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MESA-REDONDA | RECEPÇÃO DA OBRA DE JEAN PIAGET NO BRASIL E AMÉRICA LATINA

Resumo das Mesas-Redondas

MESA-REDONDA | RECEPÇÃO DA OBRA DE JEAN PIAGET NO BRASIL E AMÉRICA LATINA

Heranças cariocas – testemunhos da circulação diferencial de discursos piagetianos no Instituto de Psicologia da UFRJ e no ISOP (anos 1970-

1980)

Arthur Arruda Leal Ferreira Luiz Eduardo Prado da Fonseca Universidade Federal do Rio de Janeiro

O objetivo deste trabalho é trazer o testemunho, sob uma perspectiva históri- co-crítica, da circulação diferencial de discursos piagetianos, no último quarto do século XX, em espaços académicos, com o Instituto de Seleção e Orien- tação Profissional (ISOP) da Fundação Getulio Vargas (FGV) e do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade do Brasil (UB), posteriormente Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O ISOP, fundado, em 1947, por Emílio Mira y López, foi marcado pela promoção e divulgação da psicologia aplicada, tendo importante atuação no reconhecimento da própria profissão de psicolo- gia no Brasil. Seus objetivos eram, dessa forma, não só teóricos, mas princi- palmente conectavam preocupações políticas sobre a vida produtiva da nação e econômicas de maximização de ganhos com técnicas de governo do sujeito produtivo. Paralelamente ao funcionamento do ISOP, existia o IP da UB, cujo funcionamento se deu de 1939 até 1967, quando a UB se converte em UFRJ e aquele instituto se transforma no atual Instituto de Psicologia da UFRJ. É conhecida a “disputa” entre o ISOP e o IP da UB, especialmente no que toca à questão “teoria” versus “prática”. O trabalho que melhor condensa essa divisão é o de Mancebo (1997, p. 166), que, analisando o desenvolvi- mento da psicologia no Rio de Janeiro do século XX, estabelece que “Sua

visão [de Nilton Campos – um dos primeiros diretores do IP] muito afastada da prática entrava frequentemente em choque com a de Mira y López, cuja preocupação era exatamente divulgar, tornar conhecida, provocar o interesse pelas técnicas psicológicas”. Essa divisão de vocações institucionais tende a se apagar quando, na década de 1970, o ISOP cria o Programa de Pós- graduação em Psicologia, e o IP, poucos anos antes, em 1968, cria sua Di- visão de Psicologia Aplicada. É no correr dos anos 1970 e 1980 que ISOP e IP irão apresentar uma mais intensa circulação de discursos de matriz piage- tiana por meio de dois personagens: Antônio Gomes Penna e Franco Lo Presti Seminério, ambos presentes nas duas instituições. O que este trabalho busca, em um tom mais de testemunho, é analisar as circulações diferenciais dos enunciados piagetianos por meio do trabalho desses dois docentes e pesquisadores do IP/ISOP: ainda que ambos tenham produzido obras didáti- cas para apresentação de Piaget (Penna, 1978 e Seminério, 1986), a aborda- gem desse autor seguirá caminhos diversos. A proposta é que, em Seminério (1986, 1987 e 1988), podemos encontrar uma apropriação de Piaget mais voltada para produção de um modelo cognitivo e educacional (as Linguagens da Cognição), ao passo que, em Penna, é possível encontrar uma tomada mais epistemológica (Penna, 1987) do autor suíço. A abordagem desses mo- dos de circulação, apropriação e tradução será apresentada a partir de relatos memorialísticos, notadamente de experiências de trabalhos como estudante e orientando de Penna e Seminério.

A recepção das ideias de Piaget: assimilações e diálogos (im)pertinentes no Brasil

Mário Sérgio Vasconcelos Universidade Estadual Paulista

Qual foi a porta de entrada das ideais de Jean Piaget no Brasil? Como essas ideias se disseminaram? Quais são e onde se constituíram os núcleos piage- tianos brasileiros? Para responder a essas questões, coletamos dados em arquivos, anais, livros, periódicos, currículos, memoriais e realizamos entre- vistas com 41 profissionais de expressão que trabalharam e/ou trabalham com as ideias de Piaget no Brasil. Realizamos essa pesquisa dentro dos limi- tes da história descritiva e fizemos um "mapeamento" da propagação dessas ideias pelo país, indicando tendências político-sociais, educacionais e científi- cas que permearam tal difusão. O universo de dados com os quais trabalha- mos levou-nos, entre outras, às seguintes conclusões: a) o movimento da Escola Nova abre espaço para a difusão das ideias de Piaget no Brasil; b) a associação entre as pesquisas epistemológicas de Piaget e a educação deve- se, também, aos encargos de Piaget em instituições dessa área, assim como aos próprios conceitos sobre os quais elabora sua teoria; c) a propagação das ideias de Piaget tem início no final da década de 1920 e consolida-se na dé- cada de 1970 com a formação de "núcleos" piagetianos em sete estados bra- sileiros; d) nas décadas de 1960 e 1970, a corrente behaviorista aparece co- mo o principal obstáculo à divulgação da teoria piagetiana. Por outro lado aparece, por contraponto, como fonte de motivação para que se propague o ideário piagetiano; e) nos anos de 1980, começa a se fazer sentir a presença de pesquisas piagetianas interculturais dirigidas à realidade brasileira e inicia- se a divulgação das ideias de Piaget através da expansão do movimento construtivista; f) a partir da década de 1990, as variações do ideário vigos- tskiano se tornam as principais fontes de oposição às ideias de Piaget; g)

atualmente a maioria das pesquisas de referencial piagetiano é realizada por iniciativas individuais, contudo continuam existindo núcleos piagetianos ativos no Brasil.

