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3. Informação, conhecimento e trabalho

3.8 Metamorfoses do trabalho no século XXI

Ao abordar o trabalho no século XXI, Antunes (2009b) coloca-nos uma pertinente pergunta, indaga ele quais seriam os contornos que configuram a nova morfologia que o trabalho assume diante da reestruturação capitalista em curso.

A partir do estímulo trazido pela indagação do autor, o presente tópico de nossa exposição teórica discute as novas morfologias que o trabalho tem assumido na atualidade. Para tal, optamos por empregar um olhar crítico que busca, sobretudo, as contradições que aí residem.

Antes de avançar na questão do trabalho na era digital, é preciso fazer uma ressalva preliminar. É mister reconhecer que, ainda que o mundo do trabalho e as relações de produção estejam passando por algumas mutações diante da expansão da produção intangível, continuam plenamente vigentes algumas formas de extorsão de mais-valia que pouco diferem da realidade analisada por Marx em seu tempo.

Essa afirmativa é sustentável mesmo que reconheçamos, a exemplo de Antunes (2009b, p.235), que está se reduzindo cada vez mais o “proletário industrial fabril, tradicional, manual, estável e especializado, herdeiro da era da indústria verticalizada de tipo taylorista e fordista, especialmente nos países avançados”.

Ainda que a produção intangível tenha importância econômica crescente, a sociedade não pode prescindir da produção dos bens físicos que suprem nossas necessidades básicas, como alimentação, vestes, materiais para construção civil, instrumentos e ferramentas, incluindo os meios de comunicação e toda a parafernália eletrônica que forma a Internet.

Conforme argumenta Amorim (2009), as teorias que defendem a emergência do trabalho dito imaterial nasceram nos países da Europa ocidental quando se observava neles uma redução do trabalho industrializado, o que teria sido interpretado como uma tendência de todas as sociedades capitalistas.

Talvez por influência da realidade particular desses países, os defensores da ideia trabalho imaterial pouco discorrem sobre as contraditórias relações de trabalho que emergiram nos países até então desindustrializados ou fracamente industrializados, quando as plantas fabris situadas nas nações centrais foram transferidas para as periféricas. Podemos afirmar que essa lacuna teórica ainda persiste hoje nos discursos que abordam a era da informação sem dar a devida atenção aos trabalhadores das plantas industriais (que nunca deixarão de existir, diga-se de passagem), bem como aos que se encontram marginalizados, aos imigrantes, aos

semiescravos, aos precariamente incluídos no mercado de trabalho e aos que estão alijados definitivamente dele.

Dados sobre as degradantes condições de trabalho que têm sido registradas nas linhas de produção das fábricas asiáticas trazem à lembrança os primórdios cruéis do capitalismo na Inglaterra do século XIX. Jornada de trabalho excessiva, exposição a resíduos tóxicos, frequentes acidentes de trabalho e dormitórios superlotados são alguns dos problemas mais frequentes que surgem nas plantas localizadas na Ásia, onde são produzidos equipamentos de marcas como Apple, Dell, Hewlett-Packard, I BM , Lenovo, M otorola, Nokia, Sony e Toshiba.

É emblemático o exemplo da companhia Foxconn, fabricante de equipamentos de marcas como Apple, Intel, Dell, Hewlett Packard, Sony, Nintendo e Microsoft, entre outras. Conforme reportado por relatórios elaborados pela própria Apple32, por relatórios de organizações trabalhistas33 e pela imprensa34, entre os vários problemas registrados na Foxconn, um deles chama a atenção pelo seu caráter distópico. Trata-se da onda de suicídios, que chegaram a atingir o total de 13 durante o ano de 2010, ocorridos nas instalações da empresa, como na cidade-fábrica localizada em Shenzhen, local onde residem e trabalham cerca de quinhentos mil funcionários. Diante do fato, soluções inusitadas foram adotadas pela companhia, como a instalação de telas de proteção antissuicídio nos edifícios e criação de um termo de compromisso em que o funcionário se compromete a não se matar.

Exemplos como esse sugerem que, para que alguns países pudessem se dar ao luxo de se tornarem economias do conhecimento, voltadas principalmente para a atividade intelectiva, para o trabalho de concepção e o trabalho criativo, outros países tiveram que arcar com o ônus

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Supplier Responsibility Progress Report 2012 (Apple). Disponível em

<http://www.apple.com/supplierresponsibility/reports.html>. Acesso em 10 jan. 2014.

