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CAPÍTULO III AS DICIPLINAS SEMIPRESENCIAIS: METODOLOGIA, COLETA

3.3 OS DOCENTES DAS DISCIPLINAS SEMIPRESENCIAIS

Conforme mencionado, foram selecionados para a pesquisa cinco docentes que atuaram nas disciplinas semipresenciais oferecidas nos cursos de Pedagogia: um da IES-1 e quatro da IES-2. Quatro são do sexo feminino e um do sexo masculino.

Para preservar o anonimato dos participantes, usaremos as designações P1(professor1), P2 (professor 2), P3 (professor 3), P4 (professor 4) e P5 (professor 5). Para os alunos utilizaremos as expressões Aluno 1, Aluno 2, Aluno 3 e assim sucessivamente.

Os professores possuem formação superior em licenciatura, dois na área de Pedagogia, um na área Psicologia, um na área de Geografia e um na área de Sociologia. Todos possuem especialização lato sensu. Três possuem mestrado e um possui doutorado, o que permite

inferir uma situação funcional possivelmente indicadora de maior preparo para o exercício da docência.

A faixa etária dos professores situa-se em entre 38 e 49 anos: um docente possui idade entre 30 e 40 anos, e quatro estão na faixa etária entre 41 a 49 anos.

Em relação à experiência profissional, a maioria possui de nove a 15 anos de experiência de ensino na educação superior. Quanto à experiência na educação a distância, dois professores possuem de dois a cinco anos de atuação, e três professores de seis a oito anos. Esse dado permite inferir que os professores que possuem uma experiência docente podem influenciar na qualidade do curso e na forma de organizar os meios de transmissão dos conhecimentos histórica e socialmente criados.

Acreditamos que a relação do tempo de trabalho relacionado com a experiência, com os conhecimentos de vida aliados à experiência e à formação profissional dos professores é mobilizada a partir de diferentes contextos sociais. Esses conhecimentos podem ser empregados na prática cotidiana e nas práticas pedagógicas, “[...] servem para resolver os problemas dos professores em exercício e para dar sentido às situações de trabalho que lhes são próprias” (TARDIF; RAYMOND, 2000, p. 211).

Quanto ao número de instituições em que trabalham os professores pesquisados, quatro professores trabalham em mais de uma instituição e 1 professor exerce suas atividades em uma IES. Dos primeiros, um professor atua em duas, e a maioria, três professores, exerce a atividade docente em três instituições. Este dado aponta que não é apenas na educação básica que ocorrem as duplas e triplas jornadas de trabalho. Ocorrem também extensas cargas horárias de trabalho do profissional docente nas instituições de educação superior. Essa situação é decorrente de variados fatores, tais como: precárias condições de trabalho e falta de políticas educacionais com projetos qualificados para a educação. Podemos ressaltar também a baixa remuneração recebida no exercício do magistério, o que obriga os professores a complementar a renda atuando em duas ou até mais instituições de ensino. Assim, o professor acaba por trabalhar com muitas disciplinas e em mais de um local.

Assim, ao trabalhar com as tecnologias com carga horária de trabalho em duas ou três instituições, o professor fica frequentemente sobrecarregado por ter de atender às diversas demandas do trabalho pedagógico. Os docentes precisam de tempo para se locomover para diferentes lugares, tempo para os planejamentos das atividades, para elaborar e corrigir as avaliações, realizar o acompanhamento dos alunos nos fóruns e nas outras atividades online, o que com, frequência, acontece fora do horário de trabalho ou nos finais de semana. O uso das

tecnologias na educação exige, portanto, planejamento e cria novas demandas de tempo e carga horária. Para Silva (2006, p. 116):

A dinâmica da aula se altera, atingindo tanto o aluno como o docente. Questionamentos sobre como remunerar o docente pelo tempo gasto no planejamento, ensino, pesquisa e atividades interativas com alunos em chats, analisando trabalhos postados, discutindo temas em fóruns, respondendo e- mail, e sobre como computar na qualidade de créditos o tempo em que os alunos participam das mesmas atividades, surgem como desafios a serem enfrentados pelas IES. Sabe-se que muitas dessas atividades são realizadas de madrugada e em fins de semana, horários não considerados nos cálculos das cargas horárias dos cursos pelas IES.

Os efeitos dessa sobrecarga de trabalho muito provavelmente acabam sendo sentidos na qualidade do ensino ministrado e colaboram para a precariedade da educação ofertada. Desta forma, o trabalho docente no contexto das políticas neoliberais de reestruturação educacional “[...] tendem a favorecer os processos de intensificação, que tendem ao aumento de trabalho em sala de aula, com práticas menos criativas, muitas tarefas realizadas fora da escola e condições de trabalho cada vez mais precárias” (DEL PINO et al. , 2009, p.126).

Nesse sentido, a formação contínua para a qualificação da prática pedagógica, em especial com o uso das tecnologias, merece destaque nas discussões dos atuais cursos de formação de professores, considerando que a formação docente não acontece apenas durante esses cursos, mas durante todo o percurso profissional.

Em relação aos motivos que os levaram os professores sujeitos da pesquisa a trabalhar na modalidade semipresencial, uma professora, ao afirmar que foi por opção, ressaltou: “Eu gosto demais de trabalhar em EaD” (P3). Os outros professores relataram que se envolveram e começaram a trabalhar com a EaD em razão da expansão do mercado de trabalho e das demandas sociais frente a essa modalidade de educação. As falas dos docentes nas entrevistas apontam para o que apresentamos no capítulo anterior sobre a expansão da modalidade EaD nas instituições superiores de ensino. Ao comentarem sobre os motivos que os levaram a trabalhar na modalidade semipresencial, os docentes verbalizaram:

Quem optou por fazer a disciplina na modalidade semipresencial foi a universidade. As disciplinas passaram paulatinamente a funcionar na modalidade semipresencial (P4).

É a necessidade do mercado que eu vejo que cada vez mais as instituições estão optando pelas disciplinas a distância (P5).

Foram as circunstâncias, as oportunidades foram surgindo, as coisas vão se modificando (P1).

Fui convidada a trabalhar na EaD, porque ela estava ganhando uma proporção muito grande e a forma mais viável foi fornecer esta disciplina nesta modalidade (P2).

Como mencionamos no capítulo anterior, com a aprovação de legislações que regulamentam a educação a distância, iniciou-se um processo de oferta, implantação e credenciamento de cursos superiores nessa modalidade. O crescimento da EaD demonstra que estamos passando de salas de aula presenciais, com professores e alunos no mesmo espaço, para a virtualização, “[...] como uma modalidade de educação extremamente adequada e desejável para atender às novas demandas educacionais decorrentes das mudanças na nova ordem econômica mundial” (BELLONI, 2008, p.3).

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