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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Flávio Morgado

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Flávio Morgado

Confiança na comunicação de informações

econômico-financeiras:

o caso das empresas de autogestão

Tese apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Comunicação e Semiótica, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação do Prof. Doutor Rogério da Costa.

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Banca Examinadora

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DEDICATÓRIA

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Prof. Dr. Rogério da Costa, por explicar de forma tão clara temas espinhosos (incluindo Espinosa), e por ter me apresentado, por meio de sua pesquisa, às questões que hoje fazem parte desta tese: capital social, inteligência coletiva, redes sociais e confiança.

À professora Dra. Maria Cristina Sanches Amorim, membro da banca de qualificação, que continua me orientando, desde o mestrado, pela confiança na capacidade deste autor de cumprir a tarefa aqui apresentada.

Ao professor Dr. Fernando Antônio de Castro Giorno, membro da banca de qualificação, pelo aprendizado no dia-a-dia de trabalho, de vários assuntos, muito além dos acadêmicos.

À professora Dra. Sonia Maria Portella Kruppa, pelo entusiasmo e orientações sobre Economia Solidária, e pelas portas abertas para interlocutores importantes.

À professora Dra. Clarice Assalim, que fez a revisão deste trabalho, com o mesmo carinho que tem mostrado nesses muitos anos de amizade.

À professora Dra. Maria Helena Villar e Villar, especialista em formação para autogestão, com que tenho trabalhado em parceria, e que fez a revisão dos resultados da pesquisa.

À querida professora de inglês, Svetlana Ponomarenko Lázaro, por esse e outros abstracts, e por ser um exemplo de dedicação à docência.

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Ao Sr. José Reitor Rizzardi, assessor jurídico da ANTEAG, pela acolhida em Avaré e pela forma engajada e compromissada com que trata os marcos legais e a organização das cooperativas.

À Srta. Maria de Lourdes Roder, presidente e gestora da CooperJeans, em Arandu, São Paulo, pelos valiosos esclarecimentos sobre a prática da gestão de cooperativas, incluindo assuntos considerados tabu, como o da confiança nos números do negócio.

Ao Sr. Aguinaldo Luiz de Lima, assessor técnico da UNISOL e membro do NAPES – Núcleo de Ação e Pesquisa em Economia Solidária, da Cáritas, pelos esclarecimentos sobre a contabilidade de cooperativas.

À Sra. Ana Beatriz Baron Ludvig e à Srta. Renildes Comandolle, da Bruscor, em Brusque-SC, pela cuidadosa atenção a mim dispensada e pelos valiosos esclarecimentos sobre o modo de operar da autogestão, de fato.

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“O sol é o melhor desinfetante”. Louis Brandeis (juíz americano,

sobre a necessidade de transparência

no sistema financeiro)

“Nada é tão incapaz de causar uma boa impressão quanto o comportamento destinado a impressionar”. Jon Elster (no livro Sour Grapes, sobre a

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RESUMO

Título: Confiança na comunicação de informações econômico-financeiras: o caso das empresas de autogestão

Autor: Flávio Morgado

Após os escândalos financeiros ocorridos em 2001, quando a confiança no mercado financeiro foi questionada, a questão da governança corporativa passou a fazer parte da agenda dos acionistas e demais envolvidos – empresas clientes e fornecedoras, governo, investidores individuais, fundos de pensão e sociedade em geral – principalmente com as demonstrações financeiras e com a auditoria a que eram submetidas. As demonstrações financeiras podem ser consideradas sistemas peritos, que são sistemas de excelência técnica ou competência profissional, sobre os quais não se conhece e não se pode conferir a maior parte dos fundamentos (códigos de conhecimento) que regem seu funcionamento. Confia-se, tem-se fé, não tanto em suas competências, mas na autenticidade do conhecimento perito, baseado na experiência e na regularidade no funcionamento desses sistemas, além das forças reguladoras, que visam à proteção dos usuários. O objetivo deste trabalho é estabelecer critérios para a criação de confiança no processo de comunicação de informações econômico-financeiras. A pesquisa insere-se no campo da comunicação organizacional. A metodologia utilizada foi a dos múltiplos estudos de caso, envolvendo os componentes do processo de comunicação contábil, em empresas de autogestão. O emissor, a mensagem e o canal foram avaliados quanto à confiabilidade (ser merecedor de confiança). O receptor foi avaliado quanto à confiança (o ato de confiar). Os resultados mostraram a importância da transparência na divulgação das informações, aliada a controles internos efetivos, como requisito para a autogestão e para a democracia interna. Mostraram também as dificuldades dos trabalhadores em empresas de autogestão de se apropriarem do conhecimento sobre gestão, comprometendo, assim, a questão da participação. Outra constatação é que a confiança também é produto do ambiente institucional da autogestão e da Economia Solidária, que tem a confiança como princípio.

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ABSTRACT

Title: Trust on the communication of economic and financial information: the case of self management enterprises.

Author: Flávio Morgado

After the financial scandals which occurred in 2001, when confidence in the financial market has been questioned, the issue of corporate governance has become part of the agenda of the shareholders and stakeholders - corporate customers and suppliers, government and individual investors, pension funds and society in general - especially with the financial statements and the audit to which they were submitted. The financial statements can be considered expert systems, which are systems of technical excellence and professional competence on which we do not know and we can’t give most of the reasons (codes of knowledge) governing its operation. It’s taken for granted; there is faith, not so much in their competences, but the authenticity of expert knowledge, based on experience and regularity in the operation of these systems, in addition to the regulatory forces, which aim at protecting users. The objective of this work is to establish criteria for the creation of confidence in the communication process of economic-financial information. The research is inserted in the field of organizational communication. The methodology used was that of multiple case studies, involving the components of the accounting communication process in self management enterprises. The sender, the message and channel were evaluated for reliability (be worthy of trust). The receiver was evaluated as to the trust (the act of trust). The results showed the importance of transparency in the dissemination of information, combined with effective internal controls as a requirement for self management and for internal democracy. The also showed the difficulties of workers in self management enterprises, of knowing about management, undermining thus the question of participation. Another observation is that trust is also the product of self-management and institutional environment for Solidarity Economy which has the confidence as a principle.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 – Mapa conceitual do trabalho ... 29

Ilustração 2 – Modelo de comunicação de Shannon e Weaver... 59

Ilustração 3 – Modelo de comunicação de Gerbner ... 61

Ilustração 4 – Modelo de comunicação de Newcomb ... 63

Ilustração 5 – Modelo de Westley e MacLean ... 64

Ilustração 6 - Fatores constitutivos da comunicação (Jakobson) ... 65

Ilustração 7 - As funções da comunicação (Jakobson) ... 65

Ilustração 8 – Elementos dos processos em geral... 68

Ilustração 9 – Processo de comunicação contábil ... 68

Ilustração 10 – Uma hierarquia de qualidades em Contabilidade (SFAC 2) ... 74

Ilustração 11 - Modelo de Shannon e Weaver adaptado para autogestão... 137

Ilustração 12 – Modelo de Newcomb aplicado às empresas de autogestão... 138

Ilustração 13 – Modelo de Westley e MacLean adaptado à informação contábil... 138

Ilustração 14 – Confiabilidade e confiança no processo de comunicação... 141

Ilustração 15 – Modelo de contabilidade multidimensional ... 145

Ilustração 16 – Fluxo de caixa de uma empresa... 156

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Tipos de confiança... 35

Quadro 2 – Indicadores Institucionais de Autogestão ... 104

Quadro 3 – Indicadores Comportamentais de Autogestão... 105

Quadro 4 – Situações relevantes para diferentes estratégias de pesquisa... 122

Quadro 5 – Dimensões contábeis e seu conteúdo... 146

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Quantidade e percentual de EES por unidade da federação/região... 94

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABM / ABC – Activity-Based Management / Activity-Based Costing. ADR – American Depositary Receipts.

