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ANTECEDENTES E PROCESSOS IMPLICADOS NO PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO SOCIAL CONTRIBUTOS PARA UM MODELO INTEGRADO DOS

3.1. Antecedentes do processamento da informação social

3.1.2. Meta-emoção parental

A literatura atual salienta o papel fundamental da família, primordialmente dos pais, enquanto agentes de socialização das emoções, enfatizando o seu impacto no desenvolvimento psicológico da criança (Cruz, 2013). Os pais que encorajam a criança a explorar e a compreender as emoções, verbalizando e partilhando o seu significado, promovem o conhecimento emocional e permitem à criança treinar uma expressão emocional adequada (Ashiabi, 2000). As reações comportamentais e emocionais do cuidador às emoções da criança ajudam-na a diferenciar as várias emoções, fornecendo pistas para a escolha das situações que merecem uma resposta emocional e modelando comportamentos adequados (Sroufe, 1996). Por outro lado, os pais que respondem aversivamente às expressões emocionais negativas dos filhos podem contribuir para ampliar essas emoções em contextos que as evoquem e, consequentemente, aumentar a probabilidade destas crianças apresentarem um comportamento desadequado (Eisenberg, Fabes, & Murphy, 1996).

Alguns autores defendem que a capacidade dos pais ajudarem os seus filhos a regular as emoções depende da sua capacidade para perceber os seus próprios estados emocionais e das suas ideias sobre a educação das emoções, aquilo que Gottman, Katz e Hooven (1996) designaram como filosofia da meta-emoção. Esta integra a consciência que os pais têm das suas emoções, das emoções da criança e a abordagem educativa que fazem das emoções (Gottman, Katz, & Hooven, 1996). Nesta abordagem educativa Gottman e colaboradores (1996) descrevem cinco componentes aqui nomeadas como: 1) tomada de consciência, ou seja, ter consciência das emoções de baixa intensidade neles próprios e nos filhos, 2) aprendizagem, ou seja, assumir as emoções da criança como uma oportunidade de intimidade e de aprendizagem, 3) reconhecimento, ou seja, validar as emoções da criança, reconhecendo-as, 4) nomeação, ou seja, ajudar a criança a nomear aquilo que sente, e 5) reflexão, ou seja, discutir as situações que desencadeiam as emoções e traçar os limites, os objetivos e as estratégias para lidar com essas emoções. Os pais que na sua abordagem educativa ativam estas componentes, potenciam a socialização das emoções e promovem a competência social e emocional dos seus filhos (Eisenberg, et al., 1996; Katz, Maliken, & Steller, 2012).

Apesar de ainda não existir um vasto corpo de investigação, já existe evidência de que os pais se diferenciam quanto às suas competências meta- emocionais. Gottman e colaboradores (1996) distinguem duas grandes categorias na meta-emoção parental: (1) a meta-emoção orientadora (coaching), que envolve uma componente comportamental, relacionada com as ações e os comportamentos concretos dos pais, e uma atitude, da qual emergem práticas parentais perante as emoções dos filhos e (2) a meta-emoção desligada (dismissing), em que as emoções próprias e da criança são desvalorizadas, existindo uma insensibilidade parental e uma incapacidade para entender e ajudar a criança a lidar com as emoções de modo construtivo.

Os pais que apresentam uma filosofia de meta-emoção orientadora tendem a encarar os momentos de interação emocionalmente intensos, como oportunidades privilegiadas para estreitar relações com os seus filhos e para capacitar a criança nas tarefas de reconhecimento, regulação e expressão emocional, potenciando o seu desenvolvimento social e emocional. Pelo contrário, os pais que apresentam uma meta-emoção desligada, respondem a estas situações, ignorando ou ridicularizando as reações emocionais dos filhos (pais ausentes), punindo-os quando confrontados com as suas emoções (pais punitivos), ou não colocando nenhum tipo de limites às suas reações emocionais (pais permissivos), não ajudando portanto os filhos a regular as suas emoções (Gottman & DeClaire, 1999).

