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CAPÍTULO III AS DICIPLINAS SEMIPRESENCIAIS: METODOLOGIA, COLETA

3.1 METODOLOGIA DA PESQUISA

As questões que guiaram o propósito deste trabalho delinearam a necessidade de uma investigação amparada na pesquisa qualitativa, de acordo com os pressupostos definidos por Bogdan e Biklen (1994), Lüdke e André (1986), Chizzotti (2005), Aguiar e Ozella (2006).

Chizzotti (2005) afirma que as pesquisas qualitativas possuem intrínseca relação com as ciências humanas, uma vez que “a abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito” (CHIZZOTTI, 2005, p. 79). Dessa forma, esse tipo de investigação trabalha com informações que fazem parte de um contexto de pesquisa real, que navegam pela subjetividade inerente ao ser humano, cujo conhecimento não se mede quantitativamente.

O estudo qualitativo também pode, segundo Chizzotti (2005, p. 80) guiar-se por orientações filosóficas da dialética, uma vez que,

a dialética também insiste na relação dinâmica entre o sujeito e o objeto, no processo de conhecimento. [...] Valoriza a contradição dinâmica do fato observado e a atividade criadora do sujeito que observa as oposições contraditórias entre o todo e a parte e os vínculos do saber e do agir com a vida social dos homens.

Lüdke e André (1986) destacam características indispensáveis à condução de um estudo de natureza qualitativa. Segundo as autoras, uma pesquisa qualitativa em educação precisa ser norteada por cinco princípios: valorização do ambiente natural, com o pesquisador inserido no contexto da pesquisa; os dados coletados são descritivos e todas as informações coletadas in loco devem ser valorizadas para posterior análise; o pesquisador deve se preocupar mais com o processo (origens, causas, fatores desencadeadores que giram em torno do problema e do objeto de estudo) do que propriamente com o resultado; valorização do significado que as pessoas participantes atribuem a cada fato ou dado apresentado por elas; e a análise dos dados por indução. Além disso, a pesquisa qualitativa destaca a importância de o pesquisador possibilitar ao pesquisado a liberdade de participar da investigação e enriquecê- la.

Bogdan e Biklen (1994) afirmam que a pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos, colhidos no contato direto do investigador com a situação estudada, em que ele se preocupa mais com o processo do que com o produto e procura retratar a perspectiva dos participantes. Dessa forma, estudamos a realidade em seu contexto natural, tal como ocorre, procurando dar sentido aos fenômenos ou interpretá-los de acordo com os significados que possuem para as pessoas implicadas nesse contexto.

Nesse tipo de investigação, o investigador pode, segundo esses autores, gerar possibilidades de análise e comparação sobre o que os sujeitos da pesquisa relatam. Dessa forma, esses relatos podem ser úteis na explicação dos dados obtidos.

Para Lüdke e André (1986), a análise dos dados qualitativos requer que todas as informações obtidas durante a pesquisa sejam analisadas conjuntamente. A tarefa de análise exige, então, num primeiro momento, que todo material coletado seja organizado em partes para a identificação de tendências e padrões relevantes, os quais são reavaliados em busca de relações e inferências.

De acordo com Aguiar e Ozella (2006), a subjetividade, que é dada pelos sentidos, é o resultado da vivência do sujeito com o significado contextualizado.

Queremos apropriar-nos daquilo que diz respeito ao sujeito, daquilo que representa o novo, que, mesmo quando não colocado explícita ou intencionalmente, é expressão do sujeito, configurado pela unicidade histórica e social do sujeito, revelação das suas possibilidades de criação (AGUIAR; OZELLA, 2006, p. 227).

Então, é por meio da relação dialética entre o aspecto afetivo e simbólico que se constitui a noção de “[...] compreensão do sujeito e, assim, dos sentidos” (AGUIAR; OZELLA, 2006, p. 227), o que aponta para a complexidade do processo que conduz esse tipo de investigação.

Diante da delimitação do objeto de estudo, da definição dos objetivos e da problemática que esta pesquisa envolve, reforça-se a escolha da pesquisa qualitativa para o tratamento metodológico de análise desta temática. Esse tipo de pesquisa remete a uma investigação que tem a intenção de apreender com maior profundidade a realidade estudada. É uma abordagem que contempla o dinamismo próprio da realidade humana, individual e coletiva, na busca de significados que ela contém. Desse modo, não importa o tamanho do universo a ser pesquisado, mas sim a sua representatividade qualitativa, ou seja, a sua significação.

Conhecer a contextualização do nosso universo de pesquisa, onde se dá a prática dos professores nos AVA e a influência institucional torna-se essencial para a análise dos dados. Por isso, buscamos nos projetos pedagógicos dos cursos, bem como nas entrevistas e observações, elementos que auxiliassem a compreensão do objeto de estudo.