AGO – Assembléia Geral Ordinária

AICPA – The American Institute of Certified Public Accountants

ANTEAG – Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de AutoGestão e Participação Acionária

BOVESPA – Bolsa de Valores de São Paulo BSC – Balanced ScoreCard.

CAF – Conselho de Administração e Finanças da PUC-SP

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CFC – Conselho Federal de Contabilidade

CRC – Conselho Regional de Contabilidade CLT – Consolidação das Leis do Trabalho CMMI – Capability Maturity Model Integration.

COBIT – Control Objectives of Information and Related Technology.

COS – Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP COSO – Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission. CRC – Conselho Regional de Contabilidade

CVM – Comissão de Valores Mobiliários. EDI – Eletronic Data Interchange. ERP – Enterprise Resource Planning. Fed – Federal Reserve System

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IBASE – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. IFRS – International Financial Reporting Standard. IPO – Initial Public Offering.

ITIL – Information Technology Infrastructure Library. MBA – Master in Business Administration

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego.

Nasdaq – National Association of Securities Dealers Automated Quotations system. NBC – Norma Brasileira de Contabilidade

NYSE – New York Stock Exchange.

PACS – Políticas Alternativas para o Cone Sul, ou, na interpretação da própria entidade Participação, Autogestão, Cooperação e Solidariedade.

PNQ / ProEsQ – Plano Nacional de Qualificação / Projetos Especiais de Qualificação VMI – Vendor Managed Inventory.

SEC – Securities and Exchange Commission.

SENAES – Secretaria Nacional de Economia Solidária. SFAC – Statements of Financial Accounting Concepts. TCO – Total Cost of Ownership

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 19

Relevância do tema 20

Motivação para o trabalho 22

Objetivo do trabalho 24

Método de trabalho 24

Organização do trabalho 27

Mapa conceitual do trabalho 29

PARTE I – CONFIANÇA E COMUNICAÇÃO 31

1. CONFIANÇA 33

1.1. Tipos de confiança e suas características 34 1.2. Vantagens da confiança e da confiabilidade 39

1.3. Falta de confiança 41

1.4. A transparência na divulgação de informações 44 1.5. O contexto mais amplo da confiança 46 1.6. A confiança em sistemas abstratos 47

1.7. Confiança e risco 51

2. O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO 53

2.1. A comunicação humana 53

2.2. Teorias da comunicação 55

2.3. O processo de comunicação de informações econômico-financeiras 67

3. GOVERNANÇA CORPORATIVA 77

3.1. Accountability 78

3.2. Controles e regulamentações 79 3.3. Tecnologia da Informação e governança corporativa 84

PARTE II – ECONOMIA SOLIDÁRIA E AUTOGESTÃO 89

4. ECONOMIA SOLIDÁRIA E AUTOGESTÃO 91

4.1. Economia Solidária 91

4.2. Autogestão 95

4.3. Transparência das informações 97 4.4. Formação em Economia Solidária 100 4.5. Indicadores de autogestão 101

5. CONTABILIDADE NA ECONOMIA SOLIDÁRIA 107

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5.2. Inserção da contabilidade nas empresas de autogestão 112

PARTE III – PESQUISA DE CAMPO, RESULTADOS E PROPOSTAS 119

6. METODOLOGIA DA PESQUISA DE CAMPO 121

6.1. Hipóteses ou premissas do trabalho 123

6.2. Qualidade da pesquisa 124

6.3. Protocolo para o estudo de caso 128

7. RESULTADOS OBTIDOS E PROPOSTAS 135

7.1. Entrevistas e observações 135 7.2. Análise dos modelos de comunicação processuais 137

7.3. O território do emissor 142

7.4. O território do canal e da mensagem 150 7.5. O território do receptor 157

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS 165

REFERÊNCIAS 167

WEBOGRAFIA 175

GLOSSÁRIO 177

ÍNDICE REMISSIVO 180

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIOS DA PESQUISA 182

ANEXO A – TRECHOS DA LEI DO COOPERATIVISMO 185

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APRESENTAÇÃO

Após os escândalos financeiros que ocorreram em 2001, envolvendo a Enron e outras grandes corporações norte-americanas, em que a confiança no mercado financeiro foi questionada (Carvalho e França, 2002), a governança corporativa passou a fazer parte da agenda do mundo corporativo – acionistas e demais envolvidos, como empresas clientes e fornecedoras, governo, investidores individuais, fundos de pensão e sociedade em geral – surgindo a preocupação com a confiança nas demonstrações financeiras e na auditoria a que eram submetidas.

Segundo Imhoff (2003), no regime de demonstrações financeiras americano, principalmente devido aos bônus em dinheiro e às opções de compras de ações, dados aos executivos em função dos resultados contábeis, estes tendem a manipular resultados financeiros ou atrasar ou esconder notícias ruins.

Demonstrar pode ter o sentido de tirar monstros, finalidade que as demonstrações financeiras muitas vezes não cumprem, contribuindo, pelo contrário, para criar mais monstros na imaginação dos que precisam entendê-las para tomar decisões. Isto porque as demonstrações financeiras se enquadram no grupo dos sistemas peritos ou abstratos.

Em 2008, os Estados Unidos defrontam-se com mais uma crise séria, em grande parte devida à falta de fiscalização sobre instrumentos financeiros extremamente especulativos, e se preparam para o ajuste regulatório mais sério em sete décadas (após o crash de 1929). Esse ajuste ampliará os poderes do Fed (Banco Central Americano), apesar da dúvida sobre se leis mais duras teriam impedido a crise atual (Guandalini, 2008, p. 78).

(16)

Os sistemas peritos dependem de uma “fé” pragmática, baseada na experiência que mostra certa regularidade no funcionamento de tais sistemas. Além disso, existem forças reguladoras que protegem os consumidores, como as agências governamentais, as associações profissionais, os órgãos de defesa dos consumidores etc., que certificam profissionais, licenciam máquinas, vigiam a utilização de padrões, ou seja, dão autenticidade a esses sistemas.

O modo de comunicação das demonstrações financeiras (contas e grupos de contas, saldos reais e previstos, critérios de classificação, de rateios, notas explicativas etc.) deve gerar confiança nos públicos a que se destinam.

As empresas de autogestão, estudadas neste trabalho, devido aos pressupostos do contexto a que pertencem, o da Economia Solidária, deveriam ter mecanismos de participação dos trabalhadores associados, apoiados por controles internos efetivos e canais de comunicação transparentes e democráticos, em que a apropriação das técnicas de gestão fosse uma prática comum.

Relevância do tema

Um exemplo inicial da relevância do tema é a Lei Sarbanes-Oxley, criada em 2002, nos Estados Unidos, como reação aos prejuízos causados pelas fraudes de 2001, e que visa à governança corporativa, ou seja, dar aos processos de negócio transparência e segurança contra fraudes. A adequação à lei é obrigatória para todas as companhias norte-americanas e suas subsidiárias que tenham ações nas bolsas americanas.

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Com o crescimento das empresas e a conseqüente complexidade de sua organização, parece também haver mais necessidade de atender à demanda de informações por parte de investidores e credores. “A liquidez em Bolsa e a inclusão em níveis diferenciados de governança corporativa também estão positivamente associadas à quantidade de informações financeiras disponibilizadas pelas empresas” (Mendes da Silva e Magalhães Filho, 2005), embora, conforme esses autores, contrariando as expectativas, o retorno anual das ações dessas empresas tenha se revelado negativamente associado à quantidade de informações disponíveis no website corporativo.

