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Modelo Integrado dos Processos Cognitivos e Emocionais do Processamento da Informação Social

MODELO DO PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO SOCIAL

2.2. Modelo Integrado dos Processos Cognitivos e Emocionais do Processamento da Informação Social

A evidência empírica acerca do papel que os processos sociais e emocionais assumem no processamento da informação social foi revista e interpretada por Lemerise e Arsenio (2000) no contexto do Modelo Integrado da dos Processos Cognitivos e Emocionais do Processamento da Informação Social (cf. Figura 3). Este modelo revisto de processamento da informação social integra as competências e as memórias emocionais como informação do funcionamento social e considera-as de uma forma diferenciada. As memórias emocionais fornecem informações acerca das experiências passadas, e as ligações entre a emoção e a cognição permitem a ativação de emoções pertinentes. A capacidade de identificar e nomear emoções permite uma maior acuidade na identificação e interpretação dos sinais sociais. As emoções influenciam marcadamente o processamento da informação social, salientando-se em particular o papel que a empatia assume na codificação dos estímulos sociais e posteriormente na tomada de decisão (Lemerise & Arsenio, 2000).

Os processos emocionais cumprem funções motivacionais, reguladoras e comunicativas que diferem das funções cognitivas como a perceção, atenção, memória e linguagem (Lemerise & Arsénio, 2000). Citando Izard, …Emotion is about

motivation, cognition about knowledge… (Izard, 1994, p. 204). Esta é uma leitura

partilhada pela neuropsicologia e pela teoria do processamento da informação social, já que ambas consideram que as emoções orientam os indivíduos para determinados aspetos do meio e direcionam os processos cognitivos e as respostas comportamentais com vista a uma melhor adequação social (Damásio, 1995).

Figura 3: Modelo Integrado dos Processos Cognitivos e Emocionais do Processamento da Informação Social (adaptado de Lemerise & Arsenio, 2000).

No decorrer de cada fase do processamento da informação encontram-se vários elementos que legitimam a integração da emoção. Assim, na primeira etapa de codificação dos estímulos, o estado emocional (e.g. aceleração do batimento cardíaco) funciona como um sinal interno que é codificado e que condiciona a codificação dos estímulos externos (e.g. expressões emocionais dos pares).

Parece evidente o impacto que a emoção pode ter na segunda etapa relativa ao processo de interpretação de uma situação particular. Se o primeiro contacto com um novo colega é marcado por sentimentos negativos, como por exemplo o medo, a probabilidade de experienciar negativamente os contactos seguintes com esse mesmo colega é maior. Da mesma forma, um estado emocional prévio, como por exemplo a fadiga, pode influenciar a forma como a criança interpreta determinadas pistas que ficam armazenadas na memória como negativas. A interpretação que a criança faz da situação determina o seu estado emocional, por exemplo, ao interpretar como hostis as intenções do par, a criança tenderá a sentir medo (Crick & Dodge, 1994).

Na terceira fase, mais uma vez, o estado emocional da criança assume um papel preponderante, podendo incentivar ou inibir o investimento num determinado

5. Tomada de Decisão 4. Construção ou acesso à resposta 3. Clarificação ou Seleção do Objetivo 2. Interpretação e representação mental dos estímulos 1. Codificação dos Estímulos 6. Determinação Comportamental BASE DE DADOS Indicadores Somáticos PROCESSOS EMOCIONAIS Avaliação e Resposta dos Pares

objetivo. Por exemplo, o sentimento de zanga face a um colega poderá alimentar objetivos que visam uma retaliação, enquanto que o sentimento de medo poderá levar a criança a desistir de um determinado objetivo.

Na quarta fase, relativa à escolha da resposta, a experiência de sentimentos negativos como a ansiedade, poderá levar a criança a apresentar comportamentos de evitamento. As emoções vividas pelas crianças irão certamente condicionar as respostas manifestas. Por sua vez, as respostas apresentadas pelas crianças também influenciam o seu estado emocional (Crick & Dodge, 1994).

Ao antecipar as emoções que decorrem dos seus comportamentos, a criança pode ajustar o acesso às suas respostas ou construir novas respostas, em função do objetivo que traçou. Assim, se a criança selecionou um objetivo interno (e.g. manter o bem-estar que sente), e antecipar que um determinado comportamento pode despoletar um sentimento agradável, a escolha desse mesmo comportamento será reforçada. Pelo contrário, a previsão de um sentimento negativo, como a crítica depreciativa de outrem face ao comportamento da criança, pode levá-la a abandonar esse mesmo comportamento.