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Foxconn and Apple Fail to Fulfill Promises: Predicaments of Workers after the Suicides (SACOM). Disponível em: <http://sacom.hk/wp-content/uploads/2011/05/2011-05-06_foxconn-and-apple-fail-to-fulfill- promises1.pdf>. Acesso em 10 jan. 2014.

Sweatshops are good for Apple and Foxconn, but not for workers (SACOM). Disponível em

<http://pt.scribd.com/doc/95395223/Sweatshops-Are-Good-for-Apple-and-Foxconn-But-Not-for-Workers>. Acesso em 10 jan. 2014.

Foxconn Investigation Report (Fair Labor Association). Disponível em

<http://www.fairlabor.org/report/foxconn-investigation-report>. Acesso em 10 jan. 2014.

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In China, Human Costs Are Built Into an iPad (New York Times). Disponível em:

<http://www.nytimes.com/2012/01/26/business/ieconomy-apples-ipad-and-the-human-costs-for-workers-in- china.html?pagewanted=all>. Acesso em 10 jan. 2014.

Foxconn: 'Hidden dragon' out in the open (BBC News) Disponível em:

<http://www.bbc.co.uk/news/business-19699156>. Acesso em 10 jan. 2014.

1 Million Workers. 90 Million iPhones. 17 Suicides. Who’s to Blame? (Wired). Disponível em

do trabalho fabril, em que as doutrinas da mais-valia absoluta e da mais-valia relativa são implacáveis.

Nota-se, portanto, a relevância, em pleno século XXI, da produção industrial e da exploração do trabalho fabril, justamente em segmentos considerados os mais inovativos e criativos da atualidade. Nesse contexto, o trabalho de concepção e o trabalho de produção fazem parte de uma mesma realidade indissociável, ainda que estejam alocados em diferentes lados do oceano Pacífico. Nos domínios das relações macroeconômicas, o trabalho do conhecimento continua inseparavelmente associado ao trabalho produtor de mercadorias, como as duas faces do deus Janus.

Feita essa ressalva preliminar, podemos avançar na análise das novas morfologias do trabalho que lida diretamente com elemento intangível. Mais especificamente, as metamorfoses do trabalho intangível mediado pelas tecnologias de informação e comunicação.

A controvérsia existente entre opiniões otimistas e pontos de vista críticos expõe o dissenso presente nas análises sobre o tema.

Hardt e Negri (2006) podem ser considerados autores que veem com otimismo as configurações do trabalho na era digital. Os autores alegam que uma nova força de trabalho imaterial, mais cooperativa, comunicativa e afetiva, emerge da luta do proletariado contemporâneo e seu desejo de resistir à sociedade disciplinar, o que força uma reestruturação produtiva no capitalismo.35

Adicionalmente, os autores advogam que a negação do trabalho disciplinar do tipo taylorista é uma das marcas do mundo contemporâneo. Afirmam que “a recusa do regime disciplinar da fábrica social foi acompanhada de uma reavaliação do valor social de todo o conjunto das atividades produtivas. O regime disciplinar claramente não conseguiu conter as necessidades e desejos dos jovens” (HARDT, NEGRI, 2006).

Segundo a concepção desses autores, o capital tem que se confrontar atualmente com um novo proletariado marcado pela subjetividade simbólica. Aos agentes desse trabalho imaterial, Hardt e Negri (2006, p.289) atribuem o destino do capitalismo no século XXI: “O proletariado inventa, efetivamente, as formas sociais e produtivas que o capital será forçado a adotar no futuro”.

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O trabalho imaterial é definido pelos autores nos seguintes termos: “Os setores de serviço da economia apresentam um modelo mais rico de comunicação produtiva. A maioria dos serviços de fato se baseia na permuta contínua de informações e conhecimentos. Com a produção de serviços não resulta em bem material ou durável, definimos o trabalho envolvido nessa produção como trabalho imaterial, ou seja, o trabalho que produz um bem imaterial, como serviços, produto cultural, conhecimento ou comunicação” (HARDT, NEGRI, 2006, p. 311).

Sobre essas questões, Braga (2009) assume uma perspectiva crítica e nega o ponto de vista otimista segundo o qual a rede surge como o modelo de organização da produção que substitui radicalmente a linha de montagem fordista e o cronômetro taylorista.