Um estudo conduzido pela Business Week Magazine (apud PRICE/SAP, 2005b, p. 4), identificou uma correlação entre governança corporativa e retorno financeiro. Um estudo correlato da McKinsey (Idem, p. 4) revelou que falhas de conformidade (compliance) têm impacto negativo nos analistas, investidores e agências classificadoras, e, por conseqüência, no preço das ações. Esse estudo mostrou que 80% dos investidores estariam dispostos a pagar um preço maior por ações de empresas com governança efetiva. Segundo a agência Moody’s (apud PRICE/SAP, 2005b, p. 4), baixos ratings de crédito são uma das conseqüências de falhas graves nos controles internos sobre demonstrações financeiras, como, por exemplo, práticas inadequadas de avaliação de riscos.

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A questão, sempre presente, é a da convivência, em uma economia capitalista, de empresas com características diferenciadas desta – Economia Solidária, Empresas de Autogestão, Comércio justo, Empresa Verde, Empresa Amiga da Criança, Melhores Empresas para se Trabalhar etc. – e sua atuação no mercado, competitividade e as possibilidades de uso de soluções mais complexas (reengenharia, terceirização, offshoring, fusões e aquisições etc).

Motivação para o trabalho

A motivação para o trabalho são as várias experiências do autor com sistemas informatizados de informações gerenciais e contábeis, com o desafio de gerar, por meio desses sistemas, relatórios e demonstrativos transparentes, corretos e inteligíveis por diversos públicos, ou seja, com requisitos de confiabilidade.

Seguem algumas dessas experiências:

Participação no desenvolvimento do Sistema de Gestão da Comunicação (interna e externa) do Itaú, baseado na implantação, nos moldes do Bank of America, de um código de divulgação voluntária (voluntary disclosure); Nesse trabalho foram levantados os conceitos, os termos e o processo de comunicação interna e externa e foram produzidos um glossário dos termos usados nas comunicações e um catálogo das comunicações, contendo emissores, receptores, conteúdo, periodicidade, meio e autoridade;

Participação na elaboração de projeto de pesquisa, visando a um sistema para gestão de orçamento público por comunidades organizadas, no município de Mauá. Este projeto, caso fosse aprovado, poderia resultar em uma ferramenta de grande valia para o conceito de Orçamento Participativo (democracia baseada na informação);

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transparência dos dados para todos os associados da empresa. Nesta época, esse autor preparou um módulo sobre Marketing para um MBA (Master in Business Administration) específico para empresas de autogestão, coordenado pela ANTEAG – Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de AutoGestão e Participação Acionária;

Elaboração de dissertação de mestrado, na PUC-SP, sobre o impacto causado nos funcionários administrativos devido à reengenharia de processos e a implantação de sistemas ERP, em que a comunicação da mudança era um fator crítico;

Participação na criação de sistema de custeio por atividade na Fundação Santo André, visando ao conhecimento dos custos de cada curso ou projeto. Esse sistema de custeio permite mais transparência para o processo de comunicação das informações e evita rateios por critérios pouco claros. O maior conhecimento do processo produtivo (atividades) é um dos ganhos desse sistema de custeio;

Análise, discussão e elaboração de pareceres sobre criação e reformulação de cursos de graduação, a partir de projeções de receitas, custos, despesas, evasão etc., feitos para o CAF (Conselho de Administração e Finanças) da PUC-SP. Esses pareceres são utilizados para verificação de viabilidade econômica e para decisões vitais para esses cursos, como o valor da mensalidade, que devem ser tomadas com números corretos e confiáveis; Análise de sistemas informatizados para apuração de contas na área de saúde, nos quais está sempre presente a desconfiança, por parte das fontes pagadoras (seguradoras, convênios médicos e convênios autogeridos), sobre os lançamentos feitos pelos operadores (hospitais, médicos, empresas de diagnósticos etc.);

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Em todos esses trabalhos, o desafio sempre foi o de utilizar uma linguagem que criasse confiança nos usuários das informações, de modo a eliminar os monstros criados na cabeça destes, por terem de lidar com sistemas que eles não dominavam, mas que os afetava de forma direta e relevante.

Objetivo do trabalho

O objetivo deste trabalho é analisar os modos de geração de confiança no processo de comunicação de informações econômico-financeiras (balanços, resultados, fluxos de caixa, orçamentos, planejamento estratégico etc.), feitas pelos produtores dessas informações (contadores, controllers, gerentes financeiros), para um tipo específico de usuário, que são os associados, ou cooperados, de empresas de autogestão. O objeto de estudo será o processo comunicativo dessas informações nas empresas de autogestão. O objetivo é obter critérios ou uma metodologia para produção e disseminação de demonstrativos que possam gerar confiança da parte dos receptores e confiabilidade do processo de comunicação.

A confiabilidade no processo de comunicação daria maior credibilidade ao modo de operar da Economia Solidária, principalmente à autogestão. A confiança no processo, por parte dos receptores das informações, propiciaria um ambiente com menores custos de transação e maiores possibilidades de desenvolvimento.

Método de trabalho

A revisão da literatura contempla os seguintes grupos de referências teóricas:

• Sobre confiança, serão utilizadas, principalmente, as seguintes referências: Robert C. Solomon e Fernando Flores (2002), sobre os fundamentos da confiança e sobre a criação da confiança autêntica;

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Francis Fukuyama (1996), sobre a prosperidade gerada nas sociedades baseadas na confiança;

Richard Sennett (2000), sobre a crise de confiança e do caráter devido ao capitalismo flexível;

Anthony Giddens (1991), quanto à confiança em sistemas abstratos, ou sistemas especialistas (peritos), que será visitada devido ao fato de as demonstrações financeiras poderem ser enquadradas nessa categoria; Peter Bernstein (1997), sobre o risco e sua relação com a confiança; Jürgen Habermas (2000) sobre a confiança como uma das características da modernidade.

• Sobre a comunicação verbal (oral e escrita), principalmente quanto ao processo de comunicação (emissor – receptor – mensagem – código – meio), serão utilizadas as seguintes referências:

Lucia Santaella (2001), sobre as teorias, modelos e âmbitos da pesquisa em comunicação;

John Fiske (2005), sobre os modelos do processo de comunicação; Armand e Michele Mattelart (2008), sobre a história das teorias da comunicação;

Antonio Hohlfeldt, Luiz C. Martino e Vera Veiga França (2001), sobre conceitos, escolas e tendências da comunicação;

José Maria Dias Filho (2001) e em conjunto com Masayuki Nakagawa (2007), sobre a compreensibilidade da informação contábil (problemas de evidenciação), à luz da Teoria Semiótica e da Comunicação;

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Publicações das maiores empresas de consultoria e auditoria, como a PriceWaterhouseCoopers (2008), Deloitte (2003 e 2004) e KPMG Risk Advisory Services (2008);

Publicações da BOVESPA (2008) sobre níveis de governança e o novo mercado;

Masayuki Nakagawa (2007), sobre accountability (prestação de contas).

• Sobre autogestão, que é o modelo administrativo usado pelas empresas da Economia Solidária, cujas demonstrações devem seguir os pressupostos de transparência e confiabilidade, serão utilizadas, principalmente, as seguintes referências:

Edir Antonia de Almeida (2006) e Valdir Michels (1995 e 2000), sobre as características específicas das finanças e da contabilidade de empresas de autogestão, cooperativas e da Economia Solidária;

Paul Singer (2000), sobre Economia Solidária no Brasil;

Publicações de entidades de apoio, de pesquisa e de órgãos governamentais, sobre autogestão e Economia Solidária, como a ANTEAG – Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de AutoGestão e Participação Acionária (2004, 2005 e 2006), IBASE / ANTEAG (2004) e MTE / SENAES - Ministério do Trabalho e Emprego / Secretaria Nacional de Economia Solidária (2006).

A metodologia de pesquisa será a dos múltiplos estudos de caso, em empresas de autogestão e entidades de apoio técnico a essas empresas. Ela prevê a formulação teórica anterior ao trabalho de campo, que será feita mediante a utilização de um protocolo de estudo de caso.

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recebem, e quanto dessa confiança é devido ao processo de comunicação ou a outros fatores ligados à constituição da empresa.

