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PARTE III – PESQUISA DE CAMPO, RESULTADOS E PROPOSTAS

6. METODOLOGIA DA PESQUISA DE CAMPO

Este capítulo visa mostrar as escolhas metodológicas feitas na pesquisa, na sua concepção, preparação, execução e análise, visando garantir a validade dos conceitos utilizados, as validades interna e externa e a confiabilidade do estudo.

Segundo Selltiz et al. (1967:59), os objetivos de uma pesquisa podem ser:

• Formuladores ou exploratórios: quando o estudo busca a familiaridade com o fenômeno ou a obtenção de uma nova compreensão deste, normalmente com o objetivo de formular mais precisamente um problema de pesquisa ou de criar novas hipóteses. Referem-se à descoberta de idéias e intuições;

• Descritivos: quando visam apresentar de modo preciso as características de uma situação, de um grupo ou de um indivíduo específico, havendo ou não hipóteses iniciais sobre a natureza dessas características; podem também verificar a freqüência com que algo ocorre ou com que se liga a alguma outra coisa;

• Inferenciais: que exigem processos que possibilitem verificar uma hipótese de relação causal entre variáveis, como os experimentos

Na prática, nem sempre existe uma separação clara desses estudos, podendo uma pesquisa conter elementos de um ou mais dos objetivos descritos (Idem, p. 60).

Cada estratégia de pesquisa apresenta vantagens e desvantagens próprias em função do: a) tipo de questão da pesquisa; b) controle sobre eventos comportamentais e c) foco histórico ou contemporâneo dos fenômenos (YIN, 2001:19).

As relações entre essas três condições e cinco das estratégias muito utilizadas nas ciências sociais, são mostradas no quadro a seguir:

Estratégia Tipo da questão de

pesquisa Exige controle sobre eventos comportamentais?

Focaliza acontecimentos contemporâneos?

Experimento Como, por quê? Sim Sim

Levantamento Quem, o que, onde,

quantos, quanto? Não Sim

Análise de arquivos

Quem, o que, onde, quantos, quanto?

Não Sim / Não

Pesquisa histórica

Como, por quê? Não Não

Estudo de caso Como, por quê? Não Sim

Quadro 4 – Situações relevantes para diferentes estratégias de pesquisa Fonte: (Yin, 2001, p. 24)

A questão principal desse trabalho é: como construir a confiança no processo de comunicação de informações econômico-financeiras? Assume, assim, a forma de um estudo explanatório (como e por quê?), podendo usar como estratégia o experimento, a pesquisa histórica ou o estudo de caso.

O trabalho examina eventos contemporâneos, o que permite lidar com ampla variedade de evidências – documentos, artefatos, entrevistas e observações. Quanto ao controle sobre eventos comportamentais, não seria desejável fazer um experimento, como em um laboratório, para estudar como os usuários das demonstrações financeiras percebem sua confiabilidade e sobre o entendimento que têm dos seus itens e valores. Assim, o estudo de caso é a estratégia indicada, por se tratar de acontecimentos contemporâneos e não ser possível a manipulação de comportamentos relevantes (Yin, 2001, p. 27).

Segundo Benbasat, Goldstein e Mead (apud Bufoni, 2002, p. 4), os estudos de caso têm as seguintes características:

1. Fenômeno em seu contexto natural; 2. Dados coletados de várias formas;

3. Uma ou poucas entidades (grupos, pessoas ou organizações) examinadas; 4. A complexidade das unidades é estudada intensivamente;

5. Estudos de caso são mais adequados à exploração, classificação e estágio de desenvolvimento de hipóteses para o processo de construção do conhecimento;

6. Nenhum controle ou manipulação do experimento está envolvido; 7. O investigador não pode especificar a priori o conjunto de variáveis

dependentes e independentes;

8. Os resultados derivados dependem muito do poder de integração do investigador;

9. Mudanças de escolha do lugar ou do método de coleta dos dados podem mudar na medida em que surgem novas hipóteses;

10. São úteis em perguntas de pesquisa por que e como, porque lidam com ligações operacionais a serem seguidas durante um tempo mais que com a freqüência dos fatos ou sua incidência;

11. O foco em eventos contemporâneos.

Quanto ao delineamento de pesquisa, Selttiz, Wrightsman e Cook (1987) classificam os estudos de caso nos chamados quase-experimentos2, pois, apesar de também responderem sobre causas e efeitos, são possíveis em situações em que os experimentos não podem ser realizados. Nos quase-experimentos não há a distribuição aleatória dos sujeitos pelos tratamentos, nem grupos de controle. Não existe, também, a capacidade de controlar, apenas de observar o que ocorre e a quem.