O autor tece crítica às interpretações que, não obstante serem majoritariamente absorvidas pela opinião pública e pelos meios acadêmicos, pecam pelo exagerado otimismo em relação a uma suposta revolução informacional que estaria em desenvolvimento atualmente. Nesse sentido, o autor atribui um caráter utópico aos discursos que enfatizam o lado emancipatório do trabalho mediado pelas tecnologias de informação e comunicação.

Braga (2009) defende a necessidade de discutir a outra face do trabalho informacional e confrontar a misérias do trabalho informacional autêntico com a prosperidade do trabalho informacional idealizado. Para tanto, advoga que a análise do campo das relações capitalistas de trabalho é a chave para a apreensão dos fundamentos praxiológicos da dialética desse tipo de trabalho.

Se é verdade que a força ideológica presente na utopia da sociedade da informação radica exatamente na promessa de uma inserção social emancipada no e pelo trabalho, também é verdade que somente pela análise do campo das relações capitalistas de trabalho poderemos apreender os fundamentos praxiológicos da dialética do trabalho informacional – ao mesmo tempo contemporâneo e retrógrado, oportuno e inoportuno... (BRAGA, 2009, p.65).

Huws (2009) destaca a dificuldade terminológica para designar os diferentes tipos de trabalho que lidam com a telemática. O desafio releva-se problemático, sobretudo pela crescente multiplicidade e heterogeneidade das atividades laborais que lidam com o elemento imaterial.

O traço comum a todas essas atividades, o fato de não produzir um bem tangível, não permite considerar que todos os trabalhadores aí envolvidos formem uma classe homogênea e que todos eles tenham o mesmo status dentro da produção capitalista.

Segundo Huws (2009), a crescente complexidade da divisão do trabalho dentro das funções torna mais difícil a tarefa de designar trabalhadores segundo sua relação funcional com o capital. A análise torna-se ainda mais intricada devido às mudanças que ocorrem na propriedade das estruturas das corporações, haja vista os efeitos combinados das terceirizações, privatizações, separações, fusões, convergência entre setores, integrações verticais, que ocorrem num processo dinâmico e instável.

Sobre a qualificação do trabalhador contemporâneo, Huws (2009) alega que estamos lidando com um cenário de mudanças contínuas e sucessivas, para as quais as generalizações amplas sobre tendências educacionais não são úteis, haja vista que alguns processos são

taylorizados e requerem menos qualificações, enquanto outros se tornam mais complexos e requerem qualificações múltiplas.

A autora cita pesquisas voltadas para a economia da informação que apontam que a tendência de rotinização supera, em termos quantitativos, a expansão dos trabalhos criativos, tácitos e multiplamente habilitados.36

Com a crescente disseminação na informática na maior parte as atividades de trabalho, cada vez mais tarefas envolvem habilidades genéricas padronizadas relacionadas ao uso do computador, trazendo consequências contraditórias. Se é possível dizer que surgem novas oportunidades, também é possível afirmar que surgem novas ameaças, entre as quais a maior facilidade de dispensa e substituição do trabalhador, o que gera maior mobilidade ocupacional e evita a formação de identidades estáveis entre os trabalhadores (HUWS, 2009).

A autora destaca ainda que o rótulo de trabalho “não manual” nega a realidade física em que se encontram os trabalhadores que passam toda a sua jornada de trabalho digitando com se martelassem um teclado de computador.

Cabe acrescentar que, a esses trabalhadores, com frequência sequer é concedido o direito ao conforto mínimo de uma mobília ergonômica. Nesse tipo de atividade, a alta incidência de lesões ortopédicas, como as lesões por esforço repetitivo, expõe um lado paradoxal do trabalho que tem ganhado rótulos como imaterial, cognitivo, intangível, criativo ou trabalho do conhecimento.

Vianna (2012) traz importantes contribuições para o debate. Segundo a autora, com a disseminação das tecnologias de informação e comunicação, o imperativo do trabalho se torna cada vez mais ubíquo, depois de ter sido libertado das limitações de espaço e tempo. Quando as atividades laborais passam a ser mediadas pelas tecnologias móveis e pela Internet, o trabalho deixa de estar confinado em um território físico ou vinculado à cronologia do relógio, isto é, o trabalho passa a se deslocar até o trabalhador, invade sua casa e sua vida doméstica, ocupando todo o seu tempo, inclusive os momentos de descanso e lazer. Os tempos e lugares da vida cotidiana tornam-se cada vez menos definidos e deixam de ser preservados.