As entrevistas com representantes de entidades de apoio técnico à Economia Solidária, à Autogestão e às Cooperativas serão importantes para captar os problemas desse tipo de empresa, vistos sob a óptica dos pesquisadores do tema, formadores de quadros, mediadores políticos etc.

O levantamento será complementado com o aproveitamento de dados secundários, oriundos de outras pesquisas efetuadas em cooperativas, nas categorias de análise que mantêm alguma relação com este trabalho, como a participação dos associados nas decisões, o processo de comunicação, o uso de informações contábeis etc.

A análise dos levantamentos deste trabalho permitirá a proposição de processos de comunicação de informações econômico-financeiras que sejam confiáveis e que gerem confiança nos diversos públicos a que elas se destinam.

Organização do trabalho

Na parte I serão estudados os fundamentos teóricos da confiança, do processo de comunicação e da governança corporativa, com os seguintes capítulos:

• O capítulo 1 tratará da questão da confiança (ato de confiar) e confiabilidade (ser confiável) e dos processos de construção da confiança autêntica, mais efetiva que a confiança simples e que a cega. Serão também abordadas as vantagens da confiança e os problemas da desconfiança para a sociedade e para as empresas. A teoria dos sistemas abstratos (sistemas peritos) será útil para entender os mecanismos desse tipo de sistemas para que possa, posteriormente, ser aplicada às demonstrações financeiras;

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• O capítulo 3 aprofundará a questão das demonstrações financeiras, dentro do escopo de governança corporativa, que contém regras aplicáveis, principalmente a grandes empresas, geralmente multinacionais. Serão contempladas posteriormente as possibilidades de aplicação dessas regras ao tipo de empresa desse estudo, de menor porte que estas grandes corporações. Na parte II, da Economia Solidária e autogestão, serão estudadas as questões referentes ao objeto de estudo do trabalho, que é o processo de comunicação de informações econômico-financeiras das empresas de autogestão, com os seguintes capítulos:

• O capítulo 4 tratará de aspectos da Economia Solidária (fundamentos, autogestão, transparência, formação, indicadores);

• O capítulo 5 dará ênfase às finanças e à contabilidade dessas empresas, principalmente na comunicação das informações produzidas.

A parte III, da pesquisa de campo e dos resultados, detalhará a metodologia de pesquisa, apresentará os resultados do trabalho de campo e fará propostas para criação de confiança na comunicação de informações econômico-financeiras, especificamente para as empresas de autogestão, com os seguintes capítulos:

• No capítulo 6, será detalhada a metodologia de pesquisa utilizada (múltiplos estudos de caso), contendo as hipóteses ou premissas do trabalho, as unidades escolhidas, os critérios para garantia da qualidade da pesquisa e o protocolo para o estudo dos casos;

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Mapa conceitual do trabalho

Um mapa conceitual é construído a partir de conceitos (substantivos ou termos substantivos) e das ligações ou relações entre eles, feitas por meio de verbos ou termos verbais (NOVAK e GOWIN, 1984). O mapa a seguir evoluiu durante a confecção do trabalho e foi útil como guia visual do relacionamento de conceitos.

Ilustração 1 – Mapa conceitual do trabalho

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PARTE I – CONFIANÇA E COMUNICAÇÃO

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1.

CONFIANÇA

Este capítulo abordará os tipos de confiança (cega, simples, autêntica) e fará a distinção entre a confiança (ato de confiar) e confiabilidade (ser confiável). Serão também abordadas as vantagens da confiança e os problemas da desconfiança para a sociedade e para as empresas. Será estabelecido, também, um relacionamento entre as demonstrações financeiras e os sistemas abstratos (ou peritos).

Solomon e Flores (2002) propõem algumas definições do que é e do que não é confiança:

• Confiar é algo que se exerce individualmente; é algo que se constrói, que se sustenta com “nossas promessas, nossos compromissos, nossas emoções e o sentimento de nossa própria integridade” (Idem, p. 21);

• Não é um meio, uma atmosfera, um “lubrificante”, uma “cola social”, um golpe de sorte para uma ou outra sociedade, ou algum “material” social misterioso (Idem, p. 21);

• Não é algo que tem de existir desde o início, ou que pode ser considerado como garantida (Idem, p. 21);

• Não é meramente dependência, ou previsibilidade, ou o que por vezes se entende por confiabilidade (Idem, p.21);

• Não é um risco. É um alargamento do mundo, não sua diminuição (Idem, p.31);

• Uma vez estabelecida, facilmente recua para o pano de fundo, para um familiar e, portanto, pouco consistente conjunto de hábitos e práticas. Nesses casos, só se torna visível, de forma retrospectiva, quando é desafiada ou violada (Idem, p.31);

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• A questão principal não é a confiabilidade (em quem confiar – os emissores de comunicações), mas a confiança (o confiar – ato dos receptores). “A confiança não só é merecida; precisa ser dada” (Idem, p. 33);

• Não é um sentimento, algo que acontece. É um envolvimento com o mundo, uma prática (Idem).

1.1. Tipos de confiança e suas características

Segundo Solomon e Flores (2002), existem vários tipos de confiança: básica, simples, cega e autêntica. O quadro a seguir levanta algumas características desses tipos de confiança:

Tipo de confiança

Características

Básica (certa)

É a confiança baseada na familiaridade e tomada como certa (SOLOMON E FLORES, p. 67).

É relativamente aberta e indiscriminada (Idem, p. 68).

É negativa, no sentido de que é a confiança de que coisas ruins não acontecerão, porque se vive em um espaço “familiar” (Idem, p. 68). Simples

(ingênua)

“É uma confiança livre de qualquer senso de possibilidade da desconfiança, uma confiança na forma da aceitação impensada” (Idem, p. 97).

É uma confiança básica mesmo quando se está em uma situação desconhecida ou perigosa (Idem, p. 97).

É a completa ausência de suspeita. Não questiona o merecimento à confiança do outro, não porque não tenha havido razões para o questionamento, mas por ingenuidade (Idem, p. 97).

“Pode ser considerada um otimismo focalizado” (Idem, p. 98).

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Cega (negação)

Rejeita (nega) as evidências da traição ou violação já sofrida (Idem, p. 102).

É auto-enganadora (Idem, p. 102).

Simplifica a vida, quando a confiança simples não é mais uma opção (Idem, p. 103).

Não aceita a possibilidade da desconfiança (Idem, p. 105). Requer confiança absoluta, incondicional (Idem, p. 105).

“... (como a paranóia, seu oposto) pode ser impressionantemente articulada, admiravelmente coerente, e em certas ocasiões, convincente”. Não é por serem estratégias que deixam de ser emoções (Idem, p. 108).

Autêntica (construída)

A confiança autêntica não necessita da exclusão da desconfiança. Ao contrário, abraça as possibilidades de desconfiança e traição como uma parte essencial da confiança (Idem, p. 21).

É uma confiança plenamente consciente de si mesma,

conhecedora de suas próprias condições e limites, aberta a novas e até inimagináveis possibilidades, baseada na escolha e na responsabilidade, e não em operações mecânicas de previsibilidade, dependência e de rígida obediência às regras (Idem,p. 95).

Quadro 1 – Tipos de confiança Fonte: Solomon e Flores (2002).

Independente da definição que se dê para confiança ou de uma eventual tipologia, o importante para o contexto deste trabalho é como construir a confiança e, ainda, como construí-la a partir de uma quebra (traição) de confiança.

A confiança tratada neste trabalho, para a comunicação de informações econômico-financeiras, é a confiança autêntica. A chave para essa confiança é a ação, especialmente os compromissos, assumidos e honrados – daí se falar em construção, não em sentimento.

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organizações ou nações, com a busca do desenvolvimento de instituições de confiança (SOLOMON e FLORES, 2002:18).

A construção da confiança inicia-se com sua apreciação e compreensão, mas requer uma prática. Não se pode mecanizar a confiança, ou seja, confundi-la com garantia e segurança.