Um projeto de pesquisa organiza, de forma coerente, quais as questões a serem estudadas, quais dados serão relevantes para esse estudo, como serão coletados e como serão analisados os resultados. A ligação entre esses componentes é dada pela formulação de uma teoria preliminar sobre o tópico de estudo, feita antes de qualquer coleta de dados (YIN, 2001, p. 49).

6.1. Hipóteses ou premissas do trabalho

A partir do referencial disponível sobre a construção da confiança, o processo de comunicação, a Economia Solidária e empresas de autogestão, e sobre as questões de governança corporativa, além da experiência do pesquisador como profissional de organização e sistemas, trabalhando com a informatização da produção e disseminação de informações econômico-financeiras, foram definidas as seguintes proposições teóricas, na forma de hipóteses ou premissas, a serem verificadas:

I – A confiabilidade do processo de produção de informações econômico- financeiras, assegurada por controles internos efetivos, e a transparência do emissor (o que divulga) e do canal (como divulga) podem contribuir para a construção da confiança nos receptores dessas informações;

II – Empresas de autogestão têm maiores dificuldades operacionais que as empresas de capital aberto, geralmente de maior porte, para garantir a confiabilidade nas

2 Os outros delineamentos de pesquisa são os experimentos, os levantamentos (surveys) e a observação participante.

demonstrações financeiras e adotar regras de governança corporativa (controles internos). O registro das informações (escrituração) e a evidenciação contam com menos apoio da Tecnologia da Informação;

III – Não são utilizadas técnicas alternativas para a comunicação de informações econômico-financeiras. Os dados comunicados são os tradicionais da contabilidade, sem uma didática adequada, não específica para empreendimentos à base de confiança. Usa- se jargão na comunicação, tornando o processo mais um sistema abstrato;

IV – O ambiente institucional das empresas de autogestão, baseado em princípios de solidariedade, transparência, democracia etc, contribui para a criação de confiança.

O desenvolvimento da teoria facilita não apenas a fase de coleta de dados, mas também a generalização dos resultados do estudo de caso. A teoria permite a “generalização analítica”, em vez da “generalização estatística”. Na generalização estatística, faz-se uma inferência sobre uma população baseada nos dados empíricos coletados sobre uma amostragem, sendo o grau de certeza dependente principalmente do tamanho da amostra e da variância. Os resultados dos estudos de caso não podem ser generalizados estatisticamente, pois os casos não são unidades de amostragem. Os resultados do estudo de caso são obtidos pela generalização analítica, utilizando-se uma teoria previamente desenvolvida como modelo, que deve ser comparada com os resultados empíricos do estudo de caso (YIN, 2001, p. 53).

6.2. Qualidade da pesquisa

Quatro testes são utilizados para julgar a qualidade de estudos de caso (YIN, 2001, p. 55):

• Validade do construto; • Validade interna; • Validade externa; • Confiabilidade.

a) Validade do construto

Este teste busca estabelecer medidas operacionais corretas para os conceitos que estão sob estudo, evitando-se a utilização de julgamentos subjetivos para a coleta dos dados (YIN, 2001, p. 56). São utilizadas três táticas:

• Utilização de múltiplas fontes de evidência, para incentivar linhas convergentes de investigação (YIN, 2001, p. 57). Serão feitas entrevistas com dirigentes de empresas de autogestão e analisados os controles e demonstrações financeiras produzidos por estas empresas. Será também analisado o uso que os receptores fazem da informação recebida;

• Encadeamento de evidências, que permite ao leitor do estudo de caso ligar as questões iniciais aos resultados da pesquisa e às conclusões finais;

• Revisão do rascunho do relatório do estudo de caso por alguns informantes- chave, no caso, pessoas com experiência em autogestão, e que não tenham participado diretamente da pesquisa, feita algumas semanas antes da entrega do relatório definitivo. Essa revisão foi feita pela professora Dra. Maria Helena Villar e Villar, doutora em Educação pela USP, especialista em formação para autogestão, e que tem trabalhado com a preparação e divulgação de dados econômico-financeiros para empresas de autogestão.

b) Validade interna

Teste aplicado apenas aos estudos causais (ou explanatórios), que podem estar ameaçados por efeitos espúrios, quando “o pesquisador conclui, equivocadamente, que há uma relação causal entre x e y sem saber que um terceiro fator – z – pode, na verdade, ter causado y” (YIN, 2001, p. 57).