Para além desta tipologia de reações parentais face às emoções dos filhos proposta por Gottman e DeClaire (1999), na literatura encontramos ainda uma outra categorização das reações parentais face às emoções negativas dos filhos, proposta por Fabes, Eisenberg e Bernzwieng (1996).

Estes autores consideram que os pais podem reagir de forma negativa às expressões emocionais dos filhos, manifestando reações de: a) punição, que implicam comportamentos parentais punitivos ou de restrição da expressão emocional da criança, b) minimização, que refletem comportamentos parentais de desvalorização da importância da reação da criança, e c) perturbação, que estão associadas a alguma desorganização, mal-estar e aborrecimento dos pais face às emoções dos filhos. Por outro lado, os pais podem apresentar respostas de construtivas às emoções negativas dos filhos, apresentando reações: a) centradas no problema, quando ajudam as crianças a lidar com as emoções negativas, focando-se no que as desencadeou, b) centradas na emoção, quando ajudam as

crianças a lidar com o que estão a sentir, e c) de encorajamento, quando encorajam as crianças a expressar as suas emoções

Fabes e colaboradores (1996) construíram uma escala que avalia precisamente as respostas parentais às emoções negativas expressas pelas crianças - Coping with Children´s Negative Emotions Scale (CCNES)5. A CCNES permite perceber como é que os pais tendem a responder às emoções negativas dos filhos. Estas reações traduzem a forma como sentem e pensam as emoções e, neste sentido, podem ser entendidas como um indicador da meta-emoção parental (Gottman et al., 1996).

De realçar que as interações emocionais que se estabelecem entre pais e filhos resultam de um processo de co-construção influenciado por um fator endógeno, o temperamento da criança (Chen, Lin, & Li, 2012). Um corpo considerável de investigação pretende analisar a relação entre a meta-emoção parental e o temperamento das crianças. As crianças com elevados índices de reatividade temperamental que encontram nos seus pais uma base segura, que podem expressar os seus sentimentos de zanga e que são apoiadas a regular, de forma mais adequada, estas emoções negativas, tenderão a apresentar comportamentos sociais mais adequados e menos agressivos (Dollar & Stifter, 2011).

Como já foi referido, os investigadores consideram a reatividade emocional e a capacidade de regulação da criança como dimensões do temperamento com uma forte componente genética e biológica (Rothbart, et al., 2001), mas também reconhecem o papel das influências ambientais, onde se incluem as familiares, na determinação destas características (Rothbart & Bates, 1998).

Um vasto corpo de investigações identifica a parentalidade e o temperamento da criança como fatores determinantes do funcionamento socio-emocional das crianças (Eisenberg, Cumberland et al, 2001; Kochanscka & Knaack, 2003; Rothbart & Bates, 2006). O temperamento e a parentalidade parecem assumir um cariz cumulativo na predição dos problemas de comportamento (Bates, 1989). Nalguns estudos o temperamento surge como o fator protetor quando a parentalidade apresenta fragilidades (Spinrad, Eisenberg, Gaertner, Popp, Smith, Kupfer, Greving, Liew, & Hofer, 2007), enquanto outros mostram que um temperamento fácil e uma

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parentalidade adequada predizem o bom ajustamento das crianças (Lengua, Wolchilk, Sandler, & West, 2000).

A investigação recente tem-se focado na relação entre o temperamento, reações parentais à expressão de emoções negativas dos seus filhos (Chen, et al., 2012) e ajustamento social das crianças (Palmeira, Gouveia, Dinis, & Lourenço, 2011). Os estudos evidenciam uma relação negativa entre o factor afetividade negativa do temperamento e as reações parentais de suporte manifestas pelos pais face às emoções negativas dos filhos (Spinrad et al., 2007). Outras investigações revelam que as reações parentais negativas a emoções negativas da criança, como medo, raiva ou tristeza, se associam a uma menor competência social, menor competência emocional (Eisenberg, et al., 1996; Gottman, et al., 1996; Roberts & Strayer, 1987) e índices elevados de desajustamento social nas crianças (Suveg, Zeman, Flannery-Schroeder, & Cassano, 2005).

3.1.3. Antecedentes do processamento da informação social e aceitação