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CAPÍTULO I MEDIAÇÃO, MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA E TECNOLOGIAS

1.3 REFLEXÕES SOBRE A MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA COM USO DAS

CULTURAL

Para refletirmos sobre mediação pedagógica com uso das tecnologias digitais em rede, buscamos fundamentação nos estudos de Vygotsky (2000) e em autores que se fundamentam na Teoria Histórico-Cultural, tais como: Libâneo (1994) Durán (2010), Bianchini (2011), Freitas (2013), Freitas et al., (2012),Toschi (2010) e Peixoto (2011).

Voltando o olhar para a compreensão do processo de ensino e aprendizagem, Vygotsky (1999) ressalta o papel primordial da linguagem como um autêntico instrumento de aprendizagem, e não apenas um meio de comunicação. Segundo o autor, a verbalização das ideias, em colaboração, é o que permite a real conscientização e, consequentemente, promove a aprendizagem.

Conforme os estudos de Vygotsky (2000), os processos de mediação socioinstrumental são responsáveis pelo curso do desenvolvimento humano em todas as suas manifestações, destacando-se a essencial importância da linguagem para os processos cognitivos. Assim, a tecnologia, por possibilitar simultaneamente a mediação instrumental, social e simbólica, constitui-se de instrumentos e signos que podem oportunizar o desenvolvimento de novas modalidades de pensamento.

O computador e internet são instrumentos simbólicos por serem instrumentos de linguagem, desde a sua concepção, e por todo o seu uso perpassar pela linguagem: leitura- escrita, imagens, ícones, sons, etc. Os signos e instrumentos nas tecnologias digitais podem estar nas redes sociais, no WhatsApp, nos e-mails, na linguagem adotada para comunicação, nos fóruns, nas pesquisas virtuais, nas videoconferências e em qualquer ferramenta que exerça a função de mediação. Os símbolos, signos e palavras utilizados constituem um meio de contato social entre o ambiente computacional e os seus usuários (ANDRADE; VICARI, 2012).

A partir dos conceitos da Teoria Histórico-Cultural, Freitas et al., (2012) fazem uma reflexão sobre o computador e a internet como instrumentos culturais de ensino e aprendizagem. Para os autores, o ensino e a aprendizagem não podem ocorrer de forma isolada, e sim como um processo único e dialético entre professores, alunos e conteúdo. Eles entendem que, por meio da ação humana, o computador possibilita a construção de sistemas simbólicos, e a contribuição de Vygotsky é muito pertinente para melhor entender esse processo. As formulações da Teoria Histórico-Cultural acerca da mediação por instrumentos e

signos e pelo homem fornecem elementos que podem auxiliar na mediação pedagógica com uso das tecnologias na educação (FREITAS, et al. 2012).

Essas observações chamam atenção para a complexidade da mediação pedagógica e confirmam que é fundamental a interação social para a construção do conhecimento, a referência do outro, por meio da qual pode-se conhecer diferentes práticas pedagógico- didáticas, assim como diferentes significados dados ao uso das tecnologias digitais em rede no processo de ensino-aprendizagem.

Freitas (2013) esclarece que a criação do computador e, a partir dele, da internet é o resultado de um esforço do homem que, ao interferir na realidade em que vive, constrói esses objetos culturais da contemporaneidade, que são ao mesmo tempo materiais e simbólicos. As tecnologias digitais em rede integram outros instrumentos culturais de aprendizagem, tais como a leitura e a escrita. Essa integração, o computador pode ser considerado um aliado para as práticas pedagógicas do professor na instituição escolar. As plataformas virtuais possibilitam o encontro e a interatividade entre as pessoas por meio do computador conectado à internet, e isto as difere essencialmente do retroprojetor e da televisão.

Por meio das ações humanas, das intencionalidades em que são propostas e formas de uso, as tecnologias digitais em rede (online) podem contemplar a “atividade interna”, “a operação psicológica” dos usuários, isto é, contemplam a criação de palavras, imagens, símbolos, ícones, gráficos e índices (que são signos) e possibilitam construção, compartilhamento e socialização, em rede mundial, de culturas, conteúdos, formas de pensar e de aprender (FREITAS, 2013).

Em relação ao uso das tecnologias, Libâneo (2006, p.41) afirma que é preciso ver os meios de comunicação muito além de simples recursos didáticos, pois “os meios de comunicação social (mídias e multimídias) fazem parte do conjunto das mediações culturais que caracterizam o ensino”. Para o autor, as tecnologias, representadas pelos meios de comunicação (visuais, cênicos, verbais, sonoros, audiovisuais), apresentam-se pedagogicamente sob três formas interdependentes: como conteúdo das várias disciplinas do currículo, como competências e atitudes profissionais dos professores e como meios tecnológicos de comunicação humana (LIBÂNEO, 1996). O docente deve sistematizar conhecimentos e práticas referentes aos fundamentos, condições e modos de realização do ensino e da aprendizagem dos conteúdos, habilidades e valores, visando ao desenvolvimento das capacidades mentais e à formação da personalidade dos alunos. O papel do professor, para Libâneo (1994), é precisamente promover o desenvolvimento mental por meio da aprendizagem.

Peixoto (2011a, p. 98) discute a mediação como conceito fundado na Teoria Histórico- Cultural, considerando a educação e a tecnologia do ponto de vista da cultura e destacando a interdependência entre signo e instrumento na relação ou na atividade mediada pelo uso das tecnologias: “[...] desse modo, pretendemos contribuir para uma reflexão que não estabeleça antagonismo entre a dimensão cultural e a técnica e que não perca de vista a relação dialética entre os sujeitos sociais e os objetos técnicos”.

Na Teoria Histórico-Cultural, os instrumentos construídos socialmente possuem um papel fundamental no desenvolvimento do ser humano. A partir dos pressupostos dessa Teoria, Peixoto (2011a) ressalta que os artefatos são classificados em instrumentos que possuem uma dimensão simbólica (por atuarem em nível intrapsicológico, como signos) e instrumentos que possuem uma dimensão material (são orientados externamente, para a transformação de objetos), sendo os primeiros essenciais ao desenvolvimento das funções psíquicas superiores. Dessa forma, a mediação ocorre tanto em nível interno quanto externo.

Ressaltamos que os instrumentos utilizados na educação têm o papel de mediar o ensino com conhecimentos científicos aos estudantes de forma sistematizada (PEIXOTO, 2011a). No que se refere à mediação pedagógica com uso das tecnologias digitais, a autora destaca que as tecnologias são construídas historicamente pelo homem e que entre eles há uma relação dialética: ao mesmo tempo em que as tecnologias são determinadas pelo homem, este, ao utilizá-las, também concorre para que provoquem mudanças nas relações sociais. Por isso,

A ação pedagógica não pode se reduzir a modelos didáticos ou mesmo pedagógicos, como se a utilização de tecnologias fosse uma questão de fé (“acredito no uso do computador na educação”) ou de adesão (“estou torcendo para que a nossa escola adote a internet nas aulas”). Cabe à escola e ao professor, em função de suas condições concretas e de seus princípios teóricos, assumir sua tarefa com intencionalidade e, ao invés de optar por um ou outro modelo, tomar para si o exercício consciente de análise das contribuições oriundas das diversas teorias da aprendizagem e fazer suas escolhas pedagógicas (PEIXOTO, 2011b, p.9).

Tratando da mediação pedagógica com uso das tecnologias digitais, Toschi (2010) aponta para uma dupla mediação pedagógica: a mediação do professor e a mediação da máquina conectada à internet. Essa dupla mediação, seja nas aulas presencias, nas semipresenciais ou a distância, possibilita melhor comunicação principalmente em se tratando de AVA, pois

[...] o computador, como meio de acesso aos conteúdos, altera estes conteúdos e se torna mediação no processo de aprender [...] Assim, aos professores cabem tarefas mais complexas que a transmissão dos saberes. Compete-lhes mediar neste espaço de mediação complexa (TOSCHI, 2010, p. 177).

Essa autora faz referência à representação do “triângulo” e do “espiral” pedagógico relacionados ao processo comunicacional. No “triângulo pedagógico”, o professor aparece como personagem principal na relação do aluno com o conhecimento. Dessa forma, observamos que nesse processo a mediação é intencional, direcionada para promover o processo ensino e aprendizagem. Na representação do “espiral pedagógico”, não há centros definidos; ocorre um processo dialógico de alternância e continuidade, elementos que se articulam durante o processo educativo entre seus atores, independente do modelo educacional.

Para Lima (2011, p.11)“a mediação pedagógica é constitutiva de processos de ensino e aprendizagem orientados por perspectivas de construção coletiva e mediatizada de saberes, atitudes e habilidades adequadas ao perfil de indivíduo almejado”. Nesse sentido, compreendemos que a mediação pedagógica, entendida como intervenção no aprendizado do sujeito, seja presencial ou online, é concretizada essencialmente pelo professor, por meio de signos e de instrumentos auxiliares, que conduzirão alunos e professores na prática educativa. Nesta perspectiva, a mediação pedagógica nos AVA se faz pelo acompanhamento, orientação e pela articulação instigadora, feitos pelo professor, além das trocas e construção de ideias entre os alunos por meio das tecnologias digitais em rede. Para realizar a mediação pedagógica, isto é, proporcionar o diálogo, a construção do conhecimento e promover o processo ensino-aprendizagem de forma efetiva nos AVA, o professor deve considerar a ZDP dos alunos, ter domínio das tecnologias e do conteúdo da disciplina, conhecimento das possibilidades apresentadas pelas diversas mídias.

A relação mediada pelas tecnologias digitais em rede ainda tende a ser considerada uma forma de comunicação impessoal e limitada. No entanto, mesmo que no período em que Vygotsky tratou de mediação ainda não existia as tecnologias digitais em rede, podemos entender a partir de sua teoria que para haver mediação não há necessidade da presença física do professor ou do outro, mas sim de uma intervenção realizada por meio de instrumentos e signos. Num AVA, a linguagem é um dos elementos de maior significância e, no caso das disciplinas semipresenciais, essa importância é acentuada pelas tecnologias digitais em rede. “Isso não significa assumir que o papel do professor passa a não ter significância, pelo

contrário, requer uma nova postura frente às relações mediatizadas” (BIANCHINI, 2011, p.145). O fato das relações serem veiculadas e processadas pelas tecnologias digitais na educação a distância não minimiza, portanto, o papel do professor.

A presença física do professor nas aulas presenciais que é comumente pautada na exposição oral e no contato face a face é importante, no entanto a mediação docente no processo de ensino-aprendizagem nos AVA tem um papel importante, visto que os distanciamentos físicos exigem recursos, estratégias, habilidades, competências e atitudes diferentes da modalidade presencial (BIANCHINI, 2011).

Neste sentido, segundo Machado (2009, p.20),

[...] a presença social é possível de existir em ambientes virtuais de aprendizagem e as pessoas podem estar conectadas num ambiente virtual e se sentirem tão presentes como se estivessem num ambiente presencial e aproveitarem o curso ao máximo, bem como perceberem a qualidade do mesmo e a presença dos colegas, portanto, as situações de aprendizagem que demandam uma presença social pouco importam ser presencial ou virtual. O que vai diferenciar no sucesso de um curso são suas estratégias de ensino, organização, pessoal capacitado, tipos de material didático, metodologias de ensino e etc., mas não o fato de um curso ser online e a distância ou numa sala de aula convencional.

A introdução das tecnologias digitais em rede nos AVA poderá possibilitar a aprendizagem de melhor qualidade se houver a mediação do professor. Ele tem o papel explícito de interferir e provocar avanços que não ocorreriam sem sua intervenção. No entanto, o docente precisa saber como e quando fazer. Consideramos de fundamental importância que o professor compreenda o processo de mediação pedagógica para entender como a construção de conhecimento se explicita ao aluno no contexto educacional com uso das tecnologias digitais em rede.

A partir destas considerações, esta pesquisa busca, na concepção Histórico-Cultural, elementos que contribuam para compreender e estabelecer relações sobre a mediação pedagógica. Conforme mencionado, Vygotsky fundamenta sua proposta a partir dos pressupostos teóricos do materialismo histórico-dialético, que se configura como um enfoque epistemológico importante por também oferecer condições para compreender e ampliar a discussão sobre as práticas pedagógicas nas disciplinas semipresenciais. Essa posição teórica é tomada mediante o fato de que a concepção de educação nessa perspectiva é entendida como a possibilidade de desenvolvimento de um sujeito social, ativo e crítico de sua história e que se realiza e se amplia na relação com o outro.

Considerando que o objetivo da Teoria Histórico-Cultural é explicar as relações entre a ação humana e as situações culturais, institucionais e históricas, no próximo capítulo buscamos compreender a EaD e a modalidade semipresencial no contexto atual brasileiro, destacando políticas econômicas de implementação, concepções, interesses e lacunas. Entendemos que esses aspectos estão relacionados com as práticas pedagógicas educacionais mediadas pelas tecnologias digitais em rede.

CAPÍTULO II - A MODALIDADE SEMIPRESENCIAL: ASPECTOS POLÍTICOS E

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