Uma das estratégias é utilizar a lógica de adequação ao padrão, que compara um padrão fundamentalmente empírico com outro de base prognóstica (ou com várias outras previsões alternativas). Se os padrões coincidirem, os resultados podem ajudar o estudo de caso a reforçar sua validade interna. Os padrões podem se relacionar às variáveis dependentes ou independentes do estudo, ou a ambas (YIN, 2001, p. 136).

Um experimento ou um quase-experimento pode possuir inúmeras variáveis dependentes, ou seja, vários resultados. “Se os valores inicialmente previstos para cada resultado forem encontrados e, ao mesmo tempo, não se encontrarem padrões alternativos de valores previstos (incluindo aqueles que derivam de artefatos metodológicos, ou ameaças à validade), pode-se fazer fortes inferências causais” (YIN, 2001, p. 136).

As variáveis dependentes, derivadas das teorias estudadas são:

• Uso de relatórios contábeis e / ou de relatórios operacionais (pré-contábeis) para a tomada de decisão;

• Modo como é feito o acompanhamento da vida financeira da cooperativa. Existência, ou não, de formação para isso;

• Maneira de explicar a situação da empresa nas assembléias;

• Uso, ou não, de lançamentos multidimensionais das transações, que permite visões (perspectivas) múltiplas da informação contábil;

• Uso, ou não, da contabilidade gerencial. Existência, ou não, da figura, mesmo informal, do controller;

• Oportunidade das informações geradas (prazos de fechamento de balanços); • Grau de participação dos associados na elaboração de orçamentos;

• Existência de rateios no sistema de custeio da empresa. Se os direcionadores de custo são, ou não, compreendidos pelos envolvidos;

• Existência de contas “diversos”, “outros”, “transitórias” ou “a classificar”; • Uso de jargões na comunicação de informações econômico-financeiras; • Constância dos critérios de apresentação dos dados (versus casuísmo). É possível, no caso das empresas de autogestão, utilizar as variáveis microssociológicas para análise do capital social, como a “sociabilidade, cooperação, reciprocidade, pró-atividade, confiança, o respeito, as simpatias” (COSTA, 2005, p. 240). Muitos estudos sobre capital social apontam para a necessidade de levantamento de informações sobre o cotidiano das pessoas como, por exemplo, saber se elas conversam com seus vizinhos, se recebem telefonemas, se freqüentam clubes, igrejas,

escolas, hospitais etc. A existência de empreendimentos da Economia Solidária constitui um indicador da presença de indivíduos dispostos a associar-se em arranjos dependentes de confiança.

c) Validade externa

Engloba a possibilidade de generalização das descobertas além do estudo de caso imediato (Yin, 2001, p. 58), ou seja, se os resultados obtidos nas empresas de autogestão estudadas podem ser generalizados para outras empresas do tipo, ou até para empresas em geral.

A generalização não é automática. A teoria deve ser testada por meio da replicação das descobertas em outros locais, em que se supõe a ocorrência dos mesmos resultados. Para Yin (2001, p. 69), cada caso deve ser cuidadosamente selecionado de modo a:

• Prever resultados semelhantes (replicações literais); ou

• Produzir resultados contrastantes apenas por razões previsíveis (replicações teóricas).

O desenvolvimento de uma rica estrutura teórica é fundamental para os procedimentos de replicação. A estrutura precisa expor as condições sob as quais é provável que se encontre um fenômeno em particular (uma replicação literal), assim como as condições em que não é provável que se encontre (uma replicação teórica) (YIN, 2001, p. 69).

As unidades de análise deste trabalho são os processos de comunicação de informações econômico-financeiras das empresas de autogestão. O estudo poderia ser em uma única empresa de autogestão (caso único), tendo como unidades incorporadas os diversos atores (emissores e receptores) e as mensagens (demonstrações financeiras). Porém, é também interessante verificar em outras empresas como se dá a produção e uso dessas demonstrações, bem como com as entidades de assessoria dessas empresas. Assim, podem ser feitas replicações teóricas em função dos seguintes atributos das empresas estudadas: porte, tempo de experiência em autogestão, tipo de empresa

anterior (no caso de empresa falida assumida pelos ex-funcionários), produção interna ou terceirizada (escritório de contabilidade) das demonstrações.

d) Confiabilidade

Este teste é utilizado para permitir a um pesquisador que repita os mesmos procedimentos descritos por um outro anterior a ele, e chegue às mesmas descobertas e conclusões. “A confiabilidade serve para minimizar os erros e as visões tendenciosas de um estudo” (YIN, 2001, p. 60).