Mas a confiança não é uma questão de previsibilidade e expectativas. Necessariamente envolve interações e relacionamentos (não importa quão abreviadas). É uma função de nossos compromissos ativos, que por sua vez podem assumir a forma de reciprocidade. A confiança envolve o fazer, não só o crer; ação recíproca, não dependência passiva e previsão. A confiança é um meio de engajamento interpessoal, não um mero cálculo” (Idem,p. 91).

Existem limites para as possibilidades de compreensão. Segundo Fonseca (2003, p.147), seguindo a idéia de Locke sobre a falibilidade dos leitores, é necessário primeiro entender o que foi dito ou escrito, para depois se poder discordar ou concordar, pois a compreensão tem graus variados. Os leitores de uma mesma mensagem ou texto com freqüência não concordam, e “nem todas as alegações de entendimento podem ser simultaneamente consideradas verdadeiras”.

A distorção da comunicação pode se dar pelos mal-entendidos, que são “uma falha espontânea de entendimento ou interpretação das idéias de outra pessoa”, ou seja, “mal-entendido puro”, e não a comunicação errônea de forma deliberada, que é uma deturpação (FONSECA, 2003, p. 148).

A confiança (o ato de confiar) é dada pelos receptores e não somente pela confiabilidade dos emissores. Segundo Fonseca (2003, p. 148):

...os receptores, e não os autores, estabelecem e variam o significado do que está sendo dito. A interpretação específica que determinada mensagem ou texto recebe dependerá, em geral, não só da intenção e clareza do autor mas também, e em grande medida, da percepção que se tem quanto às exigências da vida prática (os problemas da época) e dos interesses, objetivos e preocupações específicas dos usuários individuais.

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mais preguiçosos na mente do que no corpo”. Assim, não se faz o esforço necessário para compreender, deixando para outros a tarefa de pensar.

O receptor acredita sinceramente que compreendeu a mensagem passada pelo emissor, quando de fato não a compreendeu, caindo em uma armadilha preparada por ele mesmo. Se desconfiar da armadilha, poderá procurar uma saída, estudando mais o assunto e suspendendo temporariamente a crença. Porém, se não conseguir identificar o que ocorreu, não procurará uma saída e a sua confiança (ilusória) em sua capacidade de decodificar e entender a mensagem transmitida o deixa indefeso (FONSECA, 2003, p. 170).

Em muitos casos, o problema da imprecisão da linguagem é atacado com a criação de termos novos específicos, com a introdução de definições rígidas e a formalização excessiva da apresentação, que fica desnecessariamente técnica.

Alfred Marshall (apud Fonseca, 2003, p.176) propôs que nunca se desviasse demais dos termos familiares da vida cotidiana e da linguagem inteligível parra o público em geral, como forma de lidar com as dificuldades da terminologia econômica e técnica. As definições confiantes e rígidas que aparecem no início de algumas apresentações podem induzir o receptor a uma falsa segurança. Nesse caso, o fato de um contador, com CRC, citando órgãos de controle (CVM, CRC, FASB etc.), usando o balanço patrimonial como base para explicação dos números da empresa, pode funcionar como argumento de autoridade, evitando questionamentos e dificultando a compreensão e a possibilidade da tomada de decisão consciente e conseqüente construção da confiança.

Uma questão que pode ser um empecilho para a construção da confiança autêntica é, na concepção de David Hume (apud Fonseca, 2003, p. 103), que “a crença é mais propriamente um ato da parte sensível, e não da parte cogitativa de nossas naturezas”.

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conclusões indutivas da experiência prévia, mesmo em termos de probabilidades, então, como se pode afirmar saber alguma coisa do mundo?

Em alguns casos, quer-se dar um ar de super-objetividade à comunicação de informações econômico-financeiras, como se não fosse produto de pessoas da organização, como se viessem de um sistema que não foi definido pela empresa, embora com ajuda de consultorias.

Embora as instituições não sejam o mesmo que os indivíduos (a noção de “face a face” é difícil de aplicar-se às instituições, por exemplo), as instituições são entidades humanas. Não são apenas criações humanas como as pontes, os edifícios e as teorias. São completamente humanas no sentido de serem totalmente constituídas, dirigidas e movidas por ações e decisões de indivíduos e coletividades humanas (Idem, p. 115).

Como as empresas possuem interesses, mesmo que estritamente econômicos, e têm um comportamento estratégico, então a elas se pode apelar, com elas se pode negociar, delas se pode depender (ou não) de cumprirem seus compromissos. O procedimento interno de tomada de decisão da empresa ou instituição pode descrever as linhas para essa operação, a capacidade de tomar decisões, em diversos modos. Os pronunciamentos oficiais da corporação podem não ser nada mais do que a opinião majoritária dos funcionários (embora essa abordagem ainda seja relativamente rara). Podem, em contrapartida, ser os pronunciamentos ditatoriais de uma única figura em sua capacidade como diretor da organização. Ou, como na maioria das corporações, o procedimento de tomada de decisão pode definir diversas funções diferentes, por meio de uma hierarquia ou nexos de departamentos, divisões, conselhos e comitês. O essencial, nas considerações de confiança, é que a corporação pode e deve ser considerada em termos de responsabilidades humanas. Confiar numa corporação, por conseguinte, é muito mais como confiar numa pessoa do que depender da natureza ou de uma máquina, quaisquer que sejam as complicações de se identificarem as relevantes operações responsáveis. Envolve relacionamentos humanos, não meramente previsões e controle (Idem, p. 116-118).

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ambiente de negócios do qual fazem parte, ou seja, “cultura societária, política, regulação, profissionalização e instituições nacionais”.

Conforme Barney e Hansen (apud Silva et al., 2004, p. 4), a confiança, no contexto dos arranjos cooperativos interorganizacionais, “é a segurança mútua de que nenhum agente irá explorar as vulnerabilidades dos demais”. Para esses autores, “a exploração das vulnerabilidades possui natureza oportunística, uma vez que o oportunismo pode ser visto como o oposto da confiança”.

1.2. Vantagens da confiança e da confiabilidade

Uma vantagem competitiva que um ambiente de confiança propicia é a diminuição do custo de transação, que é influenciado pela complexidade da execução dos negócios, pelas fraudes, pelas desconfianças em relação ao outro e a conseqüente criação de protocolos, recibos etc. De acordo com Niklas Luhmann (apud Solomon e Flores, 2002, p. 26), “a confiança é uma maneira de lidarmos com a complexidade de uma sociedade crescentemente complexa”.

Um exemplo da importância do desenvolvimento da confiança para a diminuição dos custos de transação está em um dos 14 pontos de Deming para a qualidade, aplicado com sucesso pelo Japão. Diz o ponto IV:

Cessar a prática de comprar apenas com base no preço. Ao invés disso, deve-se procurar minimizar o custo total. É preciso dedeve-senvolver um fornecedor único para cada item, num relacionamento de longo prazo fundado na lealdade e confiança (DEMING, apud MAXIMIANO, 2004, p.193).

Na pesquisa sobre redes de cooperativas do setor agroalimentar no Rio Grande do Sul, Jerônimo (2005, p. 8) aponta que elas conseguem reduzir os custos de transação, aumentar as economias de escala, de escopo e de especialização, além de aumentar o poder de barganha. Conseguem, também, obter “melhoramentos contínuos, aprendizagem coletiva e a ampliação de mercados”. Para isso, a confiança tem um papel central, é “condição indispensável não somente para elevar a competitividade, mas à formação, manutenção e a continuidade do próprio arranjo interorganizacional”.

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destacam-se por seu potencial de formação de parcerias cooperativas bem-sucedidas e de longo alcance, aumentando o chamado capital social.

