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Mercados para a farinha na cidade de Bragança e nas comunidades

No documento Universidade Federal do Pará (páginas 75-79)

4.2 A comercialização da farinha tradicional e a diversificação dos mercados

3.2.2 Mercados para a farinha na cidade de Bragança e nas comunidades

Os mercados em funcionamento no município de Bragança (figura 6), na

modalidade vendas direta, são: i) a Feira da Agricultura Familiar (FAF); ii) a venda por

encomenda

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dentro e fora da propriedade; iii) venda esporádica para consumidor; iv) na

festa junina do município; v) feira em eventos institucionais; e vi) as vendas institucionais

(PNAE e PAA). Na modalidade venda indireta, agrupamos as operações de

comercialização que contam com a intermediação de um agente que não exerce papel de

atravessador, mas media a distribuição e o acesso ao produto.

Figura 6. Tipos de mercados praticados pelos agricultores de Bragança

34 Outros tipos de circuitos curtos não serão explorados nesse texto.

Fora da propriedade

Na propriedade

Mercados de circuitos curtos da

farinha de Bragança.

Vendas diretas

Vendas institucionais

PNAE PAA

Encomenda

De forma

esporádica

Encomenda

Festa

junina

FAF

Feiras em

eventos

F. órgãos

públicos

Vendas indiretas

Nessas duas formas de realização de mercados há um processo intenso de

negociação vantajoso aos produtores. No caso da FAF o preço do saco da farinha lavada

chega R$ 360,00 (trezentos e sessenta reais), valor superior ao estabelecido no mercado

convencional local e externo.

No caso da venda por encomenda, o preço é mais vantajoso quando o produto é

oferecido em embalagem artesanal. O paneiro de fibra de guarimã

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com 1 quilo de

farinha lavada estava sendo comercializado a R$ 10,00 (dez reais). Enquanto, a farinha

lavada em sacos plásticos de 12 litros, estava custando R$ 50,00 (cinquenta reais).

A Feira da Agricultura Familiar (FAF) é um importante canal de comercialização

da farinha, classificada como mercados de circuitos curtos. É uma experiência

protagonizada pela Cáritas Diocesana de Bragança (CDB), Sindicatos dos Trabalhadores

e Trabalhadoras Rurais de Bragança (STTRB) e Emater que iniciou em 2009, e continua

coordenada de maneira colegiada pelas entidades e por agricultores (CÁRITAS, 2009).

As feiras da economia solidária são mais um instrumento de comercialização

dentro da modalidade de circuito curto. A participação de produtores de Farinha de

Bragança nestes espaços é crescente tanto em eventos realizados na capital como em

outras regiões.

As feiras periódicas em órgãos praças e órgãos públicos também merece destaque,

pois as iniciativas têm crescido principalmente na capital do estado, chegando a 29 pontos

de comercialização.

Os mercados de circuito curto despontam com potencial de crescimento por

ofertar produtos diferenciados, aumentando o número de agricultores adeptos a essa

modalidade de comercialização. O preço diferenciado pago pelos consumidores neste tipo

de transação é um atrativo ímpar, principalmente porque reverbera na diminuição de

trabalho e rendimento da matéria prima.

Os mercados de circuitos curtos surgem como alternativa à lógica dos mercados

convencionais e se baseiam não apenas em valores mercadológicos de produção e

consumo. Critérios outros como confiança e credibilidade são pilares nesta modalidade

de comercialização, pois os vínculos pessoais entre produtores e consumidores são

estabelecidos para além da operação realizada.

A comercialização direta tem crescido no Brasil, graça ao esforço das mediações

(organizações e movimentos socais) dos agricultores, das instituições parceiras e

35 Fibra vegetal comumente encontrada as margens de rios e igarapés conhecida no nordeste paraense como

igapó.

apoiadores, de programas governamentais, mas principalmente pela consciência dos

consumidores em exigir produtos saudáveis, com origem e conhecimento de procedência.

Segundo Valente et al. (2012), a garantia da originalidade e a referência ao

território são fatores de credibilidade e confiança para os consumidores na hora da

aquisição de um produto ou serviço. Portanto, a maior aceitação dos produtos com

conhecimento de origem é realidade na sociedade, sendo a qualidade e a diferenciação do

produto os principais atrativos.

As vendas na propriedade acontecem na própria casa de farinha em duas situações.

Geralmente, é comum as pessoas com relação de confiança fazerem a encomenda da

farinha, que pode ser por telefone, por meio de recado ou mesmo durante visita. A venda

é pré-estabelcida na hora da encomenda entre as duas partes negociantes.

Os produtos são entregues embaladas em paneiros e/ou sacos plásticos de acordo

com o firmado. A pesagem ou medida varia, podendo ser em litros e latas, com preços

correspondentes. O valor pago pelo paneiro de 1kg é de R$ 10 reais. A lata com custa 60

reais, com peso de 12 kg. Outra vantagem deste tipo de comercialização é a economia de

custo em função da realização do comércio no domicílio do produtor. Uma vez que a

comercialização é realizada na própria casa de farinha, o valor destinado a custear

transporte é economizado, da mesma forma que o tempo para entrega.

A segunda opção são as vendas esporádicas. Esta modalidade de venda não

obedece a um ritual, normalmente a venda acontece na própria casa de forno na ocasião

da torração da farinha. Também tem situações em que agricultores da comunidade

compram a farinha para consumo. As vendas fora da propriedade são mais frequentes. A

venda por encomenda se repete nesta situação.

Os pedidos são feitos, com data, local e horários de entrega combinado

antecipadamente quase sempre na cidade. Os principais compradores são residentes na

própria cidade, mas existem os que moram em cidades distantes dos fabricantes. Não

existe nessa modalidade de venda nenhuma formalização. Tudo funciona a base da

confiança e da palavra. Em geral, as pessoas que compram são conhecidas dos produtores

de farinha.

O Festival Junino de Bragança é um evento que reuni moradores do município,

moradores dos municípios vizinhos e visitantes (turistas) de outras regiões. Durante os 4

dias do arrasta-pé, os brincantes dividem espaço com a uma grande casa de farinha (figura

3) montada em praça pública. Simultâneo ao arraial, acontece o processo de produção,

vendas e degustação da farinha.

O festival está se tornado um ambiente importante de comercialização da farinha

de Bragança, como de outros produtos derivados da mandioca.

Figura 7. Casa de farinha durante o Festival Junino em Bragança

Fonte: arquivo do GT da IG da Farinha de Bragança (2019).

Figura 8. Agricultor torrando farinha no Festival Junino de Bragança

Fonte: arquivo do GT da IG da Farinha de Bragança (2019).

Nos dias do festival as famílias de diferentes comunidades se revezam na

produção e comercialização na casa de farinha.

Estima-se que durante o festival junino são comercializados em torno de quatro

toneladas de farinha. Mas é importante frisar, que além de ser uma novidade nos festejos

juninos e um canal de comercialização, a casa de farinha, é um mecanismo de legitimação

social e valorização cultural das tradições locais.

A iniciativa foi tão bem avaliada que outros municípios como Augusto Corrêa e

Vizeu, também montam casas de farinha durante seus festivais juninos. É um momento

em que os agricultores se mostram para a sociedade, valorizam a cultura e o processo da

fabricação da farinha artesanal como intrínseco a identidade local. A farinha

soberanamente torna-se majestosa entre todas as atrações dos festivais.

No documento Universidade Federal do Pará (páginas 75-79)