Para que possa haver a repetição do estudo é necessário documentar os procedimentos adotados. Sem esta documentação, nem mesmo o próprio pesquisador poderia repetir seu trabalho. Para que haja confiabilidade, utiliza-se um “protocolo para o estudo de caso”, que contém o instrumento de pesquisa (questionário) e as regras gerais para uso do instrumento.

6.3. Protocolo para o estudo de caso

De acordo com Yin (2001), apesar da semelhança entre um questionário e um protocolo de estudo de caso, as características de ambos são distintas. O protocolo é mais que apenas um instrumento de levantamento, contendo também os procedimentos e regras gerais que devem ser seguidas para a correta utilização do instrumento.

Serão feitas observações de documentos e demonstrações financeiras das empresas de autogestão.

Do mesmo modo, serão feitas entrevistas com administradores financeiros e / ou contadores das empresas de autogestão e com pessoas ligadas a entidades de apoio a essas empresas (ANTEAG, NAPES – Núcleo de Ação e Pesquisa em Economia Solidária, Cáritas etc.).

Além disso, serão levantadas, inicialmente, questões sobre o histórico da empresa e sobre o processo de comunicação em geral. Busca-se, com isso, avaliar o envolvimento das pessoas da empresa com a Economia Solidária e a autogestão.

As questões para as empresas serão agrupadas por temas referentes aos componentes do processo de comunicação e suas relações: a governança corporativa e o território do emissor; a transparência na divulgação de informações e as relações entre o emissor e a mensagem, entre a mensagem e o canal, e entre o canal e o receptor; e a questão da confiança, que pertence ao território do receptor (quem confia):

1º grupo: Governança corporativa

Trata-se do território do emissor da comunicação. A base teórica para a formulação dessas questões compreende as características da informação contábil (relevante, confiável e comparável) do FASB, as exigências de governança corporativa e a presença de ameaças a esta (Deloitte, 2004), tais como:

• Falta ou deficiência de um programa abrangente de gestão dos controles internos;

• Falta de um programa formal de gestão de riscos empresariais;

• Controles inadequados associados com a existência de transações não- rotineiras (exceções), complexas ou incomuns;

• Falta de controle efetivo do ambiente de TI;

• Processo não efetivo de preparação de relatórios financeiros e de divulgação, como no caso de relações problemáticas com o escritório de contabilidade terceirizado;

• Falta de controles formais sobre processos de fechamento financeiro;

• Falta de políticas e procedimentos contábeis correntes, consistentes, completos e documentados;

• Inabilidades para avaliar e testar controles sobre processos terceirizados; • Compreensão inadequada dos dirigentes e do eventual comitê de auditoria

sobre riscos e controles;

A evidenciação, necessária para a confiabilidade, pode ser prejudicada por processos inadequados (Morgado, 2006). Algumas questões serão referentes à execução dos processos de negócio: não padronização, falta de integração, oportunidade das informações geradas etc.

2º grupo: Transparência na divulgação de informações

Trata-se das relações entre o território do emissor com a mensagem, da mensagem com o canal, e do canal com o receptor, em que se verificarão se todas as informações relevantes estão disponíveis aos interessados (transparência) e se a governança é explicitada etc.

Serão incluídas questões baseadas nas formas de accountability (Nakagawa, 2007, p. 7), com as seguintes necessidades de prestação de contas (evidenciação):

• Do Conselho de Administração para a Assembléia Geral Ordinária e envolvidos (stakeholders), para demonstrar a conformidade da empresa às leis que regulam suas atividades;

• Dos dirigentes da empresa e dos controllers perante o seu Conselho de Administração, sobre os riscos associados ao negócio, em especial à estimativa dos fluxos de caixa de futuros negócios.

O terceiro eixo do conjunto de indicadores (ANTEAG, 2005) é sobre transparência, com as seguintes exigências:

• Elaboração de balancete mensal; • Divulgação do balancete mensal;

• Análise do balancete pelo Conselho Fiscal; • Divulgação do parecer do Conselho Fiscal;

• Elaboração de planejamento (administração / produção); • Divulgação atos da administração / produção.