Para realizar a pesquisa de campo, foi realizado um levantamento das IES localizadas em Goiânia que ministram cursos de Pedagogia. Foram identificadas nove faculdades: 1 pública e 8 particulares. Para delimitar o campo de pesquisa, estabelecemos os seguintes critérios: 1. IES de Goiânia que oferecessem curso de Pedagogia; 2. que ministrassem disciplinas em modalidade semipresencial no curso de Pedagogia; 3. tempo mínimo de dois anos de implantação das disciplinas do curso de Pedagogia na modalidade semipresencial.

Para a escolha dos professores que ministram aulas nas disciplinas semipresenciais, consideramos dois critérios: 1) tempo mínimo de dois anos de atuação docente em disciplinas semipresenciais e a disponibilidade de participação; 2) O mesmo professor ministrar as aulas nos momentos presenciais e nos AVA.

A partir dos critérios estabelecidos, selecionamos para a pesquisa empírica duas instituições, que neste texto identificaremos por IES-1 e IES-2, para preservar o anonimato.

Nas duas IES selecionamos um total de cinco disciplinas: uma na IES-1 e quatro na IES-2, que nesta pesquisa denominamos de D1, D2, D3, D4 e D5.

Após a seleção das IES, entramos em contato com os responsáveis pelas coordenações dos cursos, apresentamos nossa proposta de pesquisa e solicitamos autorização para coletar os dados. Os professores que participaram da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), de concordância em participar da pesquisa, aqui disponibilizado no apêndice A.

A pesquisa foi realizada no período de março a junho de 2014. Os primeiros contatos com o campo da pesquisa ocorreram em novembro de 2013. Ressaltamos que, apesar das disciplinas semipresenciais serem compostas por momentos presenciais e momentos a distância, fizemos um recorte: realizar a pesquisa apenas nos AVA.

A coleta de dados ocorreu por meio de questionários, entrevistas e documentos (projeto pedagógico do curso e planos de ensino) e das observações das aulas nos AVA.

Foi aplicado aos docentes sujeitos da pesquisa um questionário (apêndice B) para obtenção de informações, com a finalidade de delinear o perfil desses participantes.

As entrevistas com os docentes foram agendadas previamente, realizadas em locais predeterminados (laboratório de informática e sala dos professores), gravadas e tiveram a duração de aproximadamente uma hora, cada uma. Foram realizadas em forma de conversa, direcionadas por um roteiro que abordou questões relativas à compreensão dos objetivos desta pesquisa. As entrevistas tiveram como objetivos conhecer a trajetória acadêmica e profissional dos docentes e estabelecer o cotejamento entre o que seria dito pelos sujeitos e o que fora observado nos AVA. O roteiro da entrevista abordou questões a respeito da mediação pedagógica docente nas disciplinas semipresenciais, ao papel do professor e do aluno e outras relativas à organização do processo de ensino-aprendizagem (planejamento, objetivos, metodologia, seleção dos conteúdos, material didático e avaliação), conforme roteiro apresentado no apêndice C.

Esta investigação fez uso da entrevista semiestruturada individual, considerando que oportuniza maior flexibilidade aos sujeitos que desejam se pronunciar amplamente sobre o tema. Reforçando essa ideia, Trivinõs (2001, p.86) argumenta que “a entrevista semiestruturada se transforma num diálogo vivo do qual participam duas pessoas, com objetivos diferentes, mas que podem se tornar convergentes”.

Nos AVA, buscamos observar como foram promovidas as interações nos fóruns: as oportunidades de trabalho em grupo por meio de participações livres e trocas de experiências, a exposição de argumentos e o questionamento das afirmações; se foi possibilitado ao

aprendiz ressignificar ideias, conceitos e procedimentos, por meio de provocações estimuladoras sobre o conteúdo das disciplinas, se foram disponibilizados dados do conhecimento; se foram promovidas situações de comunicação e de aprendizagem que consideraram as experiências, conhecimentos e expectativas que os atores envolvidos traziam consigo, conforme roteiro para observação dos AVA, disponibilizado no apêndice D.

Após a coleta de dados, fizemos a transcrição na íntegra dos áudios das entrevistas e cópia dos dados dos AVA. Em seguida, realizamos o tratamento e análise dos dados coletados, que serão descritos detalhadamente mais adiante, no item de apresentação das categorias.

Os dados obtidos por meio das entrevistas, da observação das aulas nos AVA, da leitura dos fóruns e dos planos de ensino foram confrontados de modo a validar a confiabilidade dos resultados. Realizamos, então, o cotejamento entre os dados da pesquisa de campo e o que encontramos na literatura sobre mediação pedagógica na EaD e nos AVA, com base no referencial da Teoria Histórico-Cultural.

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