A autora destaca também problemas decorrentes da falta de regulamentação para lidar com o trabalho mediado pelas tecnologias de informação e comunicação. Na ausência de previsão legal específica para o tema, a expansão sem limites da jornada de trabalho “virtual” tornou-se prática comum. Assim, nesse quadro de jornadas ilimitadamente ampliadas e

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Lars Osberg, Edward Wolff e Willian Baumo, The Information Economy: the Implications of Unbalanced

Growth (Quebec, Institute for Research on Public Policy, 1989); Marie Lavoie e Pierre Therrien, Employment Effects of Computerization (Ottawa, Human Resources Development Canada Applied Research Brach, 1999).

ditadas pelo fluxo frenético de informações, a vida privada do trabalhador é canibalizada, com consequências negativas para sua saúde física e mental.

Essas reflexões da autora nos sugerem que estamos atualmente diante de uma contradição que tem na categoria mais-valia uma importante chave analítica, afinal, as tecnologias digitais têm se tornado, cada vez mais, instrumentos para expansão desregrada da jornada de trabalho e para a intensificação do labor.

Assim como ocorrido durante o período da revolução industrial, observa-se hoje uma disputa legislativa em que o tempo de trabalho é elemento central. Depois de inúmeros imbróglios criados pelo vácuo legal vigente por muitos anos, em 15 de dezembro de 2011 foi sancionada a Lei 12.551, com o objetivo de regulamentar o teletrabalho no Brasil. A nova lei alterou o artigo 6o da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que passou a vigorar com a seguinte redação:

Art. 6o. Não se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento do empregador, o executado no domicílio do empregado e o realizado a distância, desde que estejam caracterizados os pressupostos da relação de emprego.

Parágrafo único. Os meios telemáticos e informatizados de comando, controle e supervisão se equiparam, para fins de subordinação jurídica, aos meios pessoais e diretos de comando, controle e supervisão do trabalho alheio (BRASIL, 2011)

Alguns meses depois de sancionada essa lei, o Tribunal Superior do Trabalho editou a Súmula Vinculante No 428, que regulamentou o pagamento de ‘adicional de sobreaviso’ para os trabalhadores que, por meio das tecnologias de comunicação móveis, permanecem de plantão durante seus períodos de descanso:

Considera-se em sobreaviso o empregado que, a distância e submetido a controle patronal por instrumentos telemáticos ou informatizados, permanecer em regime de plantão ou equivalente, aguardando a qualquer momento o chamado para o serviço durante o período de descanso (BRASIL, 2012).

Percebe-se, portanto, que na esfera do direito trabalhista brasileiro, as tecnologias de informação e comunicação são consideradas instrumentos de comando, controle e supervisão do trabalho. Adicionalmente, podemos afirmar que, sob a ótica dessa instância jurídica, o controle do tempo de trabalho e do tempo de descanso ainda é critério para determinar a remuneração salarial dos empregados.

O confronto dessa realidade com as teorias do trabalho imaterial, da pós-grande indústria, do capitalismo cognitivo e do capitalismo imaterial, apresentadas no Capítulo 1 desta tese, revela pontos de discordâncias. Enquanto essas teorias advogam que o tempo está

deixando de ser fator relevante para a criação de valor, a Justiça Trabalhista reafirma a necessidade de controle do tempo. Isso nos remete ao argumento de Amorim (2014): o tempo de trabalho continua sendo uma importante chave analítica.

Alguns tipos de trabalho intangível merecem da nossa parte uma análise mais detida, como os que têm lugar nas fábricas de softwares, discutidos a seguir, e nos call centers, abordados em seguida.

Conforme defende Castilho (2009), é possível apreender o emblemático setor de produção de bens imateriais por meio de pesquisas sobre o trabalho na produção de softwares. O autor questiona qual é a realidade atual e o futuro desses trabalhadores do conhecimento, temendo que eles possam sofrer os mesmos efeitos padecidos pelos trabalhadores de baixa qualificação durante o período da manufatura.