Para Costa (2005, p. 239), a noção de capital social, ou capital de relacionamento, pode ser entendida como:

A capacidade de interação dos indivíduos, seu potencial para interagir com os que estão a sua volta, com seus parentes, amigos, colegas de trabalho, mas também com os que estão distantes e que podem ser acessados remotamente. Capital social significaria aqui a capacidade de os indivíduos produzirem suas próprias redes, suas próprias comunidades pessoais.

De acordo com Putnam (apud Fernandes, 2002, p. 376), “capital social refere-se a aspectos da organização social, tais como redes, normas e laços de confiança que facilitam a coordenação e cooperação para benefícios mútuos. Capital social aumenta os benefícios de investimento em capital físico e capital humano”. Dentre as 12 variáveis que Putnam (apud Fernandes, 2002, p. 383) usou para a criação de um índice de desempenho institucional, três são políticas (estabilidade do gabinete; legislação reformadora; inovação legislativa), quatro referem-se a políticas de investimentos (instrumentos de política industrial; capacidade de efetuar gastos na agricultura; gastos com saneamento local; habitação e desenvolvimento urbano), duas são sobre serviços (quantidade de creches; quantidade de clínicas familiares) e em três delas o aspecto principal é a comunicação e a transparência das ações públicas (presteza orçamentária; serviços estatísticos e de informação; sensibilidade da burocracia).

No caso da transparência e presteza orçamentária, a criação de um orçamento público é uma construção social complexa, pelo que tem de implicações na vida de cada um, pelas vantagens das minorias influentes, pela dificuldade de priorizar gastos e investimentos. Czarniawska-Joerges (1992, p. 221) fala do orçamento como uma linguagem de consenso e propõe uma análise da retórica e das metáforas utilizadas na sua elaboração.

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que vemos em uma pessoa, também nela provocamos”. No caso da confiabilidade do processo de comunicação e da confiança dos receptores das informações econômico-financeiras, pode-se estabelecer uma espiral positiva de confiança-confiabilidade. Um exemplo dessa reciprocidade é o modelo de microcrédito do Banco Grameen, que tem por objetivo a emancipação dos que a ele estão vinculados (YUNUS, 2006).

1.3. Falta de confiança

As alternativas para a confiança são, no dizer de Solomon e Flores (2002, p. 43), o medo, o controle e o poder. Todos concordam que deve haver mais confiança, que a desconfiança tem um alto custo e ineficiência. Porém, quando a questão é construir mais confiança, existem dificuldades como a de achar que não se pode confiar nas pessoas, que estas devem ser controladas ou ameaçadas. “A suposição subjacente é a de que existe uma natureza humana fixa e que sua essência é o egoísmo. A estratégia prudente, portanto, determina uma desconfiança generalizada” (Idem, p. 46).

Sennett (2000) enxerga essa crise de confiança como resultado do capitalismo flexível, que causa o que chama de “corrosão do caráter”, produto de rupturas, reorganizações, reinvenções ou reengenharias, em que os sobreviventes ficam mais à espera do próximo golpe do “facão” do que felizes com a vitória sobre os demitidos.

No relato de funcionários que sobreviveram à reorganização ocorrida na IBM no início da década de 90, havia muito nervosismo e falta de segurança. Agiam como se “vivessem um tempo emprestado, achando que não haviam sobrevivido por um bom motivo” (SENNETT, 2000, p. 150). A desconfiança e a atitude defensiva, no lugar do propósito compartilhado, chegaram quase a destruir o moral em muitas das principais empresas (SOLOMON E FLORES, 2002, p. 40).

Uma faceta da manipulação e do engodo, apontado por Sennett (2000), é a da falsa atribuição de autonomia, ou de controle de suas atividades, às categorias inferiores. É o chamado “flexitempo”, resultando no aumento de controles para os que estão trabalhando em casa ou em horários não padronizados.

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autoridade ou autonomia real. E onde a cultura primordial da companhia é uma de comando e controle, o resultado é desconfiança e cinismo difundidos (SOLOMON E FLORES, 2002, p. 46).

Outro sentimento marcante dessa crise de confiança é a perda de referências, que Sennett (2000) chama de deriva, cujos sinais mais tangíveis são a “falta de longo prazo”, “novas formas de organizar o tempo, sobretudo o tempo do trabalho”, e os empregos sendo substituídos por “projetos”.

Nos negócios, as pessoas podem não mais sentir compreender suas funções em suas empresas e podem temer pela segurança de seus empregos mesmo quando julgam estar fazendo um bom trabalho. A combinação de pressões competitivas com o temor resulta em baixo moral e baixa eficiência, assim como num declínio na lealdade e dedicação (SOLOMON E FLORES, 2002, p. 58).

A questão do poder pode ser compreendida como pura força, por meio da imposição do medo (ameaças), ou como autoridade, ou como poder legítimo (merecido). Quando é obtido por pura força resulta em temor e destrutividade. Quando é legítimo, já possui a confiança embutida nele. Nesse caso, a confiança na competência do líder, ou na identificação deste com o bem da companhia, ou na compreensão do seu poder. “Em uma cultura estruturada pelas relações de poder, os compromissos e as promessas possuem um significado diferente do que possuem num contexto de confiança mútua”. No contexto das relações de poder, a confiança é um cálculo de interesse próprio, que junto com a astúcia e a conspiração podem minar uma organização. Quando a motivação das pessoas é apenas a de evitar a punição por uma falha, não haverá a cooperação, mas um sentimento de alienação, de não responsabilidade. Haverá, também, nesse contexto, a perda da criatividade. Até mesmo o levantamento da possibilidade do fracasso deve ser evitado, havendo a tendência de mentir ou transferir a culpa quando algo sai errado (SOLOMON E FLORES, 2002, p. 47-51).

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críticas, para se manifestarem, após a reunião, em outros canais, e por meio de críticas sarcásticas, fofocas, ataques pessoais e cinismo.

As “políticas de escritório”, com suas turbulências, frustrações e desconfianças, limitam a capacidade de ação e de comunicação, prejudicando a dedicação ao trabalho, recorrendo a expedientes mesquinhos, inimizades, sabotagens etc., ou seja, um colapso da confiança. O próprio combate, desenrolado nos cubículos, acaba por se tornar mais instigante que a competição pelo mercado na qual a empresa está mergulhada (Idem, p. 24-25).

A desconfiança não é o oposto da confiança, mas sua outra face.

A confiança requer algum grau de entendimento e cooperação mútuos (mesmo – ou especialmente – em circunstâncias competitivas). A desconfiança é adversária, mesmo quando não competitiva. A confiança sugere o desejo de crer. A desconfiança demanda suspeita. Nesta oposição, a desconfiança é mais dramática (Idem, p. 55).

A confiança autêntica prevê a possibilidade da desconfiança, sendo impensável sem esta. Deixou de ser confiança simples. Junto com a desconfiança define a dinâmica dos relacionamentos. Também não é incondicional. Quase sempre possui limites, cuja percepção é essencial à confiança. Sempre envolve riscos, pois uma aposta no resultado só pode ser compreendida em face de uma percepção de resultados alternativos (Idem, p. 55-56). “Os abusos de confiança não demarcam o término da confiança, mas são parte do processo de confiar” (Idem, p. 33). “Mesmo onde haja confiança, os contratos são apropriados e amiúde necessários, se não para o cumprimento, então para a especificação dos compromissos e expectativas” (Idem, p. 39).

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O cinismo também é alimentado pela hipocrisia cordial, manifestada em atitudes do tipo: “isso é inútil” ou “a situação não mudará”, tornando-se uma trilha de profecia autocumprida. As objeções não externadas não contribuem para uma melhora. “Uma desconfiança não expressa, e também não proporciona, um fórum para a construção da confiança, porque a construção da confiança requer o conversar sobre confiança” (Idem, p. 64).

Falar sobre confiança é importante. Nas situações em que impera a desconfiança as pessoas não falam sobre esse assunto, mas desenvolvem estratégias para lidar com sua ausência (Idem, p. 38).

