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Este capítulo pretende resumir o percurso que fizemos ao longo do desenvolvimento do nosso estudo, relativamente às opções metodológicas. A opção por uma abordagem qualitativa deverá ser compreendida em função de alguns argumentos principais: nomeadamente o nosso interesse acerca dos significados atribuídos pela educadora à prática que desenvolve no contexto do berçário, que nos conduziu para uma abordagem que permitisse captar esses significados, explicitá-los e exprimi-los de modo que resultasse num processo indutivo. Neste sentido, poderemos justificar a escolha do paradigma qualitativo, pela sua adequabilidade aos objetivos do nosso estudo e à natureza do problema que lhe serviu de ponto de partida.

Um outro aspeto que determinou as nossas opções metodológicas tem a ver com a intenção de que este estudo pudesse ser um contributo para documentar e dar visibilidade às práticas dos educadores neste contexto, em particular, às suas intervenções no cuidar e educar em creche, as quais tendem a não valorizar a relação afetiva como “instrumento” das suas práticas diárias. Por outro lado, o desejo de que os “resultados” do nosso estudo representassem uma mais valia para os próprios educadores.

Desde o início deste percurso, alimentámos a ideia de que o nosso estudo pudesse ser considerado socialmente significativo e também socialmente responsável (Greenwood & Levin, 2000), dada a escassez de estudos em Portugal no domínio da educação de infância e da escassez de reconhecimento do papel dos educadores em creche.

1. Estudo de Caso

O campo de intervenção envolve o contexto da creche, na valência do berçário, cujo objeto de estudo, visa estudar o modo como a educadora se relaciona com os bebés. Esta investigação enquadra-se com o ponto de vista de Stake (1995), quando refere que “a investigação do estudo de caso partilha um intenso interesse pelo ponto de vista das pessoas e pelas circunstâncias (p.242). É um estudo essencialmente descritivo, cuja interpretação dos

190 fenómenos é imprescindível, uma vez que as variáveis nem sempre estarão perfeitamente identificáveis, por estarem demasiado envolvidas nos fenómenos e nos contactos, pois, tal como refere Yin (1992), em estudos com estas particularidades torna-se impossível fazerem- se previsões com base em relações de causa e efeito, dado o peso excessivo que possui o enquadramento dos fenómenos para dar significado aos mesmos. De todos os dados recolhidos e devidamente analisados, tendo sempre presente as questões de investigação, desenvolveram-se sistemas de categorias (Merrian 1988).

Os resultados obtidos não são generalizáveis, uma vez que se trata de um estudo que não pressupõe a manipulação ou o controlo de variáveis, pois, muitas delas foram naturalmente identificadas. Tal como refere Merriam (1988), não se procuram relações de causa-efeito, mas sim uma interpretação dos fenómenos o mais real quanto possível, sendo por isso mesmo um método de investigação heurístico. O interesse pela metodologia de estudo de caso, reside mais num contexto do que numa variável específica: mais na descoberta do que na confirmação.

Em virtude do método do estudo de caso não permitir generalizações das conclusões, a sua validade externa é consideravelmente complexa. Uma vez que o estudo representa uma situação única, é complicado deduzir que para todos os casos os fenómenos ocorrem da mesma maneira, dado que a natureza das variáveis difere, porque a realidade dos fenómenos e significados atribuídos pelos participantes são diferentes, resultando do estudo conclusões distintas. Dada a particularidade dos fenómenos investigados, explicitámos os fundamentos teóricos por nós selecionados e procedemos à triangulação, utilizando as técnicas de recolha de dados, a observação e a entrevista, como fontes de informação prioritária. Procurámos ainda fazer uma descrição pormenorizada da forma como os resultados foram recolhidos e da maneira como as categorias foram constituídas, bem como o tipo de decisões que fomos tomando.

As características deste estudo vão ao encontro de Merriam (1988) que as define como essenciais pelo facto de evidenciarem uma situação particular, evento, programa ou fenómeno. O próprio caso é importante pelo que revela acerca do fenómeno e para aquilo que pode representar. Este estudo inclue um número de variáveis possíveis e são descritas as suas interações durante um período determinado de tempo,podendo ser rotuladas como holísticas. Caracteriza-se também por uma descrição densa e rica do fenómeno que foi objeto de estudo. Por outro lado, ilumina a compreensão dos leitores do fenómeno a ser estudado, por isso se

191 denomina heurístico, podendo trazer a descoberta de novos significados, aumentar as experiências do leitor, ou confirmar aquilo que sabe.E uma última caraterística, o estudo de caso confia no raciocínio indutivo.

A indiscrição, é um problema que este tipo de metodologia enfrenta em virtude do investigador ter de entrar na vida das pessoas e explorar aspetos que nem os respondentes, nem o próprio investigador sabem até onde pode chegar. “ Os investigadores qualitativos são visitantes em espaços privados do mundo” (Stake, 1995, p.244).Neste sentido, Kelchermans (1994), aconselha que uma forma de contornar este problema é o investigador confiar na sua sensibilidade e no seu tato, assumindo um comportamento de respeito pela integridade dos participantes.

Preocupámo-nos com as questões relacionadas com a ética do investigador, porque temos consciência que a orientação de uma investigação em educação deverá revestir-se de todos os cuidados que envolvam quaisquer relações humanas. A “ boa educação” deverá ser a melhor conduta em todas as situações relacionais, principalmente nas investigações que envolvam estudos de comportamento, atitudes e a ações de pessoas. Em todas as situações relacionais com os alunos, com os pais, com os professores, com as direções, com as instituições e com todos os demais que possam de algum modo estar ligados aos procedimentos da investigação, deverá haver da parte do investigador, uma atitude de máximo respeito, boas maneiras, delicadeza, gentileza e deferência (Sousa, A. 2005, p. 34). Enquanto investigadora que trabalha com crianças, temos consciência do significado que tem trabalhar neste “mundo às avessas”. Temos consciência que somos sempre um estranho naquele mundo e de que é assim que deve ser. “Se este pensar que está a ser aceite totalmente, está a viver no mesmo estado de realidade tenuemente construída em que vive o educador de infância que afirma saber tudo o que se passa na sua sala de aula ou o pai que adota o mesmo tipo de atitude com os filhos. Ninguém conhece totalmente o outro - na melhor das hipóteses podemos aproximar- nos”.(Graue & Walsh, 2003, p.77). Enfim, relativamente a este assunto procurámos aplicar os princípios enunciados pela American Psychological Association.28

Em suma, o estudo de caso favorece a descoberta e a compreensão de um fenómeno, permanecendo insubstituível nos domínios em que a experimentação não pode ter lugar ou tem um campo de aplicação muito limitado (Merrian, 1988). No contexto do paradigma interpretativo de investigação em educação, o objeto de análise é formulado em termos de

192 ação, uma ação que abrange “ o comportamento físico e ainda os significados atribuídos pelo participante” (Erickson, 1986). A comportamentos idênticos podem corresponder significados diferentes, nomeadamente no que respeita às práticas dos educadores na sala de atividades no enquadramento em que a investigação se propõe desenvolver. E foi neste sentido, que se tornou pertinente o recurso ao método de estudo de caso, uma vez que não se procuram princípios universais, mas sim o conhecimento particular e único dos fenómenos. Apesar de se poderem levantar múltiplas hipóteses, interessam também à investigação os inúmeros problemas e pistas para estudos posteriores.

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