Castilho (2009) critica os “discursos embelezados” que criam um imaginário sobre a ideia de sociedade da informação, retratando-a como “mundos felizes”. Pretende, assim, evidenciar qual é a verdadeira realidade em curso e vislumbrar quais podem ser suas tendências futuras. Destaca a necessidade de construir estudos empíricos, teoricamente orientados, que sejam capazes de separar o dever ser do que é. Nos termos do autor, é preciso “mostrar não somente o trabalho e a organização do mesmo, teórica ou prescrita, mas sim a atividade e organização real” (CASTILHO, 2009, p. 18, grifos do autor).

A Índia mostra-se interessante objeto de estudo, pois nesse país foi instituído, na cidade de Bangalore, um arranjo produtivo local voltado para a eletrônica, a tecnologia da informação e a programação, fazendo com que a região passasse a ser chamada de Planalto do Silício (Silicon Plateau). Diferentes pesquisas realizadas no mercado de software na Índia apresentam conclusões divergentes (CASTILHO, 2009).

O autor alega que nos anos 1990 havia um alto grau de consenso sobre a vigência de uma nova divisão do internacional do trabalho que buscava dispor de vastos recursos humanos a baixo custo. Considerava-se que os trabalhos desqualificados, inclusive os da área de softwares, estavam sendo exportados dos países centrais para os periféricos, ao mesmo tempo em que trabalhadores qualificados eram exportados na direção inversa.

Ao analisar o setor de software indiano, Prasad (1998) propõe a hipótese de que as normas de padronização ISO (International Organization for Standardization) e CMMI (Capability Maturity Model – Integration), impostas às empresas que almejavam atingir o mercado global, tiveram como consequência desqualificar os processos de trabalho, fomentando a taylorização dessas atividades. Segundo esse ponto de vista, essas normas, que objetivam a instituição de técnicas de documentação e boas práticas de programação, fazem

com que os postos de trabalho sejam liberados do trabalhador concreto, o que demanda menos trabalho qualificado e aumenta o desemprego.

No entanto, outras referências, como Arora et al. (2001), questionam esse argumento, ao apontar empresas indianas que passaram a se ocupar de projetos mais amplos e complexos, tendo assumido posição mais alta no processo de produção de software.

Castilho (2009) contesta a pesquisa de Ilavarasan e Sharma (2003), autores que, partindo da proposta de investigar se o trabalho dos programadores está rotinizado, chegam a conclusões, consideradas idílicas por Castilho, segundo as quais esse tipo de trabalho não está rotinizado, não pode sê-lo e tampouco o será no futuro.

O autor atribui maior confiabilidade aos estudos de Paul Adler37 acerca da possível influência da introdução de normas de padronização de software na rotinização ou taylorização dessa atividade. Adler observa inclinações e vivências contraditórias em seu estudo e apresenta conclusões que apontam para uma perda de autonomia dos desenvolvedores, mas também, simultaneamente, para uma tendência contrária ao processo de taylorização da produção de programas.

Bolaño e Filho (2014) também apresentam interessante estudo que aborda as relações de produção no contexto de uma fábrica de softwares voltados para processos produtivos. Ao caracterizar as etapas de concepção, produção e uso desse tipo de software, os autores apontam um paradoxo nas dinâmicas de subsunção do trabalho intelectual. Na fase de concepção, em que a subjetividade envolvida na tarefa de codificação de programas ainda é fortemente dependente do trabalho vivo, o trabalho subsumido apenas formalmente não se adéqua aos conceitos de taylorismo e fordismo, sendo caracterizado como uma situação muito próxima àquela do período manufatureiro. Na etapa de produção, observa-se uma importante taylorização, pois o programador manipula sem autonomia ferramentas de desenvolvimento, sob o monitoramento da gerência. A terceira fase, quando os programas são empregados nos processos produtivos, é marcada por uma ampla automatização e uma avançada subsunção, que é viabilizado pelo trabalho de concepção realizado na primeira etapa.

Voltemos nosso olhar para outro setor que lida com o trabalho intangível mediado pelas tecnologias, o segmento dos call centers, também designados centrais de teleatendimento ou centrais de teleatividades.

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Castilho (2009) cita ADLER, P. Skills Trends Under Capitalism and the Socialization of Production. In: WARHUST, C,; GRUGULIS, I.; KEEP E. (Org.) The skills that matter. New York: Palgrave Macmillan, 2004, e ADLER, P. The Evolving Object of Software Development, Organization, v.12, n.3 2005, entre outros trabalhos