A transparência seria facilitada se as demonstrações contábeis fossem enriquecidas com gráficos e tabelas comparativas e tivessem um nível de detalhamento tal que os principais eventos econômico-financeiros, aqueles que causam impactos positivos ou negativos na situação do empreendimento, fossem mostrados.

Além disso, os responsáveis pela comunicação das informações econômico- financeiras poderiam ter acesso às melhores formas de apresentação nas entidades de apoio. A formação para autogestão deveria incluir elementos de didática da Economia Solidária, materiais de apoio apropriados e cursos a distância.

3º grupo: Confiança

Trata-se do território de receptor (quem confia), que pode ter confiança pelas garantias do processo ou adquiri-la em função da relação com os emissores, também pertencentes ao núcleo de solidariedade.

No caso das demonstrações como sistemas peritos, a confiança é uma forma de fé, na qual a segurança é adquirida em resultados prováveis, mais como um compromisso do que como compreensão. Assim, pode ser que os associados confiem mais no ambiente em que trabalham, do que propriamente entendam ou se apropriem dos códigos existentes nas comunicações econômico-financeiras feitas nas assembléias. No trabalho de Almeida (2006), os receptores consideram a contabilidade útil para gerar confiança.

A falta de compreensibilidade pode causar a perda da oportunidade do uso da informação para tomada de decisões operacionais. “Para poder comunicar e não apenas informar, a contabilidade deve antes determinar o tipo de mensagem necessária ao usuário, relevante e de alta veracidade” (ILUFI, 2000, p. 7).

O ambiente de confiança facilita não só a comunicação, mas tem menores custos de transação, ou seja, os “conflitos entre interesses seccionais devem ser muito menores”. “Podem ser travados abertamente e resolvidos por negociações em que todos tomam parte” (SINGER, 2000, p. 20).

A questão da remuneração (divisão de sobras) pode ser uma questão de desconfiança. É importante saber se os critérios estão claros para todos e se concordam com ele.

Uma das estratégias para a criação de confiança é a formação para autogestão (gestão democrática). Assim, serão verificados os métodos utilizados pelos empreendimentos para essa formação, como:

• Didática específica para educação popular, não técnica.

• Cursos de Sensibilização (documentos fundamentais, registros financeiros, produção, mercado e Economia Solidária) e Cursos de Aprofundamento (ferramentas de gestão, plano de negócios, sistemas da qualidade)

• Realização de intercâmbio entre trabalhadores de diferentes empresas/ empreendimentos ou regiões como forma de compartilhar o conhecimento consolidado

• Elaboração do plano de negócios, que além de útil para a gestão, é também um processo de conhecimento do negócio, conforme Morgado (1999). • Rodízio de funções (obrigatório para muitos empreendimentos), como

estratégia para a gestão democrática, que pode provocar o esforço dos receptores de conhecer, de se apropriar dos dados para poder assumir novas funções, incluindo a de emissores dessas comunicações.

Porém, falar de confiança pode ser difícil ou desconfortável. Não falar de confiança, ou reduzi-la a um mero detalhe em tratados econômicos ou na teoria do jogo, pode significar uma falta de confiança ou resultar em uma desconfiança continuada. Falar de confiança é essencial para a construção da confiança (SOLOMON e FLORES, 2002, p. 224).

A pergunta direta traria um viés para a pesquisa, pela retração dos trabalhadores a uma pergunta que, em alguns casos, poderia expor deficiências institucionais para uma empresa de autogestão.

No caso de pesquisas envolvendo a percepção dos entrevistados sobre questões delicadas, envolvendo tabus, como é o caso da confiança, as perguntas podem ser indiretas, para que se chegue às conclusões a partir de contextos.

Outra forma é como no levantamento que dá origem ao Guia das Melhores Empresas para se Trabalhar (Você S/A; EXAME; FIA, 2007p. 16,17), no qual os funcionários das empresas inscritas, em que mesmo as pequenas têm no mínimo 100 funcionários, são selecionados randomicamente. Isto porque os itens pesquisados são sobre transparência, benefícios, qualidade da gestão, ambiente de trabalho, avaliação etc., todos envolvendo a percepção dos funcionários. Essa percepção contribui com 70% do Índice de Felicidade no Trabalho. O restante é composto por 25% das políticas e práticas de RH da empresa e 5% da visita do jornalista especializado.

Uma questão importante é que a confiança autêntica não depende da percepção ou sentimento. Se o trabalhador da empresa de autogestão não se informa sobre o negócio e sobre a situação da empresa, se não se prepara, por meio de formação