qualquer época do ano, uma vez que a pelagem das ovelhas se renova anualmente. Outro ponto positivo ocorre durante o descarte da lã, pois a sua decomposição acontece naturalmente em questão de anos sem gerar danos ao ambiente (OLIVETE, 2013). Além de versátil, o feltro de lã é um material orgânico, 100% biodegradável e não agride, nem gera danos à natureza, o que o torna um material ainda mais qualificado (PRALANA, 2015). Finalmente, pode-se afirmar que a lã e os seus subprodutos, como o feltro, se enquadram no conceito de produtos sustentáveis e apresentam grande potencial para ser inserido em novos segmentos e produtos.