Palavras-chave: Piaget - recepção - construtivismo - Brasil

Leituras de Piaget censuradas na Argentina durante a ditadura militar

Patricia Scherman Universidad de Córdoba, Argentina

O controle da cultura e da educação que o governo da última ditadura militar exerceu na Argentina (1976-1984) teve um impacto direto na formação profis- sional do psicólogo. Um dos principais instrumentos desse controle foi a cen- sura de autores e textos, que no ensino universitário foram articulados cuida- dosamente com a inspeção permanente do material de estudo e a perse- guição de professores e alunos. Nesta apresentação, tentaremos mostrar uma vigilância particular que operou no caso das produções que estavam sendo desenvolvidas na Argentina a partir da perspectiva piagetiana. Vere- mos como, durante a ditadura, o acesso ao universo de conhecimentos gera- do a partir dessa perspectiva foi limitado, em um contexto em que a psicologia era considerada uma disciplina perigosa ou até subversiva. De acordo com depoimentos coletados e escritos da época, após o golpe militar na Argentina, foi questionada a utilização de textos de autores como Freud e Piaget. Não houve censura aberta a esses autores, o que poderia levar à destruição de seus textos como em outros casos, mas havia um clima de suspeita sobre eles. Iremos indagar sobre a natureza dessa restrição, que, sem atingir a cen- sura, serviu como recomendação. Perguntamos quais elementos tiveram im-

realizada e como ela foi associada a autores de circulação proibidos ou restri- tos. A estrutura geral de nossa pesquisa tenta entender melhor os debates sobre o papel do psicólogo e a natureza científica da psicologia na Argentina, no início da década de 1970. Onde alguns lutaram para definir o psicólogo como profissional orientado para a mudança, como um intelectual que de dife- rentes maneiras poderia contribuir substancialmente para a transformação da ordem social, outros procuraram acentuar o aspecto eminentemente técnico da intervenção profissional.É por isso que ressaltamos que a censura instala- da pelo governo militar foi exercida sobre leituras e produções feitas a partir da perspectiva piagetiana que buscavam transcender a perspectiva técnica e que poderiam fornecer ferramentas conceituais para um profissional compro- metido com um horizonte transformador do sujeito e da ordem social.

Palavras-chave: Piaget - Argentina - Córdoba, Ferreiro - Censura - Ditadura - História recente.

Movimientos centrífugos y centrípetos en el Centro Internacional de Epistemología Genética: circulaciones suizo-argentinas.

Ramiro Tau Universidad de Ginebra

Los estudios acerca de la circulación de saberes y prácticas relacionadas con el programa de investigación de la Escuela de Ginebra se han centrado casi exclusivamente en procesos de sentido único. Es así como, diversas publica- ciones, han tratado la recepciónde la obra de Jean Piaget y sus colaborado- res en diferentes contextos internacionales, como un caso particular de apro- piación o lectura. Mayoritariamente estos trabajos se han interesado en los usos e interpretaciones regionales de las tesis piagetianas, realizadas por didactas, pedagogos y psicólogos interesados en el campo educativo. En me-

nor medida, se ha intentado mostrar de qué modo la Epistemología Genética contribuyó a la definición de los problemas fundamentales del campo psicoló- gico, durante los años de consolidación de las carreras y facultades de psico- logía. Las publicaciones sobre estas recepciones en países de Latinoamérica no han sido la excepción, aunque han tenido la singularidad de subrayar la complejidad inherente a una obra heterogénea y de difícil clasificación. Sin embargo, salvo algunas entrevistas o menciones breves, no existen trabajos sistemáticos sobre el rol específico que tuvieron los investigadores extranje- ros en el Centro Internacional de Epistemología Genética (CIEG). En esta línea, una parte de nuestra investigación reciente trata de mostrar, a través del análisis microhistórico de las interacciones entre los actores involucrados, qué tipo de prácticas, conocimientos y estilos se consagraron en el Centro de Ginebra. Más específicamente, qué tipos de hibridaciones epistémicas o fe- cundaciones cruzadas se establecieron entre las tesis del programa piage- tiano y los conocimientos y marcos teóricos de los investigadores externos. En esta presentación nos ocuparemos de indagar el recorrido académico de los cinco argentinos que colaboraron de manera directa con Piaget durante la segunda mitad del siglo XX: Antonio Battro, Mario Bunge, Rolando García, Emilia Ferreiro y Silvia Parrat-Dayan. Nos detendremos en los proyectos es- pecíficos de los que participaron, en sus roles en la investigación empírica y en la discusión teórica, así como en sus principales contribuciones originales al programa general. Asimismo, discutiremos los efectos de estas colabora- ciones en la recepción de la obra piagetiana en Argentina, intentando mostrar el papel de mediadores clave que cada uno de estos investigadores jugó en campos epistémicos tan diversos como los de la informática, la epistemología, la teoría de los sistemas complejos, la psicolinguística o la educación, aunque también en la política y la planificación universitaria.

MESA-REDONDA | QUESTÕES TEÓRICAS SOBRE A OBRA DE