A confiança acarreta uma falta de controle, porém significa estabelecer um relacionamento no qual o controle não mais está em questão. Não há necessidade de tocar-se no assunto da confiança com pessoas ou situações que podemos controlar por completo (Idem, p. 77).

O trabalho pode contribuir para o aumento da confiança nas empresas pesquisadas pelo fato de falar de confiança. O chamado “salto da fé”, citado por Søren Kierkegaard (apud Solomon e Flores, 2002, p.77), torna-se um salto para a confiança, que pode ser iniciado aprendendo-se a falar dela, e seguindo fazendo promessas e assumindo compromissos que a requerem, colocando-a em prática e tornando-a explícita.

1.4. A transparência na divulgação de informações

A transparência pode se dar de diversas formas:

• Para o mercado em geral, que pode ser obrigatória nos casos da lei, ou limitada, por escolha da empresa, apenas à lei, ou pode ser maior que as exigências legais, como nos casos de voluntary disclosure;

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maior poder de compra, usando a técnica da agregação de demanda) e dos co-fornecedores (fornecedores não concorrentes de um mesmo cliente); • Em relação aos funcionários, como forma de facilitar a participação nas

decisões e criar um ambiente de confiança, baseado em informações. Uma reserva em relação a esta prática pode ser o receio de abrir informações estratégicas. Um aspecto é a transparência dos números referentes a resultados. Outro é a divulgação de previsões, estratégias, planos etc. Os dados do passado recente e do presente podem ser usados pelos concorrentes, ou por descontentes da própria empresa, como material de denúncia de eventuais irregularidades existentes na condução do negócio.

Outro exemplo de transparência com parceiros de negócios é a técnica denominada VMI (Vendor Managed Inventory), na qual os fornecedores gerenciam os estoques dos clientes – as informações de estoque e consumo de produtos específicos ficam disponíveis – e fazem as entregas automaticamente (HAMMER, 2001, p.64). Trata-se de um modelo baseado em confiança, pois o cliente não pode desconfiar de que o fornecedor faça uma entrega desnecessária para resolver um problema de caixa.

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1.5. O contexto mais amplo da confiança

A confiança pode ser referenciada pelo tempo, época ou contexto vivido pelas pessoas, pelas empresas e pela sociedade. Será feito, a seguir, um paralelo entre a época pré-moderna, com a confiança básica (certa), a da modernidade, com a confiança autêntica, pois baseada no conhecimento e na possibilidade da desconfiança, e a da pós-modernidade com a perda da confiança, da fé e da certeza.

Alguns autores, como Lyotard (apud Giddens, 1991, p. 12), acreditam que vivemos a pós-modernidade, que seria o deslocamento das tentativas de fundamentar a epistemologia, a falta de fé no progresso planejado humanamente, a evaporação da grand narrative – o “enredo dominante por meio do qual somos inseridos na história como seres tendo um passado definitivo e um futuro previsível” – e na “pluralidade de reivindicações heterogêneas de conhecimento, na qual a ciência não tem um lugar privilegiado”.

A pós-modernidade, além da percepção de se estar vivendo um período nitidamente distinto do passado, apresenta-se como a descoberta de que:

... nada pode ser conhecido com alguma certeza, desde que todos os fundamentos preexistentes da epistemologia se revelaram sem credibilidade; que a ‘história’ é destituída de teleologia e conseqüentemente nenhuma versão de progresso pode ser plausivelmente defendida; e que uma nova agenda social e política surgiu com a crescente proeminência de preocupações ecológicas e talvez de novos movimentos sociais em geral (GIDDENS, 1991, p. 52)

A resposta padrão aos pós-modernos, segundo Giddens (1991, p. 12), é “demonstrar que uma epistemologia coerente é possível – e que um conhecimento generalizável sobre a vida social e padrões de desenvolvimento social podem ser alcançados”, como no “Discurso filosófico da modernidade” de Habermas, que vê a modernidade como um projeto em andamento, inacabado (Habermas, 2000).

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natureza da modernidade. Em vez de pós-modernidade, tem-se um período em que as conseqüências da modernidade estão mais radicalizadas e universalizadas do que antes.

A confiança só pode se situar no projeto moderno, até porque só faz sentido falar em “projeto” para a modernidade, já que a pós-modernidade não pressupõe projetos, que é uma palavra estranha a ela, não podendo também invocar uma coerência histórica, que, para Giddens (1991, p. 53), ela declara como impossível. De acordo com Habermas (2000, p. 7), a “idéia de pós-modernidade apresenta-se sob uma forma política totalmente distinta, isto é, sob a forma anarquista”.

Habermas (2000, p. 12) diz que a modernidade não pode e não quer utilizar critérios de orientação de outras épocas, tendo de extrair de si mesma a sua normatividade. Assim, seria suscetível de autocompreensão e da tentativa de autoafirmação, buscando sua legitimidade, ou direito próprio de época, perante supostas dívidas culturais para com o legado do cristianismo ou da antiguidade.

1.6. A confiança em sistemas abstratos

Os sistemas peritos (ou especialistas) são “sistemas de excelência técnica ou competência profissional” (GIDDENS, 1991, p. 35), sobre os quais não se conhece e não é possível conferir a maior parte dos fundamentos (códigos de conhecimento) que regem seu funcionamento. Porém, confia-se, tem-se fé, não tanto em suas competências, mas na autenticidade do conhecimento perito que eles aplicam, algo que não se pode, em geral, conferir por si mesmo:

Quando saio de minha casa e entro num carro, penetro num cenário que está completamente permeado por conhecimento perito – envolvendo o projeto e construção de automóveis, estradas, cruzamentos, semáforos e muitos outros itens. Todos sabem que dirigir um automóvel é uma atividade perigosa, acarretando o risco de acidente. Ao escolher sair de carro, aceito esse risco, mas confio na perícia acima mencionada para me garantir de que ele é o mais minimizado possível (GIDDENS, 1991, p. 35).

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assinaturas eletrônicas nas transações por cartão de crédito nos computadores), às referências e reputações e às marcas. (Idem, p. 72).

... geralmente confiamos nos produtos que compramos; sem titubear arriscamos nossas vidas neles (carros, medicamentos, alimentos embalados, aviões, para-quedas, cordas de bungee). Confiamos nas pessoas que nos servem, amiúde sem checarmos suas credenciais. (A maioria de nós alguma vez examina os diplomas profissionais de nossos médicos ou dentistas? Como você sabe se a garçonete não cuspiu em sua sopa ou, ao vir da cozinha, deixou cair no chão seu sanduíche? Quantas pessoas conferem cuidadosamente as pílulas preparadas pelos farmacêuticos?) (SOLOMON e FLORES, 2002, p. 38).

Em nosso dia-a-dia, vive-se rodeado de desconhecidos nos quais confia-se implicitamente, confiamos porque é preciso fazê-lo. (Idem, p. 71). Sem essa confiança, não haveria negócios, e sem a confiança entre desconhecidos não haveria a economia global ou sequer uma economia regional (Idem, p. 72).

A despeito de notórios patifes e impostores, nossa atitude em relação à maioria de nossas transações de negócios é de confiança, misturada com certa dose de prudência. Se na realidade aceitássemos o alerta “caveat emptor” (“que o comprador se acautele”)1 seria difícil até mesmo ser um consumidor

(Idem, p. 39).

Qualquer um que utilize fichas monetárias ou um sistema perito o faz na presunção de que outros honrem seu valor, no caso do sistema financeiro, e saibam o que estão fazendo, no caso dos peritos. Nesse caso, a confiança é uma forma de fé, na qual a segurança é adquirida em resultados prováveis, mais como um compromisso do que como compreensão.