Em síntese, tem-se registado um progresso significativo na investigação desenvolvida no âmbito do processamento da informação social (Crick & Dodge, 1994, Dodge 1996) e da componente emocional presente nesse processamento (Hubbard & Coie, 1994). Mais, Lemerise e Arsenio (2000) reconhecem e explicitam o papel dos processos emocionais, e a sua integração, a par dos processos cognitivos, no modelo de processamento da informação social de Crick e Dodge (1994).

A criança que ao longo das várias fases do processamento trata de forma hábil e eficiente a informação social, tem uma maior probabilidade de apresentar um comportamento social avaliado como competente pelos outros, promovendo assim a sua aceitação no seio do grupo de pares (Dodge, 1986; Crick & Dodge, 1994; Lemerise & Arsenio, 2000). Como já foi referido a última fase do modelo de processamento da informação social refere-se ao cumprimento da resposta selecionada, ou seja, ao “comportamento exibido pela criança”. Este será sujeito a uma “avaliação por parte dos diferentes agentes sociais” (Cruz & Lopes, 1998), entre os quais se destacam os pares. A aceitação pelos pares é o resultado da avaliação que os pares fazem do comportamento exibido pela criança num determinado contexto.

O desenvolvimento humano é influenciado pelas trocas sociais que ocorrem nos diferentes contextos de vida e pelos processos que estas desencadeiam no indivíduo. No processamento da informação social, tal como em qualquer outro processamento, os resultados poderão favorecer ou não a adaptação do indivíduo. Atualmente, as investigações alicerçadas no modelo do processamento da informação visam a compreensão dos comportamentos socialmente ajustados e desajustados (Lemerise & Maulden, 2010).

Numa revisão da literatura, Vasconcellos, Picon, Prochnow e Garner (2006) constataram que, entre 1980 e 2004, os estudos desenvolvidos no âmbito do processamento da informação social foram realizados com crianças ou adolescentes agressivos. Os focos foram o ajustamento social e os mecanismos envolvidos na agressividade infantil, pressupondo-se que a compreensão e a interpretação que as crianças desenvolvem dos estímulos sociais influenciam o seu comportamento e ajustamento social. Mais recentemente, o modelo de processamento da informação social tem vindo a ser aplicado aos problemas internalizados, nomeadamente às perturbações do humor (Harper, Lemerise, & Caverly, 2010). Para além de intervenções em populações clínicas, este modelo constitui o suporte teórico de intervenções que visam a promoção do ajustamento socio-emocional de crianças (Adrian, Lyon, Oti, & Tininenko, 2010). Algumas temáticas recentes e relevantes no domínio do ajustamento socio-emocional das crianças e adolescentes, como o

cyberbullying, têm vindo a ser investigadas a partir dos referenciais teóricos

propostos pelo modelo de processamento da informação social (Runions, Shapka, Dooley, & Modecki, 2013).

Do ponto de vista da psicologia do desenvolvimento, a abordagem do processamento de informação social procura oferecer uma grelha compreensiva da influência dos preditores cognitivos, emocionais e sociais numa interação social (Lemerise & Arsenio, 2000). Este modelo do processamento da informação social enfatiza o papel dos processos cognitivos, emocionais e sociais sobre a interação e adaptação social, procurando descrever o modo como as crianças processam a informação social e selecionam o comportamento a manifestar durante as interações sociais, fornecendo assim uma grelha teórica compreensiva da aceitação pelos pares.

Os preditores da aceitação pelos pares em idade escolar constituem o cerne deste trabalho que encontra no Modelo Integrado dos Processos Cognitivos e

Emocionais um guião teórico estruturante e pertinente. No entanto, a complexidade do modelo teórico, nomeadamente o seu carater cíclico, não se coaduna com o tamanho da amostra que integra esta tese, tornando impossível validar empiricamente o modelo na sua totalidade. No entanto, face à pertinência que a aceitação pelos pares assume na trajetória de cada indivíduo e à necessidade de se analisar os antecedentes e processos implicados no processamento da informação que a determina, propõe-se a construção de um modelo hipotético – Modelo Integrado dos Preditores da Aceitação pelos Pares - que será descrito no próximo capítulo.

CAPITULO III

ANTECEDENTES E PROCESSOS IMPLICADOS NO PROCESSAMENTO DA