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Modelo Integrado dos Preditores da Aceitação pelos Pares

ANTECEDENTES E PROCESSOS IMPLICADOS NO PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO SOCIAL CONTRIBUTOS PARA UM MODELO INTEGRADO DOS

3.3. Modelo Integrado dos Preditores da Aceitação pelos Pares

O modelo do processamento da informação social (Crick & Dodge, 1994; Dodge, 1886; Lemerise & Arsenio, 2000), identifica os antecedentes integrados na base de dados e os processos cognitivos, emocionais e sociais, envolvidos no processamento da informação social que decorre ao longo de seis etapas – codificação, interpretação, clarificação de objetivos, construção ou acesso de resposta, tomada de decisão e determinação comportamental. Como já foi referido anteriormente, no decorrer das duas primeiras etapas a criança codifica e interpreta os estímulos sociais. A criança atende de forma seletiva a determinados aspetos da situação e a alguns indicadores internos, codifica-os e depois interpreta-os. Depois de interpretada a situação social, no decorrer da terceira etapa, a criança terá de selecionar um novo objetivo para a situação ou prosseguir com o objetivo já existente. Durante a quarta etapa são criadas respostas alternativas para lidar com as exigências da situação. Na quinta etapa, a criança avalia as consequências das diferentes respostas e seleciona a mais adequada para implementar a tomada a decisão e, finalmente, na sexta etapa a criança apresenta a resposta selecionada (Crick & Dodge, 1994).

Na investigação desenvolvida no âmbito da presente tese de doutoramento será testado um modelo teórico hipotético em que os componentes do Modelo do

processamento da informação social – antecedentes e processos – são operacionalizados através de um conjunto de variáveis que assumem um papel diferenciado durante as seis etapas do processamento da informação social que determinarão a aceitação pelos pares.

Este modelo hipotético foi nomeado Modelo integrado dos preditores da

aceitação pelos pares e aparece representado na Figura 4. Baseando-se no Modelo

integrado dos processos cognitivos e emocionais do processamento da informação social (Lemerise & Arsenio, 2000), este modelo apresenta contudo um carácter linear, dadas as exigências metodológicas colocadas pela verificação de um modelo circular. O modelo integra os antecedentes, constituídos pelo temperamento da criança e pela meta-emoção parental, que se associam à aceitação pelos pares e a todos os processos cognitivos, emocionais e sociais envolvidos nas diferentes etapas do processamento da informação social, que se detalham de seguida.

Na primeira etapa do processamento da informação social o indivíduo atende e codifica o estímulo social. Durante a interação social o indivíduo terá que dirigir a sua atenção e percecionar um conjunto de sinais verbais e não-verbais e de sinais do contexto social, que irão fornecer pistas acerca da intenção do outro (Runions, et al., 2013); sendo esta uma manifestação da componente cognitiva e emocional da empatia (Falcone et al., 2008). A perceção irá possibilitar o conhecimento e a interpretação dos estímulos sensoriais que integram o processamento da informação social. A atenção permitirá à criança tomar consciência do meio envolvente e focar no estímulo a processar (Viana & Cruz, 1996) e irá permitir à criança comparar as informações processadas com as contidas na memória. Assim, a codificação depende dos processos cognitivos do sujeito e das características do meio envolvente (Greco, 2002).

Durante a interpretação (segunda etapa), o estímulo social é sujeito a um conjunto de processos que resultam na atribuição de um significado (Crick & Dogde, 1994). A interpretação poderá incluir uma análise das causas, das atribuições e das intenções. Esta análise será influenciada pelas autoavaliações e avaliações dos outros face ao objetivo a alcançar e também pelas memórias do sujeito de prestações anteriores. O significado atribuído ao estímulo será determinado: (a) pelas memórias contidas na base de dados (nomeadamente as reações parentais às reações negativas das crianças), (b) pelas características temperamentais da criança (nomeadamente, a sua afetividade negativa), (c) pela capacidade do sujeito

reconhecer e interpretar de forma correta as emoções dos outros (e.g. conhecimento emocional) e (d) pela capacidade de integrar os seus objetivos com os objectivos dos seus pares (e.g. cooperação) (Lemerise & Maudlen, 2010). Os estudos revelam que as crianças que apresentam níveis elevados de afetividade negativa apresentam um viés atribucional negativo (por exemplo, tendem a ler como ameaçadoras as situações sociais ambíguas) que afeta a qualidade do processamento da informação social e, por isso, manifestam menos comportamentos pró-sociais e apresentam um pior ajustamento social (Eisenberg, et al., 2000; Wilson, Lipsey, & Derzon, 2003). Prevê-se que, durante a codificação e a interpretação, os esquemas sociais armazenados na memória e a afetividade negativa da criança, influenciem diretamente os processos atencionais e percetivos, o conhecimento emocional e a cooperação.

Depois de cristalizada as etapas da codificação e da interpretação, na terceira etapa a criança clarifica e avalia as implicações da sua interpretação de forma a determinar uma resposta comportamental (Crick & Dodge, 1994). A criança antecipa as consequências que decorrerão do objetivo definido e as potenciais repercussões sociais dessa resposta.

Na quarta etapa do processamento, em que a criança terá que, a partir das experiências anteriores retidas na memória, antecipar respostas e proceder à avaliação das consequências emocionais e sociais das mesmas (Crick & Dodge, 1994), destaca-se o papel da regulação emocional e do autocontrolo (Lemerise & Arsenio, 2000). A capacidade da criança manter a sua atenção num determinado estímulo afetivo em detrimento de outro (negativo), constitui um dos principais componentes da regulação emocional (Wilson & Gilbert, 2003). Esta regulação emocional potencia a qualidade do processamento da informação social (Bauminger & Kimhi-Kind, 2008), pois permite à criança monitorizar, avaliar e modificar as suas reações emocionais, ajustando-as aos objetivos definidos (Thompson, 1994). O autocontrolo refere-se a um conjunto de comportamentos e estratégias, reveladores da avaliação cognitiva que a criança desenvolve tendo em vista objetivos sociais previamente selecionados (Kazdin, 1994), podendo levar à manutenção ou à mudança de um determinado comportamento.

Depois da criança avaliar as potencialidades da sua resposta e considerar as consequências sociais positivas e negativas do seu comportamento (Crick & Ladd, 1990; Slaby & Guerra, 1988), na quinta etapa irá priorizar os objetivos a atingir e

tomar uma decisão. Os objetivos sociais das crianças em idade escolar são sempre dominados pela impressão que julgam produzir junto dos seus pares. Articulam-se assim os objetivos centrados no indivíduo (a criança que quer cumprir os sus objetivos de forma imediata) com os objetivos centrados no grupo (a criança que quer ser aceite pelos pares e que visa manter a proximidade face ao grupo). O equilíbrio entre estes dois objetivos será determinado pela capacidade empática da criança e será manifesto através da componente social da empatia - a assertividade - que surge em estreita associação com a competência linguística (Falcone et al., 2008; Ojanen, Gronroos, & Salmivalli, 2005).

As crianças que possuem um bom vocabulário emocional são mais capazes de expressar de forma ajustada as suas emoções e refletir sobre elas e sobre as emoções dos outros, potenciando desta forma o seu conhecimento emocional e a sua regulação emocional (Shields, Dickstein, Seifer, Giusti, Magee, & Spritz, 2001). A expressão emocional positiva, aberta e genuína, emparelhada com uma boa competência linguística, aumenta a probabilidade do comportamento exibido na sexta etapa (determinação comportamental), ser avaliado positivamente pelos outros, potenciando assim os níveis de aceitação pelos pares (Marchezini-Cunha & Tourinho, 2010). ACEI TA ÇÃ O P EL O S PA RE S PROCESSOS COGNITIVOS

Perceção Atenção Memória Linguagem