Um aspecto importante da confiança nos sistemas abstratos é o que Giddens (1991, p. 84) chama de compromissos com rosto e compromissos sem rosto. Compromissos “com rosto” se referem a conexões sociais estabelecidas em circunstâncias de co-presença, chamadas, por Giddens, de relações verdadeiras. Os compromissos “sem rosto” dizem respeito ao desenvolvimento da fé em fichas simbólicas ou sistemas peritos. A interação, na vida social moderna, se dá, na maior parte do tempo, com pessoas estranhas, não como vindas de fora, representando uma ameaça, mas apenas uma interação na forma de contatos efêmeros, com um outro que não conhecemos bem (não-íntimo).

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Na época em que foi escrito o livro “As conseqüências da modernidade” (Giddens, 1991), a internet ainda era uma rede utilizada apenas em meios acadêmicos e militares, embora já existissem várias formas de transações via troca de dados entre empresas (EDI – Eletronic Data Interchange), que já necessitavam de mecanismos de autenticação. Com a intensificação das relações virtuais, propiciada pela internet, a necessidade de mecanismos de geração de confiança foi também aumentada. Qualquer pessoa que utiliza os sites de comércio eletrônico quer ter a certeza da segurança em relação aos dados do seu cartão de crédito, senhas, conteúdo das transações etc.

Algumas empresas, como o eBay, maior empresa de leilões pela internet, com faturamento anual de US$ 3,27 bilhões em 2004, que opera na Nasdaq e está presente em 30 países, são basicamente empresas baseadas em confiança. O modelo de negócio tem, segundo Babini (2005, p. 27), as seguintes características:

• Acesso a qualquer pessoa, independente da experiência anterior de negócios on-line e do porte da transação (mercado aberto);

• Negócio feito a qualquer momento e a distância, limitado apenas pelo alcance atual da Internet e cobertura geográfica da eBay;

• Variedade de produtos, de brinquedos a equipamentos para empresas;

• Os usuários são a chave do negócio, formando uma grande comunidade, com laços que ultrapassam a esfera comercial;

• Base em uma experiência de compra dinâmica, divertida e original;

• Permanência em função da confiança do usuário em um sistema embasado na interação entre pessoas que não se conhecem.

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membros importantes da comunidade, incentivos aos pequenos comerciantes, que formam uma base leal e estável). A visão da empresa é tornar-se a “primeira opção na hora de fazer compras, objetivo que até então apenas uma empresa de tijolo-e-cimento como o Wal-Mart poderia pleitear” (BABINI, 2005, p. 30).

Um dos mecanismos para que os usuários continuem confiando no sistema, “baseado na interação entre estranhos”, é o “Fórum de Feedback”, um espaço para resolver conflitos, receber ajuda e estabelecer vínculos. Podem-se atribuir pontos aos parceiros comerciais, criando assim uma “reputação” (Idem, p. 31).

A confiabilidade pode ser estabelecida entre indivíduos que se conhecem bem, sendo o relacionamento de longo prazo a garantia da fidedignidade mútua. Já a confiabilidade em sistemas abstratos não pressupõe encontros com um de seus responsáveis. O contato dos atores leigos com esses sistemas se dá por meio dos chamados “pontos de acesso”, que são o “terreno comum dos compromissos com rosto e sem rosto” (Idem, p. 87).

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1.7. Confiança e risco

A confiança, no sentido que será desenvolvido nesse trabalho, está ligada intimamente ao conhecimento do risco. Confiar é arriscar, e riscos devem ser assumidos sabiamente (SOLOMON E FLORES, 2002, p. 73). A confiança autêntica é um pressuposto de modernidade, pois implica a possibilidade de compreensão dos fenômenos sociais, de gestão, da possibilidade emancipatória da razão.

A história do risco mostra a tentativa de previsão, de quantificar as possibilidades e probabilidades do futuro, de domar o destino, de lidar de forma racional com incertezas O próprio conceito de risco só aparece na modernidade, pela visão de mundo não atrelada à fortuna, ao destino, à vontade dos deuses (BERNSTEIN, 1997). “Um indivíduo que não considera alternativas está numa situação de crença, enquanto alguém que reconhece essas alternativas e tenta calcular os riscos assim reconhecidos, engaja-se em confiança” (GIDDENS, 1991, p. 39). A idéia da gestão do risco emerge apenas quando os indivíduos acreditam ser, até certo ponto, agentes livres (BERNSTEIN, 1997).

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2.

O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO

O objetivo deste capítulo é delimitar o trabalho no campo da comunicação, com ênfase na análise do processo de comunicação informações econômico-financeiras, nos seus diversos territórios (emissor, mensagem, canal, receptor).

2.1. A comunicação humana

Comunicação é um conceito com significados muito amplos, que pode envolver seres humanos, animais, aparelhos técnicos etc., de modo verbal (oral e escrito), visual, musical etc. No caso da comunicação humana, interesse deste trabalho, Fiske (2005, p. 14) definiu-a como “interação social através de mensagens”.

Toda comunicação envolve signos e códigos. Os signos são artefatos ou atos que se referem a algo que não são eles próprios, ou seja, são construções significantes. Os códigos são os sistemas nos quais os signos se organizam e que determinam a forma como os signos se podem relacionar uns com os outros. [...] Os signos e códigos são transmitidos ou tornados acessíveis a outros. Transmitir ou receber signos / códigos / comunicação é a prática das relações sociais, ou seja, estudar comunicação implica estudar a cultura em que ela se integra (FISKE, 2005, p. 14).

Para Santaella (2001, p. 19), a interação semiótica tem como característica a congruência entre a mensagem do emissor e a interpretação do receptor, sendo essa característica um “critério adicional de distinção estabelecido em algumas definições de comunicação”, conforme a etimologia da palavra sugere, que implica “um repartir comum de informação”. Para Martino (2001, p.14), “o termo ‘comunicação’ refere-se ao processo de compartilhar um mesmo objeto de consciência, ele exprime a relação entre consciências”.

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As contribuições da ontologia da linguagem, conforme as idéias de John Austin (apud Amorim, 2001, p. 229) de “com fazer as coisas com palavras” e de Fernando Flores (apud Amorim, 2001, p. 229), apontam para o importante papel do discernimento conceitual para a institucionalização da comunicação. A institucionalização da comunicação é feita por um “conjunto de medidas que providencie como os pedidos e declarações devem aparecer, observando-se a circularidade entre os níveis hierárquicos”. As declarações importantes são as que dão ao conhecimento das pessoas a estratégia da organização, os principais indicadores financeiros e de mercado e as modificações nos processos ou na estrutura organizacional (linhas de comando). A circularidade permite que a direção escute os níveis hierárquicos inferiores e intermediários, resultando na disposição geral de participação de todas as instâncias. Quanto maior o segredo em torno dos porquês desses temas importantes, que envolvem a disposição de mudança de condutas pessoais, maior a possibilidade de resistência, pois é muito difícil o comprometimento com coisas que não se conhece, ou não se entende ou de que não se participou (AMORIM, 2001, p. 229).

Martinet (1960, apud Santaella, 2001, p. 20) definiu comunicação como a função central da linguagem, referindo-se à “necessidade que alguém tem de ser entendido”. Assim, pode-se dizer que, se uma demonstração financeira é emitida e o destinatário não a compreende, não está existindo comunicação.

De acordo com DeVito (apud Santaella, 2001, p. 21), os princípios da comunicação humana podem ser definidos como:

• É um pacote de signos, pois diferentes tipos de signos concorrem para compor uma mensagem;

• É um processo de ajustamento, pois, embora duas pessoas estejam usando o mesmo sistema de linguagem, é somente por meio de um processo de acomodação e ajustamento que a comunicação ocorre;

Imagem

Ilustração 1 – Mapa conceitual do trabalho
Ilustração 2 – Modelo de comunicação de Shannon e Weaver  Fonte: Chandler, 2008.
Ilustração 3 – Modelo de comunicação de Gerbner  Fonte: Fiske (2005, p. 42).
Ilustração 4 – Modelo de comunicação de Newcomb  Fonte: Fiske (2005, p. 50